31 de jan. de 2013

SOLIDÃO


A Cantora Sandrá de Sá,  em 1977, começou a estudar psicologia, interrompendo o curso em 1980 para dedicar-se à música, campo em que tem-se destacada. Uma de suas músicas lançada em 1986, com o disco "Sandra Sá", de repertório mais romântico, veio à memória, ao pensar naqueles que estão longe, ou até mesmo perto, aos que se foram e não voltam mais, àqueles que se foram, mas ainda hão de vir.

Ao som desta música, "Solidão" (Chico Roque - Carlos Colla), refletiremos a partir de agora. Primeiramente, leia com atenção a letra.

Solidão,
dá um tempo e vá saindo,
de repente eu tô sentindo,
que você vai se dar mal.
Solidão,
meu amor está voltando,
daqui a pouco está chegando,
me abraçando todo meu,
meu, meu...
A solidão é nada
você vem na hora errada
em que eu não te quero aqui
Que solidão que nada,
eu preciso é ser amada,
eu preciso é ser feliz
Solidão,
ele disse que me ama,
se amarrou em mim na cama
me levou até o céu,
céu...

Pois bem, a solidão, aquela sensação ruim de ser incompreendido, de não poder contar com ninguém, de estar sozinho no mundo, pode causar mais males à saúde do que a obesidade e o tabagismo, tradicionalmente ligados a problemas cardíacos e cânceres, entre diversos outros problemas.
Mas, enquanto os dois últimos são fatores de risco muito bem estabelecidos do ponto de vista médico e aceitos pela sociedade, o isolamento social raramente é analisado, num contexto mais amplo, como potencial detonador de doenças.
Uma nova linha de pesquisa, no entanto, coordenada pelo psicólogo John T. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago, sugere que somos muito mais interdependentes do que costumamos acreditar.
Para Cacioppo, "a necessidade de vínculo social significativo, e a dor que sentimos sem ele, são características definitivas da nossa espécie", moldadas por anos de evolução. Ou seja, o isolamento social involuntário é tão contrário à natureza humana que pode ter um impacto devastador sobre a saúde. Não só do ponto de vista psicológico, mas também físico.
- A solidão está relacionada ao mau funcionamento do sistema imunológico, ao aumento da pressão sanguínea, à elevação dos níveis de hormônios do estresse, a um sono ruim, ao alcoolismo, ao uso de drogas e mesmo a alguns tipos de demência em pessoas mais velhas - afirma Cacioppo.
- Os indícios são tantos que a solidão já pode ser considerada um fator de risco para a saúde tão sério quanto a obesidade e o tabagismo.
O maior problema, segundo o cientista, é que a solidão é muito estigmatizada. Ainda mais que o hábito de fumar e o excesso de gordura.
- A solidão ainda é vista pela maioria das pessoas como uma defasagem pessoal ou uma fraqueza - diz o especialista. - E, como há esse estigma, os afetados tendem a negá-la ou ignorá-la. Os que não sentem solidão, por sua vez, tendem a vê-la como um problema dos outros.
E embora não seja necessariamente fácil perder peso ou parar de fumar, há tratamentos fundamentados cientificamente para ambas as condições inteiramente aceitos pela comunidade médica e que já se revelaram eficazes em milhões de casos.
Mas a solidão, no entanto, pouca gente sabe como tratar. Não se trata de uma doença propriamente, esclarece Cacioppo. Mas de uma condição intrínseca do ser humano, como a sede e a fome.
A intensidade da dor do isolamento, entretanto, pode variar de pessoa para pessoa. O importante, segundo Cacioppo, é encontrar um ambiente social adequado ao seu grau de sensibilidade.
- Cerca de 50% da capacidade de sentir solidão é hereditária, mas isso não significa que seja determinada pelos genes. Um percentual similar está relacionado a fatores ambientais. O que parece ser hereditário, no entanto, é a intensidade da dor que cada um sente ao se ver socialmente isolado.
Há pessoas mais sensíveis e outras menos suscetíveis - diz o cientista. - O importante é estar num ambiente que esteja de acordo com a sua predisposição de sentir a dor do isolamento social.
Quem é especialmente sensível deve priorizar o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos de alta qualidade em nome de sua saúde e do bem-estar.
Para auxiliar a superar o problema, eis umas dicas:
Expanda-se: A retração e a passividade associadas à solidão são motivadas pela percepção de estar sendo ameaçado. Seja capaz de testar outras formas de se comportar sem aquela sensação de perigo. Você precisa de um local em que sinta seguro para experimentar, e tem que começar aos poucos. Não foque em tentar encontrar o amor da sua vida ou em se reinventar de uma vez só. Brinque com a ideia de tentar pegar doses pequenas da sensação positiva que surge com interações positivas.
Trace um plano de ações: Algumas pessoas se veem à deriva e sem controle de suas vidas. A percepção de que não somos vítimas passivas, de que temos o controle, e podemos transformar nossa situação simplesmente mudando nossos pensamentos, expectativas e comportamentos com relação aos outros podem ter um efeito surpreendentemente poderoso, especialmente em nosso esforço consciente de autorregulação. Outra atitude que nos dá sensação de controle vem do reconhecimento de que temos poder para escolher onde investir nossa energia social. Não é preciso uma mudança enorme para mudar o curso de vida de uma pessoas e seu destino dramaticamente.
Esforços de caridade nos capacitam para nos colocar na cena social com menos medo de rejeição ou abuso, mas até aqui algum critério é necessário. Promover jogos de futebol entre crianças, por exemplo, exige pelo menos um pequeno conhecimento do esporte, mas ser um assistente do técnico requer nada mais do que vontade.
Seleção: A solução para a solidão não é quantidade, mas qualidade de relacionamentos. Conexões humanas precisam ser significativa e satisfatórias para cada pessoa envolvida. Além disso, relacionamentos são necessariamente uma troca e exigem níveis correspondentes de intimidade e intensidade em ambos os lados. Assim, parte da seleção é sentir quais relações são promissoras, e quais seriam inadequadas. A solidão nos deixa muito atentos aos sinais sociais. O truque é ser suficientemente calmo e saber interpretar esses sinais com precisão.
Espere o melhor: Contentamento social pode nos ajudar a ser mais consistentes, generosos e alegres. Isso pode nos tornar mais otimistas, e "esperar a melhor" atitude nos ajuda a projetar o melhor. Cordialidade e boa vontade têm mais chances de gerar as mesmas atitudes por parte da outra pessoa, pois este é o poder da reciprocidade. Com a prática, qualquer um de nós pode receber em troca o que oferecemos ao mundo. Nós temos mais controle sobre nossos pensamentos e padrões de comportamento do que podemos imaginar, mas, novamente, ninguém pode exercer controle total dos relacionamentos interpessoais, mais do que podemos forçar uma resposta imediata e completa na maneira como os outros nos veem.


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