VÉU DA VIOLÊNCIA E A FAMÍLIA
A violência pode ter explicações estruturais e também psico-sociais.
Quanto a explicações estruturais, é uma coisa bastante comum a todos nós, vamos nos deter um pouco com relação às causas psico-sociais.
As profundas mudanças ocorridas nas últimas décadas em nosso país, tem colocado a família brasileira num aceleramento do processo de empobrecimento, alterando profundamente sua estrutura, seus sistemas de relações, seus papéis e suas formas de reprodução social.
Neste contexto, de pobreza generalizada, vai se gestando um modelo de sociedade de massa pobre e desigual, cujo impacto sobre a família e sobre as crianças e jovens ainda não foi avaliado suficientemente.
Aqui chamo a atenção para o fato de que a coletivização forçada, a formação de pequenas comunidades, no espaço onde a rede de conterrâneos e parentes vivem, no caso das pessoas que vivem nas periferias, somada a fadiga e ao desgaste provocado pelo trabalho, agrava a monotomia do próprio viver.
A rotina de um cotidiano penoso e sem novidade de extremamente "estressante".
A partir destas condições desiguais da sociedade nós vamos percebendo a gestão e a formação, dentro das famílias e grupos sociais, de uma relação muito desgastante, de muita dificuldade entre as pessoas, em que não se tem tempo de fato de se construir vínculos afetivos, de amor, amizade e carinho, porque a luta pela sobrevivência aparece em primeiro lugar.
Este desgaste provocado por este modelo social, aacaba provocando rachaduras nas relações afetivas e de conhecimento, não só no grupo social externo, mas no grupo social mais próximo, que no caso é a família.
Podemos perceber algumas modalidades de violência que ocorre, por exemplo, com crianças e adolescentes em Uberlândia/MG e Anápolis/Go, o que pode ser comprovado a partir de pesquisas realizadas, que nos ajudam a perceber dois grandes tipos mais recorrentes de violência.
Primeiro a violência que as crianças sofrem em diferentes contextos sociais que elas frequentam. quando falo crianças estou me referindo também aos adolescentes. Nós temos por exemplo, no espaço da escola, situações nas quais a criança é vítima de violência. No próprio transporte coletivo que ela utiliza, situações em que é vítima de agressões, bullying. Na rua, no trajeto entre a casa e a escola, ela pode sofrer abusos sexuais, especialmente quando este trajeto é mais difícil e distante.
O espaço urbano e social apresenta diferentes possibilidades onde a criança e o adolescente podem ser vítimas de violência.
Temos também, e esta para nós é uma grande constatação em todos estes estudos dos casos que foram notificados tanto em delegacias quanto nos Conselhos Tutelares, que é na família onde a criança sofre as maiores violências, sejam fisicas ou sexuais, Nestes dados percebemos uma inversão de valores, porque a família, que deveria ser prioritariamente um espaç de acolhimento, um espaço de proteção e preparação, nem sempre tem as condições emocionais para favorescer este tipo de ambiente.
A criança é vítima de violêcia física e nestes casos o autor principal da violência física são as mães, as mulheres, as pessoas que mais batem nos filhos.
O homem, por ser a maior vítima enquanto criança, se torna enquanto adulto o principal agressor da violência física. Por que ele vai bater na mulher. Então o homem bate na mulher e esta, por sua vez, bate nos filhos e as crianças entre si acabam também tendo situações de violência. O que percebemos é um vínculo vicioso e perigosíssimo de violência física.
Quando à discussão da violência física, nós poderíamos falar um tempão sobre ela e mais que isto nos detendo um pouco na própria questão cultural do Brasil.
Quais os limites entre a palmada e a violência? Mas quando estou falando isto para vocês e os casos que nós pegamos e recolhemos são situações em que as crianças com seis meses de nascidas são queimadas, espancadas, jogadas na parede.
São situações em qe não é um tapinha, são situações que a própria vida da criança está em jogo, e em muitos destes casos, especialmente os que foram colocados no jornal, a criança ou o adolescente são vitimados fatalmente.
Então é isto que queria mostrar - como este véu de cumplicidade, no qual a violência não pode ser dita, não pode ser pesquisada e falada, acaba sendo um véu que tem encobrido situações em que muitas e muitas crianças, adolescentes e jovens são vitimados e perdem a vida em função destas situações.
Joenildo Fonseca Leite
Especialista da Educação e Psicólogo Clínico
Nenhum comentário:
Postar um comentário