AÇÃO EVANGELIZADORA NA IGREJA PRIMITIVA
Joenildo Fonseca Leite
INTRODUÇÃO
Sabe-se que toda a Escritura está
cheia de profecias sobre a vinda de Jesus Cristo o Filho de Deus, como oferta
sacrificial para resgatar o homem, e morrer por seus pecados, levando-o assim
diante de Deus o Pai.
A profecia se referia ao Deus para
o homem, até, que com a vinda de Jesus nascido de mulher, concluiu-se a
profecia do que “haveria de vir”.
Sendo agora “Deus conosco”, Jesus
cumpriu as profecias com precisão, até mesmo as de Isaías 53, que falava do
sofrimento do Messias e de sua morte vicária na cruz. Ao cumprir estas
profecias, Jesus também se preocupou e treinou seus discípulos durante seu
ministério terreno para que pudessem dar continuidade ao seu trabalho
evangelizador. Porém, como será visto nesta pesquisa, não foi fácil para aqueles
primeiros discípulos darem início à obra evangelizadora.
Com a vinda ou o “revestimento de
poder”, derramado por meio do Espírito Santo, começa-se uma forte Igreja em
Jerusalém, também testemunhada por muitos judeus helenistas de outras nações
que ali estavam no dia de Pentecostes e que puderam presenciar o derramamento
de poder sobre aqueles discípulos de Jesus.
Assim, começou a grande obra
evangelizadora de Jesus, agora o “Deus em nós”.
Mas, como será apresentado neste
trabalho, poderá se observar, a grande dificuldade que tiveram os primeiros
evangelistas em instituir a Igreja primitiva, pois estavam cercados de
inimigos, de religiosos rivais, de filosofias que fluíam como águas contrárias
ao evangelho de Cristo, como o Gnosticismo e outros, sem mencionar os políticos
e Imperadores da época que clamavam para si toda a adoração, e, se lhes
negassem este tipo de práxis, estavam sujeitos a morte, ao desterro, ou a
perderem todos os seus bens, e muitos passaram por esta experiência por amor a
Cristo.
Contudo se faz ressaltar, que
apesar de todas as adversidades, a Igreja primitiva conseguiu expandir o
evangelho para todas as direções habitadas daquela época, por meio de seus
missionários, e através principalmente das perseguições.
Um dos grandes evangelistas, o
apóstolo Paulo, não mediu esforços para levar adiante esta missão quase que
impossível, mas, houve contribuições por parte dos Romanos, Gregos e outros que
de alguma forma contribuíram para o progresso da Igreja de Cristo, para a
divulgação e propagação do evangelho no primeiro século cristão.
Será visto também o
desenvolvimento eclesiástico da Igreja primitiva, e suas formas de evangelizar.
Entretanto é necessário ressaltar
que esta pesquisa não tem por objetivo apresentar a sua matéria de forma
apologética ou até mesmo absoluta, porém apenas destacar a forma de como foi
conduzido o desenvolvimento da Igreja primitiva e suas implicações através dos
povos daquela época e os adeptos do cristianismo em questão no primeiro século
d.C. Que possamos alcançar o objetivo com sucesso.
CAPÍTULO I
A IGREJA E OS CAMINHOS DA EVANGELIZAÇÃO
1
As Vias da Evangelização
Conforme Michael Green (1970), ao
cumprir seu ministério na terra, Jesus incumbiu um grupo pequeno de “onze”
homens para por em prática a obra evangelizadora, anunciando assim, “as boas
novas” por todas as nações, começando esta missão em Jerusalém.
Eram homens que não tinham
pessoas de grande influência por trás deles, não eram indivíduos de grande
apreço, e nem tão pouco bem instruídos em alguma faculdade da época. Este grupo
era constituído por homens comuns e trabalhadores simples, como pescadores.
Não era nenhuma pessoa de grande
importância em sua pátria, e, de alguma forma, o país deles não passava de uma
comarca de segunda categoria na extremidade oriental da localização romana.
Se eles quisessem considerar as
oportunidades de apresentar um grande sucesso em suas missões, mesmo possuindo
toda a persuasão íntima de que o Senhor Jesus estava vivo e que o seu Espírito
permanecia com eles, e, em suas companhias para ajudá-los e equipá-los para o
seu trabalho, eles seguramente teriam perdido o entusiasmo; tão extensas
consistiam em serem as circunstâncias contrárias.
Como conseguiriam por em prática
a evangelização com tantas dificuldades? Entretanto, eles obtiveram seu
sucesso, e conseguiram mesmo que custando para alguns deles, a própria vida.
É muito difícil ultrapassar os
obstáculos que encontravam em seu acesso. Entretanto, é fato se for pensado que
possivelmente em nenhuma outra ocasião da história do mundo estava mais bem
preparada para receber a mais jovem Igreja que o primeiro século d.C., com
oportunidades grandes para proclamar e abranger a fé, em um império formalmente
mundial, o romano.
Michael Green (1970) comenta a
circunstância da preparação do mundo daquele período para receber a
evangelização e o desenvolvimento do cristianismo no primeiro século:
A conjunção de elementos gregos, romanos e
judaicos nesta praeparatio evangélica é do conhecimento de todos, mas vale a
pena relembrá-la, para colocarmos este estudo em sua perspectiva certa. No
primeiro relato que temos da expansão do cristianismo, os Atos dos apóstolos,
fica visível em cada página a contribuição da Grécia, Roma e Judaísmo. No
segundo século os cristãos começaram a pensar mais e se conscientizar do
contexto sobre o qual a Igreja fora edificada, e passaram a falar da
providência divina que tinha preparado o mundo para o surgimento do
cristianismo. (GREEN M., 1970, pgs. 11-12).
Nem todos os seus assuntos
apresentam um conceito de peso, mas é evidente que o primeiro século abriu
caminhos de importância incontável para a divulgação do evangelho.
Entretanto, antes de ser assunto ao Pai, Jesus
instruiu seus discípulos, visando à necessidade de deixar a sua Igreja
preparada para receber um povo, uma comunidade social constituída de seus
seguidores como se pode conferir a seguir.
1.2 Jesus
Estabelece a Sua Igreja
Segundo Robert Hastings Nichols
(1985), era manifesta a necessidade de existir um grupo social estabelecido dos
simpatizantes seguidores de Jesus, para proporcionar ao mundo as “Boas Novas” e
deste jeito ministrar, em Seu espírito, os ensinamentos que lhes deixara.
O verdadeiro objetivo era o de
anunciar e difundir o Reino de Deus, e o “Evangelho”. Jesus não projetou
qualquer organização ou determinado tipo de plano governamental para esta
sociedade da Igreja primitiva.
Do mesmo modo, ele não recomendou
uma liderança oficial para desempenharem domínio sobre os membros daquela
primeira organização. Não receitou qualquer credo para ela, e nenhum código de
regulamentos lhe fôra atribuído, igualmente não ordenou autorizações ou
qualquer forma de culto.
Unicamente, consentiu aos seus
discípulos os rituais religiosos mais simples: o batismo, com água, para expressar
a purificação espiritual e consagração ao Seu discipulado; e a Ceia do Senhor,
na qual usou um pouco dos elementos mais comuns da mesa, como uma comemoração
da Sua morte para a redenção dos homens.
Conseqüentemente, em nada do que
Jesus fez pode-se descobrir a organização da Igreja. Jesus fez muito mais do
que dar organização: Ele deu vida à Sua Igreja, dizendo melhor, Ele mesmo a
criou.
Robert Nichols (1985) comenta os
feitos de Jesus ao formar a sociedade de Seus seguidores, e as promessas por Jesus
deixadas para sua Igreja através dos séculos:
Jesus formou uma sociedade dos Seus seguidores,
agrupando-os ao redor de si mesmo. Comunicou a esse grupo, até onde era
possível, Sua própria vida, Seu espírito e propósito. Prometeu dar, através dos
séculos, vitalidade a esta sociedade, Sua Igreja. E Sua grande dádiva a ela foi
o dom dEle próprio. NEle, a Igreja teria de encontrar os seus princípios, os
seus objetivos, o seu poder. Deixou a Igreja livre para escolher as formas de
organização e culto, afirmações de crença, métodos de trabalho, etc. O
propósito de Cristo era que a vida da Sua Igreja, isto é, a vida do Salvador
latente em Seus seguidores, se expressasse pelos modos que lhes parecessem mais
apropriados para a consecução do grande objetivo em vista. (NICHOLS R. H.,
1985, p. 18).
Com certo propósito, a igreja
Cristã surgiu quando Jesus convocou os seus primeiros discípulos, mas
habitualmente se descreve que a Igreja passou a existir ou nasceu no dia de
Pentecostes que se declarou à ressurreição, pois foi quando se principiou a
história funcional da Igreja primitiva em Jerusalém, por meio dos apóstolos do
Senhor Jesus.
Antes de se empenharem nessa
missão, eles receberam as últimas instruções do Mestre Jesus.
A morte de Cristo é aceita,
entretanto, a sua ressurreição é espantoso, assombrosa, muitos se escandalizam,
porém, outros ficam a sorrir.
Todavia o testemunho dos seus
discípulos gira em volta da analogia entre a morte e a ressurreição de Jesus:
aquele que foi visto espirando, falecido, depois de três dias foi visto, agora
outra vez vivo, semelhante a si próprio, apto de ser tocado e de compartilhar a
ceia de seus amigos.
Seria o Cristo ressurreto que
seus apóstolos passariam a pregar. É ele que compõe o alicerce do cristianismo:
“E, se Cristo não ressuscitou,é vã a
nossa pregação, e vã a vossa fé”, I Co 15:14, admitiu o apóstolo Paulo.
Foi no regozijo da ressurreição
de Jesus e na esperança de uma parousia urgente que as primitivas sociedades
cristãs se desenvolveram e aumentaram.
Pierre Pierrard (1982) interpreta
como eram e como viviam os primeiros membros da pequena comunidade, a Igreja
instituída por Jesus após sua ascensão:
Os membros da primeira comunidade, a Igreja,
que Jesus deixara em Jerusalém após a sua ascensão, apresentavam-se como judeus
que viviam sua religião de maneira mais pura que seus pais, pois, transcendendo
ensinamento bastante elevado, mas ritualista dos fariseus, eles tinham como
referência as palavras do Mestre - considerado por eles o Messias anunciado,
que dava um lugar essencial às disposições do coração. Aquele primeiro grupo
judeu-cristão era uma comunidade bem temerosa. Viveu por longo tempo confinado
na sala superior da casa em
que Jesus havia celebrada a última ceia. Mas logo vem o
Pentecostes, o vendaval que enche a casa, o espírito que fortalece os corações
tímidos e transforma aquelas humildes pessoas em arautos tão vibrantes que,
desde o início, seus ouvintes acusam-nos de estar cheios de vinho. (PIERRARD
P., 1982, p. 18).
Antes mesmo de esses acontecimentos
virem à tona, o Senhor Jesus já havia falado aos seus discípulos sobre o
ministério do Espírito Santo, logo após que Jesus, se apresentasse como assunto
ao céu, Ele havia-lhes prometido dar prosseguimento ao Seu próprio ministério,
entretanto em uma medida abundantemente maior.
E pronunciou assim aos seus
ouvintes, disse-lhes: “Convém-vos que eu
vá, porque se eu não for o Consolador não virá para vós outros; se porém, eu
for, eu vo-lo enviarei” (João 16:7).
Era muito mais fácil e melhor
para os discípulos que o Espírito Santo fosse o seu mestre. Ele não ficaria
restrito a um corpo material, como Jesus se encontrava.
Ele não somente estaria “com”
eles, como Jesus estava; porém, estaria também “em” eles! Seria um Consolador
sempre presente e um guia constante. Uma das últimas instruções dadas por Jesus
aos seus discípulos, antes de ser assunto ao céu, foi: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até
aos confins da terra”, Atos 1:8.
Assim, Jesus ordenou que
esperassem na cidade, até, receberem o poder necessário para que eles pudessem
testemunhar.
1.3 O
Pentecostes
A festa judaica de “Pentecostes”
levara a Jerusalém uma grande multidão.
O apóstolo Pedro, ainda
respirando ter sido um renegado, porém restituído por seu Mestre, agora diante
de uma grande multidão, dirige-se a ela e fala: “Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento
disto e atentai nas minhas palavras”, Atos 2:14.
Assim começou a pregação do
evangelho de Jesus Cristo, “as boas novas”, onde rapidamente começou a primeira
e grande comunidade cristã em Jerusalém.
Pedro é ouvido, sobretudo pelos
judeus da Diáspora, o que explica a presença, vespertina, de um grupo pequeno de
judeus cristãos em Damasco, Antioquia, Alexandria e Roma.
Um bom número destes “helenistas”
permaneceu em Jerusalém.
Se ocupando deles, os “doze” apóstolos designaram os diáconos
- em número de sete como comprova os Atos
dos Apóstolos.
Porém, o evento decisivo para o
desenvolvimento do cristianismo no primeiro momento, certamente foi o
acontecimento do Pentecoste.
Haveria certa dificuldade em se
argumentar com sucesso que os primeiros cristãos foram inspirados para cumprir
a Grande Comissão por meio de lembrar uns aos outros as suas disposições e
importância.
Ao contrário, o Espírito Santo
desceu sobre a vida daqueles cristãos primitivos e os transformou em
testemunhas da forma como lhes havia prometido o Senhor Jesus.
David Hesselgrave (1984) comenta
como sucedeu este episódio na história daqueles primeiros cristãos, e qual era
a precisão deste acontecimento:
Segundo Atos 1:8, Ele lhes dissera que quando
viesse o Espírito Santo sobre eles, (1) receberiam o poder ou a força
necessária; (2) Seriam testemunhas do Cristo a quem tinham visto e ouvido, e em
quem acreditavam; (3) iriam para Jerusalém, a Judéia e Samaria, e até os
confins da terra. Depois da vinda do Espírito Santo, descobririam
experimentalmente que o Espírito Santo também é o “Espírito Missionário”. Ele
obedeceu à Comissão neles e através deles. E qual foi o resultado? Lucas nos
informa que depois do Pentecoste “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que
iam sendo salvos” (Atos 8:4). (HESSELGRAVE D. J., 1984, p. 18).
Segundo Larry D. Pate (1987), uma
das derradeiras palavras de instruções dadas por Jesus aos seus discípulos,
antes de ascender aos céus, foi: “Ide por
todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura”, Marcos 16:15.
E eles estavam preparados para
atender esta ordem de Jesus! Entretanto, prestes a deixá-los decisivamente, o
Senhor Jesus disse-lhes que aguardassem e, esperassem até que recebessem o
poder imprescindível para testemunharem a Seu respeito:
Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a
Judéia e Samaria, e até aos confins da terra (ATOS 1:8).
Segundo o evangelista Lucas.
Essas foram às últimas palavras pronunciadas por Jesus na terra. Ao lado delas,
Jesus lançou a incumbência centrifuga dos seus discípulos.
Eles precisariam ministrar o
evangelho em assembléia sempre mais extensa e a povoados cada vez mais
diversos. Não careceriam deter-se diante de qualquer limite cultural ou
geográfico.
Permanecia em suas mãos
desenvolver o ministério principiado por Jesus e levá-lo até atingirem aos
“confins da terra”. O que aconteceu depois de dez dias é muito bem versado de
todos. Era chegada a semana da festa de Pentecostes.
Os discípulos permaneciam
congregados e unânimes. Então o Espírito Santo desceu sobre eles, enchendo toda
a casa onde eles permaneciam, e do mesmo modo eles foram cheios do Espírito
Santo, e falaram em outros idiomas, conforme o Espírito lhes consentia que
falassem.
Sabe-se que muitos crédulos não
entenderam a exata significação do dia de Pentecostes, descrito em Atos 2,
criam que o fato mais admirável desse dia foi os cristãos terem recebido o dom
de línguas, segundo o Espírito Santo lhes conferia que falassem.
Conforme Larry Pate (1987), havia
muita implicação necessária para aquela ocasião; igualmente é importante que se
possa compreender, quem ouvia; que tipos de indivíduos foram testemunhas dessa
manifestação divina; o que escutaram; e o que significou para esses ouvintes o
fato que foram assistentes.
Com a ocorrência deste fato
espiritual, seguramente preparada por Deus para o desenvolvimento e o aumento
da Igreja primitiva, se pode conferir na explicação de Larry Pate (1987) o que
sucedeu depois deste episódio:
Quem escutou os discípulos no dia de
Pentecostes? Principalmente um grupo de pessoas conhecidas como judeus
“helenistas”. Eram judeus que durante dois ou três séculos haviam sido
dispersos, em virtude das perseguições, por todos os países e territórios da
civilização romana e grega daquela época. Haviam-se dispersado e restabelecido
nas principais cidades gregas e romanas, assim como em grande parte das cidades
menores. Havia aproximadamente dois milhões e meio de judeus na Palestina na
época de Cristo. Mas havia mais de três milhões
e meio de judeus “helenistas” fora da Palestina. Esses judeus helenistas haviam
sido espalhados principalmente durante o reinado dos gregos (no século três e
dois a.C.). Haviam absorvido em grande parte a cultura grega e é por isso que
os judeus da palestina os conheciam como “helenistas’. (PATE D. L., 1987, p.
22).
De acordo com a lei judaica, era
estabelecido que todos os judeus fizessem uma peregrinação a Jerusalém nas três
festas especiais do calendário judaico.
A segunda destas festas era a de
Pentecostes. Assim muitos helenistas dirigiam-se para Jerusalém, vindos de
todas as partes do mundo romano, para festejar o Pentecoste.
Onde quer que surgissem os
comércios de suprimentos, mesmo ao longo dos caminhos que levassem a
cidade, esses caminhos, permaneciam
cheios de nômades.
Quando incidiu a descida do
Espírito Santo sobre os discípulos às nove horas da manhã, as ruas da cidade
estavam cheias de gente.
Repentinamente, um barulho como o
de potentes rajadas de vento despertou a curiosidade dos que se achavam nos
arredores do cenáculo. E logo a seguir, escutaram algo que os deixou admirados.
Alguns enalteceram a Deus em alto
clamor nas línguas maternais de muitos dos que escutavam! Judeus, partos e
elamitas, helenistas vindos da Frígia, da panfília e do Egito, helenistas
vindos de pelo menos quinze províncias do império romano, ausentes de suas
moradas, escutaram os louvores a Deus em seus próprios dialetos maternos.
Os cristãos galileus, que não
tinham qualquer título universitário, falavam das maravilhas de Deus de forma
milagrosa, pelo ao menos em quinze línguas diferentes, relacionados em Atos
2:8-10.
Todas aquelas pessoas, ao ouvirem
cada um a seu dialeto materno, se admiravam uns com os outros fascinados, e
espantados.
Larry Pate (1987) comenta após
este acontecimento admirável, sobre o exato significado do dia de Pentecostes:
Neste momento Deus estava mostrando ao mundo
algo muito especial: ele já não se revelaria apenas por meio dos judeus. Agora
o faria mediante a igreja de Jesus Cristo. E esta igreja estaria tão cheia de poder
do Espírito Santo que seria capaz de cruzar toda barreira racial, cultural ou
lingüística na terra e penetrar a idiossincrasia de cada povo com o evangelho
de Jesus Cristo. Seria uma igreja decidida a penetrar a própria vida de cada
sociedade, com o evangelho na língua materna de cada povo. Deus declarava que o
plano de ação do Espírito Santo na igreja de Jesus Cristo seria estabelecer
igrejas em cada grupo étnico da terra. (PATE D. L., 1987, p. 24).
1.4 Os
Primeiros Convertidos
Como é de conhecimento de muitos
pesquisadores, e mesmo dentro da Palavra de Deus, e de acordo com Larry Pate
(1987), sabe-se que os judeus apresentavam um intenso preconceito racial,
religioso e cultural contra os gentios.
Os guias religiosos adoravam ter
domínio sobre seus irmãos de modo político, e este acontecimento exaltava-lhes
o sentimento de superioridade espiritual sobre os gentios, com extrema
veemência.
E foi então, sobre este povo
preconceituoso que Deus derramou o seu Espírito Santo! Eles tinham o dever de
evangelizar sua própria nação, mas evangelizar as outras nações era um tanto
mais complexo.
O Espírito Santo tinha
verdadeiramente uma missão muito grande, se realmente desejasse que a igreja
judaico-cristã contivesse sucesso ao efetuar os desígnios de Deus.
No dia de Pentecostes, o apóstolo
Pedro colocou-se em pé e defendendo aquele acontecimento miraculoso, passou a
pregar o evangelho para aquelas pessoas que ali estavam fascinadas com os fatos
sucedidos. Três mil pessoas foram salvas! É admissível que muitos fossem judeus
helenistas. Logo o número de adeptos aumentou rapidamente, em pouco tempo,
calcula-se que o número de cristãos chegara a vinte e cinco mil só na cidade de
Jerusalém.
Segundo David Hesselgrave (1984),
o Pentecoste foi o evento determinante para o desenvolvimento do cristianismo e
comenta:
O evento decisivo para a expansão do
cristianismo foi o Pentecoste. O Espírito Santo veio sobre aqueles crentes
primitivos e os transformou em testemunhas, do jeito que o Senhor prometera. E
qual foi o resultado? Lucas nos informa que depois do Pentecoste
“acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos 2:47).
Ele nos informa que quando os discípulos em Jerusalém foram espalhados pela
perseguição, “iam por toda a parte pregando a Palavra” (Atos 8:4). Depois da
perseguição, a igreja na Judéia, na Galiléia, e Samaria “tinha paz...
edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Espírito Santo,
crescia em número” (Atos 9:31). Em Antioquia “muitos, crendo, se converteram ao
Senhor” (Atos 11:21). (HESSELGRAVE D. J., 1984, p. 18).
No princípio segundo o conceito
de alguns eruditos, a maior parte dos judeus convertidos era judeus helenistas.
Porém, logo o número de cristãos da Judéia alcançou e excedeu os cristãos
helenistas.
Esse número provocou uma grande
separação na igreja primitiva, pois os cristãos helenistas começaram a perceber
e observar que estavam sendo menosprezados pela igreja em crescimento.
Essa discriminação era a
conseqüência do preconceito racial dentro e fora da igreja por parte dos judeus
criados na região, que se avaliavam legítimos, e consideravam os helenistas
como mestiços culturais e, sempre, para eles os helenistas eram inferiores.
Todavia, os apóstolos perceberam
que o problema estava centralizado na falta de organização e direção da parte
helenista da igreja primitiva.
Sobre os judeus da “diáspora”,
Robert Gundry (1970) comenta sobre como viviam e eram divididos fora da
Palestina:
Fora da Palestina, os judeus da diáspora
(“dispersão”) se dividiam em duas categorias: (1) os hebraístas, que retinham
não só sua fé judaica, mas também seu idioma judaico e seus costumes
palestinos, razão pela qual incorriam no ódio dos gentios, por se manterem
distantes; e (2) os helenistas, que haviam adotado o idioma, o estilo de vestes
e os costumes gregos, ao mesmo tempo em que se apegaram à fé judaica em vários
níveis de intensidade. Um notável exemplo do judaísmo helenista foi Filo, um
filósofo judeu do primeiro século cristão e residente em Alexandria. Ele
combinava o judaísmo e a filosofia grega mediante alegorias baseadas no Antigo
Testamento. (GUNDRY R. H., 1970, p. 58).
Depois dos helenistas terem
arrumado seus próprios líderes, aumentou a dedicação e influência por parte
deles. Vários dos judeus helenistas de Jerusalém, e muitos sacerdotes, creram e
começaram a confessar Cristo, Atos 6:7.
Houve muita contribuição por parte dos
romanos, pois até mesmo se comentavam sobre como Deus havia entrado com
providência e tinha preparado o mundo para o nascimento do cristianismo, e
assim, abriram-se portas importantes para a propagação do evangelho.
1.5 A
Pax Romana
Segundo Michael Green (1970),
para que o objetivo primordial do Mestre Jesus fosse colocado em prática,
muitos caminhos foram abertos, e o primeiro e fundamental deles foi à pax romana. Não se pode imaginar a
divisão do evangelho se Jesus Cristo tivesse vindo ao mundo meio século antes.
A fé difundida por Jesus e seus
apóstolos chegou ao mundo em uma ocasião de muita paz sem comparação na
história.
O mundo conhecido daquela época,
o primeiro século, permanecia pela primeira vez debaixo de autoridade do
estável domínio de uma exclusiva nação potente, Roma.
Realmente esta posição já havia
se tracejado mais de um século anterior, quando esta potência da bacia do Mediterrâneo,
após ter obtido a vitoria na terceira Guerra Púnica.
Pelo uso da força com uma boa
supervisão colonial, Roma havia adquirido uma coesão política tão estável
quanto Alexandre o Grande somente havia imaginado.
Políbio registrou sua História,
incluindo os anos 220-145 a.C.,
com o intuito de escrever para a progênie como “os romanos conseguiram, em
menos de 53 anos, dominar aproximadamente todo o mundo ao seu comando; um feito
não igualável na história”.
Michael Green (1970) esclarece
parte da grande guerra civil ocorrida entre os romanos algumas décadas antes da
vinda de Cristo:
Roma, senhora do mundo, não era senhora de si
mesma. Poucos anos depois da destruição de Cartago em 146 a.C., um pretenso
reformador romano, Tibério Graco, foi morto a pauladas durante um levante
popular liberado pelo ex-cônsul Público Scípio Nasica. Sua morte deu início a
uma luta interna que desembocou em cem anos de guerra civil. Mário, Sula,
Pompeu, Crasso e Júlio César, para mencionar somente alguns dos protagonistas mais
famosos deste século de carnificina, ergueram armas contra seus concidadãos e
envolveram todo o mundo em sua desgraçada luta pelo poder. Quando Júlio César
sucumbiu ante os punhais de Brutus e Cássio em 44 a.C., deve ter parecido que
mais um prego tinha sido pregado no caixão do imperium romano, apesar do
argumento dos conspiradores de que tinham agido somente para matar um tirano e
reanimar a República. O resultado foi mais uma luta sangrenta, entre os
integrantes do triunvirato: Marco Antônio, M. Emílio Lépido e o sobrinho-neto
do falecido César, Cáio Otávio, por um lado, e Brutus e Cássio por outro, foi
resolvido na batalha de Filipos. A isto seguiu o declínio de Lépido, uma luta
titânica entre Antônio e Otávio que culminou na batalha de Actium (31 a.C.) e, mais tarde, a
morte de Antônio e sua amante, Cleópatra, junto com a anexação do Egito por
Roma. (GREEN M. 1970, pgs 14-15).
Depois deste acontecimento, a
superioridade de Otávio não foi mais questionada.
O mundo então ficou agradecido
pela restauração da paz restabelecida por Augusto, o Senado em sinal de
reconhecimento tinha lhe aferido este título dez anos antes, como prêmio por
ele ter restituído a liderança republicana, pelo menos visivelmente.
Comemorou os Ludi Saeculares em
que Horário cantou os feitos do “filho de Aquiles e Vênus” e
a paz, a abastança e a prosperidade da sua administração.
Foi a partir da pacificação
universal e do restabelecimento da Republica que por fim teve tempos venturosos
e pacíficos naquela época.
Augusto conseguiu manter esta paz
pela força de suas legiões, e eles ficavam enquartelados pelos termos do
Império romano, de forma que os cidadãos podiam crer na paz, pois agora suas
fronteiras estavam resguardadas.
Júlio César havia tomado a Gália,
Pompeu a Ásia Menor, e também Augusto se esforçou para ampliar suas fronteiras
até os rios Reno e Danúbio. Esses rios foram intensamente patrulhados por
destacamentos navais.
Ninguém mais temia outra guerra
civil, pois, Augusto havia desmembrado de forma ardilosa a região entre o
Senado e ele, com habilidade que ele sustentava o domínio sobre todas as
comarcas que tinham precisão de uma presença militar.
Augusto tinha instituído uma
potente integração corporativa por todo o mundo urbano.
O sistema de estradas se ampliou
de forma acelerada, pois, Augusto tinha instância de caráter específico por
estradas e converteu sua conservação, a cura
viarum, em cargo imperial, dirigido por um grupo de senadores respeitáveis.
Essas estradas foram benéficas
para uma rápida manobra e deslocamento de tropas militares e ao mesmo tempo
elas promoviam a comunicação imprescindível de informações pelo correio
público, o cursus publicus, que foram
estabelecidos por Augusto.
Robert Gundry (1970) comenta
sobre a rede de estradas formadas na Palestina e no império romano e seu
funcionamento no primeiro século:
No campo de transportes, do comercio e das
comunicações a Palestina era bem pouco desenvolvida. Provavelmente o país não
possuía estradas pavimentadas, embora houvesse diversas estradas principais.
Uma dessas estradas partia de Jerusalém, na direção sudeste, para Belém e gaza,
e outra partia de Jerusalém, na direção nordeste, para Betânia, Jericó e
Damasco. A segunda estrada principal se separava da primeira na Transjordânia e
atravessava Decápolis até Cafarnaum. A maioria dos Judeus percorria essas duas
estradas quando de viajem entre a Galiléia e a Judéia. Embora na Palestina o
sistema de estradas fosse comparativamente deficiente, por quase todo o império
romano as rodovias eram famosas com razão. Eram construídas tão retas quanto
possível, e muito duráveis. Os primeiros missionários cristãos usaram-nas com
grande proveito. O correio imperial transportava despachos governamentais por
estas estradas. As pessoas viajavam a pé, em lombo de burro, ou cavalo ou
montadas em mula, e usavam carruagens ou liteiras. (GUNDRY R. H., 1970, p. 25).
Uma grande rede de estradas foi
construída a partir do Marco de Ouro em Roma para todas as direções daquela
nação, e estas estradas eram conservadas em boas condições.
Esse princípio viário igualmente
proporcionou benefícios aos mercadores que iam e vinham com seus produtos que
estimulavam ao comercio e a promoção de viagens e relação social entre os povos
do império e outros.
Daí surgiu também à proliferação
do evangelho na época dos apóstolos de Jesus, que exploraram essas estradas, e
tanto o Novo Testamento como a literatura do segundo século expõem como normais
viagens de grandes extensões, que dificilmente seriam aceitáveis depois da
queda do Império, até períodos contemporâneos.
Michel Green (1970) faz o
seguinte comentário a respeito destas estradas, que foram de muita utilidade
para os primeiros cristãos levarem e difundirem o evangelho para outras nações:
Uma inscrição muito citada, encontrada em
Hierápolis na Ásia Menor no túmulo de um comerciante, mencionava que ele viajou
para Roma nada menos de 72 vezes. Ele não precisava de passaporte em qualquer
parte do Império. Se não transportasse mercadorias ele não pagava nada na
alfândega, apesar de ter de pagar uma pequena taxa pelo uso da estrada. Nas
páginas de Atos transparece que os cristãos usavam ao máximo o sistema viário
romano, que inconscientemente direcionava sua evangelização. O que um
comerciante podia fazer por dinheiro um cristão podia fazer pela causa do
evangelho. (GREEN M., 1970, p. 14).
Não somente a contribuição romana
auxiliara no progresso da evangelização naqueles primeiros séculos, onde estava
sendo difundido o evangelho de Jesus, a língua também foi de suma importância,
e a Grécia teve papel importante no desenvolvimento do evangelho naquele
período, mesmo desde antes do nascimento do Senhor Jesus Cristo.
1.6 A
Cultura e a Língua Grega
De acordo com Michael Green
(1970), foram grandes e respeitáveis as contribuições da Grécia para o desenvolvimento
do cristianismo em seus primórdios.
A língua grega certamente foi a
mais importante para a expansão do evangelho em sua origem.
A língua grega estava tão
difundida por toda a bacia do Mediterrâneo que funcionava quase como língua
universal. “A Grécia conquistada subjugara seus conquistadores”, lastimou
Horácio; a partir do momento que a Grécia fôra tomada pelo domínio romano, no
segundo século a.C., o idioma helenista entrou em competitividade com a língua
latina.
Quando Alexandre o Grande conquistou
a Grécia, ele converteu o grego na língua normal do Leste mais de cem anos
antes, e assim, agora o Oeste do mesmo modo foi também englobado.
Aconteceu no ano de 242 a.C. Lívio Andrônico, um
escravo grego, foi conduzido a Roma, e tendo sua liberdade, ele se transformou
em um educador em literatura grega e latina.
Desse momento em diante era nesse
caso, natural que o ensino acadêmico em Roma fosse administrado igualmente em
grego.
Eles raciocinavam em grego; e os
romanos adotaram isto, e também gostavam disto. Quintílio, o proclamado
catedrático do primeiro século d.C., fazia questão que as crianças
principiassem estudando a língua grega.
Michael Green (1970) comenta que
até mesmo os judeus, principalmente o apóstolo Paulo usava a língua grega e escrevia
aos romanos latinos, na língua grega em suas epístolas:
Por isso era natural que o judeu Paulo
escrevesse aos latinos de Roma em grego, ou que Irineu, nativo da Ásia Menor,
escrevesse em grego enquanto executava sua obra missionária e apologética na
França no segundo século. Também é interessante que o capitão romano Cláudio
Lísias perguntasse em grego ao apóstolo Paulo, que ele pensava ser um bandido
egípcio: “Sabes o grego?”. É difícil exagerar as vantagens de uma língua comum
para a missão cristã. Isto eliminou a necessidade de escolas lingüísticas para
missionários. Ao falarem grego, os missionários não eram ameaçados pelo ódio
que os que falam inglês encontram em alguns países subdesenvolvidos, porque o
grego, a língua de um povo subjugado, não podia ser associado com o
imperialismo. Além disso, a língua era sensível e maleável, adequada de maneira
ideal para a propagação de uma mensagem teológica, porque durante séculos ela
tinha sido usada para expressar as reflexões de alguns dos maiores pensadores
do mundo, contando assim com um vocabulário filosófico e teológico
aperfeiçoado. (GREEN M., 1970, p. 15).
1.7
O Pensamento Grego
Conforme a opinião de Michael
Green (1970), não se pode apartar o idioma grego do pensamento grego. Por meio
dele a literatura grega foi feita compreensível aos romanos e serviu de exemplo
aos seus autores.
Os seus trovadores eram os
teólogos daquele momento; a população havia recebido suas opiniões sobre os
deuses e de suas ações das sagas de Homero.
Do mesmo modo, a popularização da
tradição teológica foi, disfarçadamente, uma autêntica elaboração para a
evangelização cristã no primeiro século e seguintes.
Os pensadores da época
conjeturavam sobre as barbaridades, as infidelidades, as prevaricações, as
batalhas e as falsidades conferidas aos deuses, e os recriminavam.
Os cristãos não foram os
primeiros a investir contra o abrasivo politeísmo antropomórfico daqueles
povos. Os filósofos da Grécia prontamente os havia revelado seus falsos
desígnios há muito tempo.
Michael Green (1970) esclarece
como foi à técnica de ensino contra os costumes abomináveis dos deuses pelos
princípios dos sofistas, e o poder que era exercido por eles sobre os
indivíduos naquele tempo:
Ninguém tinha sido mais corajoso ao atacar as
atitudes indignas dos deuses tradicionais do Platão, e seus ataques foram
popularizados pelo ensino dos sofistas. Havia destes homens em todas as cidades
principais do mundo antigo. Eles trabalhavam com toda liberdade tanto dentro
das casas como ao ar livre, ensinando qualquer pessoa que lhes pagasse por
isto. O Protágoras de Platão dá uma idéia da atração que estes homens exerciam,
da sua habilidade e da sua superficialidade, e uma impressão da sua influência.
Os sofistas gregos tinham tanto poder sobre as pessoas comuns como os
pregadores da Reforma. Ao ridicularizarem os deuses eles devem ter preparado em
grande parte o caminho para a mensagem cristã. Pelo menos os apologistas do
segundo século edificaram sobre os fundamentos que eles haviam colocado, e
usavam com freqüência as armas dos filósofos gregos para denunciar os deuses
gregos. Uma lida rápida da Apologia de Aristides ou do Discurso aos Gregos de
Justino mostrará como os cristãos usavam este método de ataque. Material não
lhes faltava, porque não somente Platão, mas também os estóicos, os epicureus e
os cínicos tinham procedido aos cristãos neste ataque. (GREEN M., 1970, p. 16).
A reflexão intransigente dos
gregos e sua investigação íntegra pela veracidade os deixavam inquietos com
tantos ídolos vãos que pela tradição os tinham adorado.
Comentam-se com sabedoria que não
foram os gregos que se tornaram tão pervertidos ao ponto de seus deuses os
terem desamparado, todavia, que os deuses se tornaram tão imorais que foram
abandonados por seus adoradores gregos.
Pode-se identificar, entretanto,
um movimento de separação do politeísmo no mundo greco-romano do primeiro
século, (porém, é muito fácil enfatizar este acontecimento; o paganismo ainda
era uma potência com que se tinha de conviver no quarto século d.C.
Pode-se conjeturar, além disso,
uma severa experiência do monoteísmo. Robert Gundry (1970) comenta a respeito
das formas filosóficas que surgiram ao lado do sincretismo daquela época e a
atuação do cristianismo diante de tantas crenças religiosas e filosóficas:
Os entendidos no assunto estavam se voltando
para formas filosóficas mais puras. O epicurismo pensava ser os prazeres (não
necessariamente de ordem sexual) o sumo bem da vida. O estoicismo ensinava que
a aceitação racional da própria sorte, determinava por uma Razão impessoal, que
governaria o universo e da qual todos os homens fazem parte, é dever do homem.
Os cínicos, antigas contrapartes dos modernos “hippies”, reputavam a virtude
suprema como se fora uma vida simples e sem convenções, rejeitando a busca
popular pelo conforto, pelas riquezas e pelo prestígio social. Os céticos,
tendo abandonado em seu relativismo toda esperança de qualquer coisa em termos
absolutos, sucumbiam ante a dúvida e a conformidade para com costumes
prevalescentes. Essas e outras filosofias, entretanto, não determinavam as
vidas de um grande número de pessoas. De modo geral, as superstições e o
sincretismo caracterizavam as massas, pelo que também o cristianismo teve de
penetrar numa sociedade religiosa e filosoficamente confusa. (GUNDRY R. H.,
1970, p. 42).
A velha certeza dos primeiros
gregos tinha submergido. O incompreensível universo desafiava o entendimento. A
filosofia não conseguira resultado em prover soluções aceitáveis. Outro tanto
acontecera às religiões clássicas.
Os homens se sentiam tímidos ante
o destino dito pelas estrelas, as quais eram analisadas como seres
angélico-demoníacos. Predominava um caráter de desesperança, ou ao menos, de
pessimismo.
A dificuldade entre Um e vários
prontamente há muito fascinara os pensadores gregos, e eles não se achavam
dispostos para receber uma definição do universo que não desse um
esclarecimento aceitável tanto da sua coesão como da sua heterogeneidade.
Segundo Michael Green (1970),
fica transparente que o Deus exposto pelos filósofos gregos nem são
inteiramente independentes, e nem tem a autoridade de ser confrontado ao Deus
Criador, Redentor e pessoal da tradição judaico-cristã.
Todavia a disposição unânime em
sentido a determinado tipo de monoteísmo entre os sábios pensadores daquela
época (isentando os epicureus e os céticos) municiou uma praeparatio evangélica de suma estimação, da qual os cristãos não
adiaram em empregar.
Admite-se que no começo os
cristãos tomaram uma postura de recusa direta do paganismo.
Robert Gundry (1970) comenta
sobre a grande influência que o sincretismo e superstições, o uso de magias e
consultas de oráculos, dominavam a imaginação do povo romano naquele andamento:
As superstições estavam firmemente
entrincheiradas nas mentes da maioria do povo do império romano. O emprego de
fórmulas mágicas, consultas de horóscopo e oráculos, augúrios ou predições
sobre o futuro, mediante a observação do vôo dos pássaros, os movimentos do
azeite sobre a água, as circunvoluções do fígado e o uso de exorcistas profissionais
(peritos na arte de expulsar demônios); todas essas práticas supersticiosas,
além de muitas outras, faziam parte integrante da vida diária. Os judeus eram
numerados entre os exorcistas mais avidamente procurados, em parte porque se
julgava que somente eles eram capazes de pronunciar corretamente o nome
magicamente potente de Yahweh (nome hebraico traduzido por “Senhor”). A
pronúncia correta, juntamente com a idéia de algo secreto, segundo se pensava,
seria necessária para a eficácia de qualquer encantamento. Na prática apodada
de sincretismo, o povo comum simplesmente fazia a mescla de diversas crenças
religiosas com práticas supersticiosas. As prateleiras para ídolos, existentes
nas residências, eram atulhadas de imagens de aves, cães, crocodilos, besouros
e outras criaturas. (GUNDRY R. H., 1970, p. 41).
Quem sabe Tertuliano ao recusar
todo este sincretismo e paganismo apresente razão ao explicar: “O que Atenas tem a ver com Jerusalém?”
e ainda indagava. “O que a Academia e a
Igreja podem ter em comum?... Fora com todas as tentativas de misturar o
cristianismo com elementos exóticos, platônicos e dialéticos!
Nós,
que temos Jesus Cristo, não queremos debates elaborados, não precisamos
discutir com ninguém, pois temos a alegria do evangelho. Temos nossa fé, e não
precisamos crer em mais nada”. É
fato que no início os cristãos apresentavam este caráter.
Taciano e muitos outros
raciocinavam deste modo. No entanto era impraticável manter este jeito
decididamente.
O pensamento grego tinha se
infiltrado por todo o mundo antigo, de tal forma que não tinha como ser
rejeitado com prontidão, fechando-se os olhos para não desejar contemplá-lo.
Assim sendo, pode-se conferir no
Novo Testamento o apóstolo Paulo e outros missionários cristãos usando alguns
subsídios apropriados e favoráveis do paganismo, para introduzir-lhes o
evangelho de Jesus, Atos 17, método que foi desenvolvido com muito entusiasmo
naquele primeiro século.
De acordo com Michael Green
(1970), a religião judaica também foi de grande valor, não pela maneira em si
de cultuar, porém, pelo fato de ter acontecido a “diáspora”, que assim sendo,
foi uma das formas da difusão do evangelho, como se verá a seguir.
1.8
O Judaísmo
Mais extraordinário que a
atmosfera pagã religiosa e filosófica era o judaísmo, do qual se gerou o
cristianismo.
O judaísmo, semelhante como era
no primeiro século, proporcionou seu início próximo do fim do tempo do Antigo
Testamento, na ocasião do desterro assírio-babilônico.
Os judeus haviam se difundido
para além da fronteira da Palestina bem antes do primeiro século, e difundiram
sua crença para todas as nações estrangeiras e lugares aonde iam, e acabavam se
estabelecendo.
A disseminação dos judeus pelo
Oriente principiou com a decadência do Reino do Norte de Israel no oitavo
século a.C., no tempo em que as dez “tribos perdidas” foram exiladas.
No momento helenístico a
disseminação foi antecipada pela migração espontânea dos judeus para as novas
cidades do Oriente Próximo especialmente para comercializarem seus produtos, e
o Egito, Síria e Ásia Menor eram as províncias mais procuradas pelos judeus.
Um exemplo de dispersão
encontra-se em (Atos 2), onde se menciona regiões muito diversas como Creta e
Arábia, Pártia e Egito, Pérsia e Panfília, Rodes, Chipre e Cirene, de onde
procederam aos peregrinos para a Festa do Pentecostes em Jerusalém.
Havia judeus espalhados por todos
os lugares do mundo daquela época, com destaque para as cidades de Antioquia e
a Síria.
Filo registrou que em sua época
existia mais de um milhão de judeus só no Egito, por volta da época de Jesus
Cristo.
E esta presença em grande
quantidade de judeus aparece com clareza na Ásia menor e na Grécia e está
registrada em Atos dos apóstolos.
Em Roma também tinha uma grande
colônia de judeus com muitos problemas de ordem social.
Williston Walker (1967) explica
que os judeus da diáspora receberam uma forte carga do helenismo,
principalmente para os judeus que foram para o Egito:
O judaísmo da dispersão, por sua vez, sofreu
forte influência do helenismo, especialmente da filosofia grega. Essa
influência em nenhum outro lugar foi mais profunda do que no Egito. Foi na
cidade egípcia de Alexandria que o Antigo Testamento foi traduzido para o grego
- na versão comumente chamada de “Septuaginta” - já na época do reinado de
Ptolomeu Filadelfo (285 a.C.-246).
Também em Alexandria, as concepções religiosas do Antigo Testamento
associaram-se aos conceitos filosóficos gregos, principalmente os platônicos e
estóicos, para formar um sincretismo admirável. O mais importante desses
interpretes alexandrinos foi Fílon. Para Le o antigo Testamento era o mais
sábio dos livros, verdadeira revelação divina, e Moisés, o maior dos mestres.
(WALKER W., 1967, p. 36).
As primeiras relações
diplomáticas entre os judeus e os romanos, que se tem informação, ocorreram na
época dos Macabeus.
Judas Macabeu expediu uma
embaixada a Roma no ano 168 a.C.,
e também Jônatas Macabeu mais tarde, para constituir contatos diplomáticos
amigáveis.
Com o tempo, milhares de Judeus
foram movidos a Roma para a entrada triunfal de Pompeu. Todavia os romanos
puderam ver que como escravos os judeus eram muito indispostos, por causa dos
seus costumes religiosos estranhos, e Filo escreve que a maior parte foi
alforriada da servidão.
Alguns obtiveram até o título de
cidadão romano. Por eles foi constituída uma colônia no subúrbio romano de
Transtevere, onde eles aumentaram e muito em número e prosperaram.
Os romanos jamais conseguiram
compreender bem o povo judeu, porém, eram muito corretos e compreensivos com
eles.
A convivência de judeus,
prosélitos, tementes ao Senhor e outros povos também foi fato importante na
preparação do caminho para o evangelho diz Michael Green (1970), a perda do
“status por não ser um “judeu legítimo”.
Incomodava os judeus da dispersão,
pois não conseguiam cumprir suas obrigações em alguns aspectos religiosos,
principalmente na questão dos sacrifícios, pois não viviam na terra Santa, e,
suas mulheres e filhos não eram de fato cidadãos completos de Israel, pelo ao
menos aos olhos do judeu nacionalista.
Agora chega o cristianismo e
começa a eliminar todas essas diferenças e distinções de classes sociais, e
principalmente no Império Romano foi que o cristianismo se expandiu
rapidamente, fora outras práticas judaicas que eram apenas ridículas para os
romanos, tais como, a “circuncisão”, que era considerada como uma prática
insana, que se podia esperar apenas de pessoas sectárias e selvagens e exóticas
como os adeptos do culto de Cibele, mas do romanos jamais se podia esperar tal
costume.
Ainda, tinha as regras
alimentares que para os romanos eram inaceitável, mas, o cristianismo
seguramente sustentou aquilo que ao mesmo tempo seduzia no judaísmo para o povo Greco-romano,
abolindo essas duas questões que eram “pesado” para eles.
Muitos outros fatores importantes
aconteceram paralelamente com os fatos que ocorreram em Jerusalém, centro da
atração mundial por todos os tempos.
É ai que Jesus instituiu Sua
Igreja por meio de Sua morte “sacrificial”, “... e morte de cruz” disse o
apóstolo Paulo aos gentios, mas a verdade maior foi a notícia de “Sua
Ressurreição e aparecimento aos seus discípulos, mas é depois do Pentecostes e
o “Derramamento do Espírito Santo” que se inicia o obra de evangelização e
formação das comunidades primitivas, são os próximos passos que se poderá
confirmar no próximo capítulo.
1.9 O Estoicismo
Segundo Paul Tillich (1968), os
estóicos tiveram maior autoridade do que Platão e Aristóteles juntos para a
existência e o futuro do velho mundo.
A vida dos indivíduos formados
nesse período era modelada especialmente pelo conhecimento estóico.
Eles ensinavam que era
indispensável acolher o acaso e a morte, e, o estoicismo e o cristianismo eram
dois fortes concorrentes no mundo ocidental naquela ocasião.
Entretanto, o cristianismo se
apropriou de várias idéias básicas do seu adversário, o estoicismo.
A primeira delas é o ensinamento
do Logos, e esse coloca muitas pessoas em desesperança quando se principiam a
aprofundar na história do pensamento trinitário e cristológico.
Porém, o progresso dogmático do
cristianismo não se pode compreender sem ela. A palavra Logos significa
“Verbo”. Porém, igualmente se menciona ao significado da palavra, à composição
lógica recomendada por ele.
Conseqüentemente, Logos pode
denotar do mesmo modo a lei geral do fato. Heráclito raciocinava assim. E foi
ele o primeiro a utilizar essa adjacência filosoficamente.
Para ele, Logos era a lei
decisiva dos desenvolvimentos da realidade.
Paul Tillich (1968) explica o
pensamento dos gregos estóicos:
Para os estóicos Logos era o poder divino
presente na realidade toda. Observemos, a seguir, três aspectos desse
pensamento, muito importantes nos desenvolvimentos doutrinários posteriores. O
primeiro é a lei da natureza. Logos é o princípio determinante do movimento de
todas as coisas. É a semente divina, o poder divina criador, que faz com que as
coisas sejam o que são. E é o poder criativo do movimento de todas as coisas.
Em segundo lugar, Logos significa lei moral. Podemos chamá-la, com Kant, de
“razão prática”, a lei inata em todos os seres humanos que se aceitam como
personalidade, com a dignidade e a grandeza do ser humano. Ao lermos a
expressão “lei natural” em obras clássicas, não devemos confundi-las com leis
físicas, mas entendê-las como lei moral. Em terceiro lugar, Logos também
significa a capacidade humana de reconhecer a realidade. É o que se pode chamar
de “razão teórica”. Trata-se da capacidade humana da razão. Tendo o Logos em
si, o homem pode descobri-lo também na natureza e na história. Para o
estoicismo, decorre daí a idéia de que os seres humanos determinados pela lei
natural, pelo Logos, tornam-se logikos, sábios. (TILLICH P., 1968, pgs. 22-23).
Os estóicos, não criam que todos
os indivíduos fossem sábios, e acreditavam ainda, que poucos homens tivessem a
capacidade de conseguir essa exelência.
Para eles a maior parte da
sociedade não passava de indivíduos néscios que, em certas ocasiões eles
permaneciam em disposição intermediária entre esses e os sábios.
O estoicismo revelava um pessimismo
básico com deferência da maior parte dos homens.
Desde sua origem, os estóicos
eram gregos. Logo apareceram também estóicos romanos.
Dentre os estóicos mais
conhecidos, conta-se com importantes imperadores romanos, como, Marco Aurélio.
Era aplicado o conceito de Logos à situação política sob sua responsabilidade.
A lei natural significava que
todos os seres humanos participam na razão em virtude desse simples fato de
serem humanos. A partir desse princípio criaram leis muito superiores às muitas
encontradas na Idade Média Cristã.
CAPÍTULO
II
OS
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO
2.1 Evangelização Apostólica
Avaliando os benefícios evidentes
de que os cristãos puderam desfrutar quando deu início a sua incumbência, não
se pode desdenhar a grandeza da obra desses primeiros apóstolos da Igreja
primitiva afirma Michael Green (1970).
Quem nunca viveu em algum lugar
totalmente pagão, e que foi evangelizado do paganismo e tornou-se cristão, não
pode imaginar o tamanho dos obstáculos que a religião, vícios, hábitos e mesmo laissez-faire “pegando fogo”
significava, conseqüentemente, para o cristianismo.
E também, muitos apreciadores e
até mesmo muitas pessoas asseguram que para os cristãos da Igreja primitiva era
muito mais simples evangelizar os seus cidadãos do que na atualidade.
Naquela época era muito difícil
essa missão, pois suas condições eram comprometedoras.
Michael Green (1970) deixa o seu
comentário sobre quais eram as condições que enfrentavam os primeiros
evangelistas:
Não tem nenhum, sentido tentar comparar a
dificuldade de pregar o evangelho em épocas diferentes, mas sem dúvida fazê-lo
nas condições e circunstâncias do primeiro século era difícil. Onde quer que
fossem os cristãos eram chamados anti-sociais ateus e depravados. Sua mensagem
anunciava um criminoso crucificado, e nada pior pode ser imaginado para
conseguir convertidos. Para os gregos esta história mostrava como a nova fé era
ridícula, para os romanos era fraca e ineficaz, e os judeus não podiam
engoli-la de forma alguma. Os cristãos ofendiam tanto os judeus como gentios,
tanto com suas doutrinas como com o comportamento que lhes era atribuído. Tudo
isto eles tinham de suportar se quisessem ganhar uma pessoa que fosse para
Jesus Cristo. (GREEN M., 1970, p. 31).
Segundo W. Walker (1967), a
sociedade cristã de Jerusalém desenvolveu-se muito rápido, e do mesmo modo começou bem nos seus inícios a
incluir os judeus da diáspora, e igualmente os naturais da Judéia e da
Galiléia, e também vários sacerdotes hebreus.
O nome de “Igreja” foi aceito
pelo grupo cristão logo de início. “Seu significado era em sua formação
possivelmente reunião” empregada para caracterizar entre a congregação dos
cristãos, indivíduos que receberam Jesus em suas vidas e aceitavam-no como o Messias,
com os judaizantes que os rejeitavam e recusavam também o Messias dos cristãos.
O livro de Atos dos Apóstolos
deixa claro que houve, desde o início, uma forte Igreja em Jerusalém. Porém,
depois dos primeiros capítulos, esse mesmo livro quase nada se comenta sobre
aquela primeira comunidade cristã original.
2.2
Obstáculos Judeus ao Evangelho de Jesus
Jamais foi fácil alcançar adeptos
judeus para o cristianismo, antes foi assim no início da Igreja Cristã, mesmo
tendo o cristianismo nascido dentro do judaísmo.
Um dos primeiros e difíceis
problemas foram os apóstolos de Jesus descobrir que eles não eram nada, e
ninguém. Não eram sacerdotes, não estudaram em uma faculdade da época, ou “aos pés de Gamaliel”, Atos 22:3, não
tinham qualquer gênese rabínica, e mesmo assim estavam buscando ratificar a
teologia e a fé, práticas religiosas, de guias religiosos profissionais que
tiveram ensinos superiores para o seu oficio.
E, além disso, eram homens
letrados, emissários de uma ciência oral que alegavam recuar até o tempo de
Moisés. Sabe-se que o sumo sacerdote tratou os apóstolos com um misto de nota e
pesar, como “homens iletrados e incultos”.
Mas estes homens sem cultura
começaram a atrair uma multidão de pessoas e também alguns dos sacerdotes, e a
enfadar os principais dos chefes religiosos, incriminando-lhes de homicídio
judicial.
Para esses sacerdotes e para o
sumo sacerdócio este movimento ameaçador tinha que ser erradicado em sua fonte.
Foi assim, que ficou evidenciado ser impossível, não tinha como eliminar os
cristãos e o cristianismo.
Desta forma foi necessário os
judeus tratarem deste assunto com diálogos sobre a mensagem pregada pelos
apóstolos sobre o evangelho de Jesus.
Quase que cada item dele era
completamente contra o pensamento religioso e uma verdadeira ofensa contra o
judaísmo. Os cristãos asseguravam em primeiro e indispensável lugar, que Jesus
Cristo era o Messias, a questão fundamental de toda a promessa de Israel.
Não se sabe se Jesus sobrepôs o
termo Messias a si próprio, contudo, não se pode ter suspeitas de que ele foi
executado com morte de cruz por se apresentar como o Messias, e que depois de
sua morte e “ressurreição”, os seus discípulos principiaram firmemente a
pregá-Lo como o Messias.
Pode-se examinar em Atos 2:36,
que ali se sintetiza o teor de muitas pregações da Igreja primitiva.
Michael Green (1970) comenta este
acontecimento renunciado pelos os judeus religiosos do primeiro século, ser
Jesus o Messias ou um impostor:
“Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa
de Israel de que este Jesus que vós crucificastes Deus o fez Senhor e Cristo”.
Esta ênfase em que Jesus
era o Messias era tão central, que em poucos anos “Cristo” (a tradução grega do
termo Messias) tinha deixado de designar a função de Jesus para tornar-se uma espécie
de sobrenome. Acontece que tudo isto escandalizava de maneira especial aos
judeus. Não era fácil imaginar um mestre-carpinteiro como ponto culminante do
desenvolvimento de Israel. Não era fácil entender que alguém tão recente
encarnasse uma sabedoria maior do que a de Moisés, de tanto tempo passado. Não
era fácil crer que um rabino não ordenado, que não raras vezes entrava em
conflito com os opositores oficiais da Torá. Pudesse ser o mestre de Israel
indicado por Deus. É por isso que durante sua vida tão poucos religiosos creram
nele. Porém após sua execução não era mais difícil: era absurdo crer que ele
fosse o Messias. O Messias por definição era libertador e conquistador. (GREEN
M., 1970, pgs 32-33).
Venerar o Messias pregado na cruz
era uma blasfêmia para os judeus. No Antigo Testamento era claro que qualquer
indivíduo que fosse suspenso no madeiro estava debaixo da maldição de Deus.
Como era admissível ser o
Escolhido de Deus ser pregado em lugar de maldição? Sabe-se que esta questão
tornou-se quase que insuperável para os judeus.
Para os apóstolos de Cristo, a
doutrina do Messias crucificado era uma pedra de tropeço enorme, até que
puderam entender o seu significado profundo. Entretanto para muitos dos judeus
a questão teve continuidade.
Justino precisou lidar com esta
questão por muito tempo em seu diálogo com o judeu Trifo: “Pode estar certo”, retrucou Trifo, como explica Green:
que todo o nosso povo espera por Cristo. E nós
admitimos que todas as passagens da Escritura que você mencionou se referem a
ele. Mas temos dúvidas quanto a se o Cristo deveria ser crucificado e maneira
tão vergonhosa. Porque a Lei diz que qualquer crucificado é maldito, e neste
ponto eu sou totalmente incrédulo. É verdade que as Escrituras predizem que o
Cristo teria de sofrer; mas queremos que você nos prove que teria que ser pelo
sofrimento considerado maldito pela Lei (GREEN M., 1970, pgs 32-33).
Este era um dos principais
problemas enfrentado pelos discípulos ou dos cristãos que desejassem alcançar
almas convertidas entre o povo judeu, era um problema difícil que eles
precisavam resolver.
2.3 A
Crucificação de Cristo
Segundo Georg Kümmel (1969), a
abrangência do conhecimento de Jesus, originada da fé naquele que ressuscitou
não apenas fez com que a declaração a Jesus como Filho de Deus ingressasse no
conhecimento de Jesus.
Todavia, era muito importante que
os cristãos se aplicassem por entender, a começar pela pretensão de Deus,
especialmente igualmente o acontecimento mais misterioso da existência de
Jesus, sua morte na cruz. O procedimento de fé da Igreja primitiva comunicada
pelo apóstolo Paulo prontamente pronunciava: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras”, I Co
15:3.
Do mesmo modo é muito admissível
que igualmente o ditado: “O Filho do homem
não veio para ser servido, mas para servir e para dar vida em resgate por
muitos”, Mc 10:45, tenha sido estabelecido na sociedade palestinense.
A seguir a Igreja primitiva
compreendeu a morte de Jesus como expiação vicária da culpabilidade do ser humano
e, assim sendo, como execução de promessas do Antigo Testamento.
Georg Kümmel (1969) esclarece o
aparecimento dessa tradição sobre a morte vicária de Cristo na comunidade
primitiva:
Recentemente houve muita discussão a respeito
de como surgiu essa afirmação de fé. Com bons argumentos foi tanto afirmado
como negado que essa fé no efeito salvívico da morte de Cristo se originou
mediante a atribuição das declarações sobre o sofrimento vicário do Servo de
Deus, em Isaías 53, a
Jesus. É bem verdade que não há argumentos filológicos que provam
obrigatoriamente que nas frases I Co 15:3; e Mc 10:45 par., muito provavelmente
formuladas pela comunidade primitiva, se registra uma influência desse capítulo de Isaías. Por isso não pode
ser excluída a possibilidade de que os primeiros cristãos reconheceram
inicialmente que a morte de Cristo correspondia à vontade salvívica de Deus e
estava prenunciada no Antigo Testamento, sem que com isso pretendessem ou
pudessem recorrer a textos determinados do Antigo Testamento. Contudo, se nos
conscientizarmos de que os primeiros cristãos “compreenderam não somente a
ressurreição, mas também a morte de Jesus na cruz num sentido messiânico”, e de
que eles “não tinham possibilidade de recorrer a uma imagem pronta do Messias
sofredor, para transferi-la simplesmente a Jesus”. (KÜMMEL W. G., 1969., pgs.
132-133).
Então, é possível que os
primeiros cristãos notassem que Isaías 53 se referia sobre a morte do Messias
ressurreto, Jesus, como uma “morte pelas nossas iniqüidades” e “para muitos”
(v. 5s. 12).
Começando por este texto, fizeram
uma interpretação dessa morte como sendo a vontade de Deus e como sacrifício em
favor dos pecados da humanidade.
Chegando a essa conclusão,
torna-se ainda mais aceitável quando se avalia a manifestação das palavras do
cálice na narração da última ceia de Jesus no evangelho de Marcos (Mc 14:24).
Mostrou-se acima que foi o
apóstolo Paulo quem seguramente comunicou as palavras do cálice na forma mais
antiga e que o texto de Marcos estabelece uma modificação e diverge
completamente de Paulo e Lucas. Nele se lê: “Isto é o meu sangue da aliança,
derramado em favor de muitos”.
Essa modificação depende
claramente da narração do padecente Servo de Deus em Isaías 53, por usar a
idéia do derramamento do sangue, e da morte vicária “em favor de muitos”.
Em outros termos, estabelece-se
nesse texto visivelmente a explicação da morte de Cristo, atingida vicariamente
pelos “muitos” que é igual “pela humanidade”, em relação à distinção da aflição
do Servo de Deus.
Resta uma suspeita para ter
ciência se este fato sucedeu na sociedade palestinense posteriormente, no
cristianismo-judaico helenista, fora da Palestina.
Seguramente é complicado
determinar essa tese com certeza, entretanto, por causa do pensamento do “beber
do sangue” é mais razoável que a alteração da palavra do cálice foi obtida
apenas no cristianismo-judaico helenista.
Seja a determinação qualquer que
possa chegar a ser, não se pode ter suspeita de que a Igreja primitiva se
sentiu forçada desde o começo a tornar inteligível a morte do Messias a partir
de sua prova de que ele fora ressuscitado por Deus.
E é conhecido que essa morte se
tornou compreensível para a Igreja primitiva como obra salvívica de Deus para
anular todos os pecados do homem que crer no sacrifício e ressurreição de
Cristo.
Para aqueles que se acostumaram a
conceber o libertador que surgiria como o Servo Sofredor, os cristãos
proporcionavam um assunto bastante persuasivo.
O Libertador se adequava em cada
minúcia das expressões ditas pelo profeta Isaías a respeito do Servo, o que não
acontecia na comunidade de Qumran.
Até que finalmente surgiu uma
pessoa que não tinha pecados, completamente sem iniqüidade, distinto da “casa
de santidade de Israel, o grupo dos santos dos santos de Arão”, que os da
Aliança afirmavam pertencer.
Michael Green (1970) comenta a
situação da expiação sem a vinda do Servo de Deus e a sua condição quando Jesus
passou pelo seu martírio e que principiou um sacrifício com eficácia eterna e
perfeita:
Finalmente havia alguém que podia “expiar a
terra e dar aos perversos sua recompensa” de uma maneira que uma simples
comunidade mártir não podia; na verdade a morte deles não podia expiar melhor
os pecados do que os sacrifícios de Arão. A mesma coisa podia ser dita acerca da
remoção da impureza cerimonial, que não atingia alguém que “pecara com a mão
levantada”. Escárnio intencional de Deus não tinha perdão, no entender dos
judeus. Mas a morte voluntária de Jesus era diferente: era nada menos que o
Filho de Deus oferecendo a si mesmo, e a eficácia disto era eterna e perfeita.
Filipe o evangelista tinha certeza de que Isaías falava de Jesus. Ele era o
único que cumpria Isaías 53, que fora tão imaculado que “nunca fez injustiça,
nem dolo algum achou em sua boca”, tão paciente (em contraste com os eremitas
guerreiros de Qumran) que, “quando ultrajado, não revidou com ultraje”. Ele foi
martirizado, como alguns da aliança e dos macabeus, mas, “ quando maltratado
não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente”; neste aspecto
ele era totalmente diferente, pois “carregou ele mesmo em seu corpo, sobre o
madeiro, os nossos pecados... por suas chagas fostes sarados”. (GREEN M., 1970,
pgs. 109-110).
2.4
A Morte de Cristo
Os cristãos entendendo o que
Isaías havia dito sobre o Servo Sofredor, compreenderam que o Messias tinha de
sofrer. Assim muitos judeus honestos admitiram isto.
Assim concorda Trifo, que depois
de receber uma boa dose de conhecimento destes versículos de Justino: “Fica claro que as Escrituras anunciam que o
Cristo deveria sofrer... Sabemos que ele teria de sofrer e ser conduzido como
uma ovelha”. Até aqui houve acordo.
A polêmica começou com a forma de
como Jesus Cristo foi executado, a crucificação. Trifo representa todos os
judeus ao proclamar sua contradição: “Prove-nos
que ele tinha de ser crucificado e morrer de forma tão cruel, desgraçada e
desonrosa a morte maldita mencionada na Lei. Nós nem, podemos pensar nisto”.
Tinha dois temas especiais que
eram difíceis de entender.
1 - Uma morte deste jeito
expressava ser “pedra de tropeço”, pois, proporcionava uma impressão de
fraqueza do duvidoso Messias. É conhecido de como os cristãos contestavam a
esta contradição. Bem longe de ser um sinal de fraqueza, a cruz era a soberana
revelação de poder na existência de Jesus.
Foi na cruz que o Senhor Jesus se
deparou e sobrepujou as forças do mal, ali ele reinou do madeiro e, derrotou
totalmente todo o mal. Para o apóstolo Paulo a cruz é o poder de Deus, foi nela
que Jesus “arrebatou o poder dos governos e dos domínios espirituais.
Jesus fez destes domínios um
contemplação pública, levando-os cativo no seu desfilo de triunfo”. Entretanto,
a demonstração suprema de que a cruz era vitória e não derrota foi à
ressurreição.
John Stott explica a questão do
símbolo da cruz que foi usado e também rejeitado durante os primeiros séculos
da era de Cristo:
O Cristianismo, portanto, não é exceção quanto
a possuir um símbolo visual. Todavia, a cruz não foi o primeiro. Por causa das
selvagens acusações dirigidas contras os cristãos, e da perseguição a que estes
foram submetidos, eles tiveram de “ser muito circunspectos e evitar ostentar
sua religião. Assim a cruz, agora símbolo universal do Cristianismo, a
princípio foi evitada, não somente por causa da sua associação direta com
Cristo, mas também em virtude de sua associação vergonhosa com a execução de um
criminoso comum”. Mas, pelo contrário, o símbolo comum foi uma simples cruz.
Seus dois braços já simbolizavam, desde a remota antiguidade, os eixos entre o
céu e a terra. Mas a escolha dos cristãos possuía uma explicação mais
específica. Desejava comemorar, como centro da compreensão que tinham de Jesus,
não o seu nascimento nem a sua juventude, nem o seu ensino nem o seu serviço,
nem a sua ressurreição nem o seu reino, nem sua dádiva do Espírito, mas a sua
morte e crucificação. (STOTT J., 1986
pgs. 14-15).
É certo que os primeiros cristãos
perseguidos, não só desenhavam, pintavam e gravavam a cruz como símbolo
aparente de sua fé, mas também faziam o sinal da cruz em si mesmo ou nos
outros. Uma das primeiras testemunhas dessa prática foi Tertuliano.
Na cruz, Deus vingou se Servo
sofredor exaltando-O ao lugar mais alto do universo, em consideração a sua
lealdade até a morte, e morte de cruz; em decorrência ele tinha todo o direito
ao título de Kyrios, Senhor. De forma
alguma a crucificação era um sinal de que Jesus era fraco e fracassado.
2 - A outra contradição dos
judeus a opinião de que o Messias poderia ter perecido em uma cruz estava na
declaração do Antigo Testamento de que um homem que tivesse seu corpo
dependurado em um madeiro caía sob o opróbrio de Deus.
Como poderia ser maldito o
Messias? Esta questão os discípulos de Jesus tiveram que enfrentar desde o
começo de sua missão, e é certo que desde o princípio eles precisaram buscar
uma passagem para a réplica.
Tanto o apóstolo Pedro como Paulo
pregavam que Jesus que foi crucificado, no madeiro, de alguma maneira era
realmente o Salvador da humanidade. Sua morte ali naquela cruz havia obtido a
libertação do pecado almejada pelo Antigo Testamento.
Ainda não havia uma teologia
lógica; porém eles tinham certeza de que a cruz tinha alguma coisa a ver com a
iniqüidade, e que a ressurreição de Jesus, que os judeus não tinham como
recusar, divulgava que a maldição havia sido suspensa.
John Stott (1986) explica sobre a
questão da morte sacrificial de Cristo e suas interpretações iniciais:
A interpretação da morte de Cristo como um
sacrifício está implantada em todos os ensinos importantes do Novo Testamento.
Faz-se menção a ele em muitos lugares. Às vezes a referência é direta, como na
afirmação de Paulo de que Cristo “se entregou a si mesmo por nós, como oferta
(prosphora) e sacrifício (thisia) a Deus” (Efésios 5:2). Em outras passagens a
alusão é menos direta, simplesmente que Cristo “se entregou a si mesmo” (e.g.
Gálatas 1:4) ou “a si mesmo se ofereceu” (e.g. Hebreus 9:14) por nós, mas o
contexto ainda é o do sistema sacrificial do Antigo Testamento. Em particular,
a observação de que ele morreu “no tocante ao pecado” ou “pelos pecados” (e.g.
Romanos 8:3, e I Pedro 3:18) toma emprestada a tradução grega de “oferta pelo
pecado” (Peri hamartias). Deveras, a carta aos Hebreus retrata o sacrifício de
Jesus Cristo como tendo cumprido perfeitamente as “sombras” do Antigo Testamento.
Pois ele se sacrificou a si mesmo (não a animais), de uma vez por todas (não
repetidamente, e assim assegurou-nos não apenas a purificação cerimonial e a
restauração à comunidade da aliança, mas também a purificação de nossa
consciência e a restauração à comunhão com o Deus vivo. (STOTT J., 1986, pg.
121).
O apóstolo Paulo explica que
Jesus sofreu no lugar maldito, mas que na realidade o lugar de maldição era
nosso, pois, invalidamos a Lei de Deus e fizemos por merecer a ira judicial: “Maldito todo aquele que não permanece em
todas as coisas escritas no livro da Lei, para praticá-las”.
Esta foi à situação que levou
Jesus para a cruz em nosso lugar. “Cristo nos resgatou da maldição da Lei,
fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no
madeiro”, Gálatas 3:10-13.
Esta resposta foi certamente o
padrão para continuar respondendo à objeção dos judeus de que a morte na cruz
mostrava que Jesus estava sob a maldição de Deus.
Foi o experimento do episódio
divino da ressurreição de Jesus Cristo que induziu a que se entendesse a morte
de Jesus Cristo como consumada em benefício dos nossos pecados, de acordo com o
teólogo Werner Georg Kümmel (1969).
2.5
A Igreja Como Pedra de Tropeço
No momento em que a Igreja
primitiva estava nascendo, ela também despertava aos novos convertidos reações
bastante apaixonadas, mas também, a eclesiologia apresentava uma forma muito
provocadora.
O tipo de pregação dos primeiros
apóstolos deixava os judeus confusos e loucos ao ponto de executar apedrejado a
Estevão um dos primeiros evangelistas daquele primeiro século da Igreja
primitiva, dando assim também o início as primeiras perseguições aos cristãos,
organizadas pelos judeus contrários ao cristianismo.
Isto foi acontecimento não muito
antes dos cristãos principiarem a falar que a Lei pesava demais sobre qualquer
indivíduo.
Não havia diferença qual comida a
ser engolida; Deus não se incomodava com estas ocorrências. O que mais agravou
a perseguição aos cristãos primitivos foi terem abandonado o sagrado cerimonial
da circuncisão; se se levar em consideração que o judaísmo dava a Lei um lugar
quase que divino, fica mais admissível entender que qualquer redução, mesmo na
parte ritual, fatalmente os tornaria agressivos.
Pois, o sinal do povo de Deus
recebido de Moisés, de Abraão, foi ressachado, lançado fora pelos cristãos. Até
mesmo os bárbaros os gregos e outros povos agora podiam fazer parte do povo
santo, sem ter que passar pela contrição dolente subentendida na operação característica
da impudência dos gentios na circuncisão.
Para os judeus isto era meramente
inadmissível, aterrorizante. Michael Green (1970) explica um pouco dessa
transição agora apresentando um novo Deus, nascido de mulher, de uma virgem, e
ainda executado na cruz:
No lugar da devoção à antiqüíssima Torá de Deus
o novo culto ensinava a adoração de um segundo Deus, nascido de uma virgem e
executado como criminoso. No lugar do sábado o primeiro dia da semana foi
separado para o culto e chamado atrevidamente de Dia do Senhor - como se Deus
não tivesse separado de maneira especial o sétimo dia. Como este tipo de pessoas, que desobedeciam
tão descaradamente os mandamentos de Deus, podia afirmar representá-lo? (GREEN
M., 1970, p. 35).
O que repercutia no judaísmo com
analogia a isto pode se compreender melhor quando se interpreta a primeira
denúncia feita por Trifo alçada contra os cristãos como apresenta Michael Green
(1970):
“O que nos deixa mais perplexos é que vocês,
que dizem que são piedosos e se acham melhores que os outros, não se separam
nem um pouco deles, não levam uma vida diferente dos povos, não comemoram as
festas nem os sábados, e não praticam o rito da circuncisão. E, ainda mais,
vocês põem sua confiança em um homem que foi crucificado, e esperam obter algo
de bom de Deus, enquanto não obedecem a seus mandamentos. Vocês não leram que a
alma daquele que não foi circuncidado ao oitavo dia será eliminado do seu
povo?”. (GREEN M., 1970, PG. 35).
Segundo Michael Green (1970), a
crença judaica jamais foi monolítica. O judaísmo no mundo tinha tolerância
sobre muitas multiplicidades de religião e prática.
No começo parecia que os judeus
não se sentiam incomodados com as sinagogas dos Nazarenos que faziam suas
reuniões à parte.
Isto já era um hábito entre
muitas sinagogas desenvolvidas ao redor de uma particularidade característica.
Entretanto, quanto mais recebiam
conhecimentos sobre o cristianismo, mais intenso lhes era que a nova crença era
inteiramente inconciliável com a religião judaica, e era necessário
desarraigá-la até a sua procedência.
Isto acabou resultando em
perseguições escritas nos Atos dos Apóstolos, à medida que as boas novas eram
disseminadas nas sinagogas pelos primeiros evangelistas.
Na perseguição aos cristãos pelos
judeus em Jerusalém no tempo do jovem mártir Estevão, em Damasco por Saulo de
Tarso, nas cidades da Ásia Menor no tempo do Apocalipse, e na morte de
Policarpo na fogueira, depois do procônsul ser provocado pelos judeus.
Isto era de forma impecavelmente
inteligível, pois, não estava em tese a heterodoxia deles, contudo os cristãos
estabeleciam uma forte intimidação, pois ocasionavam conflitos onde quer que
chegassem.
A existência dos judeus já estava
muito problemática em uma atmosfera pagã sem irritações gratuitas deste tipo.
Por que ser advertidos pelos
cristãos que ameaçavam e perturbavam a paz? Georg Kümmel (1969) explica algumas
das diferenças da prática religiosa que levou a separação da Comunidade
primitiva judaica cristã da religiosidade dos israelitas naquele período e sua
distinção por causa da experiência escatológica:
Essa autocompreensão da comunidade primitiva
implica que, por mais naturalmente que ela tenha permanecido no contexto da
vida nomística e da prática religiosa judaica, a comunidade sabia que se
distinguia fundamentalmente do judaísmo que a cercava, por ser a nova
comunidade de Deus, e que estava incumbida de chamar todos a aderirem a essa
nova comunidade. Tal atitude fundamental, no entanto, muito em breve trouxe
consigo que os membros da comunidade primitiva se distinguissem também
visivelmente dos demais judeus. A diferença resultou primeiramente de que na
comunidade primitiva se experimentava o poder ativo do Espírito escatológico.
Tal convicção e a experiência da atuação do Espírito de Deus na comunidade toda
dos crentes em Cristo forçosamente tinham de provocar uma separação mais ou
menos visível entre a comunidade de Cristo e os demais judeus. (KÜMMEL W. G.,
1979, pgs. 148-149).
Os judeus renegariam fortemente
os cristãos. Eles verdadeiramente os denunciariam em seus cultos públicos.
Havia um imenso abismo entre a Igreja cristã primitiva e a Sinagoga e isto eram
intransponíveis.
2.6
Limites Greco-Romanos ao Evangelho
Deve-se ter em mente que houve
muitos fatores ocorridos, para se abranger as dificuldades que a evangelização
precisou vencer entre os pagãos nos primeiros tempos e períodos do Império
romano.
A primeira aparência é religiosa.
Os romanos exerciam uma separação imprescindível entre religio e superstitio. Religio
era a crença oficial romana; era a vinculação ritual entre os indivíduos e as
divindades.
No episódio de Roma idealizava-se
a genealogia disto como um contrato entre Numa, o primeiro sacerdote-rei de
Roma, e Júpiter, rei dos deuses.
Segundo os termos deste acordo o
deus ficava incumbido pela segurança e também pela evolução de Roma, e o Estado
ficava designado de suprir às precisões do deus por meio de holocaustos e
reverência. Assim era consolidado o pacto. Não havia necessidade das pessoas
crerem nos deuses da antiguidade.
A crença em si, era um assunto
reservado. Mas, esperava-se que as pessoas tomassem parte dos cultos oficiais,
pois, a veneração era um assunto público, do qual estava sujeito a segurança do
Estado.
Acreditar não era assim tão
essencial, porém, os holocaustos e os rituais tinham obrigação de continuar com
a participação do povo no culto dos deuses.
Os romanos sempre evidenciaram
uma intensa consideração pelas religiões estrangeiras. Jamais fizeram guerra
contra algum deus.
Até mesmo arriscaram coligar os
deuses de outros povos com algum de seus deuses que tivessem a capacidade de
desempenhar os mesmos papéis e, quando não tinha nenhum pretendente evidente,
com facilidade sobrepunham o deus em tese ao seu panteão.
Este mútuo prestígio diferenciava
a maneira dos romanos e dos povos imigrantes com afinidade aos deuses de cada
um, e assim funcionou impecavelmente até eles depararem com os judeus.
Os judeus não concordavam em
deixar que Javé fosse posto no panteão romano, pois eram monoteístas exclusivos,
jamais eles concordariam deixar seu Deus ser aconchegado com Júpiter.
Javé era o Deus de toda a terra,
e os judeus só adoravam a Ele. Mas, para os romanos este tipo de atitude não
passava de extravagante e estreita, porém, eles eram um povo experimentado, que
se adequavam e tinham tolerância quando se tratava de religião, como do mesmo
modo em outras demais coisas.
Michael Green (1970) esclarece
como era o procedimento dos romanos com respeito à religiosidade dos judeus:
Eles permitiram aos judeus ser uma exceção e
adorar Deus á sua maneira, desde que orassem pelo Estado romano. As coisas
ficaram mais tensas entre eles à medida que o tempo passava e, depois da queda
de Jerusalém, no ano 70 d.C., o imposto do templo, pago pelos judeus da
dispersão, foi destinado a Júpiter Capitolinus, e os judeus acabaram sendo o
único povo do império que era taxado por sua religião. Mas ainda não eram
perseguidos por causa da sua fé. (GREEN M., 1970, p. 38).
Segundo Green (1970), os romanos
tiveram tolerância com os judeus, entretanto, eles se voltaram contras os
cristãos, e não estendeu sua tolerância religiosa a essa nova fé, o
cristianismo.
Havia uma diferença, e ela estava
entre religio e superstitio citada acima.
O cristianismo não se apresentava
como religio, e não tinha como ser
descrito como uma conexão entre os romanos e seu deus.
O cristianismo era uma fé
compreensiva que incluía pessoas de todos os povos, origens e raças, tanto
civilizada como bárbaros.
Era superstitio, uma religião e crença particular, tendo sua existência
ainda muito recente, e que tinha necessidade de ser julgada em seus méritos,
assim como a outras superstitiones.
O caráter dos romanos em relação
às persuasões religiosas reservadas, supertitiones,
igualmente era bastante condescendente, desde que o culto em questão não viesse
atentar contra a compostura e a ordem.
A sociedade Greco-romana olhava
de cima para baixo para as crenças de enigmas orientais, pois as castas doutas
as titulavam de proletárias e “entusiastas”; entretanto não havia nenhum tipo
de proibição sobre elas.
Certamente algumas de suas
revelações selvagens tivessem de ser romanizadas. Por isso o culto a Cibele foi
tornado mais acessível durante o império de Cláudio proibindo-se a emasculação
de seus sacerdotes, o que havia pasmado romanos sentimentais como Catulo e
Lucrécio.
Dali por diante o sumo sacerdote,
o archigallus, tinha de ser cidadão
romano e não podia ser mais um eunuco.
Green (1970) comenta sobre
algumas proibições determinadas pelos romanos por causa do procedimento
apresentado por seus sacerdotes:
Outros cultos eram proibidos temporariamente,
se seu comportamento o exigisse. Um caso notório foi Paulina, uma senhora
romana distinta no tempo de Tibério, que foi violada por um admirador durante
uma festa ao deus Anúbis no templo de Ísis. Isso não podia ser tolerado, apesar
de o culto de Ísis ter um número considerável de adeptos em Roma. Tibério mandou
crucificar os sacerdotes envolvidos no caso, destruir o templo e jogar a imagem
da deusa no Tibre. Porém a ira oficial não foi despertada pelo culto de Ísis em
si, mas pelos seus desmandos. O culto sobreviveu a este revés e continuou
florescendo. (GREEN M., 1970, p. 38).
Existia, até então, um tipo de superstitiones que os romanos não
admitiam: os que insinuavam fundamentalmente em conduta anti-social ou
delinqüente.
Sendo assim, o Senado determinou
acabar com os cultos de devassidões e bacanais desde o ano 186 a.C. por causa dos
descomedimentos que existiam nessas orgias, e também pelo intenso detrimento
que a religião romana estava tomando por causa dessa religião estrangeira e
seus cultos.
Foi estabelecido por Tibério que
toda forma de magia era crime, com penas previstas na lei, e isto incluía
igualmente toda forma, prática e noção da magia negra.
Era certo que isto se aplicava a
quem possuísse o conhecimento da mágica e fizesse uso dela. Mais outro exemplo
que passou por proibição de superstitio
foram os druidas.
Eles eram ferozmente
anti-romanos, e era de conhecimento de todos que os druidas faziam sacrifícios
com seres humanos. Por isso eles foram muito perseguidos.
No santuário de Augusto nenhum
cidadão romano podia ser um druida e nem compartilhar de seus cultos. Tibério
exterminou com seus sacerdotes, e Cláudio desarraigou todo o culto. Pelo menos
na pressuposição. O método não foi tão conciso.
O culto de Baco floreou nos
primeiros séculos d.C., e nas paredes de Pompéia foram descobertas
representações de libertinagens bacanais. A magia prosseguiu sendo praticada em
grande escala, e encontraram-se muitas alusões a ela no Asno de Ouro de Apuleio, do segundo século.
Quanto aos druidas, eles
permaneciam muito ocupados estabelecendo revoltas na Germânia aproximadamente
um quarto de século depois da morte de Cláudio. Aconteceu fato parecido com os
cristãos.
No ano de 64 d.C. os cristãos
foram acusados de incendiarem Roma e foram torturados com crueldade nos jardins
de Nero. Passaram a ser considerados como membros de um grupo de criminosos
anti-social, e assim, sempre recebiam ações punitivas oficiais.
Isto acontecia esporadicamente,
porém Roma não obteve sucesso em querer eliminar o cristianismo como os outros
três cultos proibidos que foram perseguidos fortemente pelos romanos.
Entretanto, dificilmente deve ter
ajudado a causa do evangelho no mundo romano o fato de que ele era pregado por
pessoas cuja fé os tornava possíveis de perseguição.
Depois de trinta anos de fundação
do cristianismo, a nova fé daquela época, associar-se ao cristianismo era
considerado buscar para si o martírio.
2.7
Fatores que Colaboraram Com os Cristãos
Houve três fatores que se uniram
para dar ao cristianismo espaço para expandir.
Os romanos não aplicavam regras
rígidas e difíceis quanto aos governos das províncias. Cabia ao procônsul ou ao
procurador que governava a província administrar a justiça além-mar, e ele não
era obrigado a prestar contas em Roma, nem a se prender aos costumes romanos.
Ainda, nem mesmo em Roma tinha um
procedimento específico no tratamento da maioria dos crimes. Em todo caso os
crimes religiosos não estavam no ordo
e, por isso, eram solucionados pelo magistrado a seu critério. “eles
pronunciavam justiça baseados em sua cognitio
pessoal, e decidiam que castigo aplicar”.
Isto queria dizer que não existia
uma lei que proibisse o cristianismo em todo o Império, e não tinha um
procedimento uniforme para tratar com eles.
Plínio tinha liberdade de usar
seu posto oficial para tomar conhecimento dos cristãos; igualmente Gálio
poderia usar o seu posto para se negar a ouvir a questão.
O assunto permanecia completamente
ao seu critério. Esta é uma das razões porque, por exemplo, Tertuliano dirige
seu pedido a Scápula, procônsul da África, e não ao imperador. Permanecia
dentro do arbitrium do governador dar
uma solução ao caso em questão.
Nas províncias apenas o procônsul
possuía o poder para julgar casos e pronunciar as sentenças de morte aos
acusados.
Porém, ele não podia delegar esta
autoridade a ninguém, mesmo possuindo direito de escolher um grupo de homens do
lugar para ajudá-lo na administração da justiça.
O procedimento oficial da lei
romana favorecia os cristãos.
Não existia um promotor público.
Todas as acusações deveriam ser feitas e sustentadas por um acusador
particular. Apresentar uma acusação diante de um procônsul era algo
extremamente sério.
Se no caso ficasse comprovado ser
uma acusação falsa, penas pesadas poderiam ser infligidas.
Estes fatores unidos protegeram a
maior parte dos cristãos durante o tempo suficiente para o estabelecimento da
Igreja cristã por toda a extensão do Império.
Green (1970) esclarece alguns
pontos que eram conflitantes que envolviam judeus e cristãos:
Por um lado os cristãos muitas vezes eram
confundidos com os judeus, de onde eles tinham surgido, e que eram protegidos
oficialmente pelo Estado. É quase certo que os tumultos no bairro judeu
mencionados por Suetônio no tempo de Cláudio impulsore Cresto na verdade resultaram da crescente autoconfiança
dos judeus cristãos de Roma. A denúncia ríspida de Cláudio de que os tumultos
em Alexandria eram devidos à chegada de judeus do Egito e da Síria pode bem
refletir uma confusão entre cristianismo e judaísmo. A gente pode pensar que o
incêndio de Roma demonstra uma distinção clara entre judeus e cristãos (ainda
mais com Pompéia ajudando a esclarecer a diferença dos judeus), mas no ano 70
d.C. Tiro ainda pensava que, destruindo o templo de Jerusalém, teria encontrado
uma maneira valiosa de eliminar tanto a religião judaica como a cristã, porque
as duas surgiram da mesma raiz, apesar de serem inimigas - a religião cristã
tinha sua origem na judaica- e, uma vez arrancada a raiz, o tronco secará. Um
general bem informado sobre a questão judaica tinha uma esperança destas -
esperança que provou ser vã. (GREEN M., 1970, pgs. 40-41).
A decadência de Jerusalém no ano
de 70 d.C. pelo general Tito, não comprometeu a propagação do cristianismo,
pelo ao menos no mundo pagão.
Entretanto se um perito podia
cometer erro tão além, não é de maravilhar que governantes com menos
conhecimento esperassem que o cristianismo fosse um ramo da religião judaica e
que, como tal, possuía direito a tolerância imperial.
Este conflito pode não ter
intensificado a fama do cristianismo, porém, cooperou bastante para a sua
integridade e proteção.
2.8
Fatores Que Prejudicaram os Cristãos
Outros conceitos apresentaram
resultados em rumos desfavoráveis. Primeiramente vinham os delitos que o povo
trivial integrava com a origem cristã, verdadeiros ou apenas presunções.
Os cristãos eram delatados de
cometerem ateísmo, assim como os judeus antes deles, porque os cristãos não
cultuavam aos deuses comuns, e este ato era considerado crime, crueldade, e
alta deslealdade contra o Estado.
Os judeus eram até então uma
ressalva consentida, mas não havia precedentes a outras pessoas estrangeiras
para renunciar os deuses publicamente, pois os incrédulos colocavam em perigo e
o bem estar da sociedade.
Michel Green (1970) comenta sobre
a situação dos cristãos daquela época e os perigos e calúnias com perseguições
que sofreram por causa da sua fé:
Além do ateísmo, eles eram acusados pelos
boatos de incesto e canibalismo; os cristãos tinham de refutar estes rumores
constantemente. As pessoas bem informadas sabiam muito bem que eles eram
falsos: Plínio não encontrou nada de depravado nas diaconisas que viu
participarem das assembléias cristãs, e se declarou impressionado com o fato de
os cristãos “se comprometerem com juramento (sacramento) a não cometer nenhum
crime, como adultério, roubo ou assalto”. Ele registra que quando eles se
reuniam para comer - a festa ágape, sem dúvida - sua comida era “comum e sem
segredos”. No entanto as pessoas que acreditavam em tudo o que ouviam podiam
considerar os cristãos culpados de praticamente tudo. Podemos compreender de
onde veio isto. Os cristãos se encontravam em segredo, eles falavam claramente
de comer Cristo na Ceia, falavam que amavam seus irmãos e irmãs em Cristo -
lábios mexeriqueiros e mentes sujas fizeram o resto. (GREEN M., 1970, pg. 41).
Existia um pretexto para tantas
mentiras. Na comunidade de Corintos aconteceu um incesto, imoralidade e consumo
de carne imolada aos deuses por volta do ano 50 d.C.
Irineu e Clemente de Alexandria
relatam sobre os cultos heréticos que faziam uso do nome dos cristãos e
cometiam as mais terríveis obscenidades.
Afirmações como a de Cecílio,
pode ser uma caricatura bastante grosseira do cristianismo ortodoxo, mas faziam
uma descrição negativa, porém correta do comportamento de alguns cristãos
desviados conforme esclarece Michael Green (1970):
Depois destas festas, quando o calor humano
aumentava, e o calor do desejo incestuoso tinha se tornado intenso com o vinho,
um cão que estava amarrado ao pé da lâmpada é provocado com um pedaço de carne
jogado além do seu alcance. Ele pula e assim apaga a luz, e na escuridão
vergonhosa todos são igualmente incestuosos, pois todos estão envolvidos pelo desejo no que cada um faz”.
Era o tipo de reputação que os cristãos tinham entre o populacho. (GREEN M.,
1970, pgs. 41-42).
Não se pode entrar aqui no mérito
da questão destas acusações contra os cristãos da Igreja primitiva: ateísmo,
canibalismo e incesto.
É lógico que tais questões eram
demasiadas e extremamente caluniosas, apesar de II Pedro e Judas indicarem que
a Festa do Amor (Ágape) seguramente às vezes passava dos limites.
Em todos os lugares os cristãos
eram tidos como indivíduos aptos para fazer esses delitos como os acima
citados. A sua primeira opinião era extremamente maligna de forma unânime.
Michael Green (1970) comenta
sobre o que disse Tácito sobre as denúncias feitas aos cristãos pela população
daquele andamento:
Tácito diz que: “o populacho os odiava por
causa dos seus crimes”, e que “são culpados e merecem as penas mais severas”,
mesmo não crendo que eles tivessem posto fogo em Roma. Suetônio os
acusa de serem “uma superstitio nova
e prejudicial”, o pomposo Plínio, da classe alta, de “uma superstitio depravada
e marcada por excessos”. Supunha-se que eles odiavam todo mundo, por terem os
seus segredos, serem unidos e se manterem distantes de quase toda vida social,
que estava contaminada pela idolatria. O professor E. M. Blaiklok chamou a
atenção para a freqüência com que os cristãos são chamados de “praga”: no
relatório de Tácito, no decreto de Cláudio, na carta de Plínio e no discurso de
Tertuliano. Ele menciona um trecho de Platão como explicação para o fato de os
cristãos serem considerados desajustados sociais “incapazes por temperamento ou
indispostos por convicção a participar das atividades comuns de um grupo ou
comunidade”. Platão escreveu: “Toda pessoa incapaz de participar, com respeito
mútuo à lei, deve ser executada, pois é uma praga social”. (GREEN M., 1970, pg.
42).
É compreensível conceber o
desajustamento social dos cristãos. Isto se torna manifesto no Apocalipse, onde
a renuncia de admitir o senhorio de Domiciniano sujeitou os cristãos ao exílio
igualitário e a boicotagem parcimoniosa.
Eles permaneciam proibidos de
tomar parte dos Jogos Imperiais e nem mesmo utilizar a cédula do Império, e
assim atravessaram por muitos problemas se desejassem “sair do mundo”
resolutamente.
2.9
Oposições Intelectuais e Culturais ao
Cristianismo
Até aqui foi visto alguns limites
políticos, religiosos e sociais na passagem do desenvolvimento do cristianismo
no primeiro século, Existia diversos - econômicos, éticos, culturais,
intelectuais - aos quais se deve fazer uma rápida alusão.
No plano intelectual o cristianismo se deparava com grande parte das
oposições que os povos da antiguidade levantavam contra o judaísmo, com três
denúncias suplementares: o cristianismo era um acontecimento novo e, quase por
significação, nada que é moderno pode ser exato.
Por isso os cristãos precisavam
demonstrar que o cristianismo apresentava uma genealogia muito remota, pois
procedia do judaísmo, que era tão remoto que os filósofos pagãos extraíam dele
sua sabedoria.
Além disso, por ser a exclusiva
veracidade de Deus, todas os indivíduos em qualquer ambiente, ao se fixarem ao
fato em algum conceito, proclamavam a que era compatibilizado e era substância
do ensinamento cristão.
Além de ser moderno o
cristianismo era grotesco, porque pregava que Deus desvendara sua sabedoria na
cruz de Cristo.
Sobrevém que para qualquer
indivíduo ensinado ou mesmo só entusiasmado pelo conhecimento platônico do
pensamento grego era natural que a veracidade e a sabedoria não permaneciam em
episódios privados, mas em fatos unânimes, como a Teoria das Formas sugeridas.
Green (1970) esclarece como essa
fase da era cristã primitiva foi suplantada:
Dizer que um certo nascimento, ainda por cima
recente, junto com uma certa morte, que tinha sórdida, era a chave da sabedoria
do universo, era completamente ridículo. Já em I Coríntios (capítulos
1 e 2) e Colossenses (capítulo 1) Paulo afirma que Jesus não é apenas algo
particular, mas a encarnação, revelada no tempo, da Sabedoria Cósmica eterna, e
este método de apologia fizeram história entre os apologistas. (GREEN M., 1970,
pg. 46).
As ocorrências da morte de Jesus,
no entanto, desandava a declaração dos cristãos ainda mais inadmissíveis.
Era presumível proferir com certa
coerência que na ocasião da morte de Sócrates foi desvendada um pouco do
episódio sobre o universo e a alma do ser humano, quando ele discorreu sobre
existência e morte com grande excelência, e depois absorveu sicuta.
Todavia o que a execução de um
delituoso numa infame cruz romana tinha a dizer em termos de dialética do
mundo? Michael Green (1970) esclarece esta circunstância no ponto de vista do
povo daquela ocasião:
Para os romanos este tipo de morte era uma
demonstração de escravidão, fraqueza, inferioridade e culpa. Para os gregos era
tudo isto, e, além disto, inútil. Não é de admirar que corriam boatos de que os
cristãos adoravam a cabeça de um asno, ou sua própria virilha. Nenhuma outra
adoração seria mais obscena e revoltante que a de um criminoso executado
recentemente sobre o mais indigno de todos os patíbulos, a cruz. Nem é preciso
dizer que os cristãos, que criam em asneiras tão grandes, eram irracionais
incuráveis, suspeita que alguns apologistas aprofundaram consideravelmente com
seu comportamento. A Igreja primitiva não cansava de citar I Coríntios 1:19s.,
26s. Tertuliano, e Taciano combatem fortemente a cultura pagã. Celso em meados
do segundo século, afirmou que os cristãos exclamavam: “não estude mas creia”,
“Sua fé o salvará” e “A sabedoria deste mundo é má, mas a burrice é boa”
(Orígenes, Contra Celso 1.9). (GREEN M., 1970, pgs. 46 e 54).
Além disto, os cristãos eram
desfavorecidos por sua humildade cultural. Eles se dirigiam quase que
unicamente as camadas sociais mais baixas, pobre, simples e analfabetas.
Esta era a circunstância na
cidade de Corinto no primeiro século, onde “não
muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre
nascimento” faziam parte da sociedade cristã.
A disposição permaneceu sendo
esta por determinado período, com certas ressalvas consideráveis. Celso culpou
os cristãos de consistir em ser “iletrados,
escravos e ignorantes” que “afastam
todos os sábios da doutrina da sua fé e convidam somente os ignorantes e
vulgares”.
Celso acha que ao atuar assim os
cristãos estão aceitando que unicamente este tipo de indivíduo seja digno de
seu Deus, e “eles mostram ostensivamente
que só desejam e alcançam persuadir os burros, alienados e estúpidos, além de
mulheres e crianças”.
O cristianismo era legitimamente
uma superstitione da ralé da
sociedade naquele período, talvez pela necessidade que passavam os pobres.
Os romanos como já foi citado
acima, especialmente os da alta hierarquia tinham a tendência de ponderar todas
as superstitiones apropriadas
exclusivamente para os grupos inferiores, e desprezava de maneira especial os
cultos orientais mesmo os que tinham um monoteísmo superior, ético e elevado e
uma história remota como o judaísmo.
Como acreditar que eles
professassem uma superstitione da
qual até os próprios judeus faziam questão de se desagregar? Michael Green
(1970) comenta as circunstâncias e a ação dos cristãos da Igreja primitiva
perante de tais ocorrências desempenhada contra eles no primeiro século:
Não que os cristãos se importassem, pelo
contrário. Eles se orgulhavam do fato de que sua mensagem tinha sido revelada
por Deus em sua sabedoria não aos inteligentes e importantes, mas ao povo
humilde que cresse. Paulo rejubilou nesta verdade em I Coríntios, e
Atenágoras lhe deu expressão eloqüente no capítulo ii do seu Comunicado aos Cristãos: “Vocês irão
encontrar entre nós pessoas iletradas, artesãos e mulheres velhas que mostram
com seus atos o benefício que têm com a convicção da verdade da nossa doutrina,
mesmo se não o conseguem provar com palavras. Eles não recitam discursos, mas
fazem coisas boas: quando são atingidos, eles não retrucam; quando são
prejudicados, eles não recorrem ao tribunal; eles dão aos que lhe pedem algo, e
amam seus vizinhos como a si mesmos”. (GREEN M., 1970, pgs. 46-47).
Apesar de tudo isto que eles
evidenciavam, todavia, eles não conseguiam disfarçar a sua procedência
miserável e a sua atitude social da camada baixa.
Quando o apóstolo Paulo escreveu
a sua epístola aos cristãos romanos, que era pertencente à casa imperial em
Roma, ele não se dirigiu ao Imperador César, contudo, ele escreveu para os
escravos de um de seus alforriados que tinha sido executado.
Como já foi feito referência
acima, o cristianismo era mesmo uma religião desenvolvida pela camada social
mais baixa daquele momento, era uma superstitio
da ralé da sociedade romana e de outras cidades dominadas pelo Império.
Com tudo isso, que aparentemente
depunha contra os cristãos da Igreja primitiva, eles tinham um grande
compromisso em pregar “as boas novas”.
Começando por Jerusalém, e indo
em direção da Palestina, e os outros povos, então, por meio de perseguição a
igreja primitiva, teve seu progresso, e estendeu-se por todas as partes do
mundo da antiguidade, como será visto.
CAPITULO
III
A
IGREJA APOSTÓLICA E A EVANGELIZAÇÃO ATÉ O ANO 100
3.1
As Primeiras Missões.
É manifesto no livro dos Atos dos
Apóstolos que a primeiro discurso do evangelho, no Pentecostes, foi
administrado ùnicamente ao povo judeu.
Nos anos que sucederam este
acontecimento segundo Robert Hastings Nichols (1985), as missões permaneceram
bastante restringidas aos judeus, seguramente pelo andamento de dois ou três
anos, principiando em Jerusalém e depois se estendendo pela Palestina e por fim
alastrando-se aos outros povos.
Os primeiros cristãos não tinham
ciência a princípio à expansão da finalidade divina de sua missão para a
salvação do mundo. Sendo eles judeus, e hebreus, alguns reconheceram ser Jesus
o Messias esperado pelo seu povo, e profetizado no Antigo Testamento.
Entretanto, eles consideraram
Jesus Cristo como o Salvador exclusivamente ou, sobretudo dos judeus, não
obstante Jesus, por meio de palavras e ações, ter-lhes ensinado algo bastante
diferente.
Robert Hastings (1985) esclarece
a forma como foi o desenvolvimento da Igreja primitiva, e como isto incidiu
para o seu acréscimo:
A perseguição foi o meio pelo qual a Igreja
nascente chegou a uma compreensão mais segura do Evangelho que Jesus lhes dera
a pregar, e por ela alcançou uma visão mais ampla da obra que Jesus lhe
propusera. As autoridades religiosas judaicas que tinham tentado embaraçar a
pregação evangélica levantaram-se por causa do audaz desafio que foi o discurso
de Estevão, e empreenderam uma campanha selvagem, violenta e sistemática contra
o Cristianismo. Com esse ataque, a comunidade cristã de Jerusalém que já
contava com alguns milhares, foi dissolvida. Seus elementos procuraram
segurança, espalhando-se por toda a Palestina. Não obstante fugirem para
salvarem a vida e por causa da sua fé levavam o Evangelho aonde quer que
fossem. Alguns deles foram até a grande cidade de Antioquia, na Síria. Ali, os
seguidores de Cristo foram, pela primeira vez, chamados “cristãos”, nome que,
parece lhes foi dado por zombaria. Nesta cidade, vivendo no meio de uma população
grega, esses exilados tornaram Jesus conhecido tanto de gregos como de judeus.
(NICHOLS R. H., 1985, pgs. 19-20).
O cristianismo irrompeu por todo
o mundo antigo com a surpresa de boas novas: “boas novas” anunciadas com muito
aquecimento e grande entusiasmo por aqueles que declararam a sua fé em Jesus Cristo, e
também demonstradas com o seu próprio testemunho e experimento segundo Michael
Green (1970).
Elas eram, portanto, fruto da sua
persuasão de que Deus tinha convertido a aparente derrota da Sexta-feira da
Paixão na soberana vitória no dia da Páscoa.
Foi assim que os primeiros
cristãos confusos e ignorados apresentaram sua vasta marcha para tornarem o
Cristianismo em
uma Religião Universal.
Mais tarde, a Igreja de Antioquia
expediu Barnabé e Paulo, os primeiros missionários cristãos denominados para
pregarem o cristianismo aos gentios. E o apóstolo Paulo foi quem finalizou, sob
a administração do Espírito Santo, a obra de emancipar o cristianismo.
Paulo conseguiu atingir aquilo
que era finalidade de Deus: fazer do cristianismo uma fé para todos. Assim, daí
por diante o cristianismo foi pregado a todos os homens no mesmo pé de
igualdade com as demais seitas e religiões.
3.2
As Boas Novas Messiânicas
Não foram apenas boas novas
comuns que abalaram a Palestina no ano 30 d.C. Não era apenas uma mensagem de
um simples carpinteiro, considerado Mestre, e que havia sido executado pelo
poder romano.
Era a declaração bem aventurada
da salvação messiânica por muitos séculos anunciada e desejada por milhares de
pessoas, era a visita de Deus para resgatar e redimir o pecador e o mundo
desprovido.
Assim, a substância desta
mensagem começou a ser conhecido como to
evaggelion, as boas novas. Porém, foram alguns anos mais tarde que este
termo principiou a ser empregado para os documentários históricos registrados
durante os anos decorrentes, os evangelhos escritos.
A princípio ele foi aplicado para
os fatos em si, e para a ação de proclamá-los.
Robert Hastings (1985) comenta
como foi o desenvolvimento da Igreja primitiva e quem eram seus primeiros
evangelistas e missionários:
Começando, assim sua grande carreira
missionária, o Cristianismo espalhou-se, de sorte que pelo ano 100 A.D. havia igrejas em
inúmeras cidades da Ásia Menor e em muitos lugares da Palestina, Síria,
Macedônia e Grécia, em Roma e Puteoli na Itália, e, Alexandria, e,
provavelmente, na Espanha. Paulo foi naturalmente o missionário que mais
contribuiu para esse resultado. O Novo Testamento refere os nomes de alguns
outros como Priscila e Áquila. O que a tradição relata sobre a pregação dos
apóstolos leva-nos a pensar que todos eles deram testemunho intimorato, levando
as plagas mais longínquas as Boas Novas, não obstante conhecermos com mais
segurança, apenas o trabalho de Pedro e João. Todavia, muito da tarefa heróica
de tão grande esforço evangelístico foi realizado por discípulos e missionários
cujos nomes desconhecemos. Cada crente era um missionário ansioso por oferecer
a alegria de que gozava em Cristo, às pessoas que encontrava no trabalho, nas
comunidades e em outros meios. Em virtude do zelo que tinham em anunciar a
Cristo e, muito mais ainda, pelo testemunho das suas vidas fiéis que anunciavam
o poder de Cristo, esses cristãos desconhecidos foram os mais eficazes
missionários da sua religião. (NICHOLS R. H., 1985, pg. 20).
Naquela época uma igreja cristã
era habitualmente um acanhado grupo de cristãos morando em uma ampla sociedade
pagã.
Como já foi dito, quase todos
eram indivíduos necessitados, muitos eram escravos, outros artesões, e trabalhadores
rurais, pescadores, ainda que existissem muitos cristãos das camadas mais
elevadas, principalmente na igreja de Roma.
Por toda parte tinha muita coisa
que diferenciava um cristão de seus vizinhos pagãos. Eles se tratavam de modo
recíproco por irmãos em Cristo e verdadeiramente atuavam como irmãos. Cuidavam
desveladamente dos órfãos, dos doentes, das viúvas, dos desprezados.
As ofertas e a contabilidade dos
fundos de filantropia compunham uma das partes mais importantes da existência
dessas igrejas primitivas.
Dentro da Igreja todas as
altivezes foram eliminadas. Escravos e senhores foram equiparados. As mulheres
obtiveram uma posição de reputação e de autoridade que nunca tinham alcançado
em meio à sociedade conspurca.
Distinguiam-se igualmente os
cristãos por uma efervescência e pureza ética nunca conhecida em qualquer
parte.
Não obstante, as vidas dos
cristãos gentios evidenciavam a capacidade que apresenta o Evangelho de
outorgar aos homens uma nova retidão.
Ainda mais o caráter que prevalecia
a vivência dos cristãos, e que era de uma boa exultação e certeza esplêndidas.
Regozijavam-se no grande amor de Deus, o Pai, na comunhão com Cristo
ressuscitado, na remissão dos pecados, na fé da eternidade.
Dessa forma ignoravam a angústia
e a desesperança que exploravam a existência de muitos que os circundavam.
Essas características dos primeiros cristãos estabeleciam uma importante
indicação para o Cristianismo, promovendo assim, o seu desenvolvimento.
3.3 A Conformidade do Termo “Boas Novas”
Estas são as “boas novas”
difundidas por dois dos primeiros apóstolos cristãos, como era entendida por
eles.
A preferência do termo foi muito
bem acertada, porque “boas novas” apresentavam, além de sua fascinação
habitual, um significado característico para os judeus pagãos, o que fazia o
termo ser muito mais apropriado para eles.
Este vocábulo ou expressão “boas
novas” foi empregado com muita constância pelo apóstolo Paulo e por Marcos
evangelista no Novo Testamento, e para o mundo helenista tinha muito que falar.
Era o vocábulo par excellence para proclamar uma
conquista, triunfo sobre forças oponentes, e, por genealogia, para atuações de
forças oferecidas as divindades em reconhecimento pela conquista conseguida.
Michael Green (1970) esclarece
alguns pontos onde era usado o termo “boas novas” fora do cristianismo daquele
momento:
Também era usado para caracterizar comunicações
dos deuses, geralmente através de oráculos: estes eram “boas novas” - pelo
menos esperava-se que fossem! Acima de tudo, no entanto, o termo era usado no
culto ao imperador. O anúncio do nascimento do imperador era “boas novas”; a
conhecida inscrição de Prieni diz: “O aniversário do deus foi o início, para o
mundo, das boas noticias que se espalharam por causa dele”. O início da era
Calígula, por exemplo, foi propalado (ironicamente, como deu para ver depois)
como boas novas de salvação e de boa sorte. A posse do princeps era
tradicionalmente considerada como boas notícias, e era celebrada com alegria e
sacrifícios por um povo realmente grato pelo grau de salvação que o Império
lhes trouxera. (GREEN M., 1970, pg. 63).
Entretanto o evaggelion cristão tem muito mais profundidade que o imperial; seu
governante permanece assentado no trono do universo, não somente do Império, e
seu surgimento é uma encarnação verdadeira do exclusivo Deus, não a divinação
maquinada da dinastia imperial.
O evangelho expressa salvação
para os homens - porém, somente por meio da contrição e julgamento. Muitos o
acham um evangelho irônico quando o ouvem, Atos 17:32.
Entretanto ele produz uma
exultação real, pois, o arrependimento resulta em alegria e julgamento, graça e
salvação. César e Jesus Cristo, o imperador no trono e o Mestre desamparado na
cruz, permanecem um oposto ao outro. Eles apresentam muito em comum, entretanto
pertencem a mundos completamente distintos.
A impressão que se tem é que era
precisamente este contraste com o culto ao imperador que o apóstolo Paulo e
Marcos queria deixar explicado ao empregar o termo evaggelion. Este foi o argumento do trabalho deles.
3.4 O Culto na Igreja
A necessidade e a perseguição
incapacitaram a Igreja primitiva de edificar seus santuários durante o primeiro
século, motivo por que os cristãos se congregaram para o culto em casas
reservadas.
Nas cartas do apóstolo Paulo
pode-se observar especialmente aquelas enviadas aos Coríntios, que existiam
dois tipos de reuniões de cultos.
O primeiro era do tipo do culto
de oração. O culto era dirigido segundo o Espírito os movimentava naquela
ocasião.
Praticavam orações, apresentavam
testemunhos, aprovisionavam certos ensinos, cantavam Salmos.
Foi ai que apareceram igualmente
os primeiros hinos cristãos da igreja primitiva. Eram interpretadas e
esclarecidas as Escrituras do Velho Testamento.
Existiam do mesmo modo leituras
ou referências, de lembranças, dos atos e instrução de Jesus. Quando os
apóstolos mandavam epístolas às igrejas, como as que contêm no Novo Testamento,
elas eram então interpretadas e ensinadas para toda a congregação.
Foi nessas assembléias que o ânimo
do Cristianismo primitivo encontrou acessível esclarecimento. E esse ânimo
muitas vezes era tão entusiasta que acabava decorrendo em tumulto.
Eram aceitos sujeitos
estrangeiros a esses agrupamentos e neles muitos se levantavam e declaravam sua
culpa e confessavam seu anseio de receber Jesus como Senhor e Salvador de suas
vidas.
A outra forma de assembléia era
manifesta como “a Festa do Amor” Ágape ou Fraternidade. Na realidade não
decorria de uma refeição trivial, muito amável, todavia abençoada, que
representava o símbolo do amor fraterno cristão.
Neste festejo era consentido
exclusivamente aos cristãos compartilharem. Cada um apresentava a sua parte da
alimentação ou refeições onde eram divididos a todos igualmente.
O apóstolo Paulo chegou a admoestar
o exclusivismo por parte de determinados irmãos que não desejavam partilhar e
comiam o que eles mesmos tinham, pois outros muitas vezes não apresentavam
condições de terem refeições tão boas.
No andamento das refeições o
administrador dava graças. No término da festa comemorava-se a “Ceia do Senhor”
onde era consumida parte do pão que tinha sido servido na Festa.
Este ajuntamento era realizado no
dia do Senhor, o primeiro dia da semana, onde os cristãos preservavam como a
Festa em solenidade a ressurreição de Jesus Cristo.
Robert Hastings (1985) comenta
sobre esses eventos festivos e comemorativos realizados na Igreja primitiva:
Não obstante haver bastante incerteza sobre
este assunto, é provável que, a princípio, a Festa do Amor fosse realizada à noite.
Já no final do primeiro século, a Ceia do Senhor foi separada da Festa do Amor
e celebrada numa reunião matinal. Sabemos que no segundo século a Ceia do
Senhor ou a Eucaristia era celebrada pela manhã do dia de domingo, chamado Dia
do Senhor. (NICHOLS R. H., 1985, pgs 22-23).
3.5 A Confiança da Igreja
Na Igreja primitiva do primeiro
século, não se têm provas que se tenha estabelecido credos ou declarações
formais de fé. O Credo Apostólico apenas veio surgir no segundo século.
Para se ter um intenso
conhecimento da fé dos cristãos primitivos deve-se examinar aos registros do
Novo Testamento.
Eles confiavam em Deus, o Pai; em Jesus Cristo, como o
Filho de Deus e Salvador, ao mesmo tempo criam no Espírito Santo, de cuja
compleição eles ficavam e continuavam conscienciosos.
Do mesmo modo criam na absolvição
das iniqüidades. Apresentavam como fundamento do seu ideal ético o ensino de
Jesus sobre o amor a todos os homens.
Esperavam a volta de Jesus para
desempenhar o ajuizamento derradeiro e oferecer a existência permanente a todos
os que nele criam. Suas opiniões doutrinárias, se assim as pode-se avocar eram
muito simples.
Todos os seus pensamentos sobre a
história religiosa apresentavam como núcleo a Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Robert Hastings (1985) comenta
sobre alguns erros doutrinários que chegaram a ameaçar a pureza do Evangelho na
igreja primitiva:
Duas influências levaram os crentes do primeiro
século a cair em alguns erros doutrinários os quais, de certo modo, ameaçaram a
pureza do Evangelho. Os “judaizantes” ensinavam que os cristãos deviam cumprir
todas as cerimônias exigidas pela Lei Judaica. Paulo condenou-os porque viu que
se o ensino deles prevalecesse o Cristianismo não podia ser a religião de todas
as raças. Encontramos no Novo Testamento advertências solenes contra os erros
do chamado Gnosticismo. Esta seita surgiu no primeiro século e veio depois se
tornar muito poderosa. Consistia de uma estranha mistura de idéias cristãs,
judaicas e pagãs. Era muito parecida com o Cristianismo de modo a confundir
alguns crentes. (NICHOLS R. H., 1985, pg. 23).
3.6
O Gnosticismo
O Gnosticismo que foi um nome
sobreposto a várias escolas distintas de pensamentos, apareceu nos primeiros
séculos da era cristã, e arriscaram adicionar no cristianismo um princípio
universal filosófico-religioso.
Seus subsídios de maior estimação
eram determinados reflexões simbólicas e cosmológicas, e igualmente o
caracterizado dualismo entre o mundo do espírito e o mundo objetivo.
Seus preceitos sobre a salvação
distinguiam o livramento do espírito de sua servidão na esfera não espiritual.
Este partido religioso tinha seus
próprios mistérios e consagrações sacramentais, e igualmente uma ética que
recomendava ou o ascetismo ou a devassidão.
Bengt Hägglund (1986) comenta
sobre a suposta origem do Gnosticismo:
A questão da origem do gnosticismo tem sido
amplamente debatida, e não parece haver qualquer resposta simples. A maior
parte da literatura gnóstica foi perdida. Todavia, parte dela foi preservada em
tradução copta no Egito, por exemplo: a “Pistis Sofia”, o “Evangelho de Tomé” e
o “Evangelho da Verdade”. As duas últimas obras citadas encontram-se entre os
manuscritos descobertos na vila de Nag Hammadi (perto de Luxor) em 1946. Entre
os itens ai encontrados, num jarro de cerâmica preservado na areia, havia 13
códices, inclusive nada menos de 48 escritos, todos de origem gnóstica. Esta
descoberta ainda não foi completamente avaliada ou tornada acessível aos
pesquisadores. A maior parte de nosso conhecimento do gnosticismo chegou até
nós através dos escritos dos Pais Eclesiásticos. Citam outros gnósticos, ou se
referem a seus escritos em suas obras polêmicas. Os Pais Eclesiásticos
concordam que o gnosticismo iniciou com Simão, o mágico (At 8), mas no mais
seus relatos divergem Segundo um certo Hegesipo, citado por Eusébio (IV, 22), o
gnosticismo principiou entre certas seitas judaicas. (HÄGGLUND B., 1986, pg.
27).
Quando se comenta sobre o
gnosticismo, geralmente se raciocina no princípio que se desenvolveu no período
cristão, na “heresia gnóstica” que os Pais Eclesiásticos condenaram com intenso
comprometimento.
Os apologistas protegeram o
cristianismo contra filósofos e imperadores. Mas, as ameaças contra o
cristianismo não apareciam exclusivamente externamente. A ameaça muito maior
nasceu dentro do próprio cristianismo, a ameaça do gnosticismo.
O termo “gnosticismo” procede da
expressão grega “gnósis” que denota “conhecimento”. Não no significado
científico. Gnósis poderia significar: ciência em termos universais; comunhão
simbólica e afinidade sexual. Todos estes termos são encontrados no Novo
Testamento. Trata-se de informação participatória. Tão pessoal como a relação
entre esposo e esposa.
Essa ciência procura a união e a
salvação. É respeitável em contraste com a noção científica. Os gnósticos eram
os intelectuais gregos, não obstante terem abrangido a emprego cognitivo em
termos de participação no divino.
Paul Tillich (1968) comenta como
eram e qual era o fundamento desta seita do primeiro século da era cristã:
Não era uma seita; talvez se pudesse dizer que
eram muitas seitas. Na verdade, porém, o gnosticismo representava vasto
movimento religioso espalhado pela época. Em geral, o gnosticismo é considerado
um sincretismo. Misturava todas as religiões de então. Ao se espalhar pelo
mundo, penetrou tanto a filosofia grega como a religião judaica. Filo de
Alexandria foi um típico precursor do movimento. O gnosticismo conseguiu até
mesmo se imiscuir na lei romana e na teologia cristã. Os elementos básicos
dessa mistura religiosa são os seguintes: 1. Destruição das religiões nacionais
por meio das conquistas de Alexandre e de Roma. Os grandes impérios mundiais
acabavam com as religiões nacionais. 2. Interpretação filosófica da mitologia.
Ao se ler os sistemas gnósticos têm-se a impressão de que racionalizavam a
mitologia. Essa impressão é correta. 3. Renovação das antigas tradições de
mistério. 4. Reavivamento de elementos psíquicos e mágicos, presentes na
propaganda religiosa do oriente. Enquanto o movimento político ia do Ocidente
para o Oriente, o religioso tomava direção contrária. O gnosticismo procurava,
então, combinar todas as tradições religiosas desenraizadas, reunindo-as num
sistema meio filosófico e meio religioso. (TILLICH P., 1968, pgs. 44-45).
Porém o gnosticismo já existia
bem antes de aparecer o cristianismo; era então prodígio religioso um tanto
inconstante, uma doutrina especulativa de salvação com subsídios de muitas
reminiscências religiosas dessemelhantes.
Surgiu do Oriente, onde teve
influência pelas religiões especialmente da Babilônia e Pérsia.
Existiam muitas afinidades e
pendências entre os grupos gnósticos e o cristianismo modelo. Contra a idéia
manifesta das igrejas cristãs, os gnósticos articulavam ter memórias ocultas
exclusivamente experimentadas pelos principiados.
Renunciavam o Antigo Testamento
visto que não se conformava com determinadas doutrinas constitucionais, de
maneira especial com suas convergências dualistas e ascéticas.
Recebiam uma variante purificada
do Novo Testamento, acolhendo, no entanto, as dez fundamentais epístolas de
Paulo e o evangelho de Lucas, que, seguramente, mais visivelmente significa a
autoridade paulina.
Provavelmente, essas amostras do
Novo Testamento não contestavam as opiniões fundamentais do gnosticismo como as
demais cartas e evangelhos.
3.7 A Supervisão da Igreja
Conforme Robert Hastings (1985),
as Igrejas primitivas desde o seu princípio eram autônomas, com administração
própria determinando todos os seus interesses e assuntos problemáticos.
Todos os cristãos garantiam com
persistência que pertenciam à Única Igreja Universal, a “Ekklesia”, sendo esse
o significado do vocábulo Igreja.
O Novo Testamento utiliza a
palavra Igreja (do grego: Ekklesia, “chamada para fora de”) como sinônimo de
“Corpo de Cristo”.
Em outras palavras, trata-se do
conjunto de todos aqueles que são regenerados pelo dom da vida eterna, todos os
membros do qual Cristo é o cabeça.
A palavra Igreja é empregada ao
mesmo tempo para instituir uma assembléia local de crentes, na qual se localizam,
muitas vezes, elementos que na realidade não são membros do corpo de Cristo,
Apocalipse 2:14-16, 20-24.
Deve-se, conseqüentemente, fazer
distinção entre as igrejas visíveis, estabelecidas segundo as diversas
disciplinas eclesiásticas, e a Igreja invisível, simbólica, cujos membros estão
espalhados nas diferentes denominações, assim como fora delas.
Mas os cristãos asseveravam ser
todos um em Cristo, contudo nenhuma organização de caráter universal
desempenhava autoridade sobre as inúmeras igrejas distribuídas por todas as
direções.
Os primeiros apóstolos eram
respeitados, em benefício da relação que tiveram com Cristo e desempenhavam
certo domínio, como se averigua na determinação adotada quanto aos cristãos
gentios e à lei judaica e como se pode conferir em Atos 15.
Paulo desempenhava domínio devido
a sua posição apostólica e de seu trabalho respeitável.
Contudo o domínio desses homens
não procedia da sua ocupação, nem era expressa em uma organização cerimonial.
Robert Hastings (1985) esclarece
a posição de cada integrante oficial que eram pregadores ou estavam ligados a
Igreja primitiva do primeiro século:
O Novo Testamento fala de oficiais que se
ocupavam do ministério da pregação e do ensino. São conhecidos como apóstolos
ou profetas e mestres. O nome de “apóstolo” não era restrito aos companheiros
de Jesus, mas pertencia também a outros pioneiros do Evangelho que levavam as
Boas Novas aos novos campos. Os profetas e mestres ou doutores esclareciam o
significado dos Evangelhos às Igrejas. Todos esses exerciam seus ofícios não
pela indicação de qualquer autoridade, mas porque revelavam estar habilitados
para tais ofícios pelos dons do Espírito Santo. O ministério desses oficiais se
estendia a toda Igreja, não era restrito as congregações particulares. Vemos
muitos dos apóstolos e profetas viajando por toda parte a serviço da causa. No
primeiro século, a pregação e o ensino do Evangelho eram feitos principalmente
por esses homens e por mulheres, antes que por oficiais de igrejas locais.
(NICHOLS R. H., 1985, pg. 24).
O Novo Testamento ao mesmo tempo
fala de outra natureza de ofício que pronunciava deferência aos interesses das
congregações. Sobre isto não se tem conhecimento de muitos fatos.
Parece que não havia qualquer
exemplo de coordenação para todas as igrejas, todavia estas atuavam de jeito
livre e integralmente independente e seus procedimentos contemporizavam.
Em algumas igrejas estabelecidas
pelo apóstolo Paulo tinha dois grupos de oficiais: os anciãos ou presbíteros,
igualmente designados bispos, que eram superintendentes; o outro grupo era os
diáconos.
Os anciãos ou bispos apresentavam
a incumbência do pastorado, da disciplina e dos interesses parcimoniosos. Os
diáconos proporcionavam uma ocupação característica, o da filantropia.
Os presbíteros presidiam à Mesa
do Senhor e pregavam quando não estava presente algum apóstolo, profeta ou
mestre. Esses oficiais eram nomeados pelo povo porque expunham os dons e a
aptidão do Espírito Santo para essa responsabilidade.
Tal forma de repartição de
responsabilidades não aprovava qualquer oficial como os pastores
contemporâneos.
Parece que existiam outras
igrejas com diferentes formas de organização; em determinados acontecimentos a
direção permanecia com um sujeito; noutros, a administração era congregacional.
3.8
A Proclamação do Evangelho e a Conversão
A definição da palavra
evangelização dos primeiros cristãos tinha a sua palavra raiz Kèrussein, que continha o seu
significado de “proclamar como um arauto”.
Este arauto era alguém muito respeitável,
era um indivíduo inviolável, em quem ninguém podia atacar sem receber o devido
castigo. Entretanto isto o evangelista cristão fazia questão de não ser.
A palavra Kèrugma, proclamação,
atualmente é usada como termo técnico para a pregação da Igreja primitiva, mas
quem mais usou este termo foi o apóstolo Paulo, e foi apenas algumas poucas
vezes. Ele deixa claro em Romanos 16:25s que este termo significa o mesmo que Evaggelion, equiparada especificamente com “evangelho”, e o
contexto admite esta identificação, pois confirma o cumprimento das Escrituras,
da vinda de Jesus Cristo, a importância universal da mensagem de transformar os
que a recebem.
A idéia de conversão, com o
significado que se entende e que se têm atualmente, por muito tempo, talvez até
o aparecimento do cristianismo, era algo completamente enigmático para o
pensamento do mundo Greco-romano.
Em primeiro lugar, qual é a idéia
que se têm sobre “conversão”, com o sentido que se entende na atualidade?
Comumente se usa o termo, no contexto religioso, em dois sentidos: um é que a
pessoa que “se converteu”, abandonou sua velha atitude religiosa (caso esta
pessoa tenha tido uma) para se envolver excepcionalmente com outra religião.
O outro é que algum indivíduo até
então um mero simpatizante da sua fé, encontra o significado e a seriedade dela
com coragem e compreensão.
E porque este tipo de conversão
pode ter sido estranho ao mundo da Igreja primitiva? Michel Green (1970)
comenta sua posição sobre esta questão:
Creio que há três razões. Em primeiro lugar, os
helênicos não achavam que era necessário ter uma crença para participar de um
culto. Enquanto os sacrifícios tradicionais fossem oferecidos, enquanto o show
continuasse tudo estaria bem. Ninguém era obrigado a crer nas divindades que adorava.
Muitos homens inteligentes como Juvenal e Lucrécio zombavam das histórias dos
deuses tradicionais, mas tinham o cuidado de continuar oferecendo os
sacrifícios, dos quais, supostamente dependiam, a segurança do Estado e o
bem-estar da sociedade. Em segundo lugar, os helênicos não consideravam a ética
como uma parte da religião. Não havia quase nenhuma importância para o
comportamento se uma pessoa era adoradora de Mitras ou de Ísis. Alguns cultos
exigiam pureza ritual durante um período de iniciação ou durante o seu
transcorrer, mas nenhum insistia em um rompimento total com o passado, uma
renúncia de tudo o que é errado, fazendo esta exigência a partir da própria
natureza da divindade em
questão. Há concordância geral quanto a este respeito das
religiões antiga. A terceira razão porque a idéia da conversão cristã foi tão
surpreendente para os helênicos foi a exigência de exclusividade que ela fazia
a seus devotos. Os cristãos tinham de pertencer de corpo e alma a Jesus, que
era chamado de seu dono, despotès, que tinha redimido de uma outra escravidão
para a sua. Em conseqüência, eles não reconheceriam nenhum outro “Senhor”,
fosse imperador ou divindade pagã. (GREEN M., 1970, pgs 180-181).
Tudo isto era aparentemente
bastante curioso aos povos gregos e romanos, porque as outras religiões da
antiguidade manifestas até então naquela época, nunca tinham sido
exclusivistas.
Certo era que as religiões de
mistérios não permitiam a entrada de quem não havia passado pela iniciação;
desta forma elas eram exclusivistas.
Entretanto elas não eram em
princípio: não tinham a exigência que os indivíduos fossem totalmente leais a
elas, nem os proibiam de fazer parte de qualquer outra religião de mistério,
nem tão pouco de adorar seus antepassados, ou de se inclinar diante da estátua
do imperador.
Não se importava se a pessoa era
adepto da filosofia ou da magia, à astrologia ou ao gnosticismo, aos rituais
oferecidos a Osíris ou a Mitras, pois o objetivo destes cultos era
complementar, e não substituir, a religião ancestral das pessoas.
O judaísmo era muito bem
conhecido, e respeitado mesmo pelos que não gostavam dele. Ele introduziu no
mundo antigo a idéia de conversão neste sentido total, de mudança de vida, que
se tem em foco.
Contudo, seu sucesso foi muito
limitado. Apesar das vantagens que eles gozavam em termos de legislação
protetora que nenhuma outra crença tinha, da sua disseminação ampla, suas
sinagogas que recebiam bem os adeptos gentios, seu e uma ética que era
claramente superior a qualquer outra no mundo daquela época, porém, os judeus
não conseguiram convencer e nem converter o Império Romano.
Na verdade os judeus nunca
deixaram claro que se realmente desejavam fazer isto, mas, onde o judaísmo
fracassou, o cristianismo teve sucesso.
Já se viu que os cristãos
conquistaram centenas e até milhares de judeus e gentios, envolvendo-os e
fundindo-os no que em pequeno espaço de tempo foi denominado de tertium genus, uma terceira raça.
Michael Green comenta sobre este ponto:
Neste ponto fica visível como a conversão
cristã era algo único. Eles convocam tanto os judeus como os gentios a por sua
fé no Messias de Deus e ajuntar-se ao seu povo. Para os gentios isto era
conversão a uma nova fé; para os judeus era, num sentido importante, conversão
dentro de uma fé em que tinha crescido, e da qual Cristo era o objetivo e o
ponto mais alto. Porém o choque era muito grande para o judeu, e para o gentio,
talvez até maior. Ambos tinham de ser batizados na igreja do Messias. É claro
que os gentios preferiam isto à circuncisão, mas para os judeus isto era uma
pedra de tropeço. Significava renunciar a toda convicção de ser um dos eleitos
de Deus com base em nascimento e circuncisão. Significava tornar-se como uma
criança recém-nascida, e lavar todas as impurezas com a água do batismo - o que eles estavam
acostumados a pensar de um prosélito que era batizado em Israel. Não podemos
imaginar uma renúncia mais humilhante a todos os privilégios, todos os méritos
adquiridos e herdados de estar na presença de Deus. O skandalon da conversão ao cristianismo era total. (GREEN M., 1970,
pgs. 182-183).
A conversão cristã era uma coisa
nova e única no mundo antigo, humilhante, dinâmica e inflexível. Eles pregavam
uma pessoa. Sua mensagem era abertamente Cristocêntrica.
Muitas vezes o evangelho era até
chamado simplesmente de Jesus Cristo: “Anunciando-lhes
Jesus”, Atos 8:35; 5:42; 28:31.
Para os judeus, Jesus era a
consumação da atuação de Deus na história; para os gentios, Jesus representava
o fim do aparente desinteresse de Deus.
Jesus o homem, Jesus crucificado,
Jesus ressurreto, Jesus exaltado ao lugar de poder no universo, de onde
retornará para julgar todos no fim dos tempos, Jesus que enquanto isto estava
em seu povo pelo Espírito, operando sinais e milagres, bem como através do
crescimento rápido da igreja.
Parece que era o objetivo
principal que eles pregavam sobre Jesus Cristo.
Das epístolas do apóstolo Paulo e
dos Atos dos Apóstolos pode-se até concluir que se comentava muito pouco da
vida de Jesus, dos seus ensinamentos e dos sinais de maravilhas e milagres por
ele realizados.
Toda ênfase recaía sobre a sua
cruz e ressurreição, e sobre o seu atual poder e importância. Com toda certeza
Jesus ressurreto era o centro da mensagem dos evangelistas daquele período.
CONCLUSÃO
Não se pode definir de maneira
exata até que ponto a evangelização principiada pela Igreja primitiva conseguiu
sucesso.
Igualmente não se pode confrontar
o “sucesso” com o seu “fracasso”. De outra forma, o sucesso ao qual se tem em
mente, pode ser muito distinto da forma como vê o Senhor Nosso Deus.
Por meio desta pesquisa pode-se
observar que a evangelização é de maneira especial uma arquitetura de Deus na
existência do ser humano, ao qual se emprega para tal acontecimento a colaboração
de outras pessoas para a concretização da evangelização.
Não há também como considerar na
pesquisa da evangelização da Igreja primitiva as respostas para as dificuldades
que se tem na época presente na comunicação do evangelho.
Mas, muitos de seus aspectos
abordados neles pode-se enfatizar, e compensa para a igreja avaliar em qualquer
ocasião, principalmente em nossa época, na qual se conhece que existem grandes
dificuldades e uma forte concorrência para se compartilhar a fé cristã com
aqueles que ainda não conhecem o cristianismo em sua essência, porém em muitos
casos de forma equívoca, e que se têm também muita dificuldade em comunicar
essa fé.
Um dos aspectos mais admiráveis
da evangelização da Igreja primitiva foram os indivíduos nela envolvidos.
Comunicar a fé não era estimado direito dos mais consagrados ou dos
missionários evangelistas oficialmente encarregados pela igreja.
A evangelização nos primeiros
momentos era considerada privilégio e comprometimento de cada componente da
Igreja primitiva, era ordenança de Jesus, Mc 16:15.
Havia apóstolos e profetas
itinerantes, ricos e pobres, intelectuais e simples pescadores iletrados, todos
envolvidos com ânimo na principal tarefa designada por Jesus Cristo à sua
Igreja.
Os membros comuns da igreja
recebiam isto como um ofício; e o cristianismo primitivo era acima de tudo um
movimento composto por laicos, divulgado por missionários sem formalidades.
O clero da Igreja primitiva do
mesmo jeito tinha persuasão de que a evangelização era encargo seu; presbíteros
e bispos, doutores da igreja, filósofos, todos eles tinham a evangelização como
a sua preocupação fundamental.
Seguramente eles não consentiram
que a instrução, pastorado e ministério lhes tomasse todo o tempo, ao ponto de
não conseguirem mais levar indivíduos ou grupos de pagãos incrédulos a fé em Jesus Cristo.
O comprometimento natural de toda
a comunidade cristã ofereceu um impulso muito grande ao movimento de
evangelização desde os primeiros momentos da Igreja primitiva, e isso foi
essencial para o desenvolvimento da Igreja do Senhor Jesus.
Não é comprovado que se faça
progressos na evangelização contemporânea por meio de tecnologia.
Se não ocorrer transformação da
existência atual das igrejas, de forma que a tarefa da evangelização seja adotada
como encargo de cada membro convertido e batizado, e que as pessoas incrédulas,
possam notar nos indivíduos cristãos o empenho, o contentamento, a comunhão, o
juízo de sacrifício e a abertura que diferenciaram o melhor da Igreja
primitiva.
Excepcionalmente, no primeiro
século da existência da igreja primitiva, encontram-se muitos defeitos, muitas
coisas que com certeza envergonharam o nome que eles professavam.
Entretanto igualmente se depara
com uma efervescência e empenho na evangelização por eles assumida, presente em
todo o extenso espectro daquela sociedade primitiva cristã, no sentido de
conduzir as pessoas aos pés de Jesus Cristo, agora assentado a direita de Deus
Pai, e também a comunhão dos seus servos submissos.
Esta é verdadeiramente uma lembrança
que permanece da fundamental primazia da igreja.
A evangelização era o exato
sangue da história dos primeiros cristãos e, desta forma, sabe-se que “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os
que iam sendo salvos”.
Isto pode acontecer novamente se
a igreja contemporânea estiver legitimamente disposta a pagar o preço.
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