9 de fev. de 2013

A AÇÃO EVANGELIZADORA NA IGREJA PRIMITIVA


 AÇÃO EVANGELIZADORA NA IGREJA PRIMITIVA

Joenildo Fonseca Leite
 
INTRODUÇÃO

Sabe-se que toda a Escritura está cheia de profecias sobre a vinda de Jesus Cristo o Filho de Deus, como oferta sacrificial para resgatar o homem, e morrer por seus pecados, levando-o assim diante de Deus o Pai.
A profecia se referia ao Deus para o homem, até, que com a vinda de Jesus nascido de mulher, concluiu-se a profecia do que “haveria de vir”.
Sendo agora “Deus conosco”, Jesus cumpriu as profecias com precisão, até mesmo as de Isaías 53, que falava do sofrimento do Messias e de sua morte vicária na cruz. Ao cumprir estas profecias, Jesus também se preocupou e treinou seus discípulos durante seu ministério terreno para que pudessem dar continuidade ao seu trabalho evangelizador. Porém, como será visto nesta pesquisa, não foi fácil para aqueles primeiros discípulos darem início à obra evangelizadora.
Com a vinda ou o “revestimento de poder”, derramado por meio do Espírito Santo, começa-se uma forte Igreja em Jerusalém, também testemunhada por muitos judeus helenistas de outras nações que ali estavam no dia de Pentecostes e que puderam presenciar o derramamento de poder sobre aqueles discípulos de Jesus.
Assim, começou a grande obra evangelizadora de Jesus, agora o “Deus em nós”.
Mas, como será apresentado neste trabalho, poderá se observar, a grande dificuldade que tiveram os primeiros evangelistas em instituir a Igreja primitiva, pois estavam cercados de inimigos, de religiosos rivais, de filosofias que fluíam como águas contrárias ao evangelho de Cristo, como o Gnosticismo e outros, sem mencionar os políticos e Imperadores da época que clamavam para si toda a adoração, e, se lhes negassem este tipo de práxis, estavam sujeitos a morte, ao desterro, ou a perderem todos os seus bens, e muitos passaram por esta experiência por amor a Cristo.
Contudo se faz ressaltar, que apesar de todas as adversidades, a Igreja primitiva conseguiu expandir o evangelho para todas as direções habitadas daquela época, por meio de seus missionários, e através principalmente das perseguições.
Um dos grandes evangelistas, o apóstolo Paulo, não mediu esforços para levar adiante esta missão quase que impossível, mas, houve contribuições por parte dos Romanos, Gregos e outros que de alguma forma contribuíram para o progresso da Igreja de Cristo, para a divulgação e propagação do evangelho no primeiro século cristão.
Será visto também o desenvolvimento eclesiástico da Igreja primitiva, e suas formas de evangelizar.
Entretanto é necessário ressaltar que esta pesquisa não tem por objetivo apresentar a sua matéria de forma apologética ou até mesmo absoluta, porém apenas destacar a forma de como foi conduzido o desenvolvimento da Igreja primitiva e suas implicações através dos povos daquela época e os adeptos do cristianismo em questão no primeiro século d.C. Que possamos alcançar o objetivo com sucesso.  

 CAPÍTULO I
A IGREJA E OS CAMINHOS DA EVANGELIZAÇÃO

1 As Vias da Evangelização

Conforme Michael Green (1970), ao cumprir seu ministério na terra, Jesus incumbiu um grupo pequeno de “onze” homens para por em prática a obra evangelizadora, anunciando assim, “as boas novas” por todas as nações, começando esta missão em Jerusalém.
Eram homens que não tinham pessoas de grande influência por trás deles, não eram indivíduos de grande apreço, e nem tão pouco bem instruídos em alguma faculdade da época. Este grupo era constituído por homens comuns e trabalhadores simples, como pescadores.
Não era nenhuma pessoa de grande importância em sua pátria, e, de alguma forma, o país deles não passava de uma comarca de segunda categoria na extremidade oriental da localização romana.
Se eles quisessem considerar as oportunidades de apresentar um grande sucesso em suas missões, mesmo possuindo toda a persuasão íntima de que o Senhor Jesus estava vivo e que o seu Espírito permanecia com eles, e, em suas companhias para ajudá-los e equipá-los para o seu trabalho, eles seguramente teriam perdido o entusiasmo; tão extensas consistiam em serem as circunstâncias contrárias.
Como conseguiriam por em prática a evangelização com tantas dificuldades? Entretanto, eles obtiveram seu sucesso, e conseguiram mesmo que custando para alguns deles, a própria vida.
É muito difícil ultrapassar os obstáculos que encontravam em seu acesso. Entretanto, é fato se for pensado que possivelmente em nenhuma outra ocasião da história do mundo estava mais bem preparada para receber a mais jovem Igreja que o primeiro século d.C., com oportunidades grandes para proclamar e abranger a fé, em um império formalmente mundial, o romano.
Michael Green (1970) comenta a circunstância da preparação do mundo daquele período para receber a evangelização e o desenvolvimento do cristianismo no primeiro século:
A conjunção de elementos gregos, romanos e judaicos nesta praeparatio evangélica é do conhecimento de todos, mas vale a pena relembrá-la, para colocarmos este estudo em sua perspectiva certa. No primeiro relato que temos da expansão do cristianismo, os Atos dos apóstolos, fica visível em cada página a contribuição da Grécia, Roma e Judaísmo. No segundo século os cristãos começaram a pensar mais e se conscientizar do contexto sobre o qual a Igreja fora edificada, e passaram a falar da providência divina que tinha preparado o mundo para o surgimento do cristianismo. (GREEN M., 1970, pgs. 11-12).

Nem todos os seus assuntos apresentam um conceito de peso, mas é evidente que o primeiro século abriu caminhos de importância incontável para a divulgação do evangelho.
 Entretanto, antes de ser assunto ao Pai, Jesus instruiu seus discípulos, visando à necessidade de deixar a sua Igreja preparada para receber um povo, uma comunidade social constituída de seus seguidores como se pode conferir a seguir.

1.2    Jesus Estabelece a Sua Igreja

Segundo Robert Hastings Nichols (1985), era manifesta a necessidade de existir um grupo social estabelecido dos simpatizantes seguidores de Jesus, para proporcionar ao mundo as “Boas Novas” e deste jeito ministrar, em Seu espírito, os ensinamentos que lhes deixara.
O verdadeiro objetivo era o de anunciar e difundir o Reino de Deus, e o “Evangelho”. Jesus não projetou qualquer organização ou determinado tipo de plano governamental para esta sociedade da Igreja primitiva.
Do mesmo modo, ele não recomendou uma liderança oficial para desempenharem domínio sobre os membros daquela primeira organização. Não receitou qualquer credo para ela, e nenhum código de regulamentos lhe fôra atribuído, igualmente não ordenou autorizações ou qualquer forma de culto.
Unicamente, consentiu aos seus discípulos os rituais religiosos mais simples: o batismo, com água, para expressar a purificação espiritual e consagração ao Seu discipulado; e a Ceia do Senhor, na qual usou um pouco dos elementos mais comuns da mesa, como uma comemoração da Sua morte para a redenção dos homens.
Conseqüentemente, em nada do que Jesus fez pode-se descobrir a organização da Igreja. Jesus fez muito mais do que dar organização: Ele deu vida à Sua Igreja, dizendo melhor, Ele mesmo a criou.
Robert Nichols (1985) comenta os feitos de Jesus ao formar a sociedade de Seus seguidores, e as promessas por Jesus deixadas para sua Igreja através dos séculos:
Jesus formou uma sociedade dos Seus seguidores, agrupando-os ao redor de si mesmo. Comunicou a esse grupo, até onde era possível, Sua própria vida, Seu espírito e propósito. Prometeu dar, através dos séculos, vitalidade a esta sociedade, Sua Igreja. E Sua grande dádiva a ela foi o dom dEle próprio. NEle, a Igreja teria de encontrar os seus princípios, os seus objetivos, o seu poder. Deixou a Igreja livre para escolher as formas de organização e culto, afirmações de crença, métodos de trabalho, etc. O propósito de Cristo era que a vida da Sua Igreja, isto é, a vida do Salvador latente em Seus seguidores, se expressasse pelos modos que lhes parecessem mais apropriados para a consecução do grande objetivo em vista. (NICHOLS R. H., 1985, p. 18).

Com certo propósito, a igreja Cristã surgiu quando Jesus convocou os seus primeiros discípulos, mas habitualmente se descreve que a Igreja passou a existir ou nasceu no dia de Pentecostes que se declarou à ressurreição, pois foi quando se principiou a história funcional da Igreja primitiva em Jerusalém, por meio dos apóstolos do Senhor Jesus.
Antes de se empenharem nessa missão, eles receberam as últimas instruções do Mestre Jesus.
A morte de Cristo é aceita, entretanto, a sua ressurreição é espantoso, assombrosa, muitos se escandalizam, porém, outros ficam a sorrir.
Todavia o testemunho dos seus discípulos gira em volta da analogia entre a morte e a ressurreição de Jesus: aquele que foi visto espirando, falecido, depois de três dias foi visto, agora outra vez vivo, semelhante a si próprio, apto de ser tocado e de compartilhar a ceia de seus amigos.
Seria o Cristo ressurreto que seus apóstolos passariam a pregar. É ele que compõe o alicerce do cristianismo: “E, se Cristo não ressuscitou,é vã a nossa pregação, e vã a vossa fé”, I Co 15:14, admitiu o apóstolo Paulo.
Foi no regozijo da ressurreição de Jesus e na esperança de uma parousia urgente que as primitivas sociedades cristãs se desenvolveram e aumentaram.
Pierre Pierrard (1982) interpreta como eram e como viviam os primeiros membros da pequena comunidade, a Igreja instituída por Jesus após sua ascensão:
Os membros da primeira comunidade, a Igreja, que Jesus deixara em Jerusalém após a sua ascensão, apresentavam-se como judeus que viviam sua religião de maneira mais pura que seus pais, pois, transcendendo ensinamento bastante elevado, mas ritualista dos fariseus, eles tinham como referência as palavras do Mestre - considerado por eles o Messias anunciado, que dava um lugar essencial às disposições do coração. Aquele primeiro grupo judeu-cristão era uma comunidade bem temerosa. Viveu por longo tempo confinado na sala superior da casa em que Jesus havia celebrada a última ceia. Mas logo vem o Pentecostes, o vendaval que enche a casa, o espírito que fortalece os corações tímidos e transforma aquelas humildes pessoas em arautos tão vibrantes que, desde o início, seus ouvintes acusam-nos de estar cheios de vinho. (PIERRARD P., 1982, p. 18).

Antes mesmo de esses acontecimentos virem à tona, o Senhor Jesus já havia falado aos seus discípulos sobre o ministério do Espírito Santo, logo após que Jesus, se apresentasse como assunto ao céu, Ele havia-lhes prometido dar prosseguimento ao Seu próprio ministério, entretanto em uma medida abundantemente maior.
E pronunciou assim aos seus ouvintes, disse-lhes: “Convém-vos que eu vá, porque se eu não for o Consolador não virá para vós outros; se porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (João 16:7).
Era muito mais fácil e melhor para os discípulos que o Espírito Santo fosse o seu mestre. Ele não ficaria restrito a um corpo material, como Jesus se encontrava.
Ele não somente estaria “com” eles, como Jesus estava; porém, estaria também “em” eles! Seria um Consolador sempre presente e um guia constante. Uma das últimas instruções dadas por Jesus aos seus discípulos, antes de ser assunto ao céu, foi: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”, Atos 1:8.
Assim, Jesus ordenou que esperassem na cidade, até, receberem o poder necessário para que eles pudessem testemunhar.

1.3    O Pentecostes

A festa judaica de “Pentecostes” levara a Jerusalém uma grande multidão.
O apóstolo Pedro, ainda respirando ter sido um renegado, porém restituído por seu Mestre, agora diante de uma grande multidão, dirige-se a ela e fala: “Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras”, Atos 2:14.
Assim começou a pregação do evangelho de Jesus Cristo, “as boas novas”, onde rapidamente começou a primeira e grande comunidade cristã em Jerusalém.
Pedro é ouvido, sobretudo pelos judeus da Diáspora, o que explica a presença, vespertina, de um grupo pequeno de judeus cristãos em Damasco, Antioquia, Alexandria e Roma.
Um bom número destes “helenistas” permaneceu em Jerusalém. Se ocupando deles, os “doze” apóstolos designaram os diáconos - em número de sete como comprova os Atos dos Apóstolos.
Porém, o evento decisivo para o desenvolvimento do cristianismo no primeiro momento, certamente foi o acontecimento do Pentecoste.
Haveria certa dificuldade em se argumentar com sucesso que os primeiros cristãos foram inspirados para cumprir a Grande Comissão por meio de lembrar uns aos outros as suas disposições e importância.
Ao contrário, o Espírito Santo desceu sobre a vida daqueles cristãos primitivos e os transformou em testemunhas da forma como lhes havia prometido o Senhor Jesus.
David Hesselgrave (1984) comenta como sucedeu este episódio na história daqueles primeiros cristãos, e qual era a precisão deste acontecimento:
Segundo Atos 1:8, Ele lhes dissera que quando viesse o Espírito Santo sobre eles, (1) receberiam o poder ou a força necessária; (2) Seriam testemunhas do Cristo a quem tinham visto e ouvido, e em quem acreditavam; (3) iriam para Jerusalém, a Judéia e Samaria, e até os confins da terra. Depois da vinda do Espírito Santo, descobririam experimentalmente que o Espírito Santo também é o “Espírito Missionário”. Ele obedeceu à Comissão neles e através deles. E qual foi o resultado? Lucas nos informa que depois do Pentecoste “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos 8:4). (HESSELGRAVE D. J., 1984, p. 18).

Segundo Larry D. Pate (1987), uma das derradeiras palavras de instruções dadas por Jesus aos seus discípulos, antes de ascender aos céus, foi: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura”, Marcos 16:15.
E eles estavam preparados para atender esta ordem de Jesus! Entretanto, prestes a deixá-los decisivamente, o Senhor Jesus disse-lhes que aguardassem e, esperassem até que recebessem o poder imprescindível para testemunharem a Seu respeito:
Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra (ATOS 1:8).

Segundo o evangelista Lucas. Essas foram às últimas palavras pronunciadas por Jesus na terra. Ao lado delas, Jesus lançou a incumbência centrifuga dos seus discípulos.
Eles precisariam ministrar o evangelho em assembléia sempre mais extensa e a povoados cada vez mais diversos. Não careceriam deter-se diante de qualquer limite cultural ou geográfico.
Permanecia em suas mãos desenvolver o ministério principiado por Jesus e levá-lo até atingirem aos “confins da terra”. O que aconteceu depois de dez dias é muito bem versado de todos. Era chegada a semana da festa de Pentecostes.
Os discípulos permaneciam congregados e unânimes. Então o Espírito Santo desceu sobre eles, enchendo toda a casa onde eles permaneciam, e do mesmo modo eles foram cheios do Espírito Santo, e falaram em outros idiomas, conforme o Espírito lhes consentia que falassem.
Sabe-se que muitos crédulos não entenderam a exata significação do dia de Pentecostes, descrito em Atos 2, criam que o fato mais admirável desse dia foi os cristãos terem recebido o dom de línguas, segundo o Espírito Santo lhes conferia que falassem.
Conforme Larry Pate (1987), havia muita implicação necessária para aquela ocasião; igualmente é importante que se possa compreender, quem ouvia; que tipos de indivíduos foram testemunhas dessa manifestação divina; o que escutaram; e o que significou para esses ouvintes o fato que foram assistentes.
Com a ocorrência deste fato espiritual, seguramente preparada por Deus para o desenvolvimento e o aumento da Igreja primitiva, se pode conferir na explicação de Larry Pate (1987) o que sucedeu depois deste episódio:
Quem escutou os discípulos no dia de Pentecostes? Principalmente um grupo de pessoas conhecidas como judeus “helenistas”. Eram judeus que durante dois ou três séculos haviam sido dispersos, em virtude das perseguições, por todos os países e territórios da civilização romana e grega daquela época. Haviam-se dispersado e restabelecido nas principais cidades gregas e romanas, assim como em grande parte das cidades menores. Havia aproximadamente dois milhões e meio de judeus na Palestina na época de Cristo.  Mas havia mais de três milhões e meio de judeus “helenistas” fora da Palestina. Esses judeus helenistas haviam sido espalhados principalmente durante o reinado dos gregos (no século três e dois a.C.). Haviam absorvido em grande parte a cultura grega e é por isso que os judeus da palestina os conheciam como “helenistas’. (PATE D. L., 1987, p. 22).

De acordo com a lei judaica, era estabelecido que todos os judeus fizessem uma peregrinação a Jerusalém nas três festas especiais do calendário judaico.
A segunda destas festas era a de Pentecostes. Assim muitos helenistas dirigiam-se para Jerusalém, vindos de todas as partes do mundo romano, para festejar o Pentecoste.
Onde quer que surgissem os comércios de suprimentos, mesmo ao longo dos caminhos que levassem a cidade,  esses caminhos, permaneciam cheios de nômades.
Quando incidiu a descida do Espírito Santo sobre os discípulos às nove horas da manhã, as ruas da cidade estavam cheias de gente.
Repentinamente, um barulho como o de potentes rajadas de vento despertou a curiosidade dos que se achavam nos arredores do cenáculo. E logo a seguir, escutaram algo que os deixou admirados.
Alguns enalteceram a Deus em alto clamor nas línguas maternais de muitos dos que escutavam! Judeus, partos e elamitas, helenistas vindos da Frígia, da panfília e do Egito, helenistas vindos de pelo menos quinze províncias do império romano, ausentes de suas moradas, escutaram os louvores a Deus em seus próprios dialetos maternos.
Os cristãos galileus, que não tinham qualquer título universitário, falavam das maravilhas de Deus de forma milagrosa, pelo ao menos em quinze línguas diferentes, relacionados em Atos 2:8-10.
Todas aquelas pessoas, ao ouvirem cada um a seu dialeto materno, se admiravam uns com os outros fascinados, e espantados.
Larry Pate (1987) comenta após este acontecimento admirável, sobre o exato significado do dia de Pentecostes:
Neste momento Deus estava mostrando ao mundo algo muito especial: ele já não se revelaria apenas por meio dos judeus. Agora o faria mediante a igreja de Jesus Cristo. E esta igreja estaria tão cheia de poder do Espírito Santo que seria capaz de cruzar toda barreira racial, cultural ou lingüística na terra e penetrar a idiossincrasia de cada povo com o evangelho de Jesus Cristo. Seria uma igreja decidida a penetrar a própria vida de cada sociedade, com o evangelho na língua materna de cada povo. Deus declarava que o plano de ação do Espírito Santo na igreja de Jesus Cristo seria estabelecer igrejas em cada grupo étnico da terra. (PATE D. L., 1987, p. 24).

1.4    Os Primeiros Convertidos

Como é de conhecimento de muitos pesquisadores, e mesmo dentro da Palavra de Deus, e de acordo com Larry Pate (1987), sabe-se que os judeus apresentavam um intenso preconceito racial, religioso e cultural contra os gentios.
Os guias religiosos adoravam ter domínio sobre seus irmãos de modo político, e este acontecimento exaltava-lhes o sentimento de superioridade espiritual sobre os gentios, com extrema veemência.
E foi então, sobre este povo preconceituoso que Deus derramou o seu Espírito Santo! Eles tinham o dever de evangelizar sua própria nação, mas evangelizar as outras nações era um tanto mais complexo.
O Espírito Santo tinha verdadeiramente uma missão muito grande, se realmente desejasse que a igreja judaico-cristã contivesse sucesso ao efetuar os desígnios de Deus.
No dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro colocou-se em pé e defendendo aquele acontecimento miraculoso, passou a pregar o evangelho para aquelas pessoas que ali estavam fascinadas com os fatos sucedidos. Três mil pessoas foram salvas! É admissível que muitos fossem judeus helenistas. Logo o número de adeptos aumentou rapidamente, em pouco tempo, calcula-se que o número de cristãos chegara a vinte e cinco mil só na cidade de Jerusalém.
Segundo David Hesselgrave (1984), o Pentecoste foi o evento determinante para o desenvolvimento do cristianismo e comenta:
O evento decisivo para a expansão do cristianismo foi o Pentecoste. O Espírito Santo veio sobre aqueles crentes primitivos e os transformou em testemunhas, do jeito que o Senhor prometera. E qual foi o resultado? Lucas nos informa que depois do Pentecoste “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos 2:47). Ele nos informa que quando os discípulos em Jerusalém foram espalhados pela perseguição, “iam por toda a parte pregando a Palavra” (Atos 8:4). Depois da perseguição, a igreja na Judéia, na Galiléia, e Samaria “tinha paz... edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (Atos 9:31). Em Antioquia “muitos, crendo, se converteram ao Senhor” (Atos 11:21). (HESSELGRAVE D. J., 1984, p. 18).

No princípio segundo o conceito de alguns eruditos, a maior parte dos judeus convertidos era judeus helenistas. Porém, logo o número de cristãos da Judéia alcançou e excedeu os cristãos helenistas.
Esse número provocou uma grande separação na igreja primitiva, pois os cristãos helenistas começaram a perceber e observar que estavam sendo menosprezados pela igreja em crescimento.
Essa discriminação era a conseqüência do preconceito racial dentro e fora da igreja por parte dos judeus criados na região, que se avaliavam legítimos, e consideravam os helenistas como mestiços culturais e, sempre, para eles os helenistas eram inferiores.
Todavia, os apóstolos perceberam que o problema estava centralizado na falta de organização e direção da parte helenista da igreja primitiva.
Sobre os judeus da “diáspora”, Robert Gundry (1970) comenta sobre como viviam e eram divididos fora da Palestina:
Fora da Palestina, os judeus da diáspora (“dispersão”) se dividiam em duas categorias: (1) os hebraístas, que retinham não só sua fé judaica, mas também seu idioma judaico e seus costumes palestinos, razão pela qual incorriam no ódio dos gentios, por se manterem distantes; e (2) os helenistas, que haviam adotado o idioma, o estilo de vestes e os costumes gregos, ao mesmo tempo em que se apegaram à fé judaica em vários níveis de intensidade. Um notável exemplo do judaísmo helenista foi Filo, um filósofo judeu do primeiro século cristão e residente em Alexandria. Ele combinava o judaísmo e a filosofia grega mediante alegorias baseadas no Antigo Testamento. (GUNDRY R. H., 1970, p. 58).

Depois dos helenistas terem arrumado seus próprios líderes, aumentou a dedicação e influência por parte deles. Vários dos judeus helenistas de Jerusalém, e muitos sacerdotes, creram e começaram a confessar Cristo, Atos 6:7.
 Houve muita contribuição por parte dos romanos, pois até mesmo se comentavam sobre como Deus havia entrado com providência e tinha preparado o mundo para o nascimento do cristianismo, e assim, abriram-se portas importantes para a propagação do evangelho.

1.5 A Pax Romana

Segundo Michael Green (1970), para que o objetivo primordial do Mestre Jesus fosse colocado em prática, muitos caminhos foram abertos, e o primeiro e fundamental deles foi à pax romana. Não se pode imaginar a divisão do evangelho se Jesus Cristo tivesse vindo ao mundo meio século antes.
A fé difundida por Jesus e seus apóstolos chegou ao mundo em uma ocasião de muita paz sem comparação na história.
O mundo conhecido daquela época, o primeiro século, permanecia pela primeira vez debaixo de autoridade do estável domínio de uma exclusiva nação potente, Roma.
Realmente esta posição já havia se tracejado mais de um século anterior, quando esta potência da bacia do Mediterrâneo, após ter obtido a vitoria na terceira Guerra Púnica.
Pelo uso da força com uma boa supervisão colonial, Roma havia adquirido uma coesão política tão estável quanto Alexandre o Grande somente havia imaginado.
Políbio registrou sua História, incluindo os anos 220-145 a.C., com o intuito de escrever para a progênie como “os romanos conseguiram, em menos de 53 anos, dominar aproximadamente todo o mundo ao seu comando; um feito não igualável na história”.
Michael Green (1970) esclarece parte da grande guerra civil ocorrida entre os romanos algumas décadas antes da vinda de Cristo:
Roma, senhora do mundo, não era senhora de si mesma. Poucos anos depois da destruição de Cartago em 146 a.C., um pretenso reformador romano, Tibério Graco, foi morto a pauladas durante um levante popular liberado pelo ex-cônsul Público Scípio Nasica. Sua morte deu início a uma luta interna que desembocou em cem anos de guerra civil. Mário, Sula, Pompeu, Crasso e Júlio César, para mencionar somente alguns dos protagonistas mais famosos deste século de carnificina, ergueram armas contra seus concidadãos e envolveram todo o mundo em sua desgraçada luta pelo poder. Quando Júlio César sucumbiu ante os punhais de Brutus e Cássio em 44 a.C., deve ter parecido que mais um prego tinha sido pregado no caixão do imperium romano, apesar do argumento dos conspiradores de que tinham agido somente para matar um tirano e reanimar a República. O resultado foi mais uma luta sangrenta, entre os integrantes do triunvirato: Marco Antônio, M. Emílio Lépido e o sobrinho-neto do falecido César, Cáio Otávio, por um lado, e Brutus e Cássio por outro, foi resolvido na batalha de Filipos. A isto seguiu o declínio de Lépido, uma luta titânica entre Antônio e Otávio que culminou na batalha de Actium (31 a.C.) e, mais tarde, a morte de Antônio e sua amante, Cleópatra, junto com a anexação do Egito por Roma. (GREEN M. 1970, pgs 14-15).

Depois deste acontecimento, a superioridade de Otávio não foi mais questionada.
O mundo então ficou agradecido pela restauração da paz restabelecida por Augusto, o Senado em sinal de reconhecimento tinha lhe aferido este título dez anos antes, como prêmio por ele ter restituído a liderança republicana, pelo menos visivelmente.
Comemorou os Ludi Saeculares em que Horário cantou os feitos do “filho de Aquiles e Vênus” e a paz, a abastança e a prosperidade da sua administração.
Foi a partir da pacificação universal e do restabelecimento da Republica que por fim teve tempos venturosos e pacíficos naquela época.
Augusto conseguiu manter esta paz pela força de suas legiões, e eles ficavam enquartelados pelos termos do Império romano, de forma que os cidadãos podiam crer na paz, pois agora suas fronteiras estavam resguardadas.
Júlio César havia tomado a Gália, Pompeu a Ásia Menor, e também Augusto se esforçou para ampliar suas fronteiras até os rios Reno e Danúbio. Esses rios foram intensamente patrulhados por destacamentos navais.
Ninguém mais temia outra guerra civil, pois, Augusto havia desmembrado de forma ardilosa a região entre o Senado e ele, com habilidade que ele sustentava o domínio sobre todas as comarcas que tinham precisão de uma presença militar.
Augusto tinha instituído uma potente integração corporativa por todo o mundo urbano.
O sistema de estradas se ampliou de forma acelerada, pois, Augusto tinha instância de caráter específico por estradas e converteu sua conservação, a cura viarum, em cargo imperial, dirigido por um grupo de senadores respeitáveis.
Essas estradas foram benéficas para uma rápida manobra e deslocamento de tropas militares e ao mesmo tempo elas promoviam a comunicação imprescindível de informações pelo correio público, o cursus publicus, que foram estabelecidos por Augusto.
Robert Gundry (1970) comenta sobre a rede de estradas formadas na Palestina e no império romano e seu funcionamento no primeiro século:
No campo de transportes, do comercio e das comunicações a Palestina era bem pouco desenvolvida. Provavelmente o país não possuía estradas pavimentadas, embora houvesse diversas estradas principais. Uma dessas estradas partia de Jerusalém, na direção sudeste, para Belém e gaza, e outra partia de Jerusalém, na direção nordeste, para Betânia, Jericó e Damasco. A segunda estrada principal se separava da primeira na Transjordânia e atravessava Decápolis até Cafarnaum. A maioria dos Judeus percorria essas duas estradas quando de viajem entre a Galiléia e a Judéia. Embora na Palestina o sistema de estradas fosse comparativamente deficiente, por quase todo o império romano as rodovias eram famosas com razão. Eram construídas tão retas quanto possível, e muito duráveis. Os primeiros missionários cristãos usaram-nas com grande proveito. O correio imperial transportava despachos governamentais por estas estradas. As pessoas viajavam a pé, em lombo de burro, ou cavalo ou montadas em mula, e usavam carruagens ou liteiras. (GUNDRY R. H., 1970, p. 25).

Uma grande rede de estradas foi construída a partir do Marco de Ouro em Roma para todas as direções daquela nação, e estas estradas eram conservadas em boas condições.
Esse princípio viário igualmente proporcionou benefícios aos mercadores que iam e vinham com seus produtos que estimulavam ao comercio e a promoção de viagens e relação social entre os povos do império e outros.
Daí surgiu também à proliferação do evangelho na época dos apóstolos de Jesus, que exploraram essas estradas, e tanto o Novo Testamento como a literatura do segundo século expõem como normais viagens de grandes extensões, que dificilmente seriam aceitáveis depois da queda do Império, até períodos contemporâneos.
Michel Green (1970) faz o seguinte comentário a respeito destas estradas, que foram de muita utilidade para os primeiros cristãos levarem e difundirem o evangelho para outras nações:
Uma inscrição muito citada, encontrada em Hierápolis na Ásia Menor no túmulo de um comerciante, mencionava que ele viajou para Roma nada menos de 72 vezes. Ele não precisava de passaporte em qualquer parte do Império. Se não transportasse mercadorias ele não pagava nada na alfândega, apesar de ter de pagar uma pequena taxa pelo uso da estrada. Nas páginas de Atos transparece que os cristãos usavam ao máximo o sistema viário romano, que inconscientemente direcionava sua evangelização. O que um comerciante podia fazer por dinheiro um cristão podia fazer pela causa do evangelho. (GREEN M., 1970, p. 14).

Não somente a contribuição romana auxiliara no progresso da evangelização naqueles primeiros séculos, onde estava sendo difundido o evangelho de Jesus, a língua também foi de suma importância, e a Grécia teve papel importante no desenvolvimento do evangelho naquele período, mesmo desde antes do nascimento do Senhor Jesus Cristo.

1.6 A Cultura e a Língua Grega

De acordo com Michael Green (1970), foram grandes e respeitáveis as contribuições da Grécia para o desenvolvimento do cristianismo em seus primórdios.
A língua grega certamente foi a mais importante para a expansão do evangelho em sua origem.
A língua grega estava tão difundida por toda a bacia do Mediterrâneo que funcionava quase como língua universal. “A Grécia conquistada subjugara seus conquistadores”, lastimou Horácio; a partir do momento que a Grécia fôra tomada pelo domínio romano, no segundo século a.C., o idioma helenista entrou em competitividade com a língua latina.
Quando Alexandre o Grande conquistou a Grécia, ele converteu o grego na língua normal do Leste mais de cem anos antes, e assim, agora o Oeste do mesmo modo foi também englobado.
Aconteceu no ano de 242 a.C. Lívio Andrônico, um escravo grego, foi conduzido a Roma, e tendo sua liberdade, ele se transformou em um educador em literatura grega e latina.
Desse momento em diante era nesse caso, natural que o ensino acadêmico em Roma fosse administrado igualmente em grego.
Eles raciocinavam em grego; e os romanos adotaram isto, e também gostavam disto. Quintílio, o proclamado catedrático do primeiro século d.C., fazia questão que as crianças principiassem estudando a língua grega.
Michael Green (1970) comenta que até mesmo os judeus, principalmente o apóstolo Paulo usava a língua grega e escrevia aos romanos latinos, na língua grega em suas epístolas:
Por isso era natural que o judeu Paulo escrevesse aos latinos de Roma em grego, ou que Irineu, nativo da Ásia Menor, escrevesse em grego enquanto executava sua obra missionária e apologética na França no segundo século. Também é interessante que o capitão romano Cláudio Lísias perguntasse em grego ao apóstolo Paulo, que ele pensava ser um bandido egípcio: “Sabes o grego?”. É difícil exagerar as vantagens de uma língua comum para a missão cristã. Isto eliminou a necessidade de escolas lingüísticas para missionários. Ao falarem grego, os missionários não eram ameaçados pelo ódio que os que falam inglês encontram em alguns países subdesenvolvidos, porque o grego, a língua de um povo subjugado, não podia ser associado com o imperialismo. Além disso, a língua era sensível e maleável, adequada de maneira ideal para a propagação de uma mensagem teológica, porque durante séculos ela tinha sido usada para expressar as reflexões de alguns dos maiores pensadores do mundo, contando assim com um vocabulário filosófico e teológico aperfeiçoado. (GREEN M., 1970, p. 15).

1.7 O Pensamento Grego

Conforme a opinião de Michael Green (1970), não se pode apartar o idioma grego do pensamento grego. Por meio dele a literatura grega foi feita compreensível aos romanos e serviu de exemplo aos seus autores.
Os seus trovadores eram os teólogos daquele momento; a população havia recebido suas opiniões sobre os deuses e de suas ações das sagas de Homero.
Do mesmo modo, a popularização da tradição teológica foi, disfarçadamente, uma autêntica elaboração para a evangelização cristã no primeiro século e seguintes.
Os pensadores da época conjeturavam sobre as barbaridades, as infidelidades, as prevaricações, as batalhas e as falsidades conferidas aos deuses, e os recriminavam.
Os cristãos não foram os primeiros a investir contra o abrasivo politeísmo antropomórfico daqueles povos. Os filósofos da Grécia prontamente os havia revelado seus falsos desígnios há muito tempo.
Michael Green (1970) esclarece como foi à técnica de ensino contra os costumes abomináveis dos deuses pelos princípios dos sofistas, e o poder que era exercido por eles sobre os indivíduos naquele tempo:
Ninguém tinha sido mais corajoso ao atacar as atitudes indignas dos deuses tradicionais do Platão, e seus ataques foram popularizados pelo ensino dos sofistas. Havia destes homens em todas as cidades principais do mundo antigo. Eles trabalhavam com toda liberdade tanto dentro das casas como ao ar livre, ensinando qualquer pessoa que lhes pagasse por isto. O Protágoras de Platão dá uma idéia da atração que estes homens exerciam, da sua habilidade e da sua superficialidade, e uma impressão da sua influência. Os sofistas gregos tinham tanto poder sobre as pessoas comuns como os pregadores da Reforma. Ao ridicularizarem os deuses eles devem ter preparado em grande parte o caminho para a mensagem cristã. Pelo menos os apologistas do segundo século edificaram sobre os fundamentos que eles haviam colocado, e usavam com freqüência as armas dos filósofos gregos para denunciar os deuses gregos. Uma lida rápida da Apologia de Aristides ou do Discurso aos Gregos de Justino mostrará como os cristãos usavam este método de ataque. Material não lhes faltava, porque não somente Platão, mas também os estóicos, os epicureus e os cínicos tinham procedido aos cristãos neste ataque. (GREEN M., 1970, p. 16).

A reflexão intransigente dos gregos e sua investigação íntegra pela veracidade os deixavam inquietos com tantos ídolos vãos que pela tradição os tinham adorado.
Comentam-se com sabedoria que não foram os gregos que se tornaram tão pervertidos ao ponto de seus deuses os terem desamparado, todavia, que os deuses se tornaram tão imorais que foram abandonados por seus adoradores gregos.
Pode-se identificar, entretanto, um movimento de separação do politeísmo no mundo greco-romano do primeiro século, (porém, é muito fácil enfatizar este acontecimento; o paganismo ainda era uma potência com que se tinha de conviver no quarto século d.C.
Pode-se conjeturar, além disso, uma severa experiência do monoteísmo. Robert Gundry (1970) comenta a respeito das formas filosóficas que surgiram ao lado do sincretismo daquela época e a atuação do cristianismo diante de tantas crenças religiosas e filosóficas:
Os entendidos no assunto estavam se voltando para formas filosóficas mais puras. O epicurismo pensava ser os prazeres (não necessariamente de ordem sexual) o sumo bem da vida. O estoicismo ensinava que a aceitação racional da própria sorte, determinava por uma Razão impessoal, que governaria o universo e da qual todos os homens fazem parte, é dever do homem. Os cínicos, antigas contrapartes dos modernos “hippies”, reputavam a virtude suprema como se fora uma vida simples e sem convenções, rejeitando a busca popular pelo conforto, pelas riquezas e pelo prestígio social. Os céticos, tendo abandonado em seu relativismo toda esperança de qualquer coisa em termos absolutos, sucumbiam ante a dúvida e a conformidade para com costumes prevalescentes. Essas e outras filosofias, entretanto, não determinavam as vidas de um grande número de pessoas. De modo geral, as superstições e o sincretismo caracterizavam as massas, pelo que também o cristianismo teve de penetrar numa sociedade religiosa e filosoficamente confusa. (GUNDRY R. H., 1970, p. 42).

A velha certeza dos primeiros gregos tinha submergido. O incompreensível universo desafiava o entendimento. A filosofia não conseguira resultado em prover soluções aceitáveis. Outro tanto acontecera às religiões clássicas.
Os homens se sentiam tímidos ante o destino dito pelas estrelas, as quais eram analisadas como seres angélico-demoníacos. Predominava um caráter de desesperança, ou ao menos, de pessimismo.
A dificuldade entre Um e vários prontamente há muito fascinara os pensadores gregos, e eles não se achavam dispostos para receber uma definição do universo que não desse um esclarecimento aceitável tanto da sua coesão como da sua heterogeneidade.
Segundo Michael Green (1970), fica transparente que o Deus exposto pelos filósofos gregos nem são inteiramente independentes, e nem tem a autoridade de ser confrontado ao Deus Criador, Redentor e pessoal da tradição judaico-cristã.
Todavia a disposição unânime em sentido a determinado tipo de monoteísmo entre os sábios pensadores daquela época (isentando os epicureus e os céticos) municiou uma praeparatio evangélica de suma estimação, da qual os cristãos não adiaram em empregar.
Admite-se que no começo os cristãos tomaram uma postura de recusa direta do paganismo.
Robert Gundry (1970) comenta sobre a grande influência que o sincretismo e superstições, o uso de magias e consultas de oráculos, dominavam a imaginação do povo romano naquele andamento:
As superstições estavam firmemente entrincheiradas nas mentes da maioria do povo do império romano. O emprego de fórmulas mágicas, consultas de horóscopo e oráculos, augúrios ou predições sobre o futuro, mediante a observação do vôo dos pássaros, os movimentos do azeite sobre a água, as circunvoluções do fígado e o uso de exorcistas profissionais (peritos na arte de expulsar demônios); todas essas práticas supersticiosas, além de muitas outras, faziam parte integrante da vida diária. Os judeus eram numerados entre os exorcistas mais avidamente procurados, em parte porque se julgava que somente eles eram capazes de pronunciar corretamente o nome magicamente potente de Yahweh (nome hebraico traduzido por “Senhor”). A pronúncia correta, juntamente com a idéia de algo secreto, segundo se pensava, seria necessária para a eficácia de qualquer encantamento. Na prática apodada de sincretismo, o povo comum simplesmente fazia a mescla de diversas crenças religiosas com práticas supersticiosas. As prateleiras para ídolos, existentes nas residências, eram atulhadas de imagens de aves, cães, crocodilos, besouros e outras criaturas. (GUNDRY R. H., 1970, p. 41).

Quem sabe Tertuliano ao recusar todo este sincretismo e paganismo apresente razão ao explicar: “O que Atenas tem a ver com Jerusalém?” e ainda indagava. “O que a Academia e a Igreja podem ter em comum?... Fora com todas as tentativas de misturar o cristianismo com elementos exóticos, platônicos e dialéticos!
Nós, que temos Jesus Cristo, não queremos debates elaborados, não precisamos discutir com ninguém, pois temos a alegria do evangelho. Temos nossa fé, e não precisamos crer em mais nada”. É fato que no início os cristãos apresentavam este caráter.
Taciano e muitos outros raciocinavam deste modo. No entanto era impraticável manter este jeito decididamente.
O pensamento grego tinha se infiltrado por todo o mundo antigo, de tal forma que não tinha como ser rejeitado com prontidão, fechando-se os olhos para não desejar contemplá-lo.
Assim sendo, pode-se conferir no Novo Testamento o apóstolo Paulo e outros missionários cristãos usando alguns subsídios apropriados e favoráveis do paganismo, para introduzir-lhes o evangelho de Jesus, Atos 17, método que foi desenvolvido com muito entusiasmo naquele primeiro século.
De acordo com Michael Green (1970), a religião judaica também foi de grande valor, não pela maneira em si de cultuar, porém, pelo fato de ter acontecido a “diáspora”, que assim sendo, foi uma das formas da difusão do evangelho, como se verá a seguir.

1.8  O Judaísmo

Mais extraordinário que a atmosfera pagã religiosa e filosófica era o judaísmo, do qual se gerou o cristianismo.
O judaísmo, semelhante como era no primeiro século, proporcionou seu início próximo do fim do tempo do Antigo Testamento, na ocasião do desterro assírio-babilônico.
Os judeus haviam se difundido para além da fronteira da Palestina bem antes do primeiro século, e difundiram sua crença para todas as nações estrangeiras e lugares aonde iam, e acabavam se estabelecendo.
A disseminação dos judeus pelo Oriente principiou com a decadência do Reino do Norte de Israel no oitavo século a.C., no tempo em que as dez “tribos perdidas” foram exiladas.
No momento helenístico a disseminação foi antecipada pela migração espontânea dos judeus para as novas cidades do Oriente Próximo especialmente para comercializarem seus produtos, e o Egito, Síria e Ásia Menor eram as províncias mais procuradas pelos judeus.
Um exemplo de dispersão encontra-se em (Atos 2), onde se menciona regiões muito diversas como Creta e Arábia, Pártia e Egito, Pérsia e Panfília, Rodes, Chipre e Cirene, de onde procederam aos peregrinos para a Festa do Pentecostes em Jerusalém.
Havia judeus espalhados por todos os lugares do mundo daquela época, com destaque para as cidades de Antioquia e a Síria.
Filo registrou que em sua época existia mais de um milhão de judeus só no Egito, por volta da época de Jesus Cristo.
E esta presença em grande quantidade de judeus aparece com clareza na Ásia menor e na Grécia e está registrada em Atos dos apóstolos.
Em Roma também tinha uma grande colônia de judeus com muitos problemas de ordem social.
Williston Walker (1967) explica que os judeus da diáspora receberam uma forte carga do helenismo, principalmente para os judeus que foram para o Egito:
O judaísmo da dispersão, por sua vez, sofreu forte influência do helenismo, especialmente da filosofia grega. Essa influência em nenhum outro lugar foi mais profunda do que no Egito. Foi na cidade egípcia de Alexandria que o Antigo Testamento foi traduzido para o grego - na versão comumente chamada de “Septuaginta” - já na época do reinado de Ptolomeu Filadelfo (285 a.C.-246). Também em Alexandria, as concepções religiosas do Antigo Testamento associaram-se aos conceitos filosóficos gregos, principalmente os platônicos e estóicos, para formar um sincretismo admirável. O mais importante desses interpretes alexandrinos foi Fílon. Para Le o antigo Testamento era o mais sábio dos livros, verdadeira revelação divina, e Moisés, o maior dos mestres. (WALKER W., 1967, p. 36).

As primeiras relações diplomáticas entre os judeus e os romanos, que se tem informação, ocorreram na época dos Macabeus.
Judas Macabeu expediu uma embaixada a Roma no ano 168 a.C., e também Jônatas Macabeu mais tarde, para constituir contatos diplomáticos amigáveis.
Com o tempo, milhares de Judeus foram movidos a Roma para a entrada triunfal de Pompeu. Todavia os romanos puderam ver que como escravos os judeus eram muito indispostos, por causa dos seus costumes religiosos estranhos, e Filo escreve que a maior parte foi alforriada da servidão.
Alguns obtiveram até o título de cidadão romano. Por eles foi constituída uma colônia no subúrbio romano de Transtevere, onde eles aumentaram e muito em número e prosperaram.
Os romanos jamais conseguiram compreender bem o povo judeu, porém, eram muito corretos e compreensivos com eles.
A convivência de judeus, prosélitos, tementes ao Senhor e outros povos também foi fato importante na preparação do caminho para o evangelho diz Michael Green (1970), a perda do “status por não ser um “judeu legítimo”.
Incomodava os judeus da dispersão, pois não conseguiam cumprir suas obrigações em alguns aspectos religiosos, principalmente na questão dos sacrifícios, pois não viviam na terra Santa, e, suas mulheres e filhos não eram de fato cidadãos completos de Israel, pelo ao menos aos olhos do judeu nacionalista.
Agora chega o cristianismo e começa a eliminar todas essas diferenças e distinções de classes sociais, e principalmente no Império Romano foi que o cristianismo se expandiu rapidamente, fora outras práticas judaicas que eram apenas ridículas para os romanos, tais como, a “circuncisão”, que era considerada como uma prática insana, que se podia esperar apenas de pessoas sectárias e selvagens e exóticas como os adeptos do culto de Cibele, mas do romanos jamais se podia esperar tal costume.
Ainda, tinha as regras alimentares que para os romanos eram inaceitável, mas, o cristianismo seguramente sustentou aquilo que ao mesmo tempo seduzia  no judaísmo para o povo Greco-romano, abolindo essas duas questões que eram “pesado” para eles.
Muitos outros fatores importantes aconteceram paralelamente com os fatos que ocorreram em Jerusalém, centro da atração mundial por todos os tempos.
É ai que Jesus instituiu Sua Igreja por meio de Sua morte “sacrificial”, “... e morte de cruz” disse o apóstolo Paulo aos gentios, mas a verdade maior foi a notícia de “Sua Ressurreição e aparecimento aos seus discípulos, mas é depois do Pentecostes e o “Derramamento do Espírito Santo” que se inicia o obra de evangelização e formação das comunidades primitivas, são os próximos passos que se poderá confirmar no próximo capítulo.

1.9  O Estoicismo

Segundo Paul Tillich (1968), os estóicos tiveram maior autoridade do que Platão e Aristóteles juntos para a existência e o futuro do velho mundo.
A vida dos indivíduos formados nesse período era modelada especialmente pelo conhecimento estóico.
Eles ensinavam que era indispensável acolher o acaso e a morte, e, o estoicismo e o cristianismo eram dois fortes concorrentes no mundo ocidental naquela ocasião.
Entretanto, o cristianismo se apropriou de várias idéias básicas do seu adversário, o estoicismo.
A primeira delas é o ensinamento do Logos, e esse coloca muitas pessoas em desesperança quando se principiam a aprofundar na história do pensamento trinitário e cristológico.
Porém, o progresso dogmático do cristianismo não se pode compreender sem ela. A palavra Logos significa “Verbo”. Porém, igualmente se menciona ao significado da palavra, à composição lógica recomendada por ele.
Conseqüentemente, Logos pode denotar do mesmo modo a lei geral do fato. Heráclito raciocinava assim. E foi ele o primeiro a utilizar essa adjacência filosoficamente.
Para ele, Logos era a lei decisiva dos desenvolvimentos da realidade.
Paul Tillich (1968) explica o pensamento dos gregos estóicos:
Para os estóicos Logos era o poder divino presente na realidade toda. Observemos, a seguir, três aspectos desse pensamento, muito importantes nos desenvolvimentos doutrinários posteriores. O primeiro é a lei da natureza. Logos é o princípio determinante do movimento de todas as coisas. É a semente divina, o poder divina criador, que faz com que as coisas sejam o que são. E é o poder criativo do movimento de todas as coisas. Em segundo lugar, Logos significa lei moral. Podemos chamá-la, com Kant, de “razão prática”, a lei inata em todos os seres humanos que se aceitam como personalidade, com a dignidade e a grandeza do ser humano. Ao lermos a expressão “lei natural” em obras clássicas, não devemos confundi-las com leis físicas, mas entendê-las como lei moral. Em terceiro lugar, Logos também significa a capacidade humana de reconhecer a realidade. É o que se pode chamar de “razão teórica”. Trata-se da capacidade humana da razão. Tendo o Logos em si, o homem pode descobri-lo também na natureza e na história. Para o estoicismo, decorre daí a idéia de que os seres humanos determinados pela lei natural, pelo Logos, tornam-se logikos, sábios. (TILLICH P., 1968, pgs. 22-23).

Os estóicos, não criam que todos os indivíduos fossem sábios, e acreditavam ainda, que poucos homens tivessem a capacidade de conseguir essa exelência.
Para eles a maior parte da sociedade não passava de indivíduos néscios que, em certas ocasiões eles permaneciam em disposição intermediária entre esses e os sábios.
O estoicismo revelava um pessimismo básico com deferência da maior parte dos homens.
Desde sua origem, os estóicos eram gregos. Logo apareceram também estóicos romanos.
Dentre os estóicos mais conhecidos, conta-se com importantes imperadores romanos, como, Marco Aurélio. Era aplicado o conceito de Logos à situação política sob sua responsabilidade.
A lei natural significava que todos os seres humanos participam na razão em virtude desse simples fato de serem humanos. A partir desse princípio criaram leis muito superiores às muitas encontradas na Idade Média Cristã.

 CAPÍTULO II
OS OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO

2.1 Evangelização Apostólica

Avaliando os benefícios evidentes de que os cristãos puderam desfrutar quando deu início a sua incumbência, não se pode desdenhar a grandeza da obra desses primeiros apóstolos da Igreja primitiva afirma Michael Green (1970).
Quem nunca viveu em algum lugar totalmente pagão, e que foi evangelizado do paganismo e tornou-se cristão, não pode imaginar o tamanho dos obstáculos que a religião, vícios, hábitos e mesmo laissez-faire “pegando fogo” significava, conseqüentemente, para o cristianismo.
E também, muitos apreciadores e até mesmo muitas pessoas asseguram que para os cristãos da Igreja primitiva era muito mais simples evangelizar os seus cidadãos do que na atualidade.
Naquela época era muito difícil essa missão, pois suas condições eram comprometedoras.
Michael Green (1970) deixa o seu comentário sobre quais eram as condições que enfrentavam os primeiros evangelistas:
Não tem nenhum, sentido tentar comparar a dificuldade de pregar o evangelho em épocas diferentes, mas sem dúvida fazê-lo nas condições e circunstâncias do primeiro século era difícil. Onde quer que fossem os cristãos eram chamados anti-sociais ateus e depravados. Sua mensagem anunciava um criminoso crucificado, e nada pior pode ser imaginado para conseguir convertidos. Para os gregos esta história mostrava como a nova fé era ridícula, para os romanos era fraca e ineficaz, e os judeus não podiam engoli-la de forma alguma. Os cristãos ofendiam tanto os judeus como gentios, tanto com suas doutrinas como com o comportamento que lhes era atribuído. Tudo isto eles tinham de suportar se quisessem ganhar uma pessoa que fosse para Jesus Cristo. (GREEN M., 1970, p. 31).

Segundo W. Walker (1967), a sociedade cristã de Jerusalém desenvolveu-se muito rápido, e do mesmo modo começou bem nos seus inícios a incluir os judeus da diáspora, e igualmente os naturais da Judéia e da Galiléia, e também vários sacerdotes hebreus.
O nome de “Igreja” foi aceito pelo grupo cristão logo de início. “Seu significado era em sua formação possivelmente reunião” empregada para caracterizar entre a congregação dos cristãos, indivíduos que receberam Jesus em suas vidas e aceitavam-no como o Messias, com os judaizantes que os rejeitavam e recusavam também o Messias dos cristãos.
O livro de Atos dos Apóstolos deixa claro que houve, desde o início, uma forte Igreja em Jerusalém. Porém, depois dos primeiros capítulos, esse mesmo livro quase nada se comenta sobre aquela primeira comunidade cristã original.

2.2 Obstáculos Judeus ao Evangelho de Jesus

Jamais foi fácil alcançar adeptos judeus para o cristianismo, antes foi assim no início da Igreja Cristã, mesmo tendo o cristianismo nascido dentro do judaísmo.
Um dos primeiros e difíceis problemas foram os apóstolos de Jesus descobrir que eles não eram nada, e ninguém. Não eram sacerdotes, não estudaram em uma faculdade da época, ou “aos pés de Gamaliel”, Atos 22:3, não tinham qualquer gênese rabínica, e mesmo assim estavam buscando ratificar a teologia e a fé, práticas religiosas, de guias religiosos profissionais que tiveram ensinos superiores para o seu oficio.
E, além disso, eram homens letrados, emissários de uma ciência oral que alegavam recuar até o tempo de Moisés. Sabe-se que o sumo sacerdote tratou os apóstolos com um misto de nota e pesar, como “homens iletrados e incultos”.
Mas estes homens sem cultura começaram a atrair uma multidão de pessoas e também alguns dos sacerdotes, e a enfadar os principais dos chefes religiosos, incriminando-lhes de homicídio judicial.
Para esses sacerdotes e para o sumo sacerdócio este movimento ameaçador tinha que ser erradicado em sua fonte. Foi assim, que ficou evidenciado ser impossível, não tinha como eliminar os cristãos e o cristianismo.
Desta forma foi necessário os judeus tratarem deste assunto com diálogos sobre a mensagem pregada pelos apóstolos sobre o evangelho de Jesus.
Quase que cada item dele era completamente contra o pensamento religioso e uma verdadeira ofensa contra o judaísmo. Os cristãos asseguravam em primeiro e indispensável lugar, que Jesus Cristo era o Messias, a questão fundamental de toda a promessa de Israel.
Não se sabe se Jesus sobrepôs o termo Messias a si próprio, contudo, não se pode ter suspeitas de que ele foi executado com morte de cruz por se apresentar como o Messias, e que depois de sua morte e “ressurreição”, os seus discípulos principiaram firmemente a pregá-Lo como o Messias.
Pode-se examinar em Atos 2:36, que ali se sintetiza o teor de muitas pregações da Igreja primitiva.
Michael Green (1970) comenta este acontecimento renunciado pelos os judeus religiosos do primeiro século, ser Jesus o Messias ou um impostor:
“Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que este Jesus que vós crucificastes Deus o fez Senhor e Cristo”. Esta ênfase em que Jesus era o Messias era tão central, que em poucos anos “Cristo” (a tradução grega do termo Messias) tinha deixado de designar a função de Jesus para tornar-se uma espécie de sobrenome. Acontece que tudo isto escandalizava de maneira especial aos judeus. Não era fácil imaginar um mestre-carpinteiro como ponto culminante do desenvolvimento de Israel. Não era fácil entender que alguém tão recente encarnasse uma sabedoria maior do que a de Moisés, de tanto tempo passado. Não era fácil crer que um rabino não ordenado, que não raras vezes entrava em conflito com os opositores oficiais da Torá. Pudesse ser o mestre de Israel indicado por Deus. É por isso que durante sua vida tão poucos religiosos creram nele. Porém após sua execução não era mais difícil: era absurdo crer que ele fosse o Messias. O Messias por definição era libertador e conquistador. (GREEN M., 1970, pgs 32-33).

Venerar o Messias pregado na cruz era uma blasfêmia para os judeus. No Antigo Testamento era claro que qualquer indivíduo que fosse suspenso no madeiro estava debaixo da maldição de Deus.
Como era admissível ser o Escolhido de Deus ser pregado em lugar de maldição? Sabe-se que esta questão tornou-se quase que insuperável para os judeus.
Para os apóstolos de Cristo, a doutrina do Messias crucificado era uma pedra de tropeço enorme, até que puderam entender o seu significado profundo. Entretanto para muitos dos judeus a questão teve continuidade.
Justino precisou lidar com esta questão por muito tempo em seu diálogo com o judeu Trifo: “Pode estar certo”, retrucou Trifo, como explica Green:
que todo o nosso povo espera por Cristo. E nós admitimos que todas as passagens da Escritura que você mencionou se referem a ele. Mas temos dúvidas quanto a se o Cristo deveria ser crucificado e maneira tão vergonhosa. Porque a Lei diz que qualquer crucificado é maldito, e neste ponto eu sou totalmente incrédulo. É verdade que as Escrituras predizem que o Cristo teria de sofrer; mas queremos que você nos prove que teria que ser pelo sofrimento considerado maldito pela Lei (GREEN M., 1970, pgs 32-33).


Este era um dos principais problemas enfrentado pelos discípulos ou dos cristãos que desejassem alcançar almas convertidas entre o povo judeu, era um problema difícil que eles precisavam resolver.

2.3 A Crucificação de Cristo

Segundo Georg Kümmel (1969), a abrangência do conhecimento de Jesus, originada da fé naquele que ressuscitou não apenas fez com que a declaração a Jesus como Filho de Deus ingressasse no conhecimento de Jesus.
Todavia, era muito importante que os cristãos se aplicassem por entender, a começar pela pretensão de Deus, especialmente igualmente o acontecimento mais misterioso da existência de Jesus, sua morte na cruz. O procedimento de fé da Igreja primitiva comunicada pelo apóstolo Paulo prontamente pronunciava: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras”, I Co 15:3.
Do mesmo modo é muito admissível que igualmente o ditado: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar vida em resgate por muitos”, Mc 10:45, tenha sido estabelecido na sociedade palestinense.
A seguir a Igreja primitiva compreendeu a morte de Jesus como expiação vicária da culpabilidade do ser humano e, assim sendo, como execução de promessas do Antigo Testamento.
Georg Kümmel (1969) esclarece o aparecimento dessa tradição sobre a morte vicária de Cristo na comunidade primitiva:
Recentemente houve muita discussão a respeito de como surgiu essa afirmação de fé. Com bons argumentos foi tanto afirmado como negado que essa fé no efeito salvívico da morte de Cristo se originou mediante a atribuição das declarações sobre o sofrimento vicário do Servo de Deus, em Isaías 53, a Jesus. É bem verdade que não há argumentos filológicos que provam obrigatoriamente que nas frases I Co 15:3; e Mc 10:45 par., muito provavelmente formuladas pela comunidade primitiva, se registra uma influência  desse capítulo de Isaías. Por isso não pode ser excluída a possibilidade de que os primeiros cristãos reconheceram inicialmente que a morte de Cristo correspondia à vontade salvívica de Deus e estava prenunciada no Antigo Testamento, sem que com isso pretendessem ou pudessem recorrer a textos determinados do Antigo Testamento. Contudo, se nos conscientizarmos de que os primeiros cristãos “compreenderam não somente a ressurreição, mas também a morte de Jesus na cruz num sentido messiânico”, e de que eles “não tinham possibilidade de recorrer a uma imagem pronta do Messias sofredor, para transferi-la simplesmente a Jesus”. (KÜMMEL W. G., 1969., pgs. 132-133).

Então, é possível que os primeiros cristãos notassem que Isaías 53 se referia sobre a morte do Messias ressurreto, Jesus, como uma “morte pelas nossas iniqüidades” e “para muitos” (v. 5s. 12).
Começando por este texto, fizeram uma interpretação dessa morte como sendo a vontade de Deus e como sacrifício em favor dos pecados da humanidade.
Chegando a essa conclusão, torna-se ainda mais aceitável quando se avalia a manifestação das palavras do cálice na narração da última ceia de Jesus no evangelho de Marcos (Mc 14:24).     
Mostrou-se acima que foi o apóstolo Paulo quem seguramente comunicou as palavras do cálice na forma mais antiga e que o texto de Marcos estabelece uma modificação e diverge completamente de Paulo e Lucas. Nele se lê: “Isto é o meu sangue da aliança, derramado em favor de muitos”.
Essa modificação depende claramente da narração do padecente Servo de Deus em Isaías 53, por usar a idéia do derramamento do sangue, e da morte vicária “em favor de muitos”.
Em outros termos, estabelece-se nesse texto visivelmente a explicação da morte de Cristo, atingida vicariamente pelos “muitos” que é igual “pela humanidade”, em relação à distinção da aflição do Servo de Deus.
Resta uma suspeita para ter ciência se este fato sucedeu na sociedade palestinense posteriormente, no cristianismo-judaico helenista, fora da Palestina.
Seguramente é complicado determinar essa tese com certeza, entretanto, por causa do pensamento do “beber do sangue” é mais razoável que a alteração da palavra do cálice foi obtida apenas no cristianismo-judaico helenista.
Seja a determinação qualquer que possa chegar a ser, não se pode ter suspeita de que a Igreja primitiva se sentiu forçada desde o começo a tornar inteligível a morte do Messias a partir de sua prova de que ele fora ressuscitado por Deus.
E é conhecido que essa morte se tornou compreensível para a Igreja primitiva como obra salvívica de Deus para anular todos os pecados do homem que crer no sacrifício e ressurreição de Cristo.
Para aqueles que se acostumaram a conceber o libertador que surgiria como o Servo Sofredor, os cristãos proporcionavam um assunto bastante persuasivo.
O Libertador se adequava em cada minúcia das expressões ditas pelo profeta Isaías a respeito do Servo, o que não acontecia na comunidade de Qumran.
Até que finalmente surgiu uma pessoa que não tinha pecados, completamente sem iniqüidade, distinto da “casa de santidade de Israel, o grupo dos santos dos santos de Arão”, que os da Aliança afirmavam pertencer.
Michael Green (1970) comenta a situação da expiação sem a vinda do Servo de Deus e a sua condição quando Jesus passou pelo seu martírio e que principiou um sacrifício com eficácia eterna e perfeita:
Finalmente havia alguém que podia “expiar a terra e dar aos perversos sua recompensa” de uma maneira que uma simples comunidade mártir não podia; na verdade a morte deles não podia expiar melhor os pecados do que os sacrifícios de Arão. A mesma coisa podia ser dita acerca da remoção da impureza cerimonial, que não atingia alguém que “pecara com a mão levantada”. Escárnio intencional de Deus não tinha perdão, no entender dos judeus. Mas a morte voluntária de Jesus era diferente: era nada menos que o Filho de Deus oferecendo a si mesmo, e a eficácia disto era eterna e perfeita. Filipe o evangelista tinha certeza de que Isaías falava de Jesus. Ele era o único que cumpria Isaías 53, que fora tão imaculado que “nunca fez injustiça, nem dolo algum achou em sua boca”, tão paciente (em contraste com os eremitas guerreiros de Qumran) que, “quando ultrajado, não revidou com ultraje”. Ele foi martirizado, como alguns da aliança e dos macabeus, mas, “ quando maltratado não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente”; neste aspecto ele era totalmente diferente, pois “carregou ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados... por suas chagas fostes sarados”. (GREEN M., 1970, pgs. 109-110).





2.4  A Morte de Cristo

Os cristãos entendendo o que Isaías havia dito sobre o Servo Sofredor, compreenderam que o Messias tinha de sofrer. Assim muitos judeus honestos admitiram isto.
Assim concorda Trifo, que depois de receber uma boa dose de conhecimento destes versículos de Justino: “Fica claro que as Escrituras anunciam que o Cristo deveria sofrer... Sabemos que ele teria de sofrer e ser conduzido como uma ovelha”. Até aqui houve acordo.
A polêmica começou com a forma de como Jesus Cristo foi executado, a crucificação. Trifo representa todos os judeus ao proclamar sua contradição: “Prove-nos que ele tinha de ser crucificado e morrer de forma tão cruel, desgraçada e desonrosa a morte maldita mencionada na Lei. Nós nem, podemos pensar nisto”.
Tinha dois temas especiais que eram difíceis de entender.
1 - Uma morte deste jeito expressava ser “pedra de tropeço”, pois, proporcionava uma impressão de fraqueza do duvidoso Messias. É conhecido de como os cristãos contestavam a esta contradição. Bem longe de ser um sinal de fraqueza, a cruz era a soberana revelação de poder na existência de Jesus.
Foi na cruz que o Senhor Jesus se deparou e sobrepujou as forças do mal, ali ele reinou do madeiro e, derrotou totalmente todo o mal. Para o apóstolo Paulo a cruz é o poder de Deus, foi nela que Jesus “arrebatou o poder dos governos e dos domínios espirituais.
Jesus fez destes domínios um contemplação pública, levando-os cativo no seu desfilo de triunfo”. Entretanto, a demonstração suprema de que a cruz era vitória e não derrota foi à ressurreição.
John Stott explica a questão do símbolo da cruz que foi usado e também rejeitado durante os primeiros séculos da era de Cristo:
O Cristianismo, portanto, não é exceção quanto a possuir um símbolo visual. Todavia, a cruz não foi o primeiro. Por causa das selvagens acusações dirigidas contras os cristãos, e da perseguição a que estes foram submetidos, eles tiveram de “ser muito circunspectos e evitar ostentar sua religião. Assim a cruz, agora símbolo universal do Cristianismo, a princípio foi evitada, não somente por causa da sua associação direta com Cristo, mas também em virtude de sua associação vergonhosa com a execução de um criminoso comum”. Mas, pelo contrário, o símbolo comum foi uma simples cruz. Seus dois braços já simbolizavam, desde a remota antiguidade, os eixos entre o céu e a terra. Mas a escolha dos cristãos possuía uma explicação mais específica. Desejava comemorar, como centro da compreensão que tinham de Jesus, não o seu nascimento nem a sua juventude, nem o seu ensino nem o seu serviço, nem a sua ressurreição nem o seu reino, nem sua dádiva do Espírito, mas a sua morte e  crucificação. (STOTT J., 1986 pgs. 14-15).

É certo que os primeiros cristãos perseguidos, não só desenhavam, pintavam e gravavam a cruz como símbolo aparente de sua fé, mas também faziam o sinal da cruz em si mesmo ou nos outros. Uma das primeiras testemunhas dessa prática foi Tertuliano.
Na cruz, Deus vingou se Servo sofredor exaltando-O ao lugar mais alto do universo, em consideração a sua lealdade até a morte, e morte de cruz; em decorrência ele tinha todo o direito ao título de Kyrios, Senhor. De forma alguma a crucificação era um sinal de que Jesus era fraco e fracassado.
2 - A outra contradição dos judeus a opinião de que o Messias poderia ter perecido em uma cruz estava na declaração do Antigo Testamento de que um homem que tivesse seu corpo dependurado em um madeiro caía sob o opróbrio de Deus.
Como poderia ser maldito o Messias? Esta questão os discípulos de Jesus tiveram que enfrentar desde o começo de sua missão, e é certo que desde o princípio eles precisaram buscar uma passagem para a réplica.
Tanto o apóstolo Pedro como Paulo pregavam que Jesus que foi crucificado, no madeiro, de alguma maneira era realmente o Salvador da humanidade. Sua morte ali naquela cruz havia obtido a libertação do pecado almejada pelo Antigo Testamento.
Ainda não havia uma teologia lógica; porém eles tinham certeza de que a cruz tinha alguma coisa a ver com a iniqüidade, e que a ressurreição de Jesus, que os judeus não tinham como recusar, divulgava que a maldição havia sido suspensa.
John Stott (1986) explica sobre a questão da morte sacrificial de Cristo e suas interpretações iniciais:
A interpretação da morte de Cristo como um sacrifício está implantada em todos os ensinos importantes do Novo Testamento. Faz-se menção a ele em muitos lugares. Às vezes a referência é direta, como na afirmação de Paulo de que Cristo “se entregou a si mesmo por nós, como oferta (prosphora) e sacrifício (thisia) a Deus” (Efésios 5:2). Em outras passagens a alusão é menos direta, simplesmente que Cristo “se entregou a si mesmo” (e.g. Gálatas 1:4) ou “a si mesmo se ofereceu” (e.g. Hebreus 9:14) por nós, mas o contexto ainda é o do sistema sacrificial do Antigo Testamento. Em particular, a observação de que ele morreu “no tocante ao pecado” ou “pelos pecados” (e.g. Romanos 8:3, e I Pedro 3:18) toma emprestada a tradução grega de “oferta pelo pecado” (Peri hamartias). Deveras, a carta aos Hebreus retrata o sacrifício de Jesus Cristo como tendo cumprido perfeitamente as “sombras” do Antigo Testamento. Pois ele se sacrificou a si mesmo (não a animais), de uma vez por todas (não repetidamente, e assim assegurou-nos não apenas a purificação cerimonial e a restauração à comunidade da aliança, mas também a purificação de nossa consciência e a restauração à comunhão com o Deus vivo. (STOTT J., 1986, pg. 121).

O apóstolo Paulo explica que Jesus sofreu no lugar maldito, mas que na realidade o lugar de maldição era nosso, pois, invalidamos a Lei de Deus e fizemos por merecer a ira judicial: “Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da Lei, para praticá-las”.
Esta foi à situação que levou Jesus para a cruz em nosso lugar. “Cristo nos resgatou da maldição da Lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”, Gálatas 3:10-13.
Esta resposta foi certamente o padrão para continuar respondendo à objeção dos judeus de que a morte na cruz mostrava que Jesus estava sob a maldição de Deus.
Foi o experimento do episódio divino da ressurreição de Jesus Cristo que induziu a que se entendesse a morte de Jesus Cristo como consumada em benefício dos nossos pecados, de acordo com o teólogo Werner Georg Kümmel (1969).

2.5  A Igreja Como Pedra de Tropeço

No momento em que a Igreja primitiva estava nascendo, ela também despertava aos novos convertidos reações bastante apaixonadas, mas também, a eclesiologia apresentava uma forma muito provocadora.
O tipo de pregação dos primeiros apóstolos deixava os judeus confusos e loucos ao ponto de executar apedrejado a Estevão um dos primeiros evangelistas daquele primeiro século da Igreja primitiva, dando assim também o início as primeiras perseguições aos cristãos, organizadas pelos judeus contrários ao cristianismo.
Isto foi acontecimento não muito antes dos cristãos principiarem a falar que a Lei pesava demais sobre qualquer indivíduo.
Não havia diferença qual comida a ser engolida; Deus não se incomodava com estas ocorrências. O que mais agravou a perseguição aos cristãos primitivos foi terem abandonado o sagrado cerimonial da circuncisão; se se levar em consideração que o judaísmo dava a Lei um lugar quase que divino, fica mais admissível entender que qualquer redução, mesmo na parte ritual, fatalmente os tornaria agressivos.
Pois, o sinal do povo de Deus recebido de Moisés, de Abraão, foi ressachado, lançado fora pelos cristãos. Até mesmo os bárbaros os gregos e outros povos agora podiam fazer parte do povo santo, sem ter que passar pela contrição dolente subentendida na operação característica da impudência dos gentios na circuncisão.
Para os judeus isto era meramente inadmissível, aterrorizante. Michael Green (1970) explica um pouco dessa transição agora apresentando um novo Deus, nascido de mulher, de uma virgem, e ainda executado na cruz:
No lugar da devoção à antiqüíssima Torá de Deus o novo culto ensinava a adoração de um segundo Deus, nascido de uma virgem e executado como criminoso. No lugar do sábado o primeiro dia da semana foi separado para o culto e chamado atrevidamente de Dia do Senhor - como se Deus não tivesse separado de maneira especial o sétimo dia.  Como este tipo de pessoas, que desobedeciam tão descaradamente os mandamentos de Deus, podia afirmar representá-lo? (GREEN M., 1970, p. 35).

O que repercutia no judaísmo com analogia a isto pode se compreender melhor quando se interpreta a primeira denúncia feita por Trifo alçada contra os cristãos como apresenta Michael Green (1970):
“O que nos deixa mais perplexos é que vocês, que dizem que são piedosos e se acham melhores que os outros, não se separam nem um pouco deles, não levam uma vida diferente dos povos, não comemoram as festas nem os sábados, e não praticam o rito da circuncisão. E, ainda mais, vocês põem sua confiança em um homem que foi crucificado, e esperam obter algo de bom de Deus, enquanto não obedecem a seus mandamentos. Vocês não leram que a alma daquele que não foi circuncidado ao oitavo dia será eliminado do seu povo?”. (GREEN M., 1970, PG. 35).

Segundo Michael Green (1970), a crença judaica jamais foi monolítica. O judaísmo no mundo tinha tolerância sobre muitas multiplicidades de religião e prática.
No começo parecia que os judeus não se sentiam incomodados com as sinagogas dos Nazarenos que faziam suas reuniões à parte.
Isto já era um hábito entre muitas sinagogas desenvolvidas ao redor de uma particularidade característica.
Entretanto, quanto mais recebiam conhecimentos sobre o cristianismo, mais intenso lhes era que a nova crença era inteiramente inconciliável com a religião judaica, e era necessário desarraigá-la até a sua procedência.
Isto acabou resultando em perseguições escritas nos Atos dos Apóstolos, à medida que as boas novas eram disseminadas nas sinagogas pelos primeiros evangelistas.
Na perseguição aos cristãos pelos judeus em Jerusalém no tempo do jovem mártir Estevão, em Damasco por Saulo de Tarso, nas cidades da Ásia Menor no tempo do Apocalipse, e na morte de Policarpo na fogueira, depois do procônsul ser provocado pelos judeus.
Isto era de forma impecavelmente inteligível, pois, não estava em tese a heterodoxia deles, contudo os cristãos estabeleciam uma forte intimidação, pois ocasionavam conflitos onde quer que chegassem.
A existência dos judeus já estava muito problemática em uma atmosfera pagã sem irritações gratuitas deste tipo.
Por que ser advertidos pelos cristãos que ameaçavam e perturbavam a paz? Georg Kümmel (1969) explica algumas das diferenças da prática religiosa que levou a separação da Comunidade primitiva judaica cristã da religiosidade dos israelitas naquele período e sua distinção por causa da experiência escatológica:
Essa autocompreensão da comunidade primitiva implica que, por mais naturalmente que ela tenha permanecido no contexto da vida nomística e da prática religiosa judaica, a comunidade sabia que se distinguia fundamentalmente do judaísmo que a cercava, por ser a nova comunidade de Deus, e que estava incumbida de chamar todos a aderirem a essa nova comunidade. Tal atitude fundamental, no entanto, muito em breve trouxe consigo que os membros da comunidade primitiva se distinguissem também visivelmente dos demais judeus. A diferença resultou primeiramente de que na comunidade primitiva se experimentava o poder ativo do Espírito escatológico. Tal convicção e a experiência da atuação do Espírito de Deus na comunidade toda dos crentes em Cristo forçosamente tinham de provocar uma separação mais ou menos visível entre a comunidade de Cristo e os demais judeus. (KÜMMEL W. G., 1979, pgs. 148-149).

Os judeus renegariam fortemente os cristãos. Eles verdadeiramente os denunciariam em seus cultos públicos. Havia um imenso abismo entre a Igreja cristã primitiva e a Sinagoga e isto eram intransponíveis.
2.6  Limites Greco-Romanos ao Evangelho

Deve-se ter em mente que houve muitos fatores ocorridos, para se abranger as dificuldades que a evangelização precisou vencer entre os pagãos nos primeiros tempos e períodos do Império romano.
A primeira aparência é religiosa. Os romanos exerciam uma separação imprescindível entre religio e superstitio. Religio era a crença oficial romana; era a vinculação ritual entre os indivíduos e as divindades.
No episódio de Roma idealizava-se a genealogia disto como um contrato entre Numa, o primeiro sacerdote-rei de Roma, e Júpiter, rei dos deuses.
Segundo os termos deste acordo o deus ficava incumbido pela segurança e também pela evolução de Roma, e o Estado ficava designado de suprir às precisões do deus por meio de holocaustos e reverência. Assim era consolidado o pacto. Não havia necessidade das pessoas crerem nos deuses da antiguidade.
A crença em si, era um assunto reservado. Mas, esperava-se que as pessoas tomassem parte dos cultos oficiais, pois, a veneração era um assunto público, do qual estava sujeito a segurança do Estado.
Acreditar não era assim tão essencial, porém, os holocaustos e os rituais tinham obrigação de continuar com a participação do povo no culto dos deuses.
Os romanos sempre evidenciaram uma intensa consideração pelas religiões estrangeiras. Jamais fizeram guerra contra algum deus.
Até mesmo arriscaram coligar os deuses de outros povos com algum de seus deuses que tivessem a capacidade de desempenhar os mesmos papéis e, quando não tinha nenhum pretendente evidente, com facilidade sobrepunham o deus em tese ao seu panteão.
Este mútuo prestígio diferenciava a maneira dos romanos e dos povos imigrantes com afinidade aos deuses de cada um, e assim funcionou impecavelmente até eles depararem com os judeus.
Os judeus não concordavam em deixar que Javé fosse posto no panteão romano, pois eram monoteístas exclusivos, jamais eles concordariam deixar seu Deus ser aconchegado com Júpiter.
Javé era o Deus de toda a terra, e os judeus só adoravam a Ele. Mas, para os romanos este tipo de atitude não passava de extravagante e estreita, porém, eles eram um povo experimentado, que se adequavam e tinham tolerância quando se tratava de religião, como do mesmo modo em outras demais coisas.
Michael Green (1970) esclarece como era o procedimento dos romanos com respeito à religiosidade dos judeus:
Eles permitiram aos judeus ser uma exceção e adorar Deus á sua maneira, desde que orassem pelo Estado romano. As coisas ficaram mais tensas entre eles à medida que o tempo passava e, depois da queda de Jerusalém, no ano 70 d.C., o imposto do templo, pago pelos judeus da dispersão, foi destinado a Júpiter Capitolinus, e os judeus acabaram sendo o único povo do império que era taxado por sua religião. Mas ainda não eram perseguidos por causa da sua fé. (GREEN M., 1970, p. 38).

Segundo Green (1970), os romanos tiveram tolerância com os judeus, entretanto, eles se voltaram contras os cristãos, e não estendeu sua tolerância religiosa a essa nova fé, o cristianismo.
Havia uma diferença, e ela estava entre religio e superstitio citada acima.
O cristianismo não se apresentava como religio, e não tinha como ser descrito como uma conexão entre os romanos e seu deus.
O cristianismo era uma fé compreensiva que incluía pessoas de todos os povos, origens e raças, tanto civilizada como bárbaros.
Era superstitio, uma religião e crença particular, tendo sua existência ainda muito recente, e que tinha necessidade de ser julgada em seus méritos, assim como a outras superstitiones.
O caráter dos romanos em relação às persuasões religiosas reservadas, supertitiones, igualmente era bastante condescendente, desde que o culto em questão não viesse atentar contra a compostura e a ordem.
A sociedade Greco-romana olhava de cima para baixo para as crenças de enigmas orientais, pois as castas doutas as titulavam de proletárias e “entusiastas”; entretanto não havia nenhum tipo de proibição sobre elas.
Certamente algumas de suas revelações selvagens tivessem de ser romanizadas. Por isso o culto a Cibele foi tornado mais acessível durante o império de Cláudio proibindo-se a emasculação de seus sacerdotes, o que havia pasmado romanos sentimentais como Catulo e Lucrécio.
Dali por diante o sumo sacerdote, o archigallus, tinha de ser cidadão romano e não podia ser mais um eunuco.
Green (1970) comenta sobre algumas proibições determinadas pelos romanos por causa do procedimento apresentado por seus sacerdotes:
Outros cultos eram proibidos temporariamente, se seu comportamento o exigisse. Um caso notório foi Paulina, uma senhora romana distinta no tempo de Tibério, que foi violada por um admirador durante uma festa ao deus Anúbis no templo de Ísis. Isso não podia ser tolerado, apesar de o culto de Ísis ter um número considerável de adeptos em Roma. Tibério mandou crucificar os sacerdotes envolvidos no caso, destruir o templo e jogar a imagem da deusa no Tibre. Porém a ira oficial não foi despertada pelo culto de Ísis em si, mas pelos seus desmandos. O culto sobreviveu a este revés e continuou florescendo. (GREEN M., 1970, p. 38).

Existia, até então, um tipo de superstitiones que os romanos não admitiam: os que insinuavam fundamentalmente em conduta anti-social ou delinqüente.
Sendo assim, o Senado determinou acabar com os cultos de devassidões e bacanais desde o ano 186 a.C. por causa dos descomedimentos que existiam nessas orgias, e também pelo intenso detrimento que a religião romana estava tomando por causa dessa religião estrangeira e seus cultos.
Foi estabelecido por Tibério que toda forma de magia era crime, com penas previstas na lei, e isto incluía igualmente toda forma, prática e noção da magia negra.
Era certo que isto se aplicava a quem possuísse o conhecimento da mágica e fizesse uso dela. Mais outro exemplo que passou por proibição de superstitio foram os druidas.
Eles eram ferozmente anti-romanos, e era de conhecimento de todos que os druidas faziam sacrifícios com seres humanos. Por isso eles foram muito perseguidos.
No santuário de Augusto nenhum cidadão romano podia ser um druida e nem compartilhar de seus cultos. Tibério exterminou com seus sacerdotes, e Cláudio desarraigou todo o culto. Pelo menos na pressuposição. O método não foi tão conciso.
O culto de Baco floreou nos primeiros séculos d.C., e nas paredes de Pompéia foram descobertas representações de libertinagens bacanais. A magia prosseguiu sendo praticada em grande escala, e encontraram-se muitas alusões a ela no Asno de Ouro de Apuleio, do segundo século.
Quanto aos druidas, eles permaneciam muito ocupados estabelecendo revoltas na Germânia aproximadamente um quarto de século depois da morte de Cláudio. Aconteceu fato parecido com os cristãos.
No ano de 64 d.C. os cristãos foram acusados de incendiarem Roma e foram torturados com crueldade nos jardins de Nero. Passaram a ser considerados como membros de um grupo de criminosos anti-social, e assim, sempre recebiam ações punitivas oficiais.
Isto acontecia esporadicamente, porém Roma não obteve sucesso em querer eliminar o cristianismo como os outros três cultos proibidos que foram perseguidos fortemente pelos romanos.
Entretanto, dificilmente deve ter ajudado a causa do evangelho no mundo romano o fato de que ele era pregado por pessoas cuja fé os tornava possíveis de perseguição.
Depois de trinta anos de fundação do cristianismo, a nova fé daquela época, associar-se ao cristianismo era considerado buscar para si o martírio.

2.7  Fatores que Colaboraram Com os Cristãos

Houve três fatores que se uniram para dar ao cristianismo espaço para expandir.
Os romanos não aplicavam regras rígidas e difíceis quanto aos governos das províncias. Cabia ao procônsul ou ao procurador que governava a província administrar a justiça além-mar, e ele não era obrigado a prestar contas em Roma, nem a se prender aos costumes romanos.
Ainda, nem mesmo em Roma tinha um procedimento específico no tratamento da maioria dos crimes. Em todo caso os crimes religiosos não estavam no ordo e, por isso, eram solucionados pelo magistrado a seu critério. “eles pronunciavam justiça baseados em sua cognitio pessoal, e decidiam que castigo aplicar”.
Isto queria dizer que não existia uma lei que proibisse o cristianismo em todo o Império, e não tinha um procedimento uniforme para tratar com eles.
Plínio tinha liberdade de usar seu posto oficial para tomar conhecimento dos cristãos; igualmente Gálio poderia usar o seu posto para se negar a ouvir a questão.
O assunto permanecia completamente ao seu critério. Esta é uma das razões porque, por exemplo, Tertuliano dirige seu pedido a Scápula, procônsul da África, e não ao imperador. Permanecia dentro do arbitrium do governador dar uma solução ao caso em questão.
Nas províncias apenas o procônsul possuía o poder para julgar casos e pronunciar as sentenças de morte aos acusados.
Porém, ele não podia delegar esta autoridade a ninguém, mesmo possuindo direito de escolher um grupo de homens do lugar para ajudá-lo na administração da justiça.
O procedimento oficial da lei romana favorecia os cristãos.
Não existia um promotor público. Todas as acusações deveriam ser feitas e sustentadas por um acusador particular. Apresentar uma acusação diante de um procônsul era algo extremamente sério.
Se no caso ficasse comprovado ser uma acusação falsa, penas pesadas poderiam ser infligidas.
Estes fatores unidos protegeram a maior parte dos cristãos durante o tempo suficiente para o estabelecimento da Igreja cristã por toda a extensão do Império.
Green (1970) esclarece alguns pontos que eram conflitantes que envolviam judeus e cristãos:
Por um lado os cristãos muitas vezes eram confundidos com os judeus, de onde eles tinham surgido, e que eram protegidos oficialmente pelo Estado. É quase certo que os tumultos no bairro judeu mencionados por Suetônio no tempo de Cláudio impulsore Cresto na verdade resultaram da crescente autoconfiança dos judeus cristãos de Roma. A denúncia ríspida de Cláudio de que os tumultos em Alexandria eram devidos à chegada de judeus do Egito e da Síria pode bem refletir uma confusão entre cristianismo e judaísmo. A gente pode pensar que o incêndio de Roma demonstra uma distinção clara entre judeus e cristãos (ainda mais com Pompéia ajudando a esclarecer a diferença dos judeus), mas no ano 70 d.C. Tiro ainda pensava que, destruindo o templo de Jerusalém, teria encontrado uma maneira valiosa de eliminar tanto a religião judaica como a cristã, porque as duas surgiram da mesma raiz, apesar de serem inimigas - a religião cristã tinha sua origem na judaica- e, uma vez arrancada a raiz, o tronco secará. Um general bem informado sobre a questão judaica tinha uma esperança destas - esperança que provou ser vã. (GREEN M., 1970, pgs. 40-41).

A decadência de Jerusalém no ano de 70 d.C. pelo general Tito, não comprometeu a propagação do cristianismo, pelo ao menos no mundo pagão.
Entretanto se um perito podia cometer erro tão além, não é de maravilhar que governantes com menos conhecimento esperassem que o cristianismo fosse um ramo da religião judaica e que, como tal, possuía direito a tolerância imperial.
Este conflito pode não ter intensificado a fama do cristianismo, porém, cooperou bastante para a sua integridade e proteção.

2.8 Fatores Que Prejudicaram os Cristãos

Outros conceitos apresentaram resultados em rumos desfavoráveis. Primeiramente vinham os delitos que o povo trivial integrava com a origem cristã, verdadeiros ou apenas presunções.
Os cristãos eram delatados de cometerem ateísmo, assim como os judeus antes deles, porque os cristãos não cultuavam aos deuses comuns, e este ato era considerado crime, crueldade, e alta deslealdade contra o Estado.
Os judeus eram até então uma ressalva consentida, mas não havia precedentes a outras pessoas estrangeiras para renunciar os deuses publicamente, pois os incrédulos colocavam em perigo e o bem estar da sociedade.
Michel Green (1970) comenta sobre a situação dos cristãos daquela época e os perigos e calúnias com perseguições que sofreram por causa da sua fé:
Além do ateísmo, eles eram acusados pelos boatos de incesto e canibalismo; os cristãos tinham de refutar estes rumores constantemente. As pessoas bem informadas sabiam muito bem que eles eram falsos: Plínio não encontrou nada de depravado nas diaconisas que viu participarem das assembléias cristãs, e se declarou impressionado com o fato de os cristãos “se comprometerem com juramento (sacramento) a não cometer nenhum crime, como adultério, roubo ou assalto”. Ele registra que quando eles se reuniam para comer - a festa ágape, sem dúvida - sua comida era “comum e sem segredos”. No entanto as pessoas que acreditavam em tudo o que ouviam podiam considerar os cristãos culpados de praticamente tudo. Podemos compreender de onde veio isto. Os cristãos se encontravam em segredo, eles falavam claramente de comer Cristo na Ceia, falavam que amavam seus irmãos e irmãs em Cristo - lábios mexeriqueiros e mentes sujas fizeram o resto. (GREEN M., 1970, pg. 41).

Existia um pretexto para tantas mentiras. Na comunidade de Corintos aconteceu um incesto, imoralidade e consumo de carne imolada aos deuses por volta do ano 50 d.C.
Irineu e Clemente de Alexandria relatam sobre os cultos heréticos que faziam uso do nome dos cristãos e cometiam as mais terríveis obscenidades.
Afirmações como a de Cecílio, pode ser uma caricatura bastante grosseira do cristianismo ortodoxo, mas faziam uma descrição negativa, porém correta do comportamento de alguns cristãos desviados conforme esclarece Michael Green (1970):
Depois destas festas, quando o calor humano aumentava, e o calor do desejo incestuoso tinha se tornado intenso com o vinho, um cão que estava amarrado ao pé da lâmpada é provocado com um pedaço de carne jogado além do seu alcance. Ele pula e assim apaga a luz, e na escuridão vergonhosa todos são igualmente incestuosos, pois todos estão  envolvidos pelo desejo no que cada um faz”. Era o tipo de reputação que os cristãos tinham entre o populacho. (GREEN M., 1970, pgs. 41-42).

Não se pode entrar aqui no mérito da questão destas acusações contra os cristãos da Igreja primitiva: ateísmo, canibalismo e incesto.
É lógico que tais questões eram demasiadas e extremamente caluniosas, apesar de II Pedro e Judas indicarem que a Festa do Amor (Ágape) seguramente às vezes passava dos limites.
Em todos os lugares os cristãos eram tidos como indivíduos aptos para fazer esses delitos como os acima citados. A sua primeira opinião era extremamente maligna de forma unânime.
Michael Green (1970) comenta sobre o que disse Tácito sobre as denúncias feitas aos cristãos pela população daquele andamento:
Tácito diz que: “o populacho os odiava por causa dos seus crimes”, e que “são culpados e merecem as penas mais severas”, mesmo não crendo que eles tivessem posto fogo em Roma. Suetônio os acusa de serem “uma superstitio nova e prejudicial”, o pomposo Plínio, da classe alta, de “uma superstitio depravada e marcada por excessos”. Supunha-se que eles odiavam todo mundo, por terem os seus segredos, serem unidos e se manterem distantes de quase toda vida social, que estava contaminada pela idolatria. O professor E. M. Blaiklok chamou a atenção para a freqüência com que os cristãos são chamados de “praga”: no relatório de Tácito, no decreto de Cláudio, na carta de Plínio e no discurso de Tertuliano. Ele menciona um trecho de Platão como explicação para o fato de os cristãos serem considerados desajustados sociais “incapazes por temperamento ou indispostos por convicção a participar das atividades comuns de um grupo ou comunidade”. Platão escreveu: “Toda pessoa incapaz de participar, com respeito mútuo à lei, deve ser executada, pois é uma praga social”. (GREEN M., 1970, pg. 42).

É compreensível conceber o desajustamento social dos cristãos. Isto se torna manifesto no Apocalipse, onde a renuncia de admitir o senhorio de Domiciniano sujeitou os cristãos ao exílio igualitário e a boicotagem parcimoniosa.
Eles permaneciam proibidos de tomar parte dos Jogos Imperiais e nem mesmo utilizar a cédula do Império, e assim atravessaram por muitos problemas se desejassem “sair do mundo” resolutamente.

2.9  Oposições Intelectuais e Culturais ao Cristianismo

Até aqui foi visto alguns limites políticos, religiosos e sociais na passagem do desenvolvimento do cristianismo no primeiro século, Existia diversos - econômicos, éticos, culturais, intelectuais - aos quais se deve fazer uma rápida alusão.
No plano intelectual o cristianismo se deparava com grande parte das oposições que os povos da antiguidade levantavam contra o judaísmo, com três denúncias suplementares: o cristianismo era um acontecimento novo e, quase por significação, nada que é moderno pode ser exato.
Por isso os cristãos precisavam demonstrar que o cristianismo apresentava uma genealogia muito remota, pois procedia do judaísmo, que era tão remoto que os filósofos pagãos extraíam dele sua sabedoria.
Além disso, por ser a exclusiva veracidade de Deus, todas os indivíduos em qualquer ambiente, ao se fixarem ao fato em algum conceito, proclamavam a que era compatibilizado e era substância do ensinamento cristão.
Além de ser moderno o cristianismo era grotesco, porque pregava que Deus desvendara sua sabedoria na cruz de Cristo.
Sobrevém que para qualquer indivíduo ensinado ou mesmo só entusiasmado pelo conhecimento platônico do pensamento grego era natural que a veracidade e a sabedoria não permaneciam em episódios privados, mas em fatos unânimes, como a Teoria das Formas sugeridas.
Green (1970) esclarece como essa fase da era cristã primitiva foi suplantada:
Dizer que um certo nascimento, ainda por cima recente, junto com uma certa morte, que tinha sórdida, era a chave da sabedoria do universo, era completamente ridículo. Já em I Coríntios (capítulos 1 e 2) e Colossenses (capítulo 1) Paulo afirma que Jesus não é apenas algo particular, mas a encarnação, revelada no tempo, da Sabedoria Cósmica eterna, e este método de apologia fizeram história entre os apologistas. (GREEN M., 1970, pg. 46).

As ocorrências da morte de Jesus, no entanto, desandava a declaração dos cristãos ainda mais inadmissíveis.
Era presumível proferir com certa coerência que na ocasião da morte de Sócrates foi desvendada um pouco do episódio sobre o universo e a alma do ser humano, quando ele discorreu sobre existência e morte com grande excelência, e depois absorveu sicuta.
Todavia o que a execução de um delituoso numa infame cruz romana tinha a dizer em termos de dialética do mundo? Michael Green (1970) esclarece esta circunstância no ponto de vista do povo daquela ocasião:
Para os romanos este tipo de morte era uma demonstração de escravidão, fraqueza, inferioridade e culpa. Para os gregos era tudo isto, e, além disto, inútil. Não é de admirar que corriam boatos de que os cristãos adoravam a cabeça de um asno, ou sua própria virilha. Nenhuma outra adoração seria mais obscena e revoltante que a de um criminoso executado recentemente sobre o mais indigno de todos os patíbulos, a cruz. Nem é preciso dizer que os cristãos, que criam em asneiras tão grandes, eram irracionais incuráveis, suspeita que alguns apologistas aprofundaram consideravelmente com seu comportamento. A Igreja primitiva não cansava de citar I Coríntios 1:19s., 26s. Tertuliano, e Taciano combatem fortemente a cultura pagã. Celso em meados do segundo século, afirmou que os cristãos exclamavam: “não estude mas creia”, “Sua fé o salvará” e “A sabedoria deste mundo é má, mas a burrice é boa” (Orígenes, Contra Celso 1.9). (GREEN M., 1970, pgs. 46 e 54).

Além disto, os cristãos eram desfavorecidos por sua humildade cultural. Eles se dirigiam quase que unicamente as camadas sociais mais baixas, pobre, simples e analfabetas.
Esta era a circunstância na cidade de Corinto no primeiro século, onde “não muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento” faziam parte da sociedade cristã.
A disposição permaneceu sendo esta por determinado período, com certas ressalvas consideráveis. Celso culpou os cristãos de consistir em ser “iletrados, escravos e ignorantes” que “afastam todos os sábios da doutrina da sua fé e convidam somente os ignorantes e vulgares”.
Celso acha que ao atuar assim os cristãos estão aceitando que unicamente este tipo de indivíduo seja digno de seu Deus, e “eles mostram ostensivamente que só desejam e alcançam persuadir os burros, alienados e estúpidos, além de mulheres e crianças”.
O cristianismo era legitimamente uma superstitione da ralé da sociedade naquele período, talvez pela necessidade que passavam os pobres.
Os romanos como já foi citado acima, especialmente os da alta hierarquia tinham a tendência de ponderar todas as superstitiones apropriadas exclusivamente para os grupos inferiores, e desprezava de maneira especial os cultos orientais mesmo os que tinham um monoteísmo superior, ético e elevado e uma história remota como o judaísmo.
Como acreditar que eles professassem uma superstitione da qual até os próprios judeus faziam questão de se desagregar? Michael Green (1970) comenta as circunstâncias e a ação dos cristãos da Igreja primitiva perante de tais ocorrências desempenhada contra eles no primeiro século:
Não que os cristãos se importassem, pelo contrário. Eles se orgulhavam do fato de que sua mensagem tinha sido revelada por Deus em sua sabedoria não aos inteligentes e importantes, mas ao povo humilde que cresse. Paulo rejubilou nesta verdade em I Coríntios, e Atenágoras lhe deu expressão eloqüente no capítulo ii do seu Comunicado aos Cristãos: “Vocês irão encontrar entre nós pessoas iletradas, artesãos e mulheres velhas que mostram com seus atos o benefício que têm com a convicção da verdade da nossa doutrina, mesmo se não o conseguem provar com palavras. Eles não recitam discursos, mas fazem coisas boas: quando são atingidos, eles não retrucam; quando são prejudicados, eles não recorrem ao tribunal; eles dão aos que lhe pedem algo, e amam seus vizinhos como a si mesmos”. (GREEN M., 1970, pgs. 46-47).

Apesar de tudo isto que eles evidenciavam, todavia, eles não conseguiam disfarçar a sua procedência miserável e a sua atitude social da camada baixa.
Quando o apóstolo Paulo escreveu a sua epístola aos cristãos romanos, que era pertencente à casa imperial em Roma, ele não se dirigiu ao Imperador César, contudo, ele escreveu para os escravos de um de seus alforriados que tinha sido executado.
Como já foi feito referência acima, o cristianismo era mesmo uma religião desenvolvida pela camada social mais baixa daquele momento, era uma superstitio da ralé da sociedade romana e de outras cidades dominadas pelo Império.
Com tudo isso, que aparentemente depunha contra os cristãos da Igreja primitiva, eles tinham um grande compromisso em pregar “as boas novas”.
Começando por Jerusalém, e indo em direção da Palestina, e os outros povos, então, por meio de perseguição a igreja primitiva, teve seu progresso, e estendeu-se por todas as partes do mundo da antiguidade, como será visto.  

 
CAPITULO III
A IGREJA APOSTÓLICA E A EVANGELIZAÇÃO ATÉ O ANO 100

3.1 As Primeiras Missões.

É manifesto no livro dos Atos dos Apóstolos que a primeiro discurso do evangelho, no Pentecostes, foi administrado ùnicamente ao povo judeu.
Nos anos que sucederam este acontecimento segundo Robert Hastings Nichols (1985), as missões permaneceram bastante restringidas aos judeus, seguramente pelo andamento de dois ou três anos, principiando em Jerusalém e depois se estendendo pela Palestina e por fim alastrando-se aos outros povos.
Os primeiros cristãos não tinham ciência a princípio à expansão da finalidade divina de sua missão para a salvação do mundo. Sendo eles judeus, e hebreus, alguns reconheceram ser Jesus o Messias esperado pelo seu povo, e profetizado no Antigo Testamento.
Entretanto, eles consideraram Jesus Cristo como o Salvador exclusivamente ou, sobretudo dos judeus, não obstante Jesus, por meio de palavras e ações, ter-lhes ensinado algo bastante diferente.
Robert Hastings (1985) esclarece a forma como foi o desenvolvimento da Igreja primitiva, e como isto incidiu para o seu acréscimo:
A perseguição foi o meio pelo qual a Igreja nascente chegou a uma compreensão mais segura do Evangelho que Jesus lhes dera a pregar, e por ela alcançou uma visão mais ampla da obra que Jesus lhe propusera. As autoridades religiosas judaicas que tinham tentado embaraçar a pregação evangélica levantaram-se por causa do audaz desafio que foi o discurso de Estevão, e empreenderam uma campanha selvagem, violenta e sistemática contra o Cristianismo. Com esse ataque, a comunidade cristã de Jerusalém que já contava com alguns milhares, foi dissolvida. Seus elementos procuraram segurança, espalhando-se por toda a Palestina. Não obstante fugirem para salvarem a vida e por causa da sua fé levavam o Evangelho aonde quer que fossem. Alguns deles foram até a grande cidade de Antioquia, na Síria. Ali, os seguidores de Cristo foram, pela primeira vez, chamados “cristãos”, nome que, parece lhes foi dado por zombaria. Nesta cidade, vivendo no meio de uma população grega, esses exilados tornaram Jesus conhecido tanto de gregos como de judeus. (NICHOLS R. H., 1985, pgs. 19-20).

O cristianismo irrompeu por todo o mundo antigo com a surpresa de boas novas: “boas novas” anunciadas com muito aquecimento e grande entusiasmo por aqueles que declararam a sua fé em Jesus Cristo, e também demonstradas com o seu próprio testemunho e experimento segundo Michael Green (1970).
Elas eram, portanto, fruto da sua persuasão de que Deus tinha convertido a aparente derrota da Sexta-feira da Paixão na soberana vitória no dia da Páscoa.
Foi assim que os primeiros cristãos confusos e ignorados apresentaram sua vasta marcha para tornarem o Cristianismo em uma Religião Universal.
Mais tarde, a Igreja de Antioquia expediu Barnabé e Paulo, os primeiros missionários cristãos denominados para pregarem o cristianismo aos gentios. E o apóstolo Paulo foi quem finalizou, sob a administração do Espírito Santo, a obra de emancipar o cristianismo.
Paulo conseguiu atingir aquilo que era finalidade de Deus: fazer do cristianismo uma fé para todos. Assim, daí por diante o cristianismo foi pregado a todos os homens no mesmo pé de igualdade com as demais seitas e religiões.

3.2  As Boas Novas Messiânicas

Não foram apenas boas novas comuns que abalaram a Palestina no ano 30 d.C. Não era apenas uma mensagem de um simples carpinteiro, considerado Mestre, e que havia sido executado pelo poder romano.
Era a declaração bem aventurada da salvação messiânica por muitos séculos anunciada e desejada por milhares de pessoas, era a visita de Deus para resgatar e redimir o pecador e o mundo desprovido.
Assim, a substância desta mensagem começou a ser conhecido como to evaggelion, as boas novas. Porém, foram alguns anos mais tarde que este termo principiou a ser empregado para os documentários históricos registrados durante os anos decorrentes, os evangelhos escritos.
A princípio ele foi aplicado para os fatos em si, e para a ação de proclamá-los.
Robert Hastings (1985) comenta como foi o desenvolvimento da Igreja primitiva e quem eram seus primeiros evangelistas e missionários:
Começando, assim sua grande carreira missionária, o Cristianismo espalhou-se, de sorte que pelo ano 100 A.D. havia igrejas em inúmeras cidades da Ásia Menor e em muitos lugares da Palestina, Síria, Macedônia e Grécia, em Roma e Puteoli na Itália, e, Alexandria, e, provavelmente, na Espanha. Paulo foi naturalmente o missionário que mais contribuiu para esse resultado. O Novo Testamento refere os nomes de alguns outros como Priscila e Áquila. O que a tradição relata sobre a pregação dos apóstolos leva-nos a pensar que todos eles deram testemunho intimorato, levando as plagas mais longínquas as Boas Novas, não obstante conhecermos com mais segurança, apenas o trabalho de Pedro e João. Todavia, muito da tarefa heróica de tão grande esforço evangelístico foi realizado por discípulos e missionários cujos nomes desconhecemos. Cada crente era um missionário ansioso por oferecer a alegria de que gozava em Cristo, às pessoas que encontrava no trabalho, nas comunidades e em outros meios. Em virtude do zelo que tinham em anunciar a Cristo e, muito mais ainda, pelo testemunho das suas vidas fiéis que anunciavam o poder de Cristo, esses cristãos desconhecidos foram os mais eficazes missionários da sua religião. (NICHOLS R. H., 1985, pg. 20).

Naquela época uma igreja cristã era habitualmente um acanhado grupo de cristãos morando em uma ampla sociedade pagã.
Como já foi dito, quase todos eram indivíduos necessitados, muitos eram escravos, outros artesões, e trabalhadores rurais, pescadores, ainda que existissem muitos cristãos das camadas mais elevadas, principalmente na igreja de Roma.
Por toda parte tinha muita coisa que diferenciava um cristão de seus vizinhos pagãos. Eles se tratavam de modo recíproco por irmãos em Cristo e verdadeiramente atuavam como irmãos. Cuidavam desveladamente dos órfãos, dos doentes, das viúvas, dos desprezados.
As ofertas e a contabilidade dos fundos de filantropia compunham uma das partes mais importantes da existência dessas igrejas primitivas.
Dentro da Igreja todas as altivezes foram eliminadas. Escravos e senhores foram equiparados. As mulheres obtiveram uma posição de reputação e de autoridade que nunca tinham alcançado em meio à sociedade conspurca.
Distinguiam-se igualmente os cristãos por uma efervescência e pureza ética nunca conhecida em qualquer parte.
Não obstante, as vidas dos cristãos gentios evidenciavam a capacidade que apresenta o Evangelho de outorgar aos homens uma nova retidão.
Ainda mais o caráter que prevalecia a vivência dos cristãos, e que era de uma boa exultação e certeza esplêndidas. Regozijavam-se no grande amor de Deus, o Pai, na comunhão com Cristo ressuscitado, na remissão dos pecados, na fé da eternidade.
Dessa forma ignoravam a angústia e a desesperança que exploravam a existência de muitos que os circundavam. Essas características dos primeiros cristãos estabeleciam uma importante indicação para o Cristianismo, promovendo assim, o seu desenvolvimento.

3.3  A Conformidade do Termo “Boas Novas”

Estas são as “boas novas” difundidas por dois dos primeiros apóstolos cristãos, como era entendida por eles.
A preferência do termo foi muito bem acertada, porque “boas novas” apresentavam, além de sua fascinação habitual, um significado característico para os judeus pagãos, o que fazia o termo ser muito mais apropriado para eles.
Este vocábulo ou expressão “boas novas” foi empregado com muita constância pelo apóstolo Paulo e por Marcos evangelista no Novo Testamento, e para o mundo helenista tinha muito que falar.
Era o vocábulo par excellence para proclamar uma conquista, triunfo sobre forças oponentes, e, por genealogia, para atuações de forças oferecidas as divindades em reconhecimento pela conquista conseguida.
Michael Green (1970) esclarece alguns pontos onde era usado o termo “boas novas” fora do cristianismo daquele momento:
Também era usado para caracterizar comunicações dos deuses, geralmente através de oráculos: estes eram “boas novas” - pelo menos esperava-se que fossem! Acima de tudo, no entanto, o termo era usado no culto ao imperador. O anúncio do nascimento do imperador era “boas novas”; a conhecida inscrição de Prieni diz: “O aniversário do deus foi o início, para o mundo, das boas noticias que se espalharam por causa dele”. O início da era Calígula, por exemplo, foi propalado (ironicamente, como deu para ver depois) como boas novas de salvação e de boa sorte. A posse do princeps era tradicionalmente considerada como boas notícias, e era celebrada com alegria e sacrifícios por um povo realmente grato pelo grau de salvação que o Império lhes trouxera. (GREEN M., 1970, pg. 63).

Entretanto o evaggelion cristão tem muito mais profundidade que o imperial; seu governante permanece assentado no trono do universo, não somente do Império, e seu surgimento é uma encarnação verdadeira do exclusivo Deus, não a divinação maquinada da dinastia imperial.
O evangelho expressa salvação para os homens - porém, somente por meio da contrição e julgamento. Muitos o acham um evangelho irônico quando o ouvem, Atos 17:32.
Entretanto ele produz uma exultação real, pois, o arrependimento resulta em alegria e julgamento, graça e salvação. César e Jesus Cristo, o imperador no trono e o Mestre desamparado na cruz, permanecem um oposto ao outro. Eles apresentam muito em comum, entretanto pertencem a mundos completamente distintos.
A impressão que se tem é que era precisamente este contraste com o culto ao imperador que o apóstolo Paulo e Marcos queria deixar explicado ao empregar o termo evaggelion. Este foi o argumento do trabalho deles.

3.4  O Culto na Igreja
A necessidade e a perseguição incapacitaram a Igreja primitiva de edificar seus santuários durante o primeiro século, motivo por que os cristãos se congregaram para o culto em casas reservadas.
Nas cartas do apóstolo Paulo pode-se observar especialmente aquelas enviadas aos Coríntios, que existiam dois tipos de reuniões de cultos.
O primeiro era do tipo do culto de oração. O culto era dirigido segundo o Espírito os movimentava naquela ocasião.
Praticavam orações, apresentavam testemunhos, aprovisionavam certos ensinos, cantavam Salmos.
Foi ai que apareceram igualmente os primeiros hinos cristãos da igreja primitiva. Eram interpretadas e esclarecidas as Escrituras do Velho Testamento.
Existiam do mesmo modo leituras ou referências, de lembranças, dos atos e instrução de Jesus. Quando os apóstolos mandavam epístolas às igrejas, como as que contêm no Novo Testamento, elas eram então interpretadas e ensinadas para toda a congregação.
Foi nessas assembléias que o ânimo do Cristianismo primitivo encontrou acessível esclarecimento. E esse ânimo muitas vezes era tão entusiasta que acabava decorrendo em tumulto.
Eram aceitos sujeitos estrangeiros a esses agrupamentos e neles muitos se levantavam e declaravam sua culpa e confessavam seu anseio de receber Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas.
A outra forma de assembléia era manifesta como “a Festa do Amor” Ágape ou Fraternidade. Na realidade não decorria de uma refeição trivial, muito amável, todavia abençoada, que representava o símbolo do amor fraterno cristão.
Neste festejo era consentido exclusivamente aos cristãos compartilharem. Cada um apresentava a sua parte da alimentação ou refeições onde eram divididos a todos igualmente.
O apóstolo Paulo chegou a admoestar o exclusivismo por parte de determinados irmãos que não desejavam partilhar e comiam o que eles mesmos tinham, pois outros muitas vezes não apresentavam condições de terem refeições tão boas.
No andamento das refeições o administrador dava graças. No término da festa comemorava-se a “Ceia do Senhor” onde era consumida parte do pão que tinha sido servido na Festa.
Este ajuntamento era realizado no dia do Senhor, o primeiro dia da semana, onde os cristãos preservavam como a Festa em solenidade a ressurreição de Jesus Cristo.
Robert Hastings (1985) comenta sobre esses eventos festivos e comemorativos realizados na Igreja primitiva:
Não obstante haver bastante incerteza sobre este assunto, é provável que, a princípio, a Festa do Amor fosse realizada à noite. Já no final do primeiro século, a Ceia do Senhor foi separada da Festa do Amor e celebrada numa reunião matinal. Sabemos que no segundo século a Ceia do Senhor ou a Eucaristia era celebrada pela manhã do dia de domingo, chamado Dia do Senhor. (NICHOLS R. H., 1985, pgs 22-23).

3.5  A Confiança da Igreja

Na Igreja primitiva do primeiro século, não se têm provas que se tenha estabelecido credos ou declarações formais de fé. O Credo Apostólico apenas veio surgir no segundo século.
Para se ter um intenso conhecimento da fé dos cristãos primitivos deve-se examinar aos registros do Novo Testamento.
Eles confiavam em Deus, o Pai; em Jesus Cristo, como o Filho de Deus e Salvador, ao mesmo tempo criam no Espírito Santo, de cuja compleição eles ficavam e continuavam conscienciosos.
Do mesmo modo criam na absolvição das iniqüidades. Apresentavam como fundamento do seu ideal ético o ensino de Jesus sobre o amor a todos os homens.
Esperavam a volta de Jesus para desempenhar o ajuizamento derradeiro e oferecer a existência permanente a todos os que nele criam. Suas opiniões doutrinárias, se assim as pode-se avocar eram muito simples.
Todos os seus pensamentos sobre a história religiosa apresentavam como núcleo a Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Robert Hastings (1985) comenta sobre alguns erros doutrinários que chegaram a ameaçar a pureza do Evangelho na igreja primitiva:
Duas influências levaram os crentes do primeiro século a cair em alguns erros doutrinários os quais, de certo modo, ameaçaram a pureza do Evangelho. Os “judaizantes” ensinavam que os cristãos deviam cumprir todas as cerimônias exigidas pela Lei Judaica. Paulo condenou-os porque viu que se o ensino deles prevalecesse o Cristianismo não podia ser a religião de todas as raças. Encontramos no Novo Testamento advertências solenes contra os erros do chamado Gnosticismo. Esta seita surgiu no primeiro século e veio depois se tornar muito poderosa. Consistia de uma estranha mistura de idéias cristãs, judaicas e pagãs. Era muito parecida com o Cristianismo de modo a confundir alguns crentes. (NICHOLS R. H., 1985, pg. 23).

3.6 O Gnosticismo

O Gnosticismo que foi um nome sobreposto a várias escolas distintas de pensamentos, apareceu nos primeiros séculos da era cristã, e arriscaram adicionar no cristianismo um princípio universal filosófico-religioso.
Seus subsídios de maior estimação eram determinados reflexões simbólicas e cosmológicas, e igualmente o caracterizado dualismo entre o mundo do espírito e o mundo objetivo.
Seus preceitos sobre a salvação distinguiam o livramento do espírito de sua servidão na esfera não espiritual.
Este partido religioso tinha seus próprios mistérios e consagrações sacramentais, e igualmente uma ética que recomendava ou o ascetismo ou a devassidão.
Bengt Hägglund (1986) comenta sobre a suposta origem do Gnosticismo:
A questão da origem do gnosticismo tem sido amplamente debatida, e não parece haver qualquer resposta simples. A maior parte da literatura gnóstica foi perdida. Todavia, parte dela foi preservada em tradução copta no Egito, por exemplo: a “Pistis Sofia”, o “Evangelho de Tomé” e o “Evangelho da Verdade”. As duas últimas obras citadas encontram-se entre os manuscritos descobertos na vila de Nag Hammadi (perto de Luxor) em 1946. Entre os itens ai encontrados, num jarro de cerâmica preservado na areia, havia 13 códices, inclusive nada menos de 48 escritos, todos de origem gnóstica. Esta descoberta ainda não foi completamente avaliada ou tornada acessível aos pesquisadores. A maior parte de nosso conhecimento do gnosticismo chegou até nós através dos escritos dos Pais Eclesiásticos. Citam outros gnósticos, ou se referem a seus escritos em suas obras polêmicas. Os Pais Eclesiásticos concordam que o gnosticismo iniciou com Simão, o mágico (At 8), mas no mais seus relatos divergem Segundo um certo Hegesipo, citado por Eusébio (IV, 22), o gnosticismo principiou entre certas seitas judaicas. (HÄGGLUND B., 1986, pg. 27).

Quando se comenta sobre o gnosticismo, geralmente se raciocina no princípio que se desenvolveu no período cristão, na “heresia gnóstica” que os Pais Eclesiásticos condenaram com intenso comprometimento.
Os apologistas protegeram o cristianismo contra filósofos e imperadores. Mas, as ameaças contra o cristianismo não apareciam exclusivamente externamente. A ameaça muito maior nasceu dentro do próprio cristianismo, a ameaça do gnosticismo.
O termo “gnosticismo” procede da expressão grega “gnósis” que denota “conhecimento”. Não no significado científico. Gnósis poderia significar: ciência em termos universais; comunhão simbólica e afinidade sexual. Todos estes termos são encontrados no Novo Testamento. Trata-se de informação participatória. Tão pessoal como a relação entre esposo e esposa.
Essa ciência procura a união e a salvação. É respeitável em contraste com a noção científica. Os gnósticos eram os intelectuais gregos, não obstante terem abrangido a emprego cognitivo em termos de participação no divino.
Paul Tillich (1968) comenta como eram e qual era o fundamento desta seita do primeiro século da era cristã:
Não era uma seita; talvez se pudesse dizer que eram muitas seitas. Na verdade, porém, o gnosticismo representava vasto movimento religioso espalhado pela época. Em geral, o gnosticismo é considerado um sincretismo. Misturava todas as religiões de então. Ao se espalhar pelo mundo, penetrou tanto a filosofia grega como a religião judaica. Filo de Alexandria foi um típico precursor do movimento. O gnosticismo conseguiu até mesmo se imiscuir na lei romana e na teologia cristã. Os elementos básicos dessa mistura religiosa são os seguintes: 1. Destruição das religiões nacionais por meio das conquistas de Alexandre e de Roma. Os grandes impérios mundiais acabavam com as religiões nacionais. 2. Interpretação filosófica da mitologia. Ao se ler os sistemas gnósticos têm-se a impressão de que racionalizavam a mitologia. Essa impressão é correta. 3. Renovação das antigas tradições de mistério. 4. Reavivamento de elementos psíquicos e mágicos, presentes na propaganda religiosa do oriente. Enquanto o movimento político ia do Ocidente para o Oriente, o religioso tomava direção contrária. O gnosticismo procurava, então, combinar todas as tradições religiosas desenraizadas, reunindo-as num sistema meio filosófico e meio religioso. (TILLICH P., 1968, pgs. 44-45).

Porém o gnosticismo já existia bem antes de aparecer o cristianismo; era então prodígio religioso um tanto inconstante, uma doutrina especulativa de salvação com subsídios de muitas reminiscências religiosas dessemelhantes.
Surgiu do Oriente, onde teve influência pelas religiões especialmente da Babilônia e Pérsia.
Existiam muitas afinidades e pendências entre os grupos gnósticos e o cristianismo modelo. Contra a idéia manifesta das igrejas cristãs, os gnósticos articulavam ter memórias ocultas exclusivamente experimentadas pelos principiados.
Renunciavam o Antigo Testamento visto que não se conformava com determinadas doutrinas constitucionais, de maneira especial com suas convergências dualistas e ascéticas.
Recebiam uma variante purificada do Novo Testamento, acolhendo, no entanto, as dez fundamentais epístolas de Paulo e o evangelho de Lucas, que, seguramente, mais visivelmente significa a autoridade paulina.
Provavelmente, essas amostras do Novo Testamento não contestavam as opiniões fundamentais do gnosticismo como as demais cartas e evangelhos.

3.7  A Supervisão da Igreja

Conforme Robert Hastings (1985), as Igrejas primitivas desde o seu princípio eram autônomas, com administração própria determinando todos os seus interesses e assuntos problemáticos.
Todos os cristãos garantiam com persistência que pertenciam à Única Igreja Universal, a “Ekklesia”, sendo esse o significado do vocábulo Igreja.
O Novo Testamento utiliza a palavra Igreja (do grego: Ekklesia, “chamada para fora de”) como sinônimo de “Corpo de Cristo”.
Em outras palavras, trata-se do conjunto de todos aqueles que são regenerados pelo dom da vida eterna, todos os membros do qual Cristo é o cabeça.
A palavra Igreja é empregada ao mesmo tempo para instituir uma assembléia local de crentes, na qual se localizam, muitas vezes, elementos que na realidade não são membros do corpo de Cristo, Apocalipse 2:14-16, 20-24.
Deve-se, conseqüentemente, fazer distinção entre as igrejas visíveis, estabelecidas segundo as diversas disciplinas eclesiásticas, e a Igreja invisível, simbólica, cujos membros estão espalhados nas diferentes denominações, assim como fora delas.
Mas os cristãos asseveravam ser todos um em Cristo, contudo nenhuma organização de caráter universal desempenhava autoridade sobre as inúmeras igrejas distribuídas por todas as direções.
Os primeiros apóstolos eram respeitados, em benefício da relação que tiveram com Cristo e desempenhavam certo domínio, como se averigua na determinação adotada quanto aos cristãos gentios e à lei judaica e como se pode conferir em Atos 15.
Paulo desempenhava domínio devido a sua posição apostólica e de seu trabalho respeitável.
Contudo o domínio desses homens não procedia da sua ocupação, nem era expressa em uma organização cerimonial.
Robert Hastings (1985) esclarece a posição de cada integrante oficial que eram pregadores ou estavam ligados a Igreja primitiva do primeiro século:
O Novo Testamento fala de oficiais que se ocupavam do ministério da pregação e do ensino. São conhecidos como apóstolos ou profetas e mestres. O nome de “apóstolo” não era restrito aos companheiros de Jesus, mas pertencia também a outros pioneiros do Evangelho que levavam as Boas Novas aos novos campos. Os profetas e mestres ou doutores esclareciam o significado dos Evangelhos às Igrejas. Todos esses exerciam seus ofícios não pela indicação de qualquer autoridade, mas porque revelavam estar habilitados para tais ofícios pelos dons do Espírito Santo. O ministério desses oficiais se estendia a toda Igreja, não era restrito as congregações particulares. Vemos muitos dos apóstolos e profetas viajando por toda parte a serviço da causa. No primeiro século, a pregação e o ensino do Evangelho eram feitos principalmente por esses homens e por mulheres, antes que por oficiais de igrejas locais. (NICHOLS R. H., 1985, pg. 24).

O Novo Testamento ao mesmo tempo fala de outra natureza de ofício que pronunciava deferência aos interesses das congregações. Sobre isto não se tem conhecimento de muitos fatos.
Parece que não havia qualquer exemplo de coordenação para todas as igrejas, todavia estas atuavam de jeito livre e integralmente independente e seus procedimentos contemporizavam.
Em algumas igrejas estabelecidas pelo apóstolo Paulo tinha dois grupos de oficiais: os anciãos ou presbíteros, igualmente designados bispos, que eram superintendentes; o outro grupo era os diáconos.
Os anciãos ou bispos apresentavam a incumbência do pastorado, da disciplina e dos interesses parcimoniosos. Os diáconos proporcionavam uma ocupação característica, o da filantropia.
Os presbíteros presidiam à Mesa do Senhor e pregavam quando não estava presente algum apóstolo, profeta ou mestre. Esses oficiais eram nomeados pelo povo porque expunham os dons e a aptidão do Espírito Santo para essa responsabilidade.
Tal forma de repartição de responsabilidades não aprovava qualquer oficial como os pastores contemporâneos.
Parece que existiam outras igrejas com diferentes formas de organização; em determinados acontecimentos a direção permanecia com um sujeito; noutros, a administração era congregacional.

3.8  A Proclamação do Evangelho e a Conversão

A definição da palavra evangelização dos primeiros cristãos tinha a sua palavra raiz Kèrussein, que continha o seu significado de “proclamar como um arauto”.
Este arauto era alguém muito respeitável, era um indivíduo inviolável, em quem ninguém podia atacar sem receber o devido castigo. Entretanto isto o evangelista cristão fazia questão de não ser.
A palavra Kèrugma, proclamação, atualmente é usada como termo técnico para a pregação da Igreja primitiva, mas quem mais usou este termo foi o apóstolo Paulo, e foi apenas algumas poucas vezes. Ele deixa claro em Romanos 16:25s que este termo significa  o mesmo que Evaggelion, equiparada especificamente com “evangelho”, e o contexto admite esta identificação, pois confirma o cumprimento das Escrituras, da vinda de Jesus Cristo, a importância universal da mensagem de transformar os que a recebem.
A idéia de conversão, com o significado que se entende e que se têm atualmente, por muito tempo, talvez até o aparecimento do cristianismo, era algo completamente enigmático para o pensamento do mundo Greco-romano.
Em primeiro lugar, qual é a idéia que se têm sobre “conversão”, com o sentido que se entende na atualidade? Comumente se usa o termo, no contexto religioso, em dois sentidos: um é que a pessoa que “se converteu”, abandonou sua velha atitude religiosa (caso esta pessoa tenha tido uma) para se envolver excepcionalmente com outra religião.
O outro é que algum indivíduo até então um mero simpatizante da sua fé, encontra o significado e a seriedade dela com coragem e compreensão.
E porque este tipo de conversão pode ter sido estranho ao mundo da Igreja primitiva? Michel Green (1970) comenta sua posição sobre esta questão:
Creio que há três razões. Em primeiro lugar, os helênicos não achavam que era necessário ter uma crença para participar de um culto. Enquanto os sacrifícios tradicionais fossem oferecidos, enquanto o show continuasse tudo estaria bem. Ninguém era obrigado a crer nas divindades que adorava. Muitos homens inteligentes como Juvenal e Lucrécio zombavam das histórias dos deuses tradicionais, mas tinham o cuidado de continuar oferecendo os sacrifícios, dos quais, supostamente dependiam, a segurança do Estado e o bem-estar da sociedade. Em segundo lugar, os helênicos não consideravam a ética como uma parte da religião. Não havia quase nenhuma importância para o comportamento se uma pessoa era adoradora de Mitras ou de Ísis. Alguns cultos exigiam pureza ritual durante um período de iniciação ou durante o seu transcorrer, mas nenhum insistia em um rompimento total com o passado, uma renúncia de tudo o que é errado, fazendo esta exigência a partir da própria natureza da divindade em questão. Há concordância geral quanto a este respeito das religiões antiga. A terceira razão porque a idéia da conversão cristã foi tão surpreendente para os helênicos foi a exigência de exclusividade que ela fazia a seus devotos. Os cristãos tinham de pertencer de corpo e alma a Jesus, que era chamado de seu dono, despotès, que tinha redimido de uma outra escravidão para a sua. Em conseqüência, eles não reconheceriam nenhum outro “Senhor”, fosse imperador ou divindade pagã. (GREEN M., 1970, pgs 180-181).

Tudo isto era aparentemente bastante curioso aos povos gregos e romanos, porque as outras religiões da antiguidade manifestas até então naquela época, nunca tinham sido exclusivistas.
Certo era que as religiões de mistérios não permitiam a entrada de quem não havia passado pela iniciação; desta forma elas eram exclusivistas.
Entretanto elas não eram em princípio: não tinham a exigência que os indivíduos fossem totalmente leais a elas, nem os proibiam de fazer parte de qualquer outra religião de mistério, nem tão pouco de adorar seus antepassados, ou de se inclinar diante da estátua do imperador.
Não se importava se a pessoa era adepto da filosofia ou da magia, à astrologia ou ao gnosticismo, aos rituais oferecidos a Osíris ou a Mitras, pois o objetivo destes cultos era complementar, e não substituir, a religião ancestral das pessoas.
O judaísmo era muito bem conhecido, e respeitado mesmo pelos que não gostavam dele. Ele introduziu no mundo antigo a idéia de conversão neste sentido total, de mudança de vida, que se tem em foco.
Contudo, seu sucesso foi muito limitado. Apesar das vantagens que eles gozavam em termos de legislação protetora que nenhuma outra crença tinha, da sua disseminação ampla, suas sinagogas que recebiam bem os adeptos gentios, seu e uma ética que era claramente superior a qualquer outra no mundo daquela época, porém, os judeus não conseguiram convencer e nem converter o Império Romano.
Na verdade os judeus nunca deixaram claro que se realmente desejavam fazer isto, mas, onde o judaísmo fracassou, o cristianismo teve sucesso.
Já se viu que os cristãos conquistaram centenas e até milhares de judeus e gentios, envolvendo-os e fundindo-os no que em pequeno espaço de tempo foi denominado de tertium genus, uma terceira raça. Michael Green comenta sobre este ponto:
Neste ponto fica visível como a conversão cristã era algo único. Eles convocam tanto os judeus como os gentios a por sua fé no Messias de Deus e ajuntar-se ao seu povo. Para os gentios isto era conversão a uma nova fé; para os judeus era, num sentido importante, conversão dentro de uma fé em que tinha crescido, e da qual Cristo era o objetivo e o ponto mais alto. Porém o choque era muito grande para o judeu, e para o gentio, talvez até maior. Ambos tinham de ser batizados na igreja do Messias. É claro que os gentios preferiam isto à circuncisão, mas para os judeus isto era uma pedra de tropeço. Significava renunciar a toda convicção de ser um dos eleitos de Deus com base em nascimento e circuncisão. Significava tornar-se como uma criança recém-nascida, e lavar todas as impurezas com  a água do batismo - o que eles estavam acostumados a pensar de um prosélito que era batizado em Israel. Não podemos imaginar uma renúncia mais humilhante a todos os privilégios, todos os méritos adquiridos e herdados de estar na presença de Deus. O skandalon da conversão ao cristianismo era total. (GREEN M., 1970, pgs. 182-183).

A conversão cristã era uma coisa nova e única no mundo antigo, humilhante, dinâmica e inflexível. Eles pregavam uma pessoa. Sua mensagem era abertamente Cristocêntrica.
Muitas vezes o evangelho era até chamado simplesmente de Jesus Cristo: “Anunciando-lhes Jesus”, Atos 8:35; 5:42; 28:31.
Para os judeus, Jesus era a consumação da atuação de Deus na história; para os gentios, Jesus representava o fim do aparente desinteresse de Deus.
Jesus o homem, Jesus crucificado, Jesus ressurreto, Jesus exaltado ao lugar de poder no universo, de onde retornará para julgar todos no fim dos tempos, Jesus que enquanto isto estava em seu povo pelo Espírito, operando sinais e milagres, bem como através do crescimento rápido da igreja.
Parece que era o objetivo principal que eles pregavam sobre Jesus Cristo.
Das epístolas do apóstolo Paulo e dos Atos dos Apóstolos pode-se até concluir que se comentava muito pouco da vida de Jesus, dos seus ensinamentos e dos sinais de maravilhas e milagres por ele realizados.
Toda ênfase recaía sobre a sua cruz e ressurreição, e sobre o seu atual poder e importância. Com toda certeza Jesus ressurreto era o centro da mensagem dos evangelistas daquele período.

 CONCLUSÃO

Não se pode definir de maneira exata até que ponto a evangelização principiada pela Igreja primitiva conseguiu sucesso.
Igualmente não se pode confrontar o “sucesso” com o seu “fracasso”. De outra forma, o sucesso ao qual se tem em mente, pode ser muito distinto da forma como vê o Senhor Nosso Deus.
Por meio desta pesquisa pode-se observar que a evangelização é de maneira especial uma arquitetura de Deus na existência do ser humano, ao qual se emprega para tal acontecimento a colaboração de outras pessoas para a concretização da evangelização.
Não há também como considerar na pesquisa da evangelização da Igreja primitiva as respostas para as dificuldades que se tem na época presente na comunicação do evangelho.
Mas, muitos de seus aspectos abordados neles pode-se enfatizar, e compensa para a igreja avaliar em qualquer ocasião, principalmente em nossa época, na qual se conhece que existem grandes dificuldades e uma forte concorrência para se compartilhar a fé cristã com aqueles que ainda não conhecem o cristianismo em sua essência, porém em muitos casos de forma equívoca, e que se têm também muita dificuldade em comunicar essa fé.
Um dos aspectos mais admiráveis da evangelização da Igreja primitiva foram os indivíduos nela envolvidos. Comunicar a fé não era estimado direito dos mais consagrados ou dos missionários evangelistas oficialmente encarregados pela igreja.
A evangelização nos primeiros momentos era considerada privilégio e comprometimento de cada componente da Igreja primitiva, era ordenança de Jesus, Mc 16:15.
Havia apóstolos e profetas itinerantes, ricos e pobres, intelectuais e simples pescadores iletrados, todos envolvidos com ânimo na principal tarefa designada por Jesus Cristo à sua Igreja.
Os membros comuns da igreja recebiam isto como um ofício; e o cristianismo primitivo era acima de tudo um movimento composto por laicos, divulgado por missionários sem formalidades.
O clero da Igreja primitiva do mesmo jeito tinha persuasão de que a evangelização era encargo seu; presbíteros e bispos, doutores da igreja, filósofos, todos eles tinham a evangelização como a sua preocupação fundamental.
Seguramente eles não consentiram que a instrução, pastorado e ministério lhes tomasse todo o tempo, ao ponto de não conseguirem mais levar indivíduos ou grupos de pagãos incrédulos a fé em Jesus Cristo.
O comprometimento natural de toda a comunidade cristã ofereceu um impulso muito grande ao movimento de evangelização desde os primeiros momentos da Igreja primitiva, e isso foi essencial para o desenvolvimento da Igreja do Senhor Jesus.
Não é comprovado que se faça progressos na evangelização contemporânea por meio de tecnologia.
Se não ocorrer transformação da existência atual das igrejas, de forma que a tarefa da evangelização seja adotada como encargo de cada membro convertido e batizado, e que as pessoas incrédulas, possam notar nos indivíduos cristãos o empenho, o contentamento, a comunhão, o juízo de sacrifício e a abertura que diferenciaram o melhor da Igreja primitiva.
Excepcionalmente, no primeiro século da existência da igreja primitiva, encontram-se muitos defeitos, muitas coisas que com certeza envergonharam o nome que eles professavam.
Entretanto igualmente se depara com uma efervescência e empenho na evangelização por eles assumida, presente em todo o extenso espectro daquela sociedade primitiva cristã, no sentido de conduzir as pessoas aos pés de Jesus Cristo, agora assentado a direita de Deus Pai, e também a comunhão dos seus servos submissos.
Esta é verdadeiramente uma lembrança que permanece da fundamental primazia da igreja.
A evangelização era o exato sangue da história dos primeiros cristãos e, desta forma, sabe-se que “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”.
Isto pode acontecer novamente se a igreja contemporânea estiver legitimamente disposta a pagar o preço.



















                                                      






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Novo Dicionário Latino-Português - SOUZA, F. A. - Edição Atualizada e Aumentada - por José Lello e Edgar Lello - Lello e Irmão - Editores - Porto.

Dicionário Brasileiro Globo. FERNANDES, F.; LUFT, C. P., GUIMARÃES, F. M., 52ª edição - Editora Globo - 1999 - São Paulo -SP - Brasil.

Dicionário Escolar da Língua Portuguesa - 11ª edição/ 7ª tiragem, BUENO, F. S. - 1983 - MEC/ FENAME/ Rio de Janeiro - RJ - Brasil.

Bíblia de Referência THOMPSON - Edição Contemporânea de Almeida - Editora Vida - Deerfield, Florida - EUA.

Evangelização na igreja Primitiva - Michael Green, 1970, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo - SP.

Panorama do Novo Testamento - Robert H. Gundry, 1978, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, SP.

Uma História Ilustrada do Cristianismo - “A Era dos Mártires” - Justo L. Gonzalez, 1978, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, SP.

História da Teologia - Bengt Hägglund, 1986, Concórdia Editora L. Porto Alegre, RS.

História da Igreja Cristã - W. Walker, 1967, Juerp/ ASTE, São Paulo, SP.

A Cruz de Cristo - John Stott, 1986, Editora Vida, Deerfield, Florida - EUA.

Síntese Teológica do Novo Testamento - Werner Georg Kümmel, 1979, Editora Sinodal, São Leopoldo, RS.
História do Pensamento Cristão - Paul Tillich, 1968, Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE) São Paulo, SP.

História da Igreja Cristã - Robert Hastings Nichols, 1985, Casa Editora Presbiteriana, São Paulo, SP.

Plantar Igrejas - David J. Hesselgrave - Contribuições de Earl J. Blomberg, 1984, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova - São Paulo, SP.

Missiologia - Larry D. Pate, 1987, Editora vida, Miami, Florida, EUA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário