Joenildo Fonseca Leite
Em cada Tradição Religiosa, as narrativas e os textos sagrados inspiram os adeptos na tomada de decisões, na aceitação de acontecimentos e nas expressões de fé. É sempre importante ressaltar que narrativas sagradas, em tradições de oralidade, são mantidas de geração a geração. Em muitas comunidades, as pessoas mais velhas assumem o papel de transmitir os ensinamentos, os costumes, as crenças e as tradições culturais.
É importante dizer que a oralidade é um dos mais antigos e valiosos meios utilizados pelos seres humanos para se comunicarem e tornarem conhecidos o que sentem, pensam, julgam, revelam, discordam, acreditam, bem como, situações da vida cotidiana.
Não menos importantes também são os registros escritos, que relatam tradições, modos de ser e de viver de um grupo de pessoas, suas regras de convivência, experiência religiosa e mantêm a identidade comunitária.
O acesso às narrativas e textos sagrados podem ser fonte de muita aprendizagem e também de descobertas.
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Essas são perguntas que os seres humanos fazem há muito tempo, procurando respostas na religião, na ciência e na própria história. Isso desperta em nós o interesse para investigarmos as origens e assim avançarmos na busca de sentidos à vida.
Há pressupostos para a análise das origens. A religião evoca a experiência mítica em relação ao Criador envolvendo crenças e fé. E através da cultura percebemos que há narrativas que também expressam suas concepções, como dos povos originários e dos povos africanos.
A prevalência de narrativas míticas se faz presente nos povos originários e nos povos africanos, contendo “verdades” e reflexões próprias sobre a origem do mundo, a criação dos seres e dos elementos, podendo conter aproximações entre povos ou distanciamentos.
Mito africano Nanã fornece a lama para modelagem do homem
“Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá
De fazer o mundo e modelar o ser humano, o orixá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o homem ar, como ele.
Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De pedra ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu.
Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã Burucu veio em seu socorro.
Apontou para o fundo do lago com seu ibiri, seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama.
Nanã deu a porção de lama a Oxalá, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã.
Oxalá criou o homem, modelou no barro.
Com o sopro de Olorum ele caminhou.
Com a ajuda dos orixás povoou a Terra.
Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo tem que retornar à terra, voltar à natureza de Nanã Bucuru.
Nanã deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Observação – Ibiri – cetro ritual de Nanã em forma de jota.”
Fonte: PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 93.
Mito nheegatu sobre as origens do mundo e dos humanos
“No princípio, contam, havia só água, céu.
Tudo era vazio, tudo noite grande.
Um dia, contam, Tupana desceu de cima no meio do vento grande, quando já queria encostar na água saiu do fundo uma terra pequena, pisou nela.
Nesse momento Sol apareceu no tronco do céu, Tupana olhou para ele.
Quando o Sol chegou no meio do céu, seu calor rachou a pele de Tupana, a pele de Tupana começou
logo a escorregar pelas pernas dele abaixo.
Quando o Sol ia desaparecer para o outro lado do céu, a pele de Tupana caiu do corpo dele, estendeu-se por cima da água para ficar terra grande.
No outro Sol [no dia seguinte] já havia terra, ainda não havia gente.
Quando o Sol chegou no meio do céu de Tupana pegou em uma mão cheia de terra, amassou-a bem, depois fez uma figura de gente, soprou-lhe no nariz, deixou no chão. Ela foi crescendo, ficou grande como Tupana, ainda não sabia falar. Tupana, ao vê-lo já grande soprou fumaça dentro da boca dele, então começou querendo falar.
No outro dia Tupana soprou também na boca dele, então, contam ele falou. E falou assim:
- Como tudo é bonito para mim! Aqui está água com quem hei de esfriar minha sede. Ali está o fogo do
céu com quem hei de aquecer meu corpo quando estiver frio. Eu hei de brincar com água, hei de corre por cima da terra; como o fogo do céu está no alto, hei de falar com ele aqui embaixo.
Tupana, contam, estava junto dele, ele não viu Tupana.
Observação – nheengatu é uma língua dos povos originários da família de línguas tupi-guarani.
Fonte: O UNIVERSO. Capítulo 1: A Origem do Universo na Mitologia e na Religião. Disponível em: http://www.ghtc.usp.br/Universo/cap01.html
Você já parou para pensar que toda religião é também um sistema de comunicação? Nas religiões, podemos identificar a comunicação entre as pessoas que dela fazem parte e a tentativa de comunicação com seres imateriais, como deuses, espíritos, entidades etc.
A comunicação entre as pessoas é fundamental para transmitir os conhecimentos que são próprios daquela tradição. Por isso, as religiões sempre dedicam tempo para ensinar às novas gerações suas práticas de culto. Essas práticas de culto, por sua vez, consistem em um sistema de comunicação com o mundo sobrenatural. Assim, através de palavras, gestos, símbolos, músicas, ou muitas outras formas, os participantes de uma religião buscam contato com seu(s) deus(es) para adorar, agradecer, pedir bênçãos ou tornar-se parte de uma comunidade sagrada. A seguir, explicaremos melhor sobre isso.
As palavras sagradas podem estar presentes em uma tradição religiosa de várias formas. Pode ser através de uma história mitológica, de livros sagrados, de orações que podem ser decoradas, ou mesmo de palavras isoladas cujo sentido esteja relacionado à religião.
Também podemos citar como exemplos de palavras sagradas as saudações utilizadas na Umbanda e Candomblé (como Saravá, Motumbá, Kolofé, Mukuiu, Mojubá etc.) e os mantras, palavras utilizadas durante a meditação para alcançar o controle da mente, e que podem ter valor religiosos em tradições orientais como o hinduísmo, o budismo, o jainismo e o tantrismo.
Os símbolos religiosos também são uma importante forma de comunicação. Eles podem servir para indicar o pertencimento de um fiel à sua religião, ou como forma de aproximá-lo de seu(s) deus(es). Em certos casos, os símbolos também podem indicar o lugar que o indivíduo ocupa na hierarquia religiosa, como participante ou sacerdote.
Um cristão católico, por exemplo, pode trazer um crucifixo ou escapulário pendurado em seu pescoço. O uso desse símbolo vai fazer com que as outras pessoas percebam qual é seu pertencimento religioso. Mas pode ser também uma forma de o indivíduo se sentir mais próximo de Deus, manifestando sua devoção.
Os gestos também podem ser considerados uma forma de comunicação com as divindades. De acordo com as regras litúrgicas de cada religião, existem gestos e ações que podem ter um significado considerado sagrado.
Podemos citar como exemplo de gestos sagrados a dança no Candomblé, ou o sinal da cruz entre cristãos católicos. Para ir um pouco mais longe, podemos falar sobre a foto ao lado. O homem está meditando na posição de lótus (padmasana). Esta prática surgiu ligada à yoga hindu. É comum vermos representações de Buda e de deuses do hinduísmo nessa posição, pois ela tem um significado de desapego, beleza, pureza, espiritualidade, iluminação, riqueza material e renovação cósmica.
O teólogo luterano Haroldo Reimer nos diz que: “A pergunta sobre a origem da vida e do mundo é uma questão existencial e requer soluções de ordem religiosa. O ser humano,como ser capaz de reflexão, elabora respostas que, no fundo, tentam decifrar o sentido da existência diante do mundo e de um poder criador. Ao longo do tempo, várias foram as formas artísticas de tais respostas decifradoras: pinturas rupestres, desenhos em vasos de barro, monumentos, miniaturas de marfim, textos míticos, filosofias, cosmovisões etc.” (REIMER, 2016, p. 1).
MITOS DE ORIGEM NOS TEXTOS SAGRADOS ESCRITOS
Haroldo Reimer
Mitos, paradigmas e significados para a vida
Uma das formas mais eficazes de responder à pergunta pelas origens últimas da vida, do mundo, da humanidade e dos costumes é o mito. O mito é um relato sobre deuses e heróis divinos de tempos antigos, em uma linguagem de grande poder explicativo e simbólico. Quando se fala em mito, deve-se superar o senso comum, de algo não verdadeiro e indigno de crédito. Mitos são histórias consideradas verdadeiras ou sagradas, que se referem à origem de algo e se constituem em paradigmas para as ações humanas dentro da respectiva comunidade. É preciso entender a linguagem das narrativas míticas e as imagens do ser humano subjacentes a tais projeções. Bem o afirma o romeno Mircea Eliade, grande pesquisador das religiões: “Conhecendo-se o mito conhece-se a origem das coisas”. Os mitos são expressões hermenêuticas de culturas específicas e podem conter arquétipos comuns a toda a humanidade, isto é, temas repetidos com pequenas diferenças em várias narrativas míticas.
Há diferentes classificações de mitos. Aqui, podem-se distinguir três: mitos teogônicos, cosmogônicos e civilizatórios. O primeiro conta a origem de deuses e divindades nos tempos imemoriais. O último narra a origem de usos e costumes dentro de uma determinada cultura, como hábitos alimentares, vestuário ou comportamento. Os mitos cosmogônicos tratam essencialmente da origem do cosmo. Os diversos mitos nem sempre aparecem na forma pura proposta nas classificações dos estudiosos. Mas sempre procuram narrar a origem de algo existente.
Mitos cosmogônicos
Quase todas as religiões conhecidas narram a origem mítica do Universo e da humanidade. Na antiga Babilônia, havia o mito de Enuma Elish, que é um misto de mito teogônico, cosmogônico e civilizatório, pois narra a origem dos deuses, sendo Marduk, a divindade protetora, e como os deuses criaram o ser humano, indicando, já na origem mítica, formas de comportamento, como o trabalho incessante, quase escravo. Na China, o mito do Ovo Cósmico fala de um tempo em que só havia o caos, encerrado na forma de um ovo de galinha, no qual os princípios fundantes, Yin e Yang, o masculino e o feminino, entraram em conflito e, quebrando o ovo, iniciaram a criação com o surgimento de PanGu, o primeiro ser, encarregado de manter separados o céu e a terra. Cansado, PanGu morreu e, das pulgas que habitavam seu corpo, nasceram os seres humanos. Na Grécia, conforme o relato de Hesíodo, o cosmos surgiu de elementos preexistentes. O Hino do Homem Primordial, nos Vedas da Índia, fala de Prajapati, o senhor dos seres – mais tarde identificado com o deus Brahma – como homem cósmico, cujo corpo é sacrificado e do qual surge a variedade do mundo das formas. O mito, enquanto linguagem humana, é sempre veículo de expressão das convicções profundas existentes em determinada cultura.
Mito na Bíblia
Nas primeiras páginas da Bíblia, o povo de Israel também expressou sua fé e suas convicções mais profundas pela linguagem mitológica. Porém, dizer que o texto de Gênesis 1 é um mito é uma afirmação que levanta questionamentos, porque a Bíblia é um texto sagrado escrito, entendido como revelado, por inspiração verbal divina. Chocam-se, aqui, o conceito de revelação e a noção de mito e cultura.
Muitas vezes, na perspectiva cristã, os mitos são colocados em nível inferior à revelação. No caso dos textos bíblicos, eles se “tornaram” sagrados ou canônicos [= regra - reconhecidos pela comunidade] após um longo processo de tradição, cuja base é a articulação da fé como resposta humana a um desafio histórico ou a uma interpelação divina em processos históricos. Na formação das tradições bíblicas que se tornaram canônicas, há um sincretismo. Os autores sagrados souberam aprender das culturas e das religiões do entorno de Israel. Além disso, as narrativas em linguagem de estrutura mítica fazem parte dos conjuntos das religiões. A linguagem mítica é constitutiva da própria religião.
O mito de origem hebraica, registrado no começo do livro de Gênesis, é uma produção cultural dos israelitas, que souberam aprender dos povos do entorno cultural. É possível que as origens dessa narrativa possam ser alocadas para o tempo do exílio, quando uma parte do povo hebreu foi deportada para a Babilônia. Naquele contexto deu-se um confronto cultural e religioso com a religiosidade babilônica, cuja expressão mítica das origens era o Enuma Elish. Partes do mito babilônico foram recontadas na perspectiva hebraica. Assim, o texto se constituiu em uma narrativa “contra cultural”, isto é, um grupo cultural dominado reagiu contra os dominadores, assumindo e modificando partes essenciais da religião dominante. Mais tarde, o texto foi reelaborado para abrir a coleção de textos sagrados do judaísmo, a Torah. O cristianismo, na herança judaica, professa suas crenças sobre as origens do cosmo em conformidade com este texto e de forma similar procede o islamismo.
Fonte: REIMER, Haroldo. Mitos de Origem nos textos sagrados escritos. Disponível em: https://www.paulinas.org.br/dialogo/?system=news&action=read&id=12448. Acesso em 17 maio 2021.
Os símbolos religiosos podem ser reconhecidos em atos ou gestos, nos objetos ou até mesmo em pessoas. Em diferentes Tradições Religiosas, os adeptos encontram maneiras de expressar a sua crença e de trazer à memória tanto fatos como pessoas. E, muitas vezes, quando não há respeito às diferentes formas de expressar as Tradições Religiosa poderemos reconhecer que há Intolerância Religiosa.
Muitas campanhas de combate à Intolerância Religiosa são promovidas por pessoas e organizações que querem conscientizar a sociedade dos preconceitos religiosos.
Sinais, signos e símbolos: conceituando os termos
Três termos próximos, mas que têm significados diferentes. Eles nos aproximam, permitem a comunicação, identificam uma sociedade, e fazem parte da vida dos seres humanos. No dia a dia usamos gestos ou movimentos para avisar, sinalizar, advertir ou até mesmo para caracterizar as pessoas. O sinal tem um conteúdo objetivo, para ser compreendido, requer um prévio conhecimento: sinais de trânsito ou das operações matemáticas.
O signo retrata concretamente o conteúdo que se quer comunicar, que se quer indicar e só funciona se tiver um único significado que, de maneira rápida, eficiente e clara, transmita uma ideia. Com certeza você já ouviu falar em signos do zodíaco. E você sabia que há signos do zodíaco diferentes? Eles variam de acordo com a cultura, com os povos, com os mitos.
Já o símbolo é constituído de forma e significado, desperta a memória, o conhecimento e a emoção.
A palavra “símbolo” é derivada do grego antigo symballein, que significa agregar. Há pouco tempo li no Almanaque Ilustrado Símbolos que o uso figurado do símbolo: originou-se no costume de quebras de um bloco de argila para marcar o término de um contrato ou término de um contrato ou acordo: cada parte do acordo ficaria com um dos pedaços e, assim, quando juntassem os pedaços novamente, eles poderiam encaixar como um quebra-cabeça. Os pedaços, cada um identificado uma das pessoas envolvidas, eram conhecidos como symbola (O’CONNELL; AIREY, 2010, p.6).
Essa leitura nos traz a memória dos símbolos de amizade verdadeira, comum com o compartilhamento de colares, usados por mais de uma pessoa, os chamados de best friend forever. É bem possível que você ou alguém na sua casa tenha um objeto que esteja relacionado a um fato importante de sua vida. E ao olhar para ele, você pode ter lembranças de situações vividas ao longo da sua vida.
A bandeira brasileira tem alguns símbolos que podemos identificar facilmente: as estrelas, por exemplo, mostram a quantidade de estados da nossa nação e o Distrito Federal. As cores representam: as matas e florestas (retângulo verde), o ouro (losango amarelo), o céu estrelado (círculo azul) com a faixa “Ordem e Progresso”. Em nossa bandeira, não há um símbolo religioso, porém, eles estão presentes nas bandeiras nacionais de um terço do total de 196 países do mundo. Isso significa que 64 países são incluídos nessa categoria religiosa, de acordo com uma pesquisa realizada pela Pew Research.
Segundo as análises do estudo, dessas nações, cerca de metade têm símbolos cristãos (48%) e um terço inclui símbolos islâmicos religiosos (33%) em suas bandeiras, sendo oriundos dos dois maiores grupos religiosos do mundo, que aparecem em várias regiões.
Acerca dos símbolos cristãos, alguns países da Comunidade de Nações Britânicas (composta por 53 nações) continuam a incorporar referências cristãs em suas bandeiras. Além destas, Espanha, Grécia, Noruega e República Dominicana estão entre os países que utilizam símbolos nacionais cristãos.
O islamismo, segunda maior religião presente no mundo, comina muitas nações do continente africano.
Os símbolos islâmicos são encontrados nas bandeiras dos 21 países da África subsaariana, na região Ásia-Pacífico, no Oriente Médio e Norte da África.
Em se tratando de símbolos religiosos budistas ou hindus, eles aparecem em cinco bandeiras nacionais, sendo que, em três desses casos, os símbolos se aplicam a ambas as religiões. Por exemplo, a bandeira cambojana retrata Angkor Wat, um templo historicamente associado tanto com o hinduísmo quanto com o budismo.
A bandeira do Nepal também se encaixa nessa característica, possuindo símbolos budistas e hindus para representar os dois grupos religiosos predominantes no país. A Índia também é assim, sendo que a roda azul-marinho do centro (conhecida como Ashoka Chakra) tem um significado simbólico para ambos os grupos.
Já Israel se mantém como o país solitário com símbolos judaicos em sua bandeira nacional, incluindo a estrela de Davi e um fundo listrado branco e azul, que representa um xale de oração judaica tradicional.
Segundo o Pew Research, seis países têm símbolos associados a várias outras religiões em suas bandeiras, como o Japão. A bandeira japonesa contém um hinomaru, ou sol nascente, que representa as raízes espirituais xintoístas dentro do antigo império japonês.
Já na América do Sul, o sol dourado brilhando está presente nas bandeiras de duas nações: Uruguai e Argentina. Acredita-se que o astro rei representa o deus inca do sol Inti.
Na bandeira do México, o deus asteca Huitzilopochtli pode ser visto como uma águia empoleirada em cima de um cacto com uma serpente em seu bico – uma imagem lendária que se acreditava ter aparecido para o povo asteca, instruindo-os a construir a antiga cidade de Tenochtitlan.
O PERIGO DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
“O dia nacional de combate à intolerância religiosa é comemorado anualmente em 21 de janeiro.
Essa data serve para alertar as pessoas sobre o problema da intolerância gerado pelo desrespeito às diversas crenças existentes no mundo.
Diante disso, essa comemoração é considerada um marco pela luta ao respeito da diversidade religiosa, pois além de alertar para a discriminação no âmbito religioso, propõe a igualdade para professar as diferentes religiões. Vale lembrar que o preconceito e a intolerância religiosa são considerados crimes no Brasil, passíveis de punição prevista no Código Penal.
A data foi oficializada em 2007 através da Lei n.o 11.635, de 27 de dezembro, e a sua escolha foi feita em homenagem à Mãe Gilda, do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, localizado em Salvador.
Esse foi o dia em que ela, vítima do crime de intolerância religiosa, faleceu com um infarto no ano 2000. Isso aconteceu na sequência de agressões físicas e verbais, bem como de ataques à sua casa e ao seu terreiro quando Mãe Gilda foi acusada de charlatanismo por adeptos de outra religião.
Mãe Gilda tornou-se um símbolo do combate a esse tipo de intolerância, especialmente pelo fato de simbolizar religiões de matriz africana. Este grupo representa o maior número de vítimas de intolerância religiosa na atualidade. Por esse motivo, como forma de combater a intolerância religiosa, surge um dia dedicado ao tema, cujos crimes aumentaram de forma substancial nos últimos anos.”
Espiritualidade e Mística
Os termos espiritualidade e mística são muito próximos em seu significado. Às vezes, eles chegam a ser tratados como sinônimos. Porém, existem algumas diferenças fundamentais entre eles.
A espiritualidade oferece sentido à vida humana através da conexão com algo que é maior do que a si mesmo.
A mística oferece sentido à vida humana através da conexão com Deus.
A espiritualidade pode ou não ser religiosa. A mística é, necessariamente, religiosa.
A espiritualidade pode ser considerada uma dimensão humana.
A mística é experimentada por algumas pessoas, mas não todas.
A espiritualidade pode ser experimentada, inclusive, no ateísmo.
A mística pode ser experimentada no monoteísmo ou politeísmo, mas nunca no ateísmo.
A espiritualidade pode ser desenvolvida racionalmente.
A mística é uma força afetiva que vai além da razão.
A espiritualidade motiva e orienta as ações humanas.
A mística motiva e orienta as ações humanas, mas também explica o mundo através das tradições religiosas.
A mística é necessariamente religiosa. Nem todos vão experimentá-la.
A espiritualidade, por sua vez, pode ser ou não religiosa. Por isso, ela está acessível a todos.
A espiritualidade é aquilo que o ser humano considera de maior importância, e que dá sentido à sua vida.
A espiritualidade pode ser explicada como a dedicação da vida de uma pessoa, por livre e espontânea vontade, a uma causa que lhe preenche o coração.
A mística confere sentido à vida interpretando-a de acordo com uma tradição religiosa.
O mundo e a realidade adquirem significado por serem, de alguma forma, sagrados.
A interpretação mística do mundo confere significado a todas as coisas, sejam elas boas ou más.
Tudo é reinterpretado a partir da visão religiosa, assumindo um sentido mais amplo que a visão natural do mundo.
Mística ou Espiritualidade?
“Digo-lhes hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença:
“Consideramos estas verdades como auto evidentes que todos os homens são criados iguais”. (...)
Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão numa nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo governador cospe palavras de “interposição” e “anulação”, um dia bem lá no Alabama meninos negros e meninas negras possam dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia “todos os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas; os lugares mais acidentados se tornarão planícies e os lugares tortuosos se tornarão retos e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão conjuntamente”.
Com essa fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ser presos juntos, defender a liberdade juntos, sabendo que um dia haveremos de ser livres. Esse será o dia, esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado:”
Meu país é teu, doce terra da liberdade, de ti eu canto. (KING JR., Martin Luther)
“Falar de meio ambiente para nós é falar de nosso sagrado. O arco-íris, para nós, é sagradíssimo. (...) Sem folha, não tem fundamento, não tem orixá.
O meio-ambiente, a natureza, é tudo pra gente. É a coisa mais sagrada que a gente tem. A gente acredita num Deus maior, num Deus supremo, Olodumaré, mas a gente acredita que a água, ela é sagrada. Que o vento, ele é sagrado. Que o fogo, ele é sagrado. Que a terra é sagradíssima. A gente tem que cuidar da natureza porque a gente precisa da natureza pra viver.
Eu sou da Oxum, sou Mãe Beth de Oxum. Então, meu ancestral mais antigo foi a água. O mais antigo, mais longínquo, foi a água. Quando a gente se reporta a um orixá, ‘eu sou de Oxum’, ‘eu sou de Iansã’, ‘eu sou de Iemanjá’, você é o que? Você é a natureza! Inclusive é uma coisa que não cabe dentro desse sistema, não cabe dentro do capitalismo. (...) A água dentro do sistema, dentro do capital, é tida como uma mercadoria como outra qualquer. (...) Eu acho que as cidades caminham para um lugar muito inóspito. Você perde a relação com a natureza, você perde a relação com a terra, você perde a relação sagrada com a água. É isso que é progresso? Se isso for progresso, esse progresso não nos interessa.”
2018. PERIFERIA EM MOVIMENTO. Saberes da natureza: Mãe Beth de Oxum – Periferia em Movimento.
Cântico do Irmão Sol
Altíssimo, Onipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória e a honra e toda a bênção.
Somente a ti, ó Altíssimo, eles convêm,
E homem algum é digno de mencionar-te.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
Especialmente o Senhor Irmão Sol,
O qual é dia, e por ele nos iluminas.
E ele é belo e radiante com grande esplendor,
De ti, Altíssimo, traz o significado.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas,
No céu as formaste claras e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
E pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é mui útil e humilde e preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
Pelo qual iluminas a noite, e ele é belo e agradável e robusto e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a mãe terra
Que nos sustenta e governa
E produz diversos frutos com coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, por que perdoam pelo teu amor,
E suportam enfermidade e tribulação.
Bem-aventurados aqueles que as suportarem em paz,
Porque por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a morte corporal,
Da qual nenhum homem vivente pode escapar.
Ai daqueles que morrerem em pecado mortal:
Bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade,
Porque a segunda morte não lhes fará mal!
Louvai e bendizei ao meu Senhor,
E rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade.” (S. Francisco de Assis)
LAICIDADE E RELIGIÃO
Laicidade é uma forma de relação política entre o cidadão e o Estado e entre os próprios cidadãos. Ela permite que haja separação entre a sociedade civil e as religiões, de forma que o Estado não exerça nenhum poder religioso e as igrejas não exerçam poder sobre o governo.
Em um país em que a laicidade existe de verdade, as pessoas têm liberdade para seguir a religião que quiserem, para trocar de religião ao longo da vida e até para não ter religião. Cada pessoa é responsável por sua própria consciência religiosa e sua escolha não pode afetar seus direitos de cidadão.
Um Estado laico deve encontrar meios para garantir que todas as pessoas, todos os grupos religiosos e todas as filosofias de vida possuam direitos iguais e liberdade de expressão.
É importante ressaltar que um Estado Laico não sofre interferência de nenhuma religião, mas também não deve interferir nos seus princípios, práticas e conceitos. Dessa forma, cada religião deve ser respeitada em sua essência.
Laicidade não é sinônimo de anti religiosidade. É possível para uma pessoa, ao mesmo tempo, ter fé religiosa e ser laica. Porque a laicidade não combate as religiões, mas lhes oferece proteção e direitos iguais. Esse cuidado deve ser especial com os grupos minoritários, que tendem a sofrer mais com o preconceito e a intolerância.
“A cada três dias, em média, uma denúncia de intolerância religiosa chega à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Entre 2011 e 2014, 504 queixas desse tipo foram relatadas à pasta pelo Disque 100 – canal de denúncias para violações dos direitos humanos, que são repassadas à polícia e ao Ministério Público. [...] Em 2013, 45 episódios relatados de intolerância religiosa envolveram violência física (20% dos casos do ano). Até julho de 2014, outros 18 haviam sido registrados (12%). Fiéis de religiões de matriz africana (candomblé e umbanda) são os alvos mais comuns dos relatos de intolerância recebidos pelo serviço – um terço dos episódios em que há essetipo de detalhamento.”
(Folha de S. Paulo, 27/06/2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/06/1648607-a-cada-3-dias-governo-recebe-uma-denuncia-de-intolerancia-religiosa.shtml>. Acesso em 14 de maio de 2021.)
Tipos de Estado
Nem todos os Estado seguem a laicidade como modelo político. Veja, a seguir, alguns exemplos de opções bem diferentes da que experimentamos aqui, no Brasil.
Estado confessional
Estado confessional é aquele que adota uma religião oficial. Essa religião adotada não terá poder irrestrito e absoluto e pode não estar tão fortemente ligada às decisões governamentais e às políticas de Estado. No entanto, o simples fato da adoção de uma religião oficial pode excluir a importância das outras. Um exemplo atual de Estado confessional é a Inglaterra. Embora haja plena liberdade, o anglicanismo ainda é considerado a religião oficial.
Estado teocrático
Teocracias ou estados teocráticos são aqueles em que há uma religião oficial adotada e os sistemas Legislativo e Judiciário estão sob tutela dessa religião. As atuais teocracias são os países subjugados às leis religiosas (como o Irã, orientado pelo Islã) e o Vaticano, menor Estado do mundo, sob orientação cristã Católica.
Estado ateu
Um Estado ateu é aquele que combate a religião em seu interior por não enxergar nas práticas religiosas algo que reforce a ideologia e a postura de tal Estado. Exemplos de Estados ateístas são os países socialistas do século XX, como a União Soviética, a China e a Coreia do Norte. Todos os países mencionados garantem, hoje, a liberdade religiosa, e a Rússia (integrante da extinta União Soviética) é, atualmente, um país laico.
Quando tratamos de religião, no contexto brasileiro, falamos de uma realidade muito diversa. A história de formação do nosso povo fez com que convivessem diversas tradições religiosas. Além disso, muitas pessoas hoje não seguem nenhuma religião. Para que todas as pessoas tenham liberdade de assumir sua própria identidade religiosa, o Estado assegura, através da Constituição Federal, a liberdade de consciência, de crença e de culto. Além disso, o Brasil é considerado um Estado laico, ou seja, as crenças religiosas não podem influenciar o governo, e o governo não pode interferir nas tradições religiosas.
Porém, como pessoas, cada um de nós tem a sua própria identidade religiosa, que influencia nossa forma de ver o mundo, e a forma como nos portamos politicamente. Existem dois principais tipos de postura das pessoas no que se refere à relação entre religião e política:
• Pluralistas: Acreditam que a interpretação da revelação ou dos textos sagrados de uma religião pode oferecer princípios que podem ser aplicados no contexto social atual. Dessa forma, a religião inspiraria a política.
• Fundamentalistas: Acreditam que a revelação ou os textos sagrados de uma religião devem estruturar a sociedade em todas as dimensões. Dessa forma, a religião determinaria a política.
O sentido da vida, diante da certeza da finitude, leva o ser humano a refletir sobre suas limitações, pois mesmo diante de todo avanço científico, ele continua buscando resposta e encontra algumas, nas religiões. Nas tradições religiosas o ser humano encontra algo que oferece sentido para a existência além da vida. A existência de vida após a morte é uma crença que existe há muito tempo e se expressa de diversas formas. Alguns acreditam na ressurreição dos mortos, outros na transmigração, na reencarnação e na ancestralidade. Além dessas crenças existem filosofias de vida em diferentes culturas que defendem a possibilidade de que com a morte tudo acaba e que nenhuma outra forma de vida é possível ou real, por exemplo: o Niilismo. Essa concepção filosófica defende a inexistência de fundamento metafísico para justificar a existência humana e divina. Os adeptos da perspectiva niilista organizam sua vida e buscam dar sentido a ela a partir de princípios e valores voltados para o tempo presente.
A crença na reencarnação é encontrada nas tradições religiosas como o Budismo, o Espiritismo, Hinduísmo, as quais acreditam que a alma da pessoa que morre renasce. A vida é considerada como uma força que ciclicamente se renova em busca de plenitude. A morte seria uma interrupção temporária, mas não o fim.
Nas tradições religiosas do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, acredita-se na ressurreição, que significa “voltar a levantar-se”, ressurgir”. Como o despertar de um sono (diz-se “os que jazem no sono da morte”), ressuscita-se. A diferença é que não volta a esta vida, nem num determinado tempo e espaço.
A Transmigração é uma doutrina filosófica de origem indiana, transportada para o Egito de onde mais tarde Pitágoras a importaria para a Grécia. Os discípulos desse filósofo ensinavam ser possível uma mesma alma, depois de um período mais ou menos longo no império dos mortos, voltar a animar outros corpos de homens ou de animais, até que transcorresse o tempo de sua purificação e pudesse retornar à fonte da vida.
A ancestralidade, presente nas tradições religiosas africanas, é a crença na sobrevivência dos espíritos dos antepassados, que são considerados ancestrais por terem vivido exemplarmente na comunidade, transmitindo ensinamentos e contribuindo com a estabilidade da tribo ou comunidade.
Com todo avanço científico e tecnológico, o ser humano ainda se encontra buscando respostas para as grandes perguntas existenciais: De onde vim? O que sou? Para onde vou? Essas questões causam conflitos, criam discussões entre estudiosos e até mesmo, produzem novas reflexões e conhecimentos.
Quanto mais se estuda e se observa as várias expressões da vida humana, constata-se que tudo está interligado e que nada fica de fora da trama da vida. Parece que tudo está em sintonia, seja com o ser superior, para quem tem fé, ou com o cosmos e a natureza, e o ser humano continua tentando compreender o seu lugar e valor nisso tudo, se existe sentido em tudo e em todos os seres do planeta. Muitos se colocam em atitude harmônica com o todo, praticando ações que buscam o equilíbrio com o Universo.
“O questionamento é um portal para a projeção, é o limiar de onde o ser humano salta para a experiência transcendental, rumo a um lugar infinito, quanto mais respostas for capaz de dar, como o horizonte que se retira para mais longe. O ser humano é a pergunta que se levanta perante si mesmo, vazia, mas real e inevitável, à qual ele nunca pode superar nem responder adequadamente.” (SCHOCK, 2010, p. 15).
O que pressupõe a concepção do valor da própria vida, da dignidade do ser humano, como valor primordial, nunca é um valor relativo. Se substituído ou colocado em função de outros valores, que não ao da sua plena realização como um ser-alguém, para a felicidade de si mesmo e daqueles com quem convive e reconhece pelos mesmos motivos, seria a negação do seu próprio ser como pessoa.
Trata-se de reconhecer o outro como ser em si mesmo, na sua individualidade, com liberdade de pensar, querer, agir, expressar-se, ser aceito na diferença, admitido como único na sua condição, ávido de sobreviver como ser humano. Em consequência, com direito ao seu espaço, isto é, com a devida segurança para a própria vida. Vida que todo ser humano deseja ter e manter, de querer superar a si mesmo, de prosseguir além do próprio limite em busca da plenitude do ser, em toda as dimensões; vida que depende da natureza, dos demais seres nela inseridos e com os quais se relaciona, em diferentes níveis e situações.
O reconhecimento do outro como ser humano, em igualdade de condições, em se tratando de direitos e deveres, tem a ver com a cultura da paz. E antes de tudo, com um projeto de vida, que desliza sobre dois trilhos: o da solidariedade e o da linguagem como “epifania” do Ser. Tais trilhos são sustentados por princípios democráticos originados de uma ampla concepção de pessoa.
A linguagem, como “epifania do ser”, traduz normalmente tal espiritualidade e permite ao ser humano encontrar novas maneiras de promover a solidariedade, graças às diferentes formas culturais de manifestar a compreensão da vida. Se ela for melhor compreendida, novos horizontes são ampliados para a efetivação da paz.
Imanência e transcendência
Os termos imanência e transcendência são opostos e designam aquilo que se encerra em si e aquilo que tem um sentido mais, que vai além de si mesmo. Para melhor entendimento vejamos os conceitos:
A imanência refere-se a algo que tem em si próprio o seu princípio e o seu fim. Está ligada à realidade material, apreendida imediatamente pelos sentidos do corpo: o mundo, a natureza e tudo mais que é concreto. A transcendência está relacionada a algo que possui um fim externo e superior a si mesmo, que se supera, vai além da realidade. Está ligada à realidade imaterial, à natureza metafísica, um sentido.
O ser humano se constitui enquanto ser de imanência (dimensão concreta, biológica e histórica) e de transcendência (dimensão subjetiva, simbólica, a capacidade de superação e de resiliência). Ambas as dimensões possibilitam que os humanos se relacionem consigo mesmo (autoconsciência), entre si (alteridade), com a natureza (meio ambiente) e com divindade (espiritualidade), percebendo-se como iguais e diferentes.
Tudo pode ter uma dimensão imanente e transcendente, ou seja, histórica, encarnada no mundo, ou espiritual, que vai além das coisas concretas. Não é correto classificar religiões imanentes e religiões transcendentes. As instituições religiosas também têm essas duas dimensões: enquanto cuidam de sua manutenção e dos seus fiéis, ajudando-os a viver neste mundo, mostram sua dimensão imanente; nos rituais e cultos, nas liturgias e orações, apesar de acontecerem situadas na história, no espaço e no tempo, apontam e levam as pessoas a viver a dimensão transcendente, sonhar, ter esperança, superar seus problemas e sofrimentos e a cuidar e cultivar essa dimensão.
A discussão sobre a diferença entre imanência e transcendência pode ser compreendida no contexto religioso. Muitas tradições religiosas percebem o ser humano como realidade concreta, ser corpóreo, ser no mundo, mas também uma realidade espiritual, transcendente, que algumas religiões chamam de alma ou de espírito. Por exemplo, no cristianismo, a figura de Jesus Cristo articula essas duas dimensões: o homem Jesus, ser histórico, é a presença transcendente de Deus, é o Cristo.
A discussão envolvendo os dois termos é antiga. O filósofo Platão foi o primeiro a reconhecer a diferença entre uma realidade imanente e uma transcendente em sua filosofia, pois estabeleceu a distinção entre duas realidades: uma realidade material e sensível e outra realidade imaterial e suprassensível.
Mas algumas visões filosóficas e religiosas, como o Maniqueísmo, radicalizaram a distinção e produziram concepções dualistas, identificando qualquer realidade imanente como má e o transcendente como perfeito.
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