30 de nov. de 2013

O PERIGO DA RITUALIDADE MERAMENTE VAZIA

Recentemente fui abordado por um amigo, precisamente no dia17 de novembro deste, o qual aproveitou do momento para que nosso diálogo se tornasse em um agradável momento prazeroso de debate mais que teológico, filosófico, um debate transcendental.
Estávamos em uma reunião na Academia de Pesquisas, onde fui convidado a apresentar uma palestra para um seleto grupo de pessoas, famílias.
Após o período de ministração, sendo abordado por esse amigo, entre diversos assuntos, saltou-se diante de minha compreensão, o que  tanta perturbava meu irmão.
Ritualidade nos meios evangelicais.
Sendo ele de uma distinta família, criada sob os princípios do cristianismo conservador, catequisado desde a tenra idade e árduo comungante da fé protestante, estava agora envolto em um questionamento que não queria acalentar-se apenas em sua mente questionativa, mas, rompia-se a cada instante no desejo ardente de tomar a atenção no palco da existência científica.
Pois bem, tendo arguido com o mesmo sobre as possíveis razões, crises, conflitos que o prendia em uma ideia centrada na temática da ritualística, fui convidado a refletir profundamente sobre o assunto, do qual tomo a liberdade de copiá-lo, com sua permissão para aqui poder traçar linhas que possam aumentar os questionamentos e levantar futuramente maiores discussões e pesquisas sobre.

É sabedor no meio acadêmico que uma sociedade em si, traz consigo diversos aspectos e características que a tornam singular, própria, exclusiva, e, dentre diversos pontos a considerar, um deles em destaque é o que apontamos aqui como ritualidade.
Toda sociedade, seja xamanista, politeísta primitiva, detentora de uma monolatria ou até mesmo monoteísta, possui seus rituais, rituais esses que avaliam de certa forma o amadurecimento de seus pares, o comprometimento dos mesmos com a associação/sociedade em si.
os rituais possuem suas particularidades, sobre os quais não tenho aqui o interesse em discorrer no presente artigo, mas, realmente, suas particularidades o tornam especiais, importantes na vida daqueles que coadunam com a sua existência e experiência.
A igreja cristã, em especial atenção aqui, de predominância protestante, conhecida como evangélica, não está isenta de suas ritualidades.
Desde o ritual de agregação, separação, aceitação, batismo, ceia, casamento e muitos outros, podemos perceber claramente a presença dos rituais, cuja ritualidade em alguns casos mantem-se intocáveis já a centenas de anos, enquanto que, já outros, a cada ciclo, era, ou até mesmo período de meses, já podem ser analisados e constatados sua evolução ou 'involução'.

Daí, o questionamento salutar do nobre e honrado amigo, o perigo da ritualidade meramente vazia, pois, estamos vivenciando mudanças na sociedade e esta como um todo, afinal somos seres evolutivos, em conhecimento, sabedoria, beleza e com a força que nos impele a caminhar a jornada da vida a cada segundo.
Até que ponto o ritual deva ser executado como REGRA, LEI absoluta, se em alguns momentos é perceptível o conflito em partes e/ou todo.
A prática de certas ritualidades tem tornado o ser pensante em apenas um ser repassante, me entendam, um ser que apenas repassa aquilo que lhe foi ensinado, para o qual ele foi adestrado, como uma máquina em série.
A alma, a essência, muitas vezes tem sido deixada de lado, para que não ocorra o desgaste, o debate, o conflito, o amadurecimento e evolução das ideias, deixando o homem de ser o que quer ser, para se tornar naquilo que o ritual impera que ele seja.
Grandes eventos tem ocorrido no meio religioso, onde a centralidade tem se fixado em meras repetições de afirmações, palavras decoradas, um verdadeiro palco teatral, tomando o lugar onde deveria ocorrer de fato metanóia, transformação, evolução.
A pratica da ritualidade mecânica está em que aos poucos o ser humano, não percebe que está se despindo de uma essência profunda, que não está apenas neste plano física, mas que eleva para uma ultra realidade, bem maior, para se tornar em 'marionetes' nas mãos de poderosos, 'deuses humanos'.
A ritualidade meramente vazia, traz consigo ensinamentos que ecoam por todo o cosmos, dentro de uma neutralidade, em que já percebemos a presença da covardia, do mundo bizarro que lança seus adeptos dentro de uma redoma existencial unitária, ou seja, cada um per si.
Onde a ritualidade já se transformou em algo nada mais que repetitório, mecânico, os humanos já perderam sua humanidade e não percebem que são nada mais que andantes peregrinos, perdidos na lama da desventura e do engodo dos opressores.
Eis aqui uma das razões de se buscar na prática da ritualidade a essência ora perdida, a reflexão democrática, a abertura para a evolução e o debate consciente das ideias.
Pois uma ritualidade vivida em íntimo e em projeção de gerar, traz consigo mais que fluxo, vigor, é capaz de produzir vida saudável e amadurecida.
Joenildo Fonseca Leite 

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