31 de jan. de 2013

O SILÊNCIO DOS INOCENTES


Casos reais:
Por ser mais velha e a que há mais tempo mora no abrigo Casa das Meninas, em Belo Horizonte, Geovana (*), de 13 anos, desenvolveu um sentimento maternal pelas mais novas. É ela quem faz penteados nos cabelos de todas, vigia no caminho da escola, separa brigas, ajuda nas tarefas, brinca. O comportamento mais adulto chama a atenção de profissionais que lidam com ela e pode ser resultado de uma dura trajetória. Geovana foi abandonada pela mãe biológica, sofreu maus tratos por parte da mãe adotiva e foi levada ao abrigo. Chegou a sair,  se mudar para a casa de uma tia em Pirapora (Norte de Minas), mas foi rejeitada de novo e voltou ao abrigo.Agora, Geovana tem consciência de que, por sua idade, dificilmente será escolhida para adoção por uma família, que normalmente prefere bebês. “Pior do que a mãe que bate ou usa droga é a que abandona. Eu só quero uma família que possa me amar, mesmo por tudo que já vivi”, diz.
O número de menores que, como ela, têm problemas na infância e são levados para abrigos aumenta aqui em Minas Gerais.
A cada dia, em média sete crianças e adolescentes são acolhidos. Nos últimos anos, a estatística não parou de crescer: foram 2.161 casos em 2008, 2.310 em 2009, 2.344 em 2010 e 2.492 no ano passado (2012).
As explicações para o aumento do número de abandonados são divergentes.
Para Stanley Ramos Gusman, membro da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), esse avanço pode ser atribuído ao desenvolvimento econômico sem acompanhamento de políticas sociais. “A oferta de empregos na capital traz pessoas do interior, que não têm estrutura familiar. Mães estão trabalhando o dia inteiro e deixando os filhos abandonados dentro da própria casa”, avalia.
Ariel de Castro, da Fundação Criança e da Comissão Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), acredita que a sociedade está mais consciente e vigilante em relação ao abandono e, por isso, tem feito denúncias.
Outro fator apontado por ele são as limitação impostas, a partir de 2009, pela nova Lei da Adoção. “Uma mãe que não tem condições de criar o filho e hoje o entrega para uma pessoa de confiança cuidar pode ser alvo da Justiça, que pode retirá-lo e levá-lo para o abrigo”, afirma. “As novas regras também extinguiram as casas de acolhimento inicial, onde os técnicos tinham autonomia para promover a reintegração familiar", acrescentou.
É necessário mudar procedimentos. Considero que os motivos que mais levam menores para abrigos são a falta de moradia, o alcoolismo de pais e o fato de a mãe sair para trabalhar e deixar o filho em casa. “O abrigo deveria ser a última medida, mas se tornou a primeira. Assim, a criança e o adolescente que tem os direitos violados dentro de casa sofre um outro tipo de violência, que é ser retirada dos pais”.
Muitas vezes o que o sistema governamental do município tem feito é ligar para saber se existe vaga e, ao encontrar uma, transferir o problema, sem levar em consideração a mistura dos perfis. “Há crianças com sexualidade aflorada com portadoras de sofrimento mental, que precisam de medicação controlada, e com outras que nem eram para estar ali. Essa mistura é ruim.
Para Stanley Ramos Gusman, mais grave do que misturar os perfis é manter uma equipe para atender as vítimas com diferentes problemas. “A equipe teria de ser plural, mas hoje não há técnicos suficientes para essa divisão”, fato este que sempre procuramos destacar, através do incentivo aos colaboradores da Casa de Abrigo à Crianças e Adolescentes em Situação de Risco.
No Brasil, o abandono de bebês vem desde a era colonial, quando era comum encontrar bebês largados em ruas, becos e portas de casa ou em rios, mangues e no lixo. Havia a possibilidade de alguém recolher o neném e criar. Os três últimos configuram a eliminação das crianças. Os recém-nascidos jogados nas ruas corriam risco de ser devorados por cães e porcos que vagavam pela cidade.
O abandono de bebês, muitas vezes era para preservar a honra de moças de família e falta de recursos para criar mais um filho eram motivos do abandono de bebês ou do infanticídio no período colonial. Quando as crianças nasciam com alguma deficiência também eram abandonadas.
No Brasil, parece que assitimos às práticas de infanticídio do Brasil Colônia. É preciso resolver o problema da exclusão social e ter uma melhor política de prevenção de gravidez e controle de natalidade.
Rejeição, doença ou morte e pobreza da mãe ou da família são determinantes na entrega de um bebê para os cuidados institucionais. Vários estudos apontam os efeitos nocivos sobre a formação das crianças quando observadas num processo de separação dos pais e, em especial, da mãe.
O bebê é um ser indefeso e incapaz de sobreviver pelos seus próprios recursos, o que faz-se necessária a presença de um adulto ou responsável. Além da higiene e cuidados com a alimentação, uma criança amada e cuidada é psicologicamente saudável.
Para os bebês, a mudança de quem recebe cuidados afeta muito o seu desenvolvimento emocional. O desconforto, o sofrimento, atrasam sua adaptação ao meio. A longo prazo, devido relações superficiais, elas, na sua maioria vão crescer como pessoas que não tem calor no contato com os semelhantes.
Para os bebês abandonados, o nascimento representa um corte radical em relação a tudo o que eles conhecem: a voz da mãe, os ruídos de seu corpo, a voz do pai, o ambiente familiar, enfim, tudo aquilo que permite a um recém-nascido se situar nos primeiros momentos de sua vida desaparece.
Por isso, a intervenção psicológica é muito necessária para esses bebês entregues aos cuidados institucionais, tentando garantir que, pelo menos uma vez, eles ouçam sua verdadeira escola.
Devem ser feitos esforços para a manutenção da maternidade, para proteger o desenvolvimento do bebê, e tentar minimizar os efeitos negativos da falta de uma figura materna, pois isso atrapalharia seu desenolvimento e de sua saúde mental.
Os bebês e crianças abandonados ou entregues para os cuidados institucionais contam apenas com o suporte social. Como as agências que cuidam dessas crianças são poucas e com deficiências, fica quase impossivel serem supridas emocional e fisicamente. Por outro lado, a burocracia impede uma facilidade maior no processo de adoção.
A adoção, que deveria ser um processo sadio e uma saída para crianças abandonadas a se sentirem amadas, acolhidas, sendo supridas de toda rejeição, e falta de amor, infelizmente a cada dia descobre-se notícias e escândalos com abusos sexuais, espancamentos, torturas e até mesmo morte de crianças pelos próprios pais adotivos. Isso nos leva a questionar: Há saída para essas crianças?

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