DOUTRINAS
RELIGIOSAS
Crenças,
filosofias de vida e esfera pública
Conhecer o mundo -
Mitologia, religião, ciência, filosofia, senso comum...
Há muitos modos de se conhecer o mundo, que
dependem da situação do sujeito diante do objeto do conhecimento. Ao olhar as
estrelas no céu noturno, um índio caiapó as enxerga a partir de um ponto de
vista bastante diferente do de um astrônomo.
O caiapó vê nas estrelas as fogueiras que
alguns de seus deuses acendem no céu para tornar a noite mais clara. O
cientista vê astros que têm luz própria e que formam uma galáxia. O índio
compreende e conhece as estrelas a partir de um ponto de vista mitológico ou
religioso. O astrônomo as compreende e conhece a partir de um ponto de vista
científico.
A mitologia, a religião e a ciência são
formas de conhecer o mundo. São modos do conhecimento, assim como o senso
comum, a filosofia e a arte. Todos eles são formas de conhecimento, pois cada
um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, explicando-o ou atribuindo-lhe
um sentido. Vamos examinar mais de perto cada uma dessas formas de
conhecimento.
O mito
e a religião
O mito proporciona um conhecimento que
explica o mundo a partir da ação de entidades - ou seja, forças, energias,
criaturas, personagens - que estão além do mundo natural, que o transcendem,
que são sobrenaturais.
Veja, por exemplo, o mito através do qual os
antigos gregos explicavam a origem do mundo:
No
princípio era o Caos, o Vazio primordial, vasto abismo insondável, como um
imenso mar, denso e profundo, onde nada podia existir. Dessa oca imensidão sem
onde nem quando, de um modo inexplicável e incompreensível, emergiram a Noite
negra e a Morte impenetrável. Da muda união desses dois entes tenebrosos, no
leito infinito do vácuo, nasceu uma entidade de natureza oposta à deles, o
Amor, que surgiu cintilando dentro de um ovo incandescente. Ao ser posto no
regaço do Caos, sua casca resfriou e se partiu em duas metades que se
transformaram no Céu e na Terra, casal que jazia no espaço, espiando-se em
deslumbramento mútuo, empapuçados de amor. Então, o Céu cobriu e fecundou a
Terra, fazendo-a gerar muitos filhos que passaram a habitar o vasto corpo da
própria mãe, aconchegante e hospitaleiro.
Assim como o mito, a religião, ou melhor, as
religiões também apresentam uma explicação sobrenatural para o mundo. Para
aderir a uma religião, é obrigatório crer ou ter fé nessa explicação. Além
disso, é uma parte fundamental da crença religiosa a fé em que essa explicação
sobrenatural proporciona ao homem uma garantia de salvação, bem como prescreve
maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os
sacramentos e as orações.
Antes de seguir em frente, convém esclarecer
que não vem ao caso discutir aqui a validade do conhecimento religioso. Em
matéria de provas objetivas, se a religião não tem como provar a existência de
Deus, a ciência também não tem como provar a Sua inexistência. E, a propósito
disso, vale a pena apresentar uma outra narrativa filosófica:
Certa
vez, um cosmonauta e um neurologista russos discutiam sobre religião. O
neurologista era cristão, e o cosmonauta não. “Já estive várias vezes no
espaço”, gabou-se o cosmonauta, “e nunca vi nem Deus, nem anjos”. “E eu já
operei muitos cérebros inteligentes”, respondeu o neurologista, “e também nunca
vi um pensamento”.
O mundo de Sofia, Jostein Gaardner, Cia. das Letras, 1995
A ciência A ciência procura descobrir como a
natureza "funciona", considerando, principalmente, as relações de
causa e efeito. Nesse sentido, pretende buscar o conhecimento objetivo, isto é,
que se baseia nas características do objeto, com interferência mínima do
sujeito. Veja, por exemplo, a seguinte descrição científica:
O
coração é um músculo oco, em forma de cone achatado com a base virada para cima
e a ponta voltada para baixo, do tamanho aproximado de um punho fechado. O
músculo cardíaco é chamado de miocárdio. Sua superfície interna é recoberta por
uma membrana delgada, o endocárdio. Sua superfície externa tem um invólucro
fibro-seroso, o pericárdio.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural,
1998
Quando se fala em "mínima interferência
do sujeito", quer se dizer que a descrição de coração proposta acima é
válida independentemente do estudioso de anatomia que a formulou.
A definição tradicional de ciência pressupõe
que ela seja um modo de conhecimento com absoluta garantia de validade. A
ciência moderna já não tem a pretensão ao absoluto, mas ao máximo grau de
certeza.
Quanto à garantia de validade, ela pode
consistir:
Na descrição, conforme o exemplo acima;
Na demonstração, como no caso de um teorema
matemático;
Na corrigibilidade, ou seja, na possibilidade
de corrigir noções e conceitos, a partir dos avanços da própria ciência.
Finalmente, é importante esclarecer que a
aplicação da ciência resulta na tecnologia, ou no conhecimento tecnológico.
O senso
comum
O senso comum ou conhecimento espontâneo é a
primeira compreensão do mundo, baseada na opinião, que não inclui nenhuma
garantia da própria validade. Para alguns filósofos, o senso comum designa as
crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em que a maioria dos homens
acredita ou devem acreditar.
A mais completa tradução do senso comum
talvez sejam os ditados populares.
A título de exemplo, eis alguns:
"Cada cabeça, uma sentença."
"Quem desdenha quer comprar."
"Quem ri por último ri melhor."
"A pressa é a inimiga da
perfeição."
"Se conselho fosse bom, não era dado de
graça.”
A
filosofia
Para Platão, a filosofia é o uso do saber em
proveito do homem. Isso implica a posse ou aquisição de um conhecimento que
seja, ao mesmo tempo, o mais válido e o mais amplo possível; e também o uso
desse conhecimento em benefício do homem. Essa definição, porém, exige a uma
definição de benefício, que por sua vez exige uma definição de Bem. Para saber
o que é o Bem, entretanto, também é necessário descobrir o que é a Verdade.
Alguns filósofos, definem a filosofia como a
busca do Bem, da Verdade, do Belo e de como os homens podem conhecer essas três
entidades. Portanto, a filosofia toma para si a árdua tarefa de debater
problemas ou especular sobre problemas que ainda não estão abertos aos métodos
científicos: o bem e o mal, o belo e o feio, a ordem e a liberdade, a vida e a
morte.
Vamos a um exemplo de texto filosófico, em
que um filósofo norte-americano, John Dewey, procura refletir justamente sobre
o que é senso comum:
Visto
que os problemas e as indagações em torno do senso comum dizem respeito às
interações entre os seres vivos e o ambiente, com o fim de realizar objetos de
uso e de fruição, os símbolos empregados são determinados pela cultura corrente
de um grupo social. Eles formam um sistema, mas trata-se de um sistema de
caráter mais prático que intelectual. Esse sistema é constituído por tradições,
profissões, técnicas, interesses e instituições estabelecidas no grupo. As
significações que o compõem são efeito da linguagem cotidiana comum, com a qual
os membros do grupo se intercomunicam.
Lógica, VI, 6, J. Dewey
Tradicionalmente, a filosofia se divide em
cinco áreas:
Lógica, que estuda o método ideal de pensar e
investigar;
Metafísica, que estuda a natureza do Ser
(ontologia), da mente (psicologia filosófica) e das relações entre a mente e o
ser no processo do conhecimento (epistemologia);
Ética, que estuda o Bem, o comportamento
ideal para o ser humano;
Política, que estuda a organização social do
homem;
Estética, que estuda a beleza e que pode ser
chamada de filosofia da Arte.
Convém concluir lembrando que a ciência e o
pensamento científico se originaram com a filosofia na Grécia da Antiguidade.
Com o passar do tempo, certas áreas da especulação filosófica, como a
matemática, a física e a biologia ganharam tal especificidade que se separaram
da filosofia.
A arte
O conhecimento proporcionado pela arte não
nos dá o conhecimento objetivo de uma coisa qualquer, mas o de um modo
particular de compreendê-la, um modo que traduz a sensibilidade do artista.
Trata-se, portanto, de um conhecimento produzido pelo sujeito e pela
subjetividade.
Veja por exemplo o seguinte soneto, escrito
pelo poeta bahiano do século 17, Gregório de Matos, no qual ele dá a sua
"visão" do braço de uma imagem do Menino Jesus que havia sido
quebrada por holandeses protestantes, quando da invasão da cidade de Salvador:
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Em todo sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte
Em qualquer parte sempre fica todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço que lhe acharam, sendo parte,
Nos diz as partes todas deste todo.
I.
A
MORTE NA VISÃO DAS RELIGIÕES
Será apresentado um panorama da morte sob o olhar de
certas religiões, sendo a primeira parte uma breve descrição da doutrina e os
itens subsequentes serão focados no tema da morte. O critério da ordem das
religiões foi estabelecido segundo as semelhanças nelas encontradas que serão
melhor exploradas no item de número II.
CRISTIANISMO
A
Religião Cristã
A característica chave desta
doutrina e seguir a Jesus Cristo. Ele é o Messias, Filho de Deus, o único
salvador. Jesus através de sua vida, morte e ressurreição libertou os cristãos
do pecado original de Adão e Eva.
Os cristãos são monoteístas e seu
Deus é Onipotente, Onisciente e Onipresente.
Existem quase 2 bilhões de cristãos
no mundo, divididos entre Católicos, Ortodoxos e Protestantes que apresentam
algumas diferenças nas doutrinas e nos rituais, mas que se encontram dentro da
mesma crença em Jesus.
O Corpo e a Alma
A alma nasce no momento da concepção, sendo
eterna a partir daí. A alma é imortal, subsistente, imaterial e espiritual.
Entendemos a alma como espírito, sem barreira de espaço ou tempo, independente
de movimento e superando o corpo. Tem, total incorruptibilidade, não leva
consigo nenhum tipo de desagregação.
Associar-se a um corpo é natural à alma.
Necessita dele para realizar suas atividades: o pensamento, alcançar a
perfeição e realizar sua vocação. O corpo não é prisão da alma, é um meio do
qual lhe foi dado por Deus para que haja seu progresso. A união é benévola. As
diferenças entre alma e corpo se mantém apesar da associação: eles estão
ligados, mas ainda conservam suas características originárias, tanto que a
morte corpórea não significa a morte da alma.
Já que o homem foi criado à imagem e
semelhança de Deus, que lhe deu (criou) a sua alma, deve tornar-se sempre mais
próximo à imagem d'Ele, cada vez mais subordinado ao Criador, um corpo cada vez
mais subordinado à alma.
O Batismo e a Morte
O messias é o ressuscitado, Jesus,
filho enviado por Deus para libertar os homens do pecado e da morte. A
conversão estabelece uma relação de participação mística com Cristo. Todo
crente efetua a união mística com Cristo mediante o sacramento do batismo.
Porque "os que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua
morte. Fomos, pois, batizados com ele na morte pelo batismo; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
andemos nós em novidade de vida." (Romanos, 6: 3-4)
A morte e a ressurreição pela
imersão na água constituem um argumento místico-virtual bem conhecido,
solidário de um simbolismo aquático universalmente atestado. Mas São Paulo
vincula o sacramento do batismo a um acontecimento histórico recente: a morte e
a ressurreição de Jesus Cristo. Além disso, o batismo não somente assegura a
vida nova do crente, mas realiza a sua transformação num membro do corpo
místico de Cristo. A redenção é efetuada por um dom gratuito de Deus: a
encarnação, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
Os cristãos têm na morte uma esperança, a
presença do eterno no tempo, a ressurreição. O homem deve passar pelos
sofrimentos da morte e crer em Jesus para salvar-se de seus pecados. Para os
cristãos Jesus morreu para salvar a humanidade.
A morte não é o aniquilamento de
tudo, não é o aniquilamento do ser, é apenas a transição para a ressurreição.
Não é uma fatalidade, é um aspecto real e cotidiano. Ao final dos tempos, com
Cristo, os corpos daqueles que foram batizados e portanto purificados do pecado
do nascimento, triunfará da morte e viverá eternamente, modificados pela
imortalidade da alma.
Quando um cristão morre, de acordo com a sua
conduta moral em vida, ele pode ir para o céu ou para o inferno. Seguindo os
Dez Mandamentos, sendo um bom cristão, não pecando, irá para o céu que é o
Reino de Deus, onde se viverá eternamente.
Esta oração abaixo é originária do Judaísmo
para os dias de jejum e acabou tornando-se uma das mais antigas orações cristãs
para os mortos, sendo até utilizadas por alguns cristãos talhadores de pedra de
Arles em seus sarcófagos na Idade Média.4
"Libera
Senhor a alma do teu servo, como liberaste Enoch e Elias da morte comum a
todos, como livraste Noé do dilúvio, Abraão fazendo-o sair da cidade de Ur, Job
de seus sofrimentos, Isaac das mãos do seu pai Abraão, Lot da chama de Sodoma,
Moisés da mão do Faraó, o rei do Egito, Daniel da caverna dos leões, os três
jovens hebreus da fornalha, Suzana de uma falsa acusação, David das mãos de
Saul e de Golias, São Pedro e São Paulo de suas prisões, a virgem
bem-aventurada Santa Tecla de três horríveis suplícios."
O dia dois de novembro é dedicado
aos mortos. No Catolicismo, são elevadas preces às almas sofredoras no
purgatório. É comum a visitação aos túmulos nos cemitérios, onde são geralmente
levadas flores ou bandeirinhas coloridas, símbolos da vida, que lembram a
promessa da vida eterna feita por Jesus a seus seguidores.
A extrema-unção, o último dos
sacramentos, consiste em ungir o moribundo. Porém essa prática está mais
associada à cura dos doentes, ou no caso de um agonizante, uma oportunidade de
confissão antes da morte.
Após sete dias da morte de um
católico, geralmente a família manda rezar uma Missa em memória do falecido.
Além dessa Missa do Sétimo dia também é comum se ter a Missa de Mês, celebrada
após trinta dias de morte.
JUDAÍSMO
A
Religião Judaica
São
descendentes do patriarca Abraão. Crêem que tenha sido feito um pacto entre
Deus e seus ancestrais, sendo este o motivo chave para que se mantenha uma
fidelidade a este Deus. São, portanto, monoteístas. Para os judeus o Messias
ainda virá.
O
livro sagrado é a Bíblia Judaica - Tanakh
-, em destaque, a Torá - nome de seus cinco primeiros livros, que teriam sido
revelados a Moisés. Ainda se tem a Nebiim e a Ketubim, Segunda e terceira partes
da Bíblia que se referem, respectivamente aos Profetas e vários Escritos.
Morte,
Sepultamento e Luto
"Adonai Hu Ha-Elohim"- o Senhor é Deus. Estas são as últimas
palavras de um judeu. Quando um judeu ortodoxo percebe que seu fim está próximo
recita o vidui, uma espécie de
confissão a Deus, depois o Shema Israel
e por último uma declaração simples acerca da crença judaica.
Em quase todas as comunidades há uma
sociedade funerária designada pelo termo hebraico chevra kadisha (ou Santa Irmandade). Estas são compostas por
voluntários sem remuneração que velam pela qualidade dos funerais dos judeus. A
preparação do corpo e o sepultamento é de responsabilidade desta irmandade,
dispensando os serviços dos agentes funerários. O corpo é tratado geralmente
por mulheres e depois envolto em um mortalha (tachrichim). E assim, levado ao cemitério com os devidos cuidados e
procedimentos que não necessitam ser aqui descritos.
A utilização do corpo de um judeu
para estudo em faculdades de Medicina é altamente condenável. A questão da
autópsia é um pouco mais aceita, por questões de segurança e inclusive em
países onde esta é obrigatória a lei judaica em nada pode interferir. A doação
de órgãos para a salvação de um a vida é bem vista pelos rabinos.
Ao ser notificado da morte de pai,
mãe, irmã (o), cônjuge ou filho (a) é requerido que se cubra a cabeça e se
recite esta bênção de pé: "Baruch
Ata Adonai, Elohenu Melech ha-olam, Dayan ha-emet" (Abençoado sede, ó
Senhor nosso Deus, Rei do Universo, o Verdadeiro Juiz). Como símbolo de luto,
deve ser feito a k'riah enquanto a
bênção é dita. Este ato consiste em rasgar a roupa da pessoa em luto com o
auxílio de alguém. O corte é de cerca de 7 a 8 cm no sentido vertical. Esta
prática não é feita para bebês de menos de trinta dias, para suicidas nem para
aqueles que deixaram o judaísmo. Mesmo se a notificação da morte chegue com
espaço de meses ou anos a prática da k'riah
é imediata, excetuando-se quando a notícia for dada num Shabat ou dia santo.
No retorno do cemitério, a família
deve "sentar-se em shiva".
Ë um luto de sete dias, onde todos devem ficar dentro de casa e não devem se
barbear, cortar o cabelo, usar roupas novas, sentar-se em cadeiras ou calçar
sapatos. Se no meio da semana do shiva
houver um dia santo, imediatamente o shiva
encerra-se. É comum que se diga uma prece na sinagoga em menção à memória do
falecido exatamente no 30º dia subsequente à morte e o funeral. Como
forma de consolo ao enlutado, alguém pode ir até sua casa para acompanhar-lhe e
sentar-se também em shiva, porém isso
não deve ser feito até o terceiro dia de shiva
nem mesmo dizer-lhe palavras de conforto. Meninas com até doze anos e meninos
com até treze não precisam sentar-se
em shiva porém fazem a k'riah.
Vida
após a Morte, Messias e Alma
Os judeus acreditam em vida após a morte. Apesar de não
haver nenhuma referência na Torá sobre vida pós-morte. Crêem que Deus não achou
necessário revelar algo sobre o mundo de além-túmulo, por isso, qualquer
narrativa de algum rabino não passa de mera hagadá
- especulação, lenda. É preciso acreditar nas palavras que dizem que não
deixarás a alma na perdição.
O importante para um judeu é viver dentro dos bons
costumes e deixar que Deus se responsabilize pelo que acontecer após a morte.
Abaixo são descritas as concepções judaicas de certos
aspectos:
·
Céu - o Gan Eden, ou Jardim de Éden é para onde
vão as almas dos justos.
·
Inferno - o Gehinom. Crê-se que nenhum judeu
permanece mais de um ano lá. Dentro deste tempo o pecado já foi pago e daí sua
alma vai para o Gan Eden. O Shabat é tão sagrado que crê-se que
nestes dias o Gehinom fecha e as
almas sofredoras descansam.
·
Julgamento - após a morte a
alma judia é conduzida a um tribunal celeste e dois anjos - um para acusar e
outro para defender - pesam seus pecados e suas boas ações numa balança e o
resultado será seu destino.
·
Reencarnação - a gigul
nechamot. Judeus ortodoxos acreditam que a alma judaica possa voltar à vida
em outro corpo ou como animal ou planta. A reencarnação não é encarada como
castigo, mas sim como a ausência de alguma boa ação, como se a alma estivesse
"devendo" algo que na vida anterior não realizou.
·
Exorcismo - uma alma pode
apossar-se de um outro corpo vivo por motivos de vingança ou outras razões.
Este espírito maligno é denominado dibuk
e só pode ser exorcizado por um homem sábio.
·
Messias - Chegará um dia que
o fim do mundo será anunciado por um homem judeu comum, chamado de Mashiach - Messias. Neste dia os mortos
ressuscitarão e se juntarão em Israel para viver eternamente lá. Elias anuncia
o Messias e ele é descendente da Casa de Davi.
·
Alma - Ela diferencia
homens e animais. Nos é dada por Deus. A prova de sua existência é a fala.
Consiste em três elementos: nefesh, ruach e n'shama.
-
Nefesh - É a força vital.
Contém a personalidade e carece de aspectos espirituais. Morre com o corpo.
-
Ruach - É o espírito. Sobrevive à
morte corpórea, porém não é possível saber quanto tempo e até onde. É neste que
um dibuk pode penetrar.
-
N'shama - É a "alma
sagrada". É eterna, sem princípio nem fim. Todos os homens a tem e a fala
provém dela, bem como os sentido e o intelecto.
ISLAMISMO
A
Religião Islâmica
Islam é uma palavra de origem árabe
que significa submissão, a submissão dos muçulmanos perante a vontade de Deus,
ou para eles, Allah. Allah, palavra de semítica, é o nome correto para o Ser
Superior, não varia nem em número nem em gênero.
O Islam não crê na idéia do Povo
Escolhido segundo cor, classe ou território.
Não se deve dizer que alguém se converte
ao Islamismo, mas sim, que se reverte, ou seja, retorna à origem, à
religião universal, porque segundo o profeta Muhammad (Maomé) todas as crianças nascem muçulmanas (submissas a
Allah), porém seus pais as conduzem a suas crenças pessoais.
A religião Islâmica é a apropriada
para direcionar o comportamento e regular as atividades humanas por principais
três motivos:
1º) O Islam é a religião
da humanidade;
2º) O Islam é a religião
verdadeira;
3º) O Islam é a religião
escolhida por Deus para Seus servos. Não aceitando nenhum outro tipo de culto.
A
Morte e a Aniquilação
O enterro de um muçulmano dá-se da
seguinte forma: seu corpo é envolto no ihram e levado para a mesquita, onde se
recitam preces fúnebres. O respeito ao falecido leva que este seja enterrado o
quanto antes num simples túmulo marcado por um pequeno monte de terra.
Morrer significa separar-se da vida. A
aniquilação é a total eliminação de algo.
A morte humana é o ingresso para a
vida eterna num outro mundo. Morrer não significa término da existência, mas o
começo da eternidade. A vida terrena precisa ser aniquilada em favor da vida
eterna.
Tudo tende a ser aniquilado e
destruído. E com o mundo assim também acontecerá. Vemos isto comprovar-se
através da existência de terremotos, meteoros, vulcões, torrentes, ventos
assoladores, estrondos e chuvas de pedras. Muitos povos anteriores sofreram a
sua aniquilação a partir destes acontecimentos e estes mesmos são uma breve
amostra do que será o Dia da Ressurreição. Porém, há um questionamento: esse
aniquilamento é mesmo o fim de tudo, ou o início da eternidade?
A Ressurreição e o Juízo Final
Ressurreição é o retorno a uma vida
nova após a morte. Parece um tanto impossível, mas segundos os muçulmanos, Deus
deu-nos provas de que a ressurreição é possível, afinal, foi Ele quem criou os
homens, pode então dar-nos novamente a vida; Ele criou o homem da terra na
primeira vez, portanto ainda que o corpo morto vire terra, pode haver
ressurreição; Deus é onipotente e seu poder é ilimitado.
No Dia da Ressurreição (Ya Umul Haxr), quando a trombeta soar pela primeira vez, tudo
sumirá, exceto Deus que irá ressuscitar o Anjo Israfil que tocará a trombeta
pela segunda vez, onde haverá a ressuscitação de todos os mortos, começando
pelo profeta Muhammad que há de se levantar primeiro. Os mortos retornarão
assim como morreram, por exemplo, os mártires volverão ensangüentados; e todos
ressuscitarão nus.
A Vida após a Morte e a Eternidade
Deus registra as ações de todos os
seres: seus atos, suas palavras, as expressões faciais que transmitem
sentimentos, a má influência sobre o comportamento de outrem. Cada humano terá
de passar pelo julgamento divino após morrer.
Na balança dos atos são levados em
conta a juventude, a velhice, a riqueza, a pobreza, a sabedoria e a ignorância,
pois estes fatores são capazes de modificar a intenção e o peso da ação
praticada.
Não se deve utilizar de mentiras,
esquemas ou tomarmos algo que não é nosso para si, pois isto também será
julgado no Dia da Ressurreição.
Eternidade refere-se a longa
duração, algo perpétuo. Os bons e crentes vão para os Jardins do Éden e os maus
e descrentes vão para o inferno tendo penosos castigos.
O Islam entende que para a prática
do bem acontecer, existem três fatores primordiais: a obrigação (o homem nasceu
para fazer o bem), o estímulo à divulgação do bem entre os muçulmanos e a
recompensa (o objetivo comum a todos).
Deus criou os homens e incumbiu-os
de serem responsáveis por seus atos; uns foram bem, outros mal. Por isso, é
preciso ter outra vida para recompensar o virtuoso e para castigar o malvado.
Outra evidência que justifica a
existência de outra vida é a curta estada do ser humano no mundo.
Crer ou não na vida após a morte é
fator chave para a conduta do indivíduo, isto é capaz de regular sua vida. Se
crê, sabe que sua vida eterna será um recompensa, o verdadeiro sucesso dado por
Deus.
O Islam ordena que o homem faça
caridade para agradar a Deus, que diga sempre a verdade e exige a transformação
e desenvolvimento moral do homem através dos ensinamentos morais do Alcorão.
Isso tudo é capaz de tornar o homem responsável por suas ações, tendo assim
como encarar Deus frente à Ressurreição.
A vida após a morte tem duas fases: a primeira (Alamul Barzakh) é a que vai desde a
morte até a ressurreição e a segunda (Alamul
Mahshar) é a que vai da ressurreição até o destino final eterno.
Fazer prece (duá) para os mortos muçulmanos e fazer
caridade em seu favor é benévolo: alivia um possível castigo (Azah) ou contribui para a elevação de
seu grau.
ESPIRITISMO
A
Religião Espírita
Assim como em todas as religiões, o Espiritismo também é
fragmentado em algumas doutrinas diferentes. O espiritismo de cunho politeísta
é derivado das religiões primevas vindas da África, sendo os cultos mais
conhecidos o da Umbanda, Candomblé e Quimbanda. A abordagem dos próximos itens
será segundo o espiritismo monoteísta, a doutrina de Allan Kardec, o
Kardecismo.
Os espíritas caracterizam-se principalmente pela
existência de um Centro Espírita, onde há a comunicação com os mortos através
de médiuns. Este Centro pode ser um Terreiro ou um Centro de Mesa, onde são
realizadas as sessões kardecistas.
A
Vida e a Morte
O fator morte dos
seres é o esgotamento de seus órgãos. A matéria se decompõe, toma nova forma e
o princípio vital retorna à massa.
O fluido vital pode ser passado de pessoa para pessoa. Os
que possuem mais podem ceder aos que tem menos, podendo restabelecer uma vida
que estava a se esvair.
A vida do Espírito é eterna, a vida do corpo é apenas uma
transição, está de passageira. Assim que o corpo morre, a alma volta à vida
eterna, mas essa separação não causa sofrimento ao corpo, em casos, é até um
alívio ao Espírito que tenha sofrido muito em vida. O desligamento do
perispírito é mais lento para aqueles que tiveram uma vida mais de apego ao
material e sensual, enfim, quando o espírito sente afinidade pelo corpo e para
aqueles que tiveram uma elevação no pensar, uma vida intelectual e moral,
investindo já em vida em sua libertação, o desprendimento é quase instantâneo.
De acordo com a afeição, o Espírito reencontra os parentes
e amigos, enfim, pessoas que tiveram afinidades em vida vêm o receber de volta
ao mundo dos Espíritos e ajudam a separá-lo dos laços da matéria. Mesmo porque
alguns ficam perturbados, tem dificuldade em aceitar ou demoram a entender que
já estão mortos: isso varia com o grau de elevação. Essa perturbação pode levar
horas, dias meses ou até anos. Geralmente nas mortes violentas, o Espírito se
espanta custa a entender sua condição.
A
Alma
A união da alma ao corpo inicia-se
na concepção, onde o espírito adquire um laço de fluido com o corpo que vai
habitar e que está se formando. Esse laço vai se estreitando à medida do
crescimento do feto. O grito do nascimento anuncia que o processo se completou
e que a criança está entre os vivos.
Assim que ocorre a morte, a alma regressa aos
mundo dos espíritos, de onde tinha saído momentaneamente para mais uma
encarnação.
Os espíritos mantém sua
individualidade através do Perispírito, ou seja, um fluido próprio que retém um
pouco da atmosfera de seu planeta e também a aparência da mais recente
encarnação. É um envoltório semi-material e não acaba com a morte do corpo,
apenas se separa deste gradualmente.
Morrer ainda criança pode significar
o complemento de uma vida anterior interrompida ou ainda uma prova para os
pais. A alma desta criança pode até ser até mais avançada do que de um adulto,
pois pode ter progredido mais.
As pessoas que possuem uma
perversidade nata são espíritos inferiores.
O mesmo espírito pode encarnar tanto
como homem quanto como mulher.
Os pais não repassam porções de suas
almas aos filhos porque a alma é indivisível. Um filho pode ter uma conduta
moral extremamente diferente da dos pais. O dever dos pais é desenvolver o
espírito dos filhos através da educação.
A
Reencarnação
A reencarnação é necessária para a
purificação da alma que busca a perfeição. Todas as almas precisam passar por
várias existências corporais, porém o número de vezes irá depender da
velocidade do progresso espiritual. Sua função e objetivo são a remissão das
faltas pelo sofrimento, o aprimoramento da Humanidade. Após chegar de sua
última encarnação, o Espírito torna-se o bem-aventurado, um Espírito puro.
Todos os Espíritos tendem a
perfeição e Deus lhes proporciona isso através das provas em várias vidas,
dando a oportunidade de realizar em uma outra vida o que não puderam ou
conseguiram concluir numa existência anterior.
Não é possível para um Espírito
regredir numa vida posterior. Os espíritos estão sempre progredindo, mas isso
não significa que não possa descer na escala social. Porém, como esse é um
processo "evolutivo", um homem mau pode reencarnar como um homem de
bem, visto que ele pode ter se arrependido e ganhou uma recompensa.
O corpo de uma nova encarnação não
possui relação com o anterior. Apesar de que o Espírito se reflete sobre o
corpo principalmente sobre o rosto, daí então é bem certo se dizer que os olhos
são o espelho da alma.
As ideais inatas nada mais são do
que uma lembrança de conhecimentos de encarnações anteriores.
O intervalo das reencarnações varia
muito. Geralmente é longo, de horas a séculos, porém alguns poucos reencarnam
imediatamente.
HINDUÍSMO
A
Religião Hindu
Integrante do grupo das mais antigas
religiões, o hinduísmo tem como idéia chave a crença num ciclo de nascimentos,
mortes e reencarnações e uma permanente busca de libertação deste ciclo.
São mais de 745 milhões de hindus no
mundo e a maioria encontra-se na Índia.
É uma religião politeísta e seus
deuses mais populares são Vishnu e Shiva, sendo respectivamente o Protetor e o
Destruidor. E o mantra OM é um dos principais. E a sempre presente nas figuras,
Flor de Lótus, é o símbolo da Alma.
Deuses
relacionados à Morte
A Mãe Divina do
Hinduísmo é Devi, que significa "deusa", e ela pode assumir várias
formas: a guerreira Kali, a terrível Durga ou ainda a suave Parvati e a
religiosa Uma. Como Kali tem o poder de libertar pessoas da reencarnação, pois
através da morte é possível escapar do ciclo infindável do renascimento; usa um
colar de caveiras, o símbolo da reencarnação. O trecho abaixo faz parte do mito
indiano retirado do Livro Ilustrado dos Mitos, "A Mãe da Vida e da
Morte" que fala sobre esta deusa.
"A
deusa Devi é a consorte de Shiva, deus da geração e da destruição. Ela é a mãe
de tudo, segurando em suas mãos tanto a alegria quanto a dor, a vida e a morte.
Ela é conhecida sob muitos nomes e muitas formas. Como mãe da vida, Devi traz a
chuva e protege contra as doenças. É suave e amorosa. Como mãe da morte, ela é
terrível. Como Durga, a deusa guerreira de cabelos amarelos, ela é bastante
assustadora. Tem oito braços e cavalga nas batalhas contra seus inimigos.
E
quando Durga está enraivecida, a deusa Kali salta de sua testa, e não são
apenas os malvados que devem correr com medo, mas também os bons. Porque Kali é
tão mortal e furiosa que fica inteiramente possuída pela sede de sangue. Se não
for detida, espalha a violência pelo mundo inteiro, lutando até que ninguém
fique vivo."
O deus hindu da morte é Yama. Ele cavalga um búfalo
carregando um laço e uma clava que utiliza para a captura de suas vítimas. É
aquele que governa a terra dos mortos e sempre está acompanhado por dois cães
de quatro olhos cada. Todas as almas que ingressam no Yamaduta precisa passar pelos cães que estão na entrada do reino. O
mensageiro deste deus é o responsável por guiar as almas em sua jornada.
Crenças
acerca da Morte
As etapas da vida de um hindu, como
a morte, são marcadas pelo Samkara, um rito de passagem que destina-se a
orientar a pessoa em sua próxima existência. Com referência a morte, geralmente
os hindus são cremados numa pira aberta que é acesa pelo filho mais velho de
quem faleceu. Os ossos são jogados no Rio Ganges, preferencialmente, para
purificar e libertar o espírito da pessoa.
Os Hindus crêem no Samsara, palavra vinda do
sânscrito que se refere ao ciclo da morte e do renascimento. E o renascimento
depende diretamente do estado espiritual de quando se morre. O Karma é a lei de
causa e efeito que governa vida e renascimento. O Karma, bom ou mau, ligado ao
fato de haver o Samsara é o que determina a Jati,
ou casta social, na vida próxima.
Para libertar-se do Samsara, o hindu visa
alcançar o Moksha e portanto entrar em harmonia com o Brahman. Para chegar ao
Moksha existem vários caminhos, dos quais estão entre eles: Jnana Marga (caminho
da sabedoria), Karma Marga (caminho da ação) e Bhakti Marga (caminho da
devoção). Cada caminho requer uma anulação do eu, dos sentidos e de outros
aspectos terrenos.
O Brahman é a realidade suprema, é só mente e
espírito, não há realidade na substância física. Na mesma proporção do que
significa este Brahman para o universo, é Atmã, alma eterna, para uma pessoa. O
encontro de Brahman com Atmã conduz ao Moksha, acima mencionado. Jivatmã, é
diferente de atmã, pois refere-se à mente e mundo cotidiano.
As escrituras hindus dizem que cada um tem um
Dharma, seu dever moral, e que precisa seguí-lo. Os Gurus e filósofos podem
ajudar a pessoa a buscar seu Dharma. Ahimsa é o princípio da não-violência e
respeito por todos os seres, não seguir isto implica em acumular mau karma.
Existem quatro metas hindus para a vida. A
primeira é o prazer (kama), a segunda é a prosperidade (artha), a terceira é o
dever moral (dharma) e a quarta é a iluminação (moksha).
BUDISMO
A
Religião Budista
Sidarta Gautama, ou posteriormente
Buda, é o centro desta religião. Ele não é encarado como um deus, mas como um
guia espiritual. Buda foi quem conseguiu libertar-se do ciclo da morte e
reencarnação quando atingiu a iluminação: o paranirvana. Teve discípulos a quem
ensinou as Quatro Nobres Verdades e os Oito Caminhos, ensinamentos estes que
combinam moral, meditação e concentração.
Os budistas podem também seguir
outra religião, porém sem deixar de lado os preceitos budistas.
Atualmente existem mais de 350
milhões de budistas no mundo e sua maioria encontra-se na Ásia, em destaque no
nordeste e sudeste asiático.
O budismo tem vários ramos, entre
eles o theravada e o mahayana. Aqui abordado será o budismo
mahayana ou tibetano.
Morte
O preceito básico dentro da doutrina
budista é ter consciência da impermanência e da morte. Parte-se da afirmação de
que a morte é certa e que precisamos nos preparar para ela, devemos pois pensar
diariamente no sofrimento, quer seja na hora do nascimento ou na hora da morte.
O seguidor do Budismo precisa dedicar sua vida à realização de seu Dharma e
nunca adiá-lo. É preciso tornar a vida significativa e fazer isso por meio da
compaixão. Eles visam uma paz e felicidade eterna, definitiva e não somente uma
prosperidade na vida atual, que é efêmera.
A consciência da morte leva a
desprender-se de qualquer apego material, uma vez que tudo fica, nada será
levado desta vida e deste mundo. Os prazeres mundanos são desprovidos de
qualquer relevância.
Encontrar a essência da vida é
libertar-se da doença, mortalidade, decadência, medo. É a libertação completa.
A onisciência é alcançada.
Ao se chegar no derradeiro dia de
vida, nas últimas horas não deve se ter nenhum tipo de arrependimento, remorso
ou medo, pois a negatividade na hora da morte pode levar o indivíduo a um
próximo renascimento inferior. Para "acalmar" o indivíduo é bom que
se mostre imagens de Budas ou bodhisattvas.
Logo após a ocorrência da morte, os
seres de mentes virtuosas terão a sensação de passar de escuridão para a luz e
não terão sofrimento. Os seres dominados pelo desejo ou rancor terão
alucinações e ansiedade. Poderão sentir-se queimando ou adentrando à escuridão.
Estas visões e sensações nada mais são que adiantamentos acerca do futuro
destes seres.
Ao morrer, a pessoa ingressa no estado
intermediário, o bardo. Possui sentidos físicos completos e sua aparência
corresponde à seu próximo renascimento. Consegue ver através de objetos, viaja
para qualquer lugar mas só são visíveis àqueles da mesma "categoria".
O tempo neste estado corresponde a sete dias.
Uma questão sempre pendente é a
existência ou não da vida após a morte. Os Budistas crêem nela sim partindo de
uma analogia da evidência de que como o pensamento da infância, de anos atrás
pode ser recordado, existiu uma consciência anterior a atual. E o instante
inicial da consciência não pode vir de algo permanente ou inanimado. As
recordações são claras e conhecidas e estas não poderiam vir se não de uma
existência anterior. O corpo pode agir influenciando a mente, mas não é a razão
primária de suas mudanças. Matéria não se torna mente e o contrário também não
se dá. Logo, a mente provém da mente. A mente da vida atual vem da mente da
vida anterior e será a base da mente da vida posterior.
Renascimento
e Refúgio
Os Budistas usam a palavra
Renascimento em detrimento de Reencarnação.
A "definição" de vida ou
morte é dada a partir da relação da consciência e corpo. Quando um está ligado
ao outro, tem-se a vida. A morte se dá a partir do momento que não existe mais essa relação.
Existem vários níveis para o
renascimento. O resultado das ações kármicas negativas são determinantes para o
renascimento em domínios inferiores de existência, dos quais são renascer como
um animal, um fantasma voraz ou um ser demoníaco.
O medo do sofrimento em vidas
posteriores motiva o budista a refugiar-se nas Três Jóias: o Buda, o Dharma e o
Sangha. Estas Três Jóias são o único meio que podem proteger contra o
renascimento em planos inferiores. Buda é o sábio, aquele que orienta; o Dharma
é o resultado de sua iluminação, os ensinamentos e o Sangha é a comunidade
espiritual, os seguidores de Buda.
Com o refúgio é possível redimir-se
de suas más ações, elas podem ser purificadas. Assumir o refúgio é encorpar o
objetivo de. alcançar o nirvana, a total
libertação, a total onisciência da consciência, a cessação das ilusões.
As experiências podem ser desejáveis
ou indesejáveis. O sofrimento, indesejável, é o ciclo da existência, o Samsara,
que origina--se a partir das ilusões e ações não-virtuosas. A eterna felicidade,
desejável, é atingir o nirvana através da prática do Dharma, o exercício da
compaixão e do desapego ao material.
Karma
É a lei da causa e do efeito. Ações
negativas levam ao sofrimento, ações positivas levam a felicidade. E a força
das ações não se deteriora com o tempo. Ainda que pequena, uma ação pode ganhar
um peso de grande importância, quer seja para o bem ou para o mal, o destaque é
bem maior para a intenção da realização da ação.
Sorte, segundo o budismo, também tem
uma explicação kármica. É o resultado também de suas ações, quer seja das
cometidas em vidas passadas ou numa
parte anterior desta mesma vida.
Um treinamento mental é requerido.
Uma mente treinada para a realização de bons atos, automaticamente sempre os
fará, o karma acumulado, então, será positivo.
As ações são produzidas através do
corpo, fala e mente. Através destes, pode-se cometer dez ações positivas e dez
negativas. Das dez negativas, três são físicas, quatro verbais e três mentais e
estas são estimuladas pelos três venenos: desejo ou apego, rancor e ignorância.
A primeira é matar outra pessoa. A segunda é roubar. A terceira é a má conduta
sexual. A quarta é falar mentiras. A quinta é fazer conversa divisória e causar
discórdia entre pessoas. A sexta é ofensa verbal. A sétima é a fofoca sem
sentido. A oitava é a cobiça. A nona é a intenção prejudicial (semelhante à
sexta). E a décima, pior de todas, é a visão errônea ou perversa que negam as
coisas que existem, inclusive a negação do karma e das Três Jóias.
Todas as ações podem ser
purificadas. A aplicação dos Quatro Poderes é capaz de purificar as más ações.
O primeiro poder é o arrependimento. O segundo é a purificação através da
meditação, de recitar sutras e outras atividades. O terceiro é a decisão de
nunca se envolver com más ações. O quarto é o refúgio nas Três Jóias.
Libertar-se do Samsara é possível a
todos, mas antes é preciso passar muitas vezes por ele. É preciso renunciar os
prazeres de uma só vida, pois estes são efêmeros. Que se dedique toda a vida
para se aproximar sempre mais da efetivação do Dharma e a obtenção da eterna
felicidade.
II. A LIGAÇÃO ENTRE AS CONCEPÇÕES RELIGIOSAS DA MORTE
Depois
da exposição das versões da morte de cada religião acima descrita, podemos
perceber e teorizar de que há uma verdadeira correlação entre todas elas.
Começando
pelo caráter da crença em deuses, o Cristianismo, Judaísmo, Islamismo e
Kardecismo (acima abordado como crença Espírita) seguem a mesma vertente de um
Deus único e criador, a força suprema e soberana de todo o Universo. Em
contraste com o Hinduísmo é politeísta, mas com uma característica em
particular, de crer em um deus mais poderoso do que os outros, o Brahman. E o
Budismo, completamente diferente das demais não possui em sua crença nenhum
tipo de deidade.
Para
entrar na real discussão da visão sobre a morte, não se pode deixar à margem a
idéia de que a religião é algo humano, criação humana e partindo do pressuposto
de que todos os homens tendem a pensar de forma semelhante, nada mais lógico
que as religiões tenham dogmas e credos parecidos.
O
Cristianismo e o Islamismo negam a reencarnação. Após a morte, os bons vão para
o Céu e os maus vão para o Inferno. Admitem um Juízo Final, onde haverá a
Ressurreição dos Mortos. Neste juízo final, Deus julga os bons e os maus e os
conduzem à vida eterna.
O
Espiritismo crê na Reencarnação como forma de construção de experiências a cada
vida que contribuem para a evolução do ser, assim como o Hinduísmo e o Budismo.
Em destaque os hindus e os budistas crêem no Samsara, que é o ciclo dos
renascimentos, onde cada nova vida é um passo em busca da iluminação: Nirvana
para os Budistas e Moksha para os Hindus.
Essa
proximidade entre o Cristianismo e o Judaísmo provém da origem de ambas, assim
como o Budismo e o Hinduísmo que também se parecem muito por terem nascido na
Índia. Jesus Cristo, o centro da religião cristã, era Judeu. Nada mais natural
que o Cristianismo tenha se apropriado de algumas crenças judaicas. Ambos crêem
na existência do céu e do inferno e de um julgamento. Porém o Judaísmo crê na
possibilidade da reencarnação como castigo ou dívida. A prática do exorcismo é
efetuada em ambas. E quanto a escatologia, para ambas haverá a ressurreição.
Desprender-se
do material é um dos comportamentos básicos e necessários para uma boa morte e consequente
desprendimento espiritual tanto para o Kardecismo, quanto para o Budismo e o
Hinduísmo. O indivíduo só cresce espiritualmente se dedicar sua vida às boas
ações, que refletirão em sua encarnação futura, a diferença, então, aqui se
encaixa: para os budistas e hindus crêem que é possível se regredir no
renascimento, devido ao acúmulo de karma negativo, o que traz sofrimento e um
certo distanciamento da iluminação, já para os Kardecistas, isso não é verdade,
o Espírito está em progresso sempre, mesmo se uma vida não for construtiva para
o caminho de sua perfeição, ela não acarretará em uma regressão na escala de
evolução espiritual.
Muito
curioso é poder estabelecer uma relação entre o Budismo e o Cristianismo, que
parecem ser tão distantes um do outro, porém são relações de partes
aparentemente distantes que comprovam a unicidade da linha do pensamento
religioso humano. As dez ações positivas e as dez negativas do Budismo é
relacionável aos Dez Mandamentos cristãos, já que dentre as ações negativas,
que não devem ser feitas, estão matar e roubar, igualmente nos mandamentos
cristãos. É claro que se pode dizer que toda religião não admite roubar ou
matar, afinal, não é de boa conduta moral que se faça tal coisa, e que na verdade
está não seria uma ligação tão válida, uma vez que estes atos já são
condenáveis independentemente de alguma doutrina religiosa. Mas o curioso é a
utilização do número dez: porque exatamente dez ações?
Outro elo entre Budismo e
Cristianismo encontra-se na purificação das ações. O que é chamado de ação
negativa para os Budistas, podemos classificar como o pecado para os cristãos,
já que ambos vão influenciar no destino pós-morte, quer seja para um
renascimento ou para o julgamento de Deus. Dentro dos Quatro Poderes budistas
que são capazes de purificar as ações, está o arrependimento, que é passível de
ligação à prática da confissão dos pecados, uma vez que ao se confessar o
cristão demonstra arrependimento, e o Padre lhe recomenda orações como forma de
se purificar, justamente, no Budismo, correspondendo ao segundo dos Quatro
Poderes: recitar sutras.
Mais uma das comparações
curiosas está entre o Hinduísmo e o Judaísmo. Longe de pensarmos que possam ter
algo em comum, muito curioso é o fato da palavra shiva encontrar-se nas duas crenças, apesar de terem significados
distintos. Divindade hindu, Shiva é o destruidor, que retira a vida para que
possa ser recriada; em sua representação, Shiva encontra-se de pé, porém sua
perna esquerda está levantada sobre a direita (que está com o joelho
flexionado) como se estivesse cruzando-a. Shiva dentro do judaísmo não é
divindade alguma, é um "modo de sentar-se": a prática do sentar-se em shiva corresponde a um
comportamento que a família de um falecido deve exercer ao retornar do enterro
do mesmo. Agora a questão que não conseguiu ser resolucionada em nenhuma
consulta às fontes bibliográficas é: qual a relação desta prática do sentar-se
em shiva com o Shiva, deus hindu? Surge a mera especulação pessoal: seria
sentar-se sobre o destruidor, aquele que causou o sofrimento com a morte do
parente? Seria sentar-se como a figura de Shiva, com as pernas cruzadas, como
sua imagem figura ser? Ou então seria justamente este período de luto judaico
que busca a destruição do pesar, superação da dor pela perda de um ente, para
em seguida começar uma "nova vida" com a ausência daquele que se foi?
Pois assim como o Shiva hindu, que tira a vida para dar outra, o judeu perdeu
um ente (foi então tirado uma vida) para que outra coisa aconteça, que uma vida
se renove e tenha outros rumos (uma nova vida). Realmente não se sabe a origem
do termo e nem se há alguma relação.
Enfim, as religiões são muito
parecidas. Pregam uma vida virtuosa, de pureza, bons atos, não-violência porque
estes atos certamente influenciarão no destino após a morte. Crendo quer seja
na vida eterna no céu ou no inferno, num ciclo infindável de renascimentos ou
em reencarnações, a conduta moral determina o que acontecerá, não importa a
religião que se siga, todas fazem esta mesma afirmação.
O que permanece sem resposta é:
em qual acreditar? Ou melhor, em o que acreditar? Mesclar todas e criar a
própria fé seria errado? Ater-se a um só dogma e negar e criticar a visão das
outras não é ser um tanto etnocêntrico?
Ninguém tem a certeza do que
acontece e ninguém sabe a verdade. E será que em algum dia poder-se-á saber? O
Budismo diz que crê no que Buda ensinou porque ele não teria razões para
mentir, todas as religiões assim crêem: seus antecessores, se é que existiram,
também não teriam razões para mentir. Mas não existem mais testemunhas. Todos
morreram, e todos continuarão morrendo. É preciso crer no que fica escrito. Mas
até onde as escrituras são fiéis aos originais? Até onde é possível se saber se
houve alguma intervenção da imaginação de um copista, ou se este permaneceu
imparcial e leal à escritura autêntica? Quanto mais velha a escritura ou texto
sagrado é, maior a dificuldade de se responder estas perguntas. E durante muito
tempo, quando a tradição foi oral, a facilidade de alterar o discurso é maior.
Quando pararam para reproduzir a tradição oral em registro escrito, a
veracidade já encontrava-se comprometida.
Não é uma questão de descrença
nas religiões. Esse problema de verossimilidade nos credos é válido à todas.
Mas o ser humano precisa ter uma crença, nem que seja a crença ateísta que crê
que em nada crê, crêem que tudo que as religiões dizem é mentira, porém a
negação já é uma forma de crença.
5 ARIÈS,
Philippe. O Homem diante
da Morte. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1981. Coleção Ciências
Sociais, vol. 1, p. 107.
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