CRENÇAS
RELIGIOSAS E FILOSOFIAS DE VIDA
A religião pode ser definida como um conjunto de crenças e
práticas sociais relacionadas com a noção de sagrado.
A religião é um dos
fenômenos mais importantes entre aqueles pertencentes exclusivamente ao ser
humano. Toda cultura ou civilização, sem exceção, desenvolveu um sistema religioso,
fosse ele mais elementar, como as religiões dos povos nativos da América e da
Oceania, fosse mais complexo, como as religiões abraâmicas (derivadas do
patriarca Abraão) médio-orientais: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.
Após o advento das
ciências humanas especializadas, como a antropologia, a sociologia, a história
e a psicologia, muitos investigadores vêm tentando explicar o fenômeno
religioso e, grosso modo, definir o que é a religião.
Alguns deles, como os
filósofos alemães do século XIX Friedrich Nietzsche e Karl Marx e o
francês Auguste Comte, manifestaram-se
como absolutamente avessos à ideia de religião e à existência de uma realidade transcendente, isto é,
uma realidade que está para além desse mundo, do mundo físico, material,
corpóreo. Concentraram-se em ressaltar aquilo que julgavam ser o essencial no
religioso, isto é, o seu suposto caráter nocivo para a humanidade.
Por outro lado,
outros pensadores, como o sociólogo Émile Durkheim e o
estudioso de mitologia e simbologia Mircea Eliade buscaram
entender a religião de forma mais objetiva, procurando entender o funcionamento
de noções como o sagrado, o profano, o mito, as imagens, os símbolos
religiosos, bem como as práticas rituais, como o sacrifício.
Em seu livro As Formas Elementares da Vida
Religiosa, Durkheim procura definir a religião como um sistema de
crenças e práticas (como os rituais, orações etc.) relativas ao sagrado.
Vejamos:
“[...] uma religião é
um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, isto
é, separadas, proibidas, crenças e práticas que reúnem numa mesma comunidade
moral, chamada igreja, todos aqueles que a ela aderem. O segundo elemento que
participa assim de nossa definição não é menos essencial que o primeiro, pois,
ao mostrar que a ideia de religião é inseparável da ideia de igreja, ele faz
pressentir que a religião deve ser uma coisa eminentemente coletiva.” [1]
Além da categoria do
sagrado, podemos ver que Durkheim também destaca o caráter coletivo da
religião. A ideia de “igreja” (ekklesia,
em grego) está aqui posta pelo sociólogo no sentido de comunidade, de estrutura
social gregária. Nas sociedades primitivas e também nas grandes civilizações
antigas, a manifestação
do sagrado, isto é, da ação dos deuses ou de um Deus único (a
depender da religião) no mundo, é o que provoca a reunião, a agregação dos
indivíduos, que procuram a transcendência e respostas para problemas
fundamentais, como a morte. Disso deriva, basicamente, toda a estrutura social.
· O
sagrado e o profano
Se o sagrado é tão importante para a definição de
religião e se dele deriva a estrutura social, é importante ressaltar que ele
também exige um espaço especial para as práticas dos rituais religiosos, que
têm o objetivo de pôr os homens em contato com a realidade transcendente.
A noção de espaço sagrado,
isto é, de lugares que estão apartados do mundo profano (entendendo
por isso o mero mundo natural, físico) é bem delimitada em toda religião. O
altar, o templo, o santuário, etc., tudo isso constitui o espaço sagrado.
Mircea Eliade bem define a importância do templo
enquanto espaço sagrado em sua obra O sagrado e o profano:
“Nas
grandes civilizações orientais – da Mesopotâmia e do Egito à China e à Índia –
o Templo recebeu uma nova e importante valorização: não é somente uma imago mundi (imagem
do mundo), mas também a reprodução terrestre de um modelo transcendente...”.
[…] Se o Templo constitui uma imago mundi, é porque o
Mundo, como obra dos deuses, é sagrado: lugar santo por excelência, casa dos
Deuses, o Templo ressantifica o mundo, uma vez que o representa e o contém ao
mesmo tempo. Definitivamente, é graças ao Templo que o Mundo é ressantificado
na sua totalidade. Seja qual for seu grau de impureza, o Mundo é continuamente
purificado pela santidade dos santuários.” [2]
· Principais
religiões do mundo e do Brasil
Como dissemos um pouco mais acima, toda e qualquer
cultura ou civilização desenvolveu um sistema religioso ou, antes,
desenvolveu-se junto a esse sistema. Entre as principais religiões do mundo,
encontram-se aquelas com mais complexidade de organização e maior envergadura
teológica. É caso, como já citamos, das religiões abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo)
e das religiões asiáticas, como o Hinduísmo, o Budismo, o Confucionismo, o Xintoísmo e o Taoísmo. No continente africano, destacam-se o Vodu e o Candomblé.
O Brasil, em virtude da colonização portuguesa, é
predominantemente cristão católico. Entretanto, o número de cristãos protestantes vem crescendo bastante no país. Além disso, há
outras variantes religiosas, como o Espiritismo, a Umbanda (que nasceu do sincretismo entre o catolicismo popular e
o Candomblé) e o próprio Candomblé,
herdado da África.
NOTAS
[1] DURKHEIM, E. As Formas Elementares da Vida
Religiosa. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 32.
[2] ELIADE, Mircea. O
sagrado e o profano. Mircea Eliade ; [tradução Rogério Fernandes]. – São
Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 34.
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