11 de jul. de 2022

DIACONIA E A PRÁTICA RELIGIOSA

A Igreja como Corpo de Cristo possui em sua diversidade de membresia, a multiforme graça do Senhor que se manifesta por diversos meios afim de que haja o aprimoramento, aperfeiçoamento e o bom funcionamento do Corpo, por essa razão, todos são importantes e indispensáveis na construção do templo interior.
Quando cada pessoa convertida ao Evangelho da salvação encontra o seu lugar dentro do ministério cristocêntrico, há uma disposição em servir e servir da melhor forma possível, pois, acredita-se que a ação é para Ele, Cristo, Cabeça da Igreja, autor e consumador da fé, como é escrito em Hebreus 12.2.
A Igreja ao desenvolver seu ministério, por meio dos dons presentes e manifestos no Corpo, reconhece a amplitude bíblica dos ministérios e valoriza a todos no cumprimento da sua missão.
E analisando esse contexto testamentário para todos os tempos, é que se faz vital o entendimento acerca da diaconia e a prática religiosa.
O ministério diaconal surge dentro do cenário da igreja primitiva quando a comunidade cristã depara com os conflitos de relacionamentos. Com a situação que envolvia a queixa por parte de alguns judeus convertidos ao cristianismo sobre a deficiência quanto aos cuidados para com as viúvas ao serem ou não atendidas na distribuição diária de alimentos. Atos 2.44-47.
Os apóstolos logo ao tomar ciência da situação conflitante, procuraram mediar apresentando um meio de solução, Atos 6.1-7.
A ação dos apóstolos sob a orientação do Espírito Santo, concorreu para que fossem escolhidos e consagrados um grupo de homens para cuidar dos demais, surgindo assim o primeiro corpo diaconal da história da Igreja.
Não será possível desenvolver o tema se primeiramente não se expuser o significado do termo diákonos no Novo Testamento e também o que Paulo quer dizer em suas cartas. Para isso, será feita uma divisão para melhor apresentar o que os autores falam sobre a definição do termo e, posteriormente, o que o termo diákonos significa em Paulo.
Para poder compreender o termo, é preciso, além de defini-lo, verificar onde e quando a função do diákonos nasceu. Primeiramente será destacado o que os dicionários falam a respeito do termo, para depois analisar o que outros autores têm a dizer. É fundamental observar, primeiramente, esta questão para que se tenha compreensão do que os autores descrevem sobre o tema. A palavra, no seu original, tinha o significado de “remador”. Daí a ideia de um “servo”, “ajudante”, ou ainda “criado” de alguém importante ou uma autoridade. (BROWN, 1978, p. 450.)
O Dicionário do Novo Testamento Grego traz três variações da raiz da palavra. Para diakoneo, o significado é “sou servo de; sirvo à mesa; ofereço comida e bebida a; sirvo; exerço o diaconato”. Diakonia é traduzido por “distribuição de comida, socorro; serviço; ministério; administração, ministração”. E diakonos significa “garçom; servo ou serva; administrador; ministro; diácono ou diaconisa” (TAYLOR, 1965, p. 55).
No grego secular, a definição para o termo aparece de três formas básicas. A primeira delas diz respeito a “servir a mesa”, o que se expande para a segunda, “cuidar das necessidades do lar” e, a partir daí, passa a “servir” de maneira geral. A derivação da palavra diakonia expressa o significado de “serviço”, “cargo”. O segundo substantivo derivado, diakonos, relaciona-se àquele que efetua a tarefa. Assim, no grego secular a palavra significava “garçom”, sendo usada mais tarde com referência às refeições rituais.
Dessa forma, pode-se dizer que nesse contexto o diácono não é um escravo (doulos), mas alguém que exerce uma função.
O significado neotestamentário de diakoneo deriva de Jesus, em Mateus 20.28, dando a ideia de uma ação de amor e compaixão pelo próximo, que parte do amor divino. A comunhão da refeição em comum é essencial para a compreensão de diakonia, já que esse ato envolvia o servir à mesa. Esse tipo de serviço, onde as forças eram empregadas em favor de outros, é o fator sustentador da comunhão, já que a ação de dar e receber decorre do reconhecimento do sacrifício de Jesus, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em favor de muitos (Marcos 10.45).
Ainda sobre essa visão de diakonia, Tognini afirma que Jesus é o diakonos de Marcos 10.45. (TOGNINI, 1988, p. 36).
Nordstokke (2003, p. 107-109) também cita que o exemplo de diakonia está representado em Jesus, sendo ele o modelo de serviço e de sacrifício por muitos. Ele reforça essa ideia citando os Evangelhos de Lucas e João, quando Jesus toma a ceia com seus discípulos, tornando-a a fonte de diakonia. Observando o ministério de Cristo, que foi realizado em profunda obediência ao Pai e com humildade e compaixão, tendo em vista que Jesus é o modelo de diakonos, a diakonia aparece como obra de misericórdia para com o próximo. Ela é executada com humildade, a exemplo de Jesus, e em obediência a Deus.
Oliveira afirma que a função do diákonos aparece pela primeira vez em Atos 6, embora o autor não negue que essa função já poderia ter existido no passado. Porém, o próprio Oliveira diz que não se trata de uma herança passada, mas de uma classe de oficiais criada na era apostólica inspirada pelo Espírito Santo (OLIVEIRA, 1981, p. 31).
Da mesma forma, Severa também destaca que, de maneira geral, a origem do ministério dos diákonos aconteceu em Atos 6, apesar de acreditar que possa haver controvérsias em relação a essa afirmação. Isso porque o autor, embora concorde que o significado para a palavra diákonos seja “servo”, afirma que há duas maneiras de definir o termo, uma de forma geral e outra de forma específica (SEVERA, 2014 p. 321) .
No sentido geral, qualquer pessoa que serve, sem distinção, é diákonos. Quando usada dessa forma, sua tradução é “servo” ou “ministro”. Desse modo, todos os cristãos que servem na causa de Cristo podem ser considerados diákonos.
Por outro lado, há uma definição específica do termo, que dá a ideia de que diáconos são aqueles que foram escolhidos para servirem em áreas relevantes de auxílio ao povo na igreja. Severa também afirma que esses serviços não estão relacionados à área pastoral, já que em Atos um grupo seleto de pessoas foi escolhido para exercer uma função na igreja para não ocupar o tempo dos apóstolos, que faziam o trabalho pastoral de pregação da Palavra e oração.
Para Tognini, a palavra diakonos, diferente de outros termos gregos para servo, é a que melhor dá a ideia da função de quem serve no ministério da administração dos bens materiais da igreja11 . Retornando ao que Oliveira disse, de forma semelhante a Severa, ele também afirma que a palavra diákonos significa “servo”, distinguindo o termo em dois sentidos: lato e técnico. No sentido lato/amplo aparece diversas vezes no Novo Testamento (Mateus 22.13; Romanos 13.4; 15.8; 1 Coríntios 11.15), sendo usada de diferentes maneiras, mas sem a intenção de ligar o uso com o ministério diaconal. Já no sentido técnico, o termo é usado apenas duas vezes no Novo Testamento, com a intenção de ligar a palavra com a função de oficial da igreja, em Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.
Oftestad, ao tentar definir um conceito teológico de diakonia, apresenta três concepções que trazem diferentes perspectivas a respeito de cada uma delas. A primeira tornou-se comum desde meados do século IX, encontrando seu contexto teológico na Alemanha e nos países nórdicos, onde a ideia principal é a personalidade cristã individual. A segunda está ligada àquilo que se chama de teologia moderna dos anos 60, ou teologia da secularização, ou ainda teologia da libertação, muito popular principalmente nos EUA. Nesta concepção, a ideia central é a sociedade. E a terceira concepção está ligada aos pais da igreja, no segundo e terceiro séculos, cuja a ideia central é a igreja ou congregação (OFTESTAD, 2006, p. 13-14).
Souza traz um conceito do que é o diákonos. A autora, de forma geral, define que o diákonos é um agente descentralizador de trabalho que atende as necessidades da igreja, especialmente de seus membros, buscando soluções adequadas para seus problemas pessoais. Ainda afirma que é um grupo de departamentos ou áreas criadas para melhor atender as necessidades da igreja, principalmente dos irmãos mais carentes (SOUZA, 2003, p. 17-18).
Dentro desse ponto de vista, Nordstokke afirma que a diakonia é apenas uma das formas de serviço dentro do corpo de Cristo. As pessoas são chamadas de diakonos não por estarem numa posição de servos dos outros, mas porque seus dons espirituais os qualificam para que realizem obras difíceis e úteis dentro da igreja .
Aprofundando ainda mais o estudo do termo, ele afirma que os termos gregos diáconos e diakonia estão relacionados com o verbo enkoneo (preocupar-se, apressar-se). Conclui, portanto, que o diákonos é aquele que realiza uma tarefa difícil. Não necessariamente está ligada a um escravo, alguém inferior, mas alguém que faz. Assim, pode-se dizer que o diákonos não está relacionado a uma classe social inferior, mas à sua utilidade.
Definido o significado da palavra, é preciso destacar como Paulo, o principal usuário da palavra diákonos no Novo Testamento, o conceitua, já que, como Brown afirma, este é um termo predominantemente paulino.
O primeiro destaque a ser levado em conta é a maneira como Paulo liga a diakonia à pessoa de Jesus. Embora não tenha feito uma espécie de biografia de Jesus contando sua história como os evangelhos, Nordstokke afirma que se encontra em Paulo a visão global especificamente diaconal da obra de Jesus. Segunda as palavras de Nordstoke, “Paulo interpreta o conjunto de atuações de Jesus como ‘serviço’”. Ou seja, nos atos de servir ao próximo e proclamar as boas novas, Jesus praticou a sua diakonia. Mediante isso, o apóstolo chamado pelo próprio Cristo assume a tarefa de Jesus.
Brown reitera essa afirmação, dizendo que o diákonos é aquele que serve em nome do Senhor. Mas, mais do que isso, ele continua o serviço de Cristo, preocupando-se com a salvação exterior e interior do ser humano. Segundo Brown, “Paulo via-se como servo do Evangelho” e sua preocupação com a salvação incluía o corpo e o espírito. Logo, Paulo preocupava-se “tanto com a coleta quanto com a proclamação do Evangelho” (BROWN, 1978, p. 452). Para Brown, a diakonia só pode ser coloca em prática a exemplo da vida de Jesus. Pois, para ele, a diakonia espiritual e física de dar e receber ocorre pelo reconhecimento do sacrifício de Cristo (2 Coríntios 8.9; 9.12-15).
Ele diz ainda que Paulo via que foi em Cristo que a totalidade da salvação foi realizada na diakonia de Deus pelos homens. A partir de Cristo, seguindo a ideia de que o diákono continua a sua obra, o ministério da reconciliação foi confiado ao apóstolo que, como embaixador, roga “que vos reconcilieis com Deus” (2 Coríntios 5.18). Dessa maneira, o termo pode ser usado como termo técnico para a obra daquele que proclama a mensagem do Evangelho (Romanos 11.13) . Após esse breve destaque sobre a obra diaconal da pessoa de Jesus, para que se possa ter melhor compreensão do que significava a diakonia para Paulo, é preciso diferenciar o termo diákonos do doulos (escravo).
Doulos significa a total sujeição do cristão ao Senhor. Enquanto que diákonos refere-se ao serviço em prol da igreja, dos irmãos e do próximo com a palavra ou de alguma outra maneira. Leidner complementa essa ideia, dizendo que o trabalho do diákonos, de serviço à igreja, visa à comunhão. Ele ainda afirma que o doulos refere-se à posição diante do Senhor, enquanto que o diákonos refere-se à ação diante de Deus (LEIDNER, 2012, p. 3) Ou seja, praticar a diakonia significa agir diante de Deus. Em suas cartas, Paulo refere-se a diversas formas de serviço a Deus exercido por outras pessoas. Nesse contexto, ele não usa doulos para descrever esses serviços prestados. Na maior parte, ele usa o termo diákonos, inclusive quando se refere a si mesmo como servo (1 coríntios 3.5; 2 Coríntios 11.23) (HAWTHORNE, Gerald F. MARTIN Ralf P. REID, Daniel G. 2008, p. 1159).
Mas, ao se referir a esses irmãos como diákonos, o que Paulo estava querendo dizer? Em muitas passagens das cartas paulinas, a palavra diákonos é empregada a indivíduos que exercem função especial na igreja. Porém, o Dicionário de Paulo e Suas Cartas diz que as cartas paulinas não esclarecem a função exata dessas pessoas. Isso parece ser um tanto contraditório, pois o mesmo dicionário afirma que o serviço de Paulo consistia no ministério com os gentios, sendo o ministério da nova aliança, do Espírito e da justificação pelas quais as pessoas são convertidas a Cristo, semelhante ao argumento de outros autores.
Bronw também afirma que em Paulo, o diákonos recebe significado especificamente cristão como ministro da nova aliança (2 Coríntios 3.6; ministro da justiça, em 2 Coríntios 11.15; ministro de Cristo, em 2 Coríntios 11.23, Colossenses 1,7 e 1 Timóteo 4.5; ministro de Deus, em 2 Coríntios 6.4; ministro do Evangelho, em Efésios 3.7 e Colossenses 1.23; e, finalmente, ministro da igreja, em Colossenses 2.17. Em Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8-13, diákonos é usado para alguém com um cargo oficial na igreja.
Douglas comenta sobre a diferença entre os bispos e os diákonos saudados em Filipenses 1.1 e afirma que, nesse contexto, “é natural ver nisso uma referência a duas classes particulares no seio da Igreja”. Da mesma forma, Leidner diz que os textos de Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.1-7; 8-13 confirmam a institucionalização destes cargos na igreja e que os ocupantes dos mesmos podem ser identificados como ministros da igreja.
É possível observar alguns exemplos de pessoas que serviram no serviço diaconal, mostrando que Paulo especificou essa função, ao mencioná-la em suas cartas. Nordedstokke cita Febe de Cencreia (Romanos 16.1ss). Este autor afirma que ela era a patrocinadora de Paulo naquela idade, pois era mulher de posição importante e tinha condições de ajudá-lo. Ele ainda afirma que “a palavra ‘serva’ ou ‘diaconisa’ deveria ser entendida aqui como a ‘anfitriã’ da igreja local”. Ela colocou sua casa à disposição da igreja para o culto. Paulo ao citá-la em sua saudação pessoal no final da carta aos Romanos, enfatiza que Febe deu grande auxílio para seu ministério.
Definir a tarefa específica dos diáconos trouxe conflitos administrativos nas igrejas. Isso porque cada igreja tem suas necessidades particulares e cada pastor administra seu ministério à sua maneira. Desse modo, Oliveira afirma que quem deve definir as funções do diácono na igreja deve ser o pastor, porque é ele que sabe melhor de qualquer outro as áreas que necessitam de auxílio (OLIVEIRA, 1981, p. 43).
Embora o pastor seja a pessoa que mais conheça as necessidades da igreja, a afirmação de Oliveira pode ser questionada, pois deve-se levar em consideração o perigo da relação entre o pastor e o corpo diaconal se transformar tão fechada a ponto de criar uma “panelinha”, sem abertura para os demais membros da igreja.
Ao analisar o texto de Atos 6, Oliveira conclui, ao citar Jayme M. Pendleton, que o diácono deve servir a três mesas: a mesa do pastor, a mesa dos pobres e a mesa do Senhor. Desse modo, o diácono deveria cuidar do salário do pastor, das necessidades dos pobres e também da celebração da ceia do Senhor. Oliveira resume sua afirmação, dizendo que “esta foi, de certa forma, a obra que os sete de Jerusalém realizaram”.
Embora os três tipos de mesas tenham sido citados, este trabalho não abordará o serviço à mesa do pastor. O objetivo é aprofundar o trabalho do diácono na igreja de maneira geral. Sendo assim, será apresentado o serviço diaconal nas mesas do Senhor e dos pobres.
Falar em serviço à mesa remete à Ceia do Senhor (BASTOS, 2014, p. 42), uma das práticas mais relevantes da igreja primitiva, promovida diariamente por duas razões: alimentar as pessoas, especificamente as mais pobres, e celebrar o memorial da morte e ressurreição de Jesus. (NETO, 2015, p. 317).
A Ceia do Senhor foi instituída por Jesus na noite em que foi traído. Os registros desse momento encontram-se nos Sinópticos e em 1 Coríntios 1138. Erickson destaca que a Ceia do Senhor pode ser definida “como um rito que Cristo mesmo estabeleceu para que a igreja a praticasse em comemoração à sua morte”( ERICKSON, 2008, p. 467).
Além dessa definição, Erickson também afirma que “a ceia do Senhor é um lembrete da morte de Cristo e de seu caráter sacrificial em nosso favor, um símbolo de nossa ligação vital com o Senhor e um testemunho da sua segunda vinda”( ERICKSON, 2008, p. 473).
Esse mesmo autor diz não haver uma declaração didática explícita nas Escrituras quanto a frequência da prática da Ceia do Senhor. Porém, ela deve ser feita num intervalo que não seja longo, mas também não precisa ser feita todas as semanas, para que não se perca o seu real significado e se torne apenas mais uma prática comum sem sentido para a igreja.
A Ceia do Senhor deve ser canal inspirador para a fé e o amor do crente, fazendo-o refletir no maravilhoso sacrifício de Jesus e na esperança de que nele terá a vida eterna (FERREIRA, 1981, p 96), por isso a importância do memorial e da ministração do diácono para o evento. Oftestad, ao falar do diácono como um servo de Deus de maneira geral, lembra que a koinia significa a comunhão com Cristo e, através da ceia, há a comunhão entre a igreja e o Salvador. Dessa forma, essa comunhão inclui os necessitados, tornando responsabilidade incluir os pobres na celebração da ceia. Ele afirma que “essa é a base da diaconia e, muitas vezes, significa o serviço diaconal intimamente associado à litourgia (culto a Deus)( OFTESTAD, 2006, p. 56.).
Desse modo, aos diáconos tem sido dada a responsabilidade de preparar a Ceia do Senhor. Porém, não há uma ordem explícita no Novo Testamento dizendo que essa é uma tarefa somente dos diáconos. Foi, na verdade, a prática dos diáconos prepararem a Ceia do Senhor que consagrou o que Ferreira chama apenas de costume e que não há nada que impeça o pastor de inquerir a outro membro qualquer que realize essa tarefa. Por outro lado, discordando disso, Bastos afirma que os “diáconos e diaconisas são as pessoas mais indicadas para servir a Ceia do povo de Deus”.
Oftestad, compartilhando dessa ideia, afirma que das tarefas litúrgicas em que o diácono deve desempenhar estão o batismo e a ceia do Senhor. Esse trabalho deve ser acompanhado pelo pastor, que consagra os elementos, e o diácono, que as distribui.
Leidner também diz que o diácono deve exercer a função de distribuição da Santa Ceia e prepará-la juntamente com o pastor esse momento tão importante para a igreja(LEIDNER, 2012, p. 9) . Souza ainda traz uma reflexão mais profunda em relação ao preparo da ceia. A autora diz que essa é uma das mais importantes tarefas do corpo diaconal, exigindo muita dedicação dos que a fazem. Porém, quando os diáconos, por algum motivo, deixam de colaborar com esse momento traz grandes complicações.
Por isso, sugere se a instituição de diáconos escolhidos especificamente para esse serviço, obedecendo uma escala previamente feita. Esses diáconos devem ser responsáveis pela escolha do suco do cálice e do pão. Toda a preparação antes da ceia e após a celebração fica sob responsabilidade desse grupo.
É de responsabilidade dos diáconos providenciar os dois elementos e garantir que fique tudo em ordem, assim como Jesus ordenou aos doze que preparassem a ceia. Souza ainda faz uma observação de que o preparo da ceia não se restringe aos elementos. Na verdade, todos os componentes do corpo diaconal devem estar preparados para a celebração da ceia. Para isso, algumas coisas devem ser consideradas, das quais o principal destaque é o preparo espiritual. É preciso pensar no sacrifício de Jesus no momento de preparar os elementos da ceia.
Além disso, os diáconos devem se reunir para orar, pedindo a Deus que os ajudem para que nada venha a perturbar o momento da celebração da ceia. Orar não apenas antes, mas também após a ceia. O preparo espiritual ajudará para que tudo ocorra bem, aumentando, inclusive, a disposição para o serviço (SOUZA, 2003, p. 41-12).
A instituição dos diáconos na Bíblia deu-se por alguns fatores e, entre eles, está o que Tognini chama de “diaconato da benevolência”. Seriam os serviços onde os diáconos fariam as atividades beneficentes da igreja em cooperação com o pastor. Porém, Tognini afirma que a beneficência não é realizada apenas no socorro aos descrentes, mas “a beneficência vem a ser de modo especial, já se vê, aos domésticos da fé, conforme o mandamento do apóstolo Paulo em Gal. 6.10”( TOGNINI, 1988, p. 87-88).
Bastos afirma que a escolha de sete homens em Atos 6 tinha o propósito de ajudar os apóstolos no servir às mesas e na distribuição diária dos alimentos aos necessitados. Isso significa que o trabalho dos diáconos se concentra nos assuntos de ordem material ou física da igreja. Ele afirma que com isso ficam evidentes as necessidades práticas do cotidiano da igreja, com a assistência social de maneira geral. Bastos ainda diz que essa é uma tarefa que exige muito preparo espiritual, “pois é necessário ser espiritual para servir com imparcialidade, justiça e retidão, simplicidade e alegria”.
Nordstokke afirma que toda ação diaconal deve ser relacionada com as necessidades da sociedade. Mais do que isso, ele diz que, por causa das grandes crises políticas do século XX, a diaconia da igreja que quiser prestar auxílio às pessoas em suas necessidades particulares não pode fechar os olhos aos problemas de ordem econômica. Da mesma forma, Leidner afirma que os diáconos devem se interessar pelos assuntos socioeconômicos da igreja e devem manter relações com as pessoas que carecem de alguma ajuda.
Aprofundando ainda mais o tema, Leidner também diz que os diáconos são os que recolhem as ofertas da “cesta do amor” – recolhimento de alimentos não perecíveis – e distribuem de acordo com as necessidades dos carentes. Além disso, devem manter o equilíbrio entre a mensagem pregada e o acompanhamento social que ela exige. É o que quer dizer quando afirma que “ao se evangelizar uma área, deve manter a visão também voltada para as carências da região atingida ou as pessoas envolvidas.
Um exemplo do trabalho diaconal beneficente se encontra em Dorcas (Atos 9.36), que se dedicava em praticar boas obras. Além dela, Bastos também cita Tito, quando foi enviado para arrecadar recursos para socorrer a igreja em Jerusalém, que sofria grande perseguição. Ele afirma que “recolher e ajudar na administração – junto com os pastores – das contribuições do povo de Deus é mais uma tarefa para os diáconos tementes ao Senhor e cheios do Seu Espírito”.
Uma das tarefas dos diáconos é o ministério de visitação. Bastos cita que essa é uma maneira de servir ao seu pastor, pois com a visita o diácono presta assistência aos enfermos, viúvas e órfãos ligados à membresia da igreja, bem como qualquer pessoa que precise do acompanhamento em seu lar (BASTOS, 2014, p. 43).
O serviço de visitação precisa ser regular, com a sugestão de Oftestad de ser semanal. Isso será importante tanto para o visitador quanto para o visitado. O propósito para tal tarefa é bastante claro e simples: aproximar-se para criar contato e comunhão com o intuito de ouvir, servir e cuidar. O autor acima citado dá algumas orientações para a realização desse trabalho. Ele cita a importância de obedecer ao horário marcado e ouvir mais do que falar, sendo respeitoso com o ponto de vista da pessoa. Em casos de confidências íntimas, deve manter sigilo quanto ao que foi falado e sempre deve estar disposto a ajudar (OFTESTAD, 2006, p. 92-93).
Oftestad segue sugerindo o que chama de “diferentes categorias” de visitação. A primeira a destacar é a visita às pessoas recém-chegadas à congregação. São pessoas que mudam de cidade ou do meio rural para o urbano e precisam ser acompanhadas. Outra categoria é a visita aos doentes. O autor diz que essas visitas devem ser regulares e que é preciso ter certo conhecimento sobre o aconselhamento para consolar e fortalecer uma pessoa que passa por momento de dificuldade. Ainda é destacada a visitação para os idosos, pois são pessoas limitadas, que nem sempre conseguem ir à igreja.



Referências para aprofundamento nos estudos sobre Diácono, Diaconia, Igreja.

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BOOR, Werner de. BÜRKI, Hans. Cartas aos Tessalonicenses, Timóteo, Tito e Filemon. Curitiba: Esperança, 2007. 453 p.
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ERICKSON, Millard J. introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2008. 540 p.
FEE, Gordon D. Novo comentário bíblico contemporâneo: 1 e 2 Timóteo, Tito. São Paulo: Vida, 1988. 316 p.
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