Direitos Humanos e Cultura de Paz
Onde começa a paz? A indagação nos possibilita ao caminho do raciocínio
e a procura de meios, entre eles, o diálogo como instrumento anunciado por
Paulo Freire (FREIRE, 1996; 2003).
Ao destacamos a importância do diálogo que Paulo Freire defendia,
abordar a questão dos direitos que todos temos inclusive o direito de ter
religião e de não a ter destacamos que o diálogo inter-religioso é gerador do
respeito à diversidade religiosa e grande estimulador da paz.
O Estado Brasileiro é Laico, significa que não deve haver uma religião
oficial e sim, o dever de garantir a liberdade religiosa. Essa liberdade é um
dos direitos fundamentais da humanidade como afirma a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, promulgada em 1948, da qual somos signatários.
É fundamental, mas, ao mesmo tempo, tão desrespeitada a liberdade
religiosa no mundo inteiro que em vários momentos da história os líderes
religiosos e espirituais se reúnem para firmar compromisso pela Paz.
1. Direitos Humanos e Intolerância Religiosa: Diálogo Inter-Religioso é
Preciso
Os Direitos Humanos são direitos que visam resguardar os valores mais preciosos
da pessoa humana, ou seja, a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade,
a dignidade. Então, busca-se uma verdadeira conscientização da sociedade de que
os direitos humanos devem ser resguardados independente de raça, cor, religião,
orientação sexual, pois somos todos diferentes, não existe ninguém igual!
No que confere ao princípio da igualdade, sua essência está no respeito
às diferenças existentes, dando a todos, sem distinção, tratamento igual, pois
acima de tudo somos seres humanos onde precisamos resgatar a dignidade da
pessoa humana.
Afirma a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu
Art. 5º e inciso VI: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias” (BRASIL, 1988). E
diante da pluralidade, que foram constituídas por várias raças, culturas,
religiões, nossa formação enquanto brasileira e brasileiro nos permitem que
sejamos iguais, tendo cada um suas diferenças.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no seu Art. XVIII assim
declara:
Toda pessoa tem o
direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui
a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa
religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância,
isolada ou coletivamente, em público ou em particular (ONU, 1948).
No Brasil, a liberdade religiosa é de fundamental importância, mas é desrespeitada,
e ao mesmo tempo encontramos homens e mulheres de diferentes crenças trabalhando
juntos.
Cada pessoa com a sua cultura têm o direito de professar a religião bem
como o modo próprio de pensar e de reverenciar sua divindade e nesta
compreensão cria-se a possibilidade de refletir de forma crítica sobre o exercício
da tolerância religiosa por meio do diálogo inter-religioso.
As Ciências das Religiões, de onde é feita a transposição didática do
Ensino Religioso, faz uma abordagem articulada entre outras Ciências para o
conhecimento do fenômeno religioso. Este tem a finalidade de estudar as crenças
e as práticas religiosas e suas consequências para a vida humana e isso
possibilita ao estudante uma abertura para a compreensão do sagrado e favorece
o respeito à diversidade religiosa através do diálogo inter-religioso. Outra
possibilidade de entendimento é com a inclusão social ao trabalhar a temática
tolerância significando respeito e a temática intolerância.
É perceptível o quanto se fala em tolerância religiosa atualmente no
Brasil. No contexto religioso a ideia de intolerância parte da visão que muitas
pessoas têm de que a sua religião é única autêntica, poderosa e com essa visão
não abre mão deste padrão e com isso não se dão a oportunidade de conhecer
outras culturas, outras religiões e isso muito contribui para a falta de
respeito com pessoas que professam religiões diferentes, outras cosmovisões.
Para Rubem Alves (1982), cada povo tem o direito de possuir sua (s)
religião (ões) e seus diferentes modos de reverenciar as divindades. Alves
considera que tolerância significa aceitar o que parece errado, entender que, o
que é errado para uns, também tem sua verdade para outros; e esta verdade não é
melhor nem pior do que qualquer outra, apenas diferente e, portanto, deve ser
respeitada.
Na atualidade, a tolerância encontra base sólida no conhecimento e no
respeito ao outro, pois a ignorância alimenta o preconceito.
Nesse contexto, uma forma de combater a intolerância religiosa seria
através de ações preventivas como a aprendizagem do viver com o outro, passando
a conhecer e respeitar as diferenças seja qual for, e considerando que o
princípio da tolerância religiosa para com o outro é o respeito à diferença
manifesta em crenças diferentes, pois, pauta-se na formação do estudante
inserida no processo de diálogo contínuo entre as variadas religiões atuantes
em nossa sociedade.
É indiscutível e valoroso o estudo do fenômeno religioso, pois, tem
contribuído muito para a educação integral de ser humano, proporcionando o
diálogo inter-religioso e um espaço de respeito pela diversidade. O
conhecimento religioso é patrimônio da humanidade e por esse motivo necessita
estar à disposição na sociedade de forma laica, e estimulando, sobretudo e
acima de tudo, o diálogo com as diferenças.
O diálogo inter-religioso é a garantia para cada cidadão escolher sua
religião, inclusive, de não a ter ou de possuí-la, ou ainda de optar por ter
mais de uma pertença religiosa.
O Movimento Internacional pela paz: onde começa a paz?
O Movimento Internacional pela Paz é uma iniciativa da sociedade que se preocupa
com a violência, a intolerância, principalmente a religiosa. Vários estados brasileiros
estão investindo na cultura de paz e desenvolvem ações que promovem reflexão
sobre atitudes pacificadoras possíveis de serem seguidas por todos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) através das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO) preocupada com ameaça a segurança internacional
vem desde a década de 1990 incentivando a Paz universal. Essa preocupação
referente à violação de direitos humanos tais como discriminação, intolerância,
pobreza, exclusão social e outros poderiam ser revertidos através da educação
com medidas preventivas, afinal investir em educação é garantir o processo de conscientização
da população dos países.
A violência no Brasil é bastante preocupante, pois “Os homicídios são
hoje uma das principais causas de morte entre homens jovens de idades entre 15
e 39 anos, sendo que a maioria das vítimas é constituída por homens negros”
(UNESCO4).
Ainda de acordo com a UNESCO, a Cultura de PAZ, “está intrinsecamente relacionada
à prevenção – violência de conflitos” e fundamenta-se nos princípios de tolerância,
solidariedade, respeito à vida, aos direitos individuais e ao pluralismo. (Idem).
Enquanto forma ideal dos homens e da sociedade nas condições reais e
atuais inclusive com o avanço no processo de globalização, e considerando as
interações sociais, econômicas e políticas, o estado através de política
pública pode investir no movimento enquanto cultura de paz, através da educação
escolar, construindo, incentivando a “educação para a paz”.
A paz pode estar relacionada ao conceito de guerra, mas não é só, ela
está para além da guerra. Paz deve ser compreendida como um processo contínuo
de vontade de mudança de hábitos, comportamentos, modo de viver que promovam
uma cultura da não intolerância, da não violência.
Os direitos humanos são direitos inerentes a todo ser humano, pertencem
a todas as pessoas independentemente de elas terem conhecimento sobre eles ou
não.
Liberdade, proteção contra discriminação, igualdade, direito à segurança
pessoal, direito à vida, direito de ser considerado inocente até que seja
provada a sua culpa, e mais, o art. XII da Declaração Universal dos Direitos
Humanos declara:
Ninguém será
sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em
sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem
direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. (UNIC, 2009,
p. 08)
A Cultura de Paz reafirma esses direitos supracitados, pois em seu
exercício busca-se contribuir para a transformação da sociedade que convive com
a violência em seus variados aspectos como violência contra a mulher, contra a
pessoa idosa, contra a criança, contra os animais, violência no trânsito,
intolerância religiosa, discriminação por opção sexual ou religiosa, violação
de correspondência, da vida privada, ataques a honra e a reputação, enfim,
mudança de paradigmas de valores e comportamentos que geram mais violências.
Assim, a Cultura de Paz procura estimular a capacidade criadora que todos têm
na administração pacífica em relação aos conflitos sociais existentes e na conscientização
da garantia desses e de outros direitos.
Preocupado com a necessidade de estabelecer no Brasil uma cultura de
paz, o Movimento Internacional pela Paz e Não Violência – MOVPAZ que é uma
organização Não Governamental tem desenvolvido ações pelo Brasil com a
participação de artistas e palestrantes em busca da disseminação de uma cultura
de paz em três níveis: Paz Social, Paz Ambiental e Paz Interior. O MOVPAZ ao se
referir sobre a sua missão que envolve pessoas de diversos lugares, afirma:
Apesar de estarem separados pela cultura, pela geografia e pelo tempo,
tudo com fato de que muitos não se conheceram, eles apresentam uma unidade de
pensamento que religa as diferenças, foram pacifistas, e com deferentes
pedagogias ensinaram a mesma coisa: A PAZ. Eles são os nossos mestres, a mesma
força de Paz que guiaram suas mentes nos guia também. É em memória as suas ideias,
suas vidas e seus trabalhos e pela nítida passagem destes seres entre nós que o
MOVPAZ nasceu e existe, e deve seguir adiante revivendo o feito destes
Super-heróis que se imortalizaram pelas ações inseridas no Projeto Paz Pela Paz
(MOVPAZ, 2016).
Brasileiros e brasileiras dos mais variados lugares e independentemente
de ideologias, religiões ou partido político se empenham para a construção de
uma cultura da paz que nasce em cada pessoa e depois como uma onda se expande
para as demais.
Artistas, intelectuais, religiosos e outros trabalham em prol desse
objetivo que a título de exemplificação destaca-se o cantor e compositor Nando
Cordel e o palestrante Divaldo Franco.
Nando Cordel compôs a música Paz Pela Paz. Ao refletir sobre alguns
trechos da música pode-se relacioná-la aos três níveis da Cultura de Paz do
MOVPAZ. Assim, “A paz do mundo começa em mim se eu tenho amor com certeza sou
feliz. Se eu faço o bem a meu irmão tenho a grandeza dentro do meu coração”.
Nessa concepção busca-se a Paz Interior que existe em cada ser humano. Ao
considerar outro trecho dessa música “chegou a hora da gente construir a paz,
ninguém suporta mais o desamor. Paz pela paz, pela justiça, a liberdade, pela
coragem de mudar” percebe-se o convite para a construção coletiva em busca pela
Paz Social e finalmente, ao clamar “paz pela floresta, paz pelo mundo novo e
paz pela paz a esperança”, percebe-se um convite para reflexão sobre a Paz
Ambiental.
Esta transformação é antes de tudo um processo contínuo na educação, a
paz precisa ser estimulada através das emoções e dos sentimentos, precisa ser
inclusiva e promover o desenvolvimento pessoal e coletivo dos estudantes.
Pode-se afirmar que os Direitos Humanos têm como objetivos resguardar a integridade
psicológica e física de todas as pessoas em relação a seus semelhantes e em relação
ao Estado em geral ao limitar os poderes de autoridades resguardando o bem estar
social.
Para se construir uma sociedade mais justa, mais igualitária que
respeite os Direitos Humanos é fundamental, que cada um comece por si mesmo a
fazer um exercício de Paz Interior e exercite uma mudança de atitude, de ações
e valores além de comportamentos que visem à construção de um mundo bem melhor
de se viver, através da Paz Ambiental e Paz Social.
O Ensino Religioso é fundamental para o estudante, pois possibilita ao
ensino e a lidar com clareza com os conflitos religiosos existentes na
sociedade, não os ignorando, nem os radicalizando, mas tenta-se superá-lo
dialeticamente e com responsabilidade moral.
Reforçar o conhecimento do fenômeno religioso e melhorar de fato o
Ensino Religioso, inclusive através de uma Cultura pela Paz onde poderá
proporcionar uma atitude tolerante entre os nossos concidadãos, dando-lhes e
concedendo-lhes meios de melhorar e respeitar uns aos outros.
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