MITOS, RITOS E
SÍMBOLOS
No
mito se contam histórias sagradas Que o rito corporifica No símbolo os
significados brotam Cheios de possibilidades e interpretações. A religião como
busca de tornar a ligar Encontra no símbolo a reunião dos sentidos Marca no
rito o tempo sagrado O tempo do nascer e do morrer Também o tempo de se tornar
adulto. Cada religião com seus próprios mitos, ritos e símbolos Carrega em si o
sonho De que a pessoa comum e cotidiana desperte Possa um dia tornar-se amorosa
como o Cristo Iluminada como o Buda Sábia como Confúcio Serena e plena como Lao
Tsé. Cada rito marca o corpo neste caminho Cada mito desenha o percurso Cada
símbolo carrega a energia do sonho possível Em si.
1.1. SÍMBOLOS
Os símbolos religiosos constituem uma linguagem que comunica ideias do
âmbito do sagrado. Têm também valor evocativo, mágico e místico. Desde as mais
antigas civilizações até a atualidade, as tradições religiosas e místicas
produziram uma vasta representação simbólica para comunicar ideias, perpetuar e
reforçar valores e ensinamentos sobre o sagrado. Essa linguagem se apresenta na
forma de desenho, pintura, escultura, arquitetura, vestimenta, alimentos,
elementos da natureza, entre outras.
Todo símbolo permite múltiplas interpretações. Para o fiel ou adepto de
uma determinada tradição o símbolo religioso ou místico pode evocar a presença
do sagrado, sua proteção e auxílio divino.
Na definição de Sandner (1997), o símbolo pode ser definido como “...
qualquer coisa que pode funcionar como veículo para uma concepção. Essa coisa
pode ser uma palavra, uma notação matemática, um ato, um gesto, um ritual, um
sonho, uma obra de arte ou qualquer elemento capaz de comportar um conceito.
Este pode ser de ordem racional e linguística, imagética e intuitiva, ou
referir-se aos sentimentos e valores. Isso não faz diferença, desde que o
símbolo o comunique de modo eficiente. O conceito é o significado do símbolo” (p.
22).
Para o primeiro e segundo anos, intenciona-se trabalhar a identificação
de alguns símbolos, classificando-os em religiosos e não religiosos e também de
algumas religiões, por meio de suas representações simbólicas.
1.2. RITOS E RITUAIS
Os ritos são gestos simbólicos sagrados, linguagens corpóreas que muitas
vezes dispensam palavras. O ser humano ritualiza para expressar seus desejos,
sua fé e o sentimento religioso.
Uma série de ritos constitui o que chamamos de ritual. O ritual designa
um conjunto de ritos, como, por exemplo, o batismo, o casamento, a iniciação
dos adolescentes à vida adulta nas tradições indígenas, a romaria ou
peregrinação aos lugares sagrados, o culto na igreja evangélica, a novena e a
missa católica, a gira no Candomblé, etc.
O hasteamento da bandeira nacional, o canto do hino nacional e a
cerimônia de formatura são exemplos de rituais de caráter cívico.
A festa de aniversário é um exemplo de ritual social ou cultural.
Há rituais destinados à celebração dos acontecimentos históricos de cada
tradição religiosa, são as datas comemorativas ou feriados religiosos. Muitos
cristãos celebram o nascimento de Jesus, o Natal, mas em datas diferentes. Os
cristãos católicos e alguns grupos evangélicos, no dia 25 de dezembro e os
cristãos ortodoxos, no dia 7 de janeiro.
A Páscoa, para vários grupos cristãos, é a celebração da ressurreição de
Cristo e, para os judeus, é a celebração do êxodo, a saída da escravidão para a
liberdade.
Os budistas celebram o dia do nascimento de Buda no mês de maio. Essa
festa é chamada de Hana Matsuri, Festa das Flores e da Liberdade.
Os povos indígenas celebram a época das colheitas, da caça e da pesca.
Como podemos perceber, os rituais podem ser de caráter religioso e não
religioso.
Os rituais são dinâmicos, mudam conforme a época e
as circunstâncias.
Existem os rituais de passagem, litúrgicos, celebrativos, divinatórios,
mortuários, entre outros. “Os ritos de passagem se associam às grandes
mudanças na condição do indivíduo. As principais transições marcadas por esses
ritos são o nascimento, a entrada na idade adulta, o casamento e a morte” (HELLERN,
NOTAKER e GAARDER 2000, p. 28).
Diversas tradições religiosas revivem, por meio dos rituais
celebrativos, o passado distante, às vezes envolto em mitos, trazendo-o assim,
para o presente.
A dinâmica da vida e do Universo em permanente movimento cíclico é um fantástico
exemplo de ritual.
Esse movimento ritualístico da natureza pode ser constatado no nascer e
pôr do sol, resultado do movimento da Terra em torno de si mesma, bem como na
mudança das estações do ano, resultado do movimento da Terra em torno do Sol.
A vida de cada ser humano é vivida por meio de um grande ritual. Cada um
realiza seu ritual diário no seu modo de realizar as tarefas diárias e dividir
o tempo para essas tarefas.
Sempre que alguém vai vivenciar, aprender ou realizar alguma coisa nova
está vivenciando esse momento de um modo ritualístico.
Os rituais fazem parte do universo simbólico na organização das
sociedades humanas. Segundo Vilhena (2005, p.55): “Sendo o rito expressão e
síntese do ethos cultural de um povo, portanto expressão de sua vida há de se
salientar que, como ação, é vida acontecendo, processando-se, sendo
significada, interpretada, ordenada, criada. O rito é vida criando vida, pois
que no caos, na indeterminação, na falta de horizontes e sentido não
sobrevivemos. É, portanto, atividade, trabalho, obra que opera, transforma, cria,
significa.”
Em diferentes ocasiões, o ser humano serve-se da linguagem ritualística
para administrar situações limites, celebrar a vida, a alegria, a vitória e
legitimar sua posição no grupo social do qual faz parte. Nessa linguagem, os
símbolos substituem as limitadas palavras. O ritual religioso pode propiciar ao
individuo adentrar na profundidade do seu sentimento e realizar a experiência
do sagrado.
O conhecimento, no Ensino Religioso, das diversas expressões ritualísticas,
objetiva subsidiar os estudantes para o entendimento e a compreensão da diversidade
cultural religiosa, visando à superação de atitudes preconceituosas que desvalorizam
a experiência religiosa do outro.
O trabalho pedagógico com este conteúdo deve partir da realidade
sociocultural dos estudantes de modo gradativo e de acordo com o seu nível de
compreensão. Com este conteúdo, pretende-se que os alunos reconheçam a importância
dos rituais e também percebam como cada cultura religiosa encontra sua própria
forma de ritualizar momentos importantes da vida do indivíduo e do grupo.
1.3. ESPIRITUALIDADES
As espiritualidades são métodos ou práticas que permitem aos adeptos uma
relação imediata com o sagrado (PCNs – Ensino Religioso, 1997). A prece, oração
ou reza, a leitura devocional de um texto sagrado, a entoação de mantras e
cânticos litúrgicos e a meditação são alguns exemplos de espiritualidades.
1.4. ESPAÇOS SAGRADOS
Entre os diversos espaços considerados sagrados, alguns tiveram a sua
origem a partir de uma história ou lenda que envolveu uma hierofania
(manifestação do sagrado), romarias, como os templos, os santuários, as
catedrais, as capelas, os locais de prece e meditação, as mesquitas, os
terreiros, etc.
Segundo Rosendahl (1999), os santuários paleolíticos são exemplos dos
primeiros indícios de uma vida cívica. A caverna desempenhou uma função
importante na expressão da arte e realização de rituais da época.
Os lugares sagrados, como rios, montanhas, cidades, florestas, cavernas
e grutas, entre outros, sempre tiveram um forte poder de atração para muitas
pessoas. A função desses lugares é ser a morada e a manifestação do sagrado
(hierofania). Ali o devoto peregrino ou romeiro pode de um modo privilegiado
realizar a sua experiência de fé ou experiência do sagrado por meio de práticas
devocionais e pagamento de promessas.
As práticas religiosas nesses espaços sagrados conferem-lhes uma
característica própria, que têm no sagrado a sua expressão, mas também podem
apresentar outras funções além da religiosa, como a do turismo e do comércio.
Há tradições religiosas, como o Catolicismo, o Hinduísmo, o Islamismo, o
Budismo e a Fé Bahá’í que incentivam seus adeptos a realizarem peregrinações
como motivação para o fortalecimento e vivência mais intensa da espiritualidade.
Muitas pessoas procuram esses lugares ou espaços sagrados para cumprir
promessas ou fazer votos, pedir e agradecer benefícios ou graças alcançadas.
Com os primeiros e segundos anos do ensino fundamental, a intenção deste
conteúdo é favorecer que os alunos percebam, de forma contextualizada, a
variedade de espaços construídos pelos seres humanos e a função que exercem,
enfatizando os espaços sagrados das diferentes religiões.
1.5. O SAGRADO FEMININO
A participação do feminino nas estruturas religiosas passou por
diferentes formas, da adoração ao princípio feminino para a negação deste, do
respeito à mulher sacerdotisa ao medo de seus poderes biológicos.
A divinização do Corpo feminino, do Eros e da Terra cedeu lugar para a “diabolização”,
a segregação e a exploração das mulheres, da sexualidade, da terra e de todos
os seres que a habitam.
A história da humanidade transcorre em um jogo de polaridades em que
poderes femininos e poderes masculinos se contrapõem, em que as tradições
religiosas expressam este conflito através da divisão não igualitária de
papéis.
Este cenário de disparidades traçou, no decorrer da história, diferentes
caminhos que, ao serem contemplados, podem sugerir uma importante reflexão
acerca de limitações vividas e estruturadas em nossa sociedade, no que concerne
aos espaços da vida, enfatizando neste aspecto: o trabalho, a vivência
religiosa e os relacionamentos interpessoais vividos nas mais diferentes
instâncias.
Como tão veementemente afirmou Bachelard (1997), “Diante da virilidade do
fogo, a feminilidade da água é irremediável” (p. 104). A água é um dos
elementos da natureza que mais carregou e carrega representações do sagrado
feminino. Não são poucas as histórias sagradas, mitos, que narram o princípio
feminino vinculado às águas.
Como já dizia Manuel Bandeira1 em uma de suas poesias, Dona Janaína é
sereia do mar e ela tem muitos amores, o poeta reconhecendo o poder da rainha
das águas pede licença para poder brincar em seu reinado.
Na concepção religiosa e altamente poética dos povos afro-brasileiros,
Dona Janaína, Yemanjá, é a rainha das águas do profundo mar. Ela é mulher, mãe
e, portanto, doadora de vida, alimenta a muitos com os filhos do seu corpo, os
frutos do mar.
Ela é feminina e mutável, como as águas que por vezes estão tão mansas
que se tornam espelhos para o céu e em outros momentos perturbam-se, contorcem
seu corpo e deixam à deriva aquele que supostamente navegava seguro de si e de
seu destino. Como diriam alguns psicanalistas, o feminino inquieta, perturba a
solene paz do pretenso mundo conhecido do Logos masculino.
O mito da sereia, em uma de suas versões, fala do canto destas mulheres
meio humanas meio peixe que seduziam com suas belas vozes os marinheiros e
faziam com que estes perdessem o controle sobre si mesmos e se atirassem em
seus braços, se atirassem no leito das águas dos mares.
Além destes símbolos encontramos, no contexto religioso, muitas imagens
do feminino. Certas tradições religiosas são de base patriarcal, outras
matriarcais e existem também tradições que buscam equilibrar estas duas
instâncias.
No 6º, 7º anos, sugere-se que neste conteúdo seja enfocado o papel da
mulher no mundo de hoje, identificando a sua função nas diversas tradições
religiosas, como xamã, yalorixá, benzedeira, freira, monja, pastora, diaconisa,
ministra e rabina, entre outras.
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