ANÁLISE PSICANALÍTICA SOBRE OS ASPECTOS
PSICOLÓGICOS DA CURA RELIGIOSA NO MEIO PENTECOSTAL
INTRODUÇÃO
A
presente monografia de pesquisa bibliográfica que trata do tema: Análise
psicanalítica sobre os aspectos psicológicos da cura religiosa no meio
pentecostal, que é de fundamental
relevância porque diz respeito a um assunto atual, porém, pouco discutido
dentro da academia teológica devido a sua complexidade e por não ser levado em
conta como um fato social, mas, religioso e por isso dizem que se deve discutir
através da fé. Os motivos que nos levaram a realizar esta pesquisa foram os de
tentar esclarecer e desmistificar as entrelinhas do problema sobre a cura
religiosa sob a análise psicológica no meio pentecostal.
No decorrer da pesquisa,
buscaremos soluções para os que se sentem em conflito, logo transcendem o
humano, pois, a maioria daqueles que sofrem algum tipo doença ou problema
psicológico não diagnosticado pelos médicos, procura algum meio de ajuda
espiritual, na religião. Devido a muitas divergências acerca da temática,
faz-se necessário um estudo mais aprofundado, desmistificando alguns pontos
erroneamente propagados no meio pentecostal
O objetivo desta pesquisa é de esclarecer o assunto sobre
os aspectos psicológicos na cura religiosa pentecostal, mostrar
às pessoas que elas podem superar e vencer seus conflitos e as tribulações da
alma e do espírito, tendo aliado ao aspecto religioso a ação psicológica.
O tema Análise psicanalítica sobre os
aspectos psicológicos da cura religiosa no meio pentecostal, levou-nos à contatos
teóricos com vários autores tanto da área religiosa como da psicologia da religião,
o que nos trouxe relevantes informações sobre estas duas disciplinas.
A pesquisa com seu
enfoque na cura religiosa pentecostal, direcionou a pesquisar a cura, tendo em
vista que no Brasil, no meio cristão de hoje, ela é pouco enfocada, desde o
meio católico até os evangélicos tradicionais.
Contudo, no âmbito
pentecostal a cura religiosa é mais enfatizada. Observa-se que nos tempos
antigos desde o mundo helênico, na Bíblia no Antigo Testamento e principalmente
no Novo, registrado nos Evangelhos, a cura sempre fez parte da obra salvadora
do ser humano. Salvação espiritual, perdão de pecados, cura física e
emocional e
conseqüentemente mudanças sociais, sempre caminharam juntas. Cura
espiritual e física sempre andaram de mãos
dadas. Eram exercidas por magos, sacerdotes, taumaturgos e líderes religiosos.
Essas curas ocorriam no âmbito religioso, associadas à medicina e a religião,
como ver-se-á no decorrer deste estudo. À medida que a medicina foi
separando-se da religião e tornando ciência autônoma, as curas religiosas foram
diminuindo e deixando de serem enfatizadas como parte da Salvação, da
libertação.
Nesse aspecto, veremos neste trabalho:
No capítulo 1, tem como título Síntese histórica dos
pentecostais. Neste capítulo aborda de forma histórica os primórdios do
movimento pentecostal.
No capítulo 2, tem como título A doença e o doente. Este capítulo aborda inicialmente o
conceito de saúde; segue-se a de concepção de doença e doente, através de uma
releitura breve do contexto histórico desde o mundo helênico, Antigo e Novo
Testamentos; posteriormente são apresentadas as modalidade principais de doenças:
orgânicas, espirituais e psicossociais na atualidade; elementos psicológicos que
contribuem para o surgimento da doença, dentre eles: o sentimento de culpa, estresse
e sintoma de conversão..
No capítulo 3, tem o título Religião e psicologia com seus potenciais de cura, onde são
abordados os itens: religião, psicologia e potenciais de cura: religiosa e psicológica.
No capítulo 4, tem como título Como se processa a cura religiosa e psicológica”, que aborda:
visão religiosa cristã e psicológica, onde é feita uma sucinta releitura de fé,
desde a sua definição religiosa e psicológica, como também uma breve análise de
processos psicológicos contidos no ato de fé; a seguir, como se processa a cura
religiosa, onde se tenta descrever a cura pela fé cristã na sua prática,
incluindo a cura no meio pentecostal; posteriormente, os processos psicológicos
na cura religiosa, onde é feita uma releitura desde os tempos primitivos sobre
energia psíquica até chegar à visão junguiana, onde a extrapolamos como base de
contribuição psicológica no ato de fé e cura religiosa.
Finalizando,
conclui-se que diante dos resultados obtidos na pesquisa de campo, surgem
caminhos e possibilidades para que novas pesquisas venham trazer assim contribuição
para o mundo científico psicorreligioso.
CAPÍTULO I
SÍNTESE HISTÓRICA DOS
PENTECOSTAIS.
O movimento
pentecostal[1]
teve sua origem em 1900, expandindo-se até a Suécia, a Índia, e América Latina,
e só foi organizado nos Estados Unidos em 1914, com o nome de “General
Council (Assembléia Geral)”. No mesmo ano, cerca de cem
congregações e seus respectivos pastores,
reuniram em Hot Springs
(EUA), dando-lhes um único nome: “Assembléia de Deus” (BETTENCOURT, 2003, p.
48).
A Assembléia de Deus
teve sua origem no Brasil em 1910, através de dois missionários suecos: Gunnar
Vingren e Daniel Berg. Aquele de origem batista, nasceu em 1879. Foi para os
Estados Unidos em 1903, e lá recebeu o “batismo com o Espírito Santo[2]”, o
dom de falar em línguas estranhas, afirmando que o poder de Deus vinha como uma pressão, sobre ele (BETTENCOURT,
2003, p. 48).
Gunnar Vingrem e
Daniel Berg foram chamados para o trabalho missionário no Brasil, em 1910, pelo
Espírito Santo, através de mensagem, em línguas estranhas[3],
pronunciadas por um certo “irmão[4]”
Uldin, proprietário da casa onde estavam hospedados. Na mensagem, o irmão
repetia muitas vezes a palavra “Pará”, que era desconhecida aos ouvintes.
Consultando a
biblioteca local, descobriram que Pará era um estado que ficava na região norte
do Brasil. Receberam a mensagem como ordenação divina, entendendo que deveriam
vir para o trabalho missionário no Brasil.
Em novembro de 1910,
chegaram a Belém do Pará, com o objetivo de iniciar o trabalho de divulgação do
pentecostalismo ( BETTENCOURT, 2003, p. 48).
Os historiadores do
movimento pentecostal, com unanimidade mencionam a Rua Azusa, em Los Angeles ,
Califórnia, como central de expansão do avivamento que espalhou por cidades e
nações, tendo início em 1906. Antes dessa data, uma senhora metodista, que
houvera recebido a mensagem de avivamento[5], em
Houston, foi quem a levou até Los Angeles. Milhares de pessoas passaram a
reunir na rua Azusa, para interceder pela salvação do mundo e buscar um
avivamento; desejosos de uma vida espiritual abundante e de vencer pecado (CONDE,
2003, p. 21-22).
Estava à frente dessa
igreja o pastor W. J. Seymor, pregador pouco eloqüente.
Ele anunciava a
promessa do batismo com o Espírito Santo e durante o culto intercedia para que
Deus se revelasse de forma extraordinária aos fiéis.
O poder de Deus vinha
de forma inexplicável sobre os fiéis, que se enchiam de convicção das verdades divinas,
sendo apoderados por um enorme desejo de santidade. Durante o culto surgiam
louvores espontâneos, pessoas eram batizadas com o Espírito Santo, falavam em
línguas estranhas, profetizavam[6] e
cantavam hinos espirituais (CONDE, 2003, p. 22).
As noticias desses
fatos foram propagando-se, sendo que até jornais seculares interessaram pela
matéria e a divulgava. Pessoas de todos os lugares, membros de várias outras
igrejas protestantes, ali chegavam por curiosidade para verem de perto o fenômeno
religioso, sendo batizadas também com o Espírito Santo e voltavam divulgando
suas experiências a outras pessoas.
Chicago foi uma das
cidades onde o movimento pentecostal mais se destacou, alcançando todas as
igrejas evangélicas da cidade.
O movimento
destacava-se pelo o fato de após as pessoas serem batizadas com o Espírito
Santo, eram despertadas e possuídas por um forte desejo de divulgar o Evangelho
para outros povos. Cada pessoa que se convertia, tornava-se um missionário em
potencial (CONDE, 2003, p. 22-23).
O pastor batista
Gunnar Vingren, de nacionalidade sueca, vivia na cidade de South Bend, no
estado de Indiana. Ele foi atraído pelas notícias e acontecimentos do avivamento
de Chicago, resolvendo então presenciar o que estava acontecendo. Na oportunidade,
ele creu e foi batizado com o Espírito Santo.
Participando de uma Convenção
Batista, das igrejas que aceitaram o avivamento, ele conheceu o jovem pastor,
também de origem sueca, Daniel Berg, que também já havia sido batizado com o
Espírito Santo. Ambos chegaram á conclusão de que Deus queria enviá-los para terras
longínquas, porém não faziam idéia do lugar.
Posteriormente,
conforme já nos referimos através de mensagem profética, foi lhes comunicado
que deveriam ir para o estado do Pará, no Brasil. Sem nenhuma promessa de ajuda
humana, sem sustento financeiro, apenas vivendo a fé no que tinham crido e
experimentado, embarcaram para o Brasil (CONDE, 2003, p. 23-24).
Gunnar Vingren e
Daniel Berg chegaram em Belém do Pará, no dia l9 de novembro de 1910. Ambos os
pastores ainda estavam ligados oficialmente, a denominação Batista nos Estados
Unidos, portanto procuraram a sucursal em Belém, que os acolheram e
hospedaram-nos nas dependências da igreja. Suas experiências a respeito do
fenômeno religioso vivido, logicamente levaram-nos a testemunhar para os demais
membros da Igreja Batista.
Os resultados não
tardaram: houve salvação em Jesus Cristo. Quando a primeira pessoa na igreja
recebeu este batismo. Foi o suficiente. Como era de se esperar, a igreja não
viu isso com bons olhos; pois essa prática religiosa ia de encontro com os
dogmas Batistas.
Em assembléia
administrativa local, houve a proposta de serem excluídos os rebeldes da
comunhão com a igreja, ou seja, os que praticavam a doutrina do Batismo com o
Espírito Santo e os Dons Espirituais (CONDE, 2003, p. 26-32). “Os rebeldes”
oraram, e, de mãos erguidas, dando glória ao Cristo, abandonaram o local”
(CONDE, 2003, p. 32).
No dia 18 de junho de
1911, fundam a igreja, com l7 pessoas expulsas da Igreja Batista, dentre elas
os pastores Gunnar Vingren e Daniel Berg. A partir daí, nas décadas seguintes,
a igreja viria trazer admiração ao mundo pelo seu exuberante crescimento
(CONDE, 2003, p. 32).
Em
tudo isso, pode-se notar a mão de Deus operando através de homens e
mulheres
humildes. Como se vê, essa obra não pertence a homem algum, mas a Deus somente.
A nova igreja estava livre para evangelizar. E ousadamente anunciava a
salvação, a cura divina, o batismo com o Espírito Santo e a volta de Jesus
Cristo para buscar a sua igreja. Estavam todos cheios do poder de Deus. Em
resposta às suas orações, o Senhor operava sinais e maravilhas. Vivificando
cada testemunho e sermão, o Espírito Santo convencia os mais vis pecadores”
(CONDE, 2003, p.33).
Os fatos que
contribuíram para fundação da Assembléia de Deus repercutiram nas demais
denominações evangélicas e estas temendo serem absorvidas pelo movimento
pentecostal, uniram-se para combatê-lo, utilizando-se de “calúnias, delegação e
até agressão física, tudo era válido”. Chegaram, inclusive, a levar aos jornais
a denúncia de que os pentecostais eram uma seita perigosa, tendo como prática o
exorcismo, enfim alarmaram a população (CONDE, 2003, p.33).
Apesar
das adversidades, a Assembléia de Deus cresceu, fortaleceu e expandiu-se, levando
o trabalho missionário e em 1936 tinha alcançado todas as capitais dos estados
brasileiros e grande parte do interior de todos os estados, alcançando o último
território em 1946.
Atualmente,
a Assembléia de Deus é a maior denominação pentecostal no Brasil. Dela
derivaram inúmeros outros movimentos e denominações pentecostais.
Dentre
eles o movimento entre as igrejas tradiconais, principalmente Batistas e Presbiterianas
que faccionaram-se surgindo as denominações Batista Renovada, hoje Batista
Nacional e Presbiteriana Renovada e posteriormente os neopentecostais. As denominações
surgidas da Assembléia de Deus, aboliram os usos e costumes, mas conservaram a doutrina do Espírito Santo e dos Dons
Espirituais, a crença na cura das doenças e na transformação por que passam as
pessoas que se convertem ao pentecostalismo.
CAPÍTULO II
SAÚDE E DOENÇA
Este capítulo visa
rever saúde e doença, desde a sua definição. Será realizada uma releitura de
como eram vistos, doença e doente, como eram tratados e aceitos, no contesto
histórico-religioso e antropológico do Antigo e Novo Testamento.
2.1
Saúde
Para se falar em
doença, torna-se necessário partir do conceito de saúde. A saúde é definida
pela Organização Mundial de Saúde – OMS, como ”um estado de pleno bem-estar
físico, mental e social, e não a simples ausência de doença”.
Com relação ao termo
“mental” seria o que se relaciona ao espírito, à mente e sentimentos, não se
limitando apenas ao que diz respeito à esfera cognitiva, onde estão as “atividades
eletivas” e a atuação da natureza humana; mas também o que diz respeito ao
mundo emocional, os sentimentos, os estados de humor que respondem de forma relevante
sobre a vida e o mundo exterior (COLOMBERO, 2000, p.8).
Complementando esta
idéia encontra-se também a importância de considerar-se a vida, o todo:
“observar a concepção de saúde está intimamente relacionado com uma concepção
religiosa do corpo e da vida” (LEMOS, 2002, p. 480).
O conceito amplo de
saúde citado acima é questionável, principalmente, no que diz respeitos às
ciências médicas, na atualidade, e onde ele estaria sendo efetivado em toda a
sua abrangência.
TERRIN (1998, p.201)
chega a afirmar que o “estar bem” proposto pela OMS, seria irrealizável e
esclarece: ”[...] todos nós somos mais ou menos doentes, uma vez que somos
submetidos na sociedade e no ambiente em que vivemos, a conflitos sociais, a
desgastes psicológicos, a perturbações profundas que nos impedem, por um motivo
ou por outro, de atingir uma situação de bem-estar que seja ao mesmo tempo
física, espiritual e social”.
A saúde de uma pessoa
é sustentada por ela e pela comunidade, ou seja, pelo sentido que sua
comunidade tem e lhe transmite, e pelo que ela sente em relação a esta
comunidade. Este sentido está ligado a “família, colegas, amigos e comunidade”,
como um todo, “que recebe a contribuição da atividade e generosidade da
pessoa”, como também lhe transmite (PHILLIBERT, 1998, p.9).
2.2
Concepção de Doença e Doente
Na realidade
brasileira, a doença é concebida no senso comum a partir de um sintoma no
corpo, como uma dor, disfunção, infecção e outros. Na área técnica principalmente
na medicina, não foge à regra, é a partir de um sintoma que a pessoa procura um
médico, isso quando tem condição de fazê-lo, apresentando um resumido diálogo
dos seus sintomas.
O médico, por sua
vez, com sua visão restringida ao corpo e a partir da sintomatologia, é mais
propenso a ler e avaliar resultados dos exames, do que ouvir o relato do
paciente sobre os seus sintomas ou doenças.
Com as inúmeras especializações,
o médico enfoca e prioriza partes do corpo, deixando assim de ver e avaliar o
ser humano como um todo, como um ser holístico.
Sobre isso, completa Rosny
(188 p. 19) “Quanto à medicina dos hospitais, ela tende a centrar-se antes de tudo
no indivíduo, no corpo orgânico do indivíduo, ou até mesmo num único membro desse
corpo”.
Naturalmente, a
cultura com a sua diversidade de valores é quem conceitua doença de acordo com
o grupo social, cidade ou nação; isto porque cada grupo étnico dá ao termo
“doença”, explicações e conceitos vindos dos seus ancestrais, ligados também às
suas crenças religiosas.
A doença pode ser
definida como “desestabilização das forças da vida”, pois prejudica a
estabilidade física, danificando sua qualidade e enfraquecendo a qualidade da
saúde.
Essa desestabilização
pode ocorrer em conseqüência de: “guerra, violência, agressão pessoal, contágio
ou ferimento”, como também em decorrência de: “fome catástrofes naturais e
acidentes os quais levam á ruptura do bem-estar físico e social”. “Vulcões,
terremotos, furacões ou enchentes marcam muitas vezes a vida de comunidades
inteiras”.
A doença também pode
ocorrer no dia-a-dia, como conseqüência de vários fatores: ambientais: como
poluição, agrotóxicos, contaminação na água; socioeconômicos como: preconceito
racial, de gênero, social, religioso, baixa renda, desemprego, desnutrição,
fome, e ausência de princípios de higiene; envelhecimento: conseqüências das
várias faixas etárias vividas; vícios, como: o fumo, a droga e o álcool;
emocionais, como: perdas, conflitos, rejeição, culpa, estresse, e outros.
Não existe, portanto
um critério em que não possa haver equívoco em relação a doença, seu conceito é
portanto analógico (PHILLIBERT, 1998, p. 9-10). “A pessoa doente é pessoa dependente,
limitada nas suas potencialidades” (SCHIAVO; SILVA, 2000, p. 108).
Essa limitação e
dependência trazem uma série de transtornos emocionais, como sentimento de
incapacidade, de impotência, de menos valia e outros; os quais contribuem, para
maior deterioração emocional e orgânica.
2.2.1 Contexto Histórico
Cristão: Antigo e Novo Testamento.
Ao fazer uma
retrospectiva, observa-se nos relatos histórico-religiosos, no mundo antigo,
que sempre houve doenças, como também curas, milagres, sinais e maravilhas, através
de uma crença, ou experiência religiosa. Isto ocorreu em todos os tempos e em todas
as culturas, onde a convicção do sobrenatural, do sagrado, existiu e ocorre
ainda em nossos dias.
Pode-se observar
entre o povo de Israel, desde os tempos primórdios que o conceito de doença sempre
esteve ligado ao pecado e à impureza. Os termos “possessão de demônio” ou
“espírito de enfermidade” possivelmente foram absorvidos de crenças e costumes
da cultura dos povos que os dominaram. Surgiram após o exílio babilônico.
No Antigo Testamento,
as pessoas aparecem como “afetadas por enfermidades” em suas múltiplas formas
que poderiam indicar “fraqueza, mal estar, úlceras feridas” e às vezes
mencionadas de forma que não se pode identificar a patologia[7].
Muitas são traduzidas
como manifestação do mal. Naturalmente a imprecisão na identificação revelava o
desconhecimento da anatomia humana. A nomenclatura não importava tanto, porém a
origem se atribuía: castigo pelo pecado. (VENDRAME, 2001, p. 21).
As doenças mais
freqüentes, citadas no Antigo Testamento, são as “afecções cutâneas, cegueira,
surdez, paralisias e esterilidade”. Essas doenças simbolizavam “males maiores,
de ordem espiritual”, bem como sofrimento com o qual os seus portadores eram
acometidos. Os doentes eram abandonados em função do “significado religioso da
doença” (VENDRAME, 2001, p. 22). De todas as doenças a lepra era a pior.
Segundo o povo de Israel, lepra era castigo de Deus comparado à morte. “O próprio
termo sara (=leproso) significava golpeado, ferido (por Deus).
Miriam (Nm 12, 1-15) e o rei Osias (2 Cr 26, 19-20), são casos típicos”
(VENDRAME; 2001, p. 22). Além da lepra, o povo de Israel era acometido de
inúmeras epidemias ou males, que o impactava.
As pessoas doentes e
impuras deveriam ser expulsas do acampamento. Veja o exemplo de Nm 5,2, onde os
portadores de lepra, blenorragia e os que se contaminaram com cadáveres
praticamente eram excluídos. Para os israelitas, “cumprir as determinações da
Tora[8]
significava garantir a presença de Javé[9] no
meio do povo e no meio do espaço habitado pelo povo” (LAGO, 2003, p. 994). Na
época, a integridade era o instrumento que resguardava o direito de posse e de
inclusão, conforme Lv 18, que traz consigo normas, principalmente sobre
questões sexuais. Essas práticas e estilo de vida foram influências do povo de
Canaã (LAGO 2003, p.994-95).
Tanto no Antigo como
no Novo Testamento aparecem inúmeras doenças físicas, sendo que muitas podem
ser de origem psicossomática[10],
como também distúrbios comportamentais dos mais simples até os suspeitos de
transtornos mentais.
Logicamente muitas
doenças jamais puderam ser diagnosticadas. O fenômeno cultural com os valores
da época enfatizou para mais ou para menos cada fato de acordo com o local, a
época e os credos vigentes. Laraia acrescenta:
o
modelo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes
comportamentos sociais e o mesmo as posturas corporais são assim produtos de
uma herança cultural, ou seja, resultado da operação de uma determinada cultura
(LARAIA 2003, p. 68).
Revendo o Novo
Testamento que historicamente é uma das bases principais desta pesquisa, pelo
fato de se buscar resposta prática em uma variante do cristianismo que é o
pentecostalismo, depara-se como viviam socialmente os judeus no início da era cristã.
No ano 63 a .C., o general Pompeu
impõe o domínio romano sobre Israel. “Trata-se do temível e implacável poder
romano, que se implanta de maneira forte, servindo-se de aliados poderosos, no
interior do país e da força de suas legiões, prontas para agir ao menor sinal
de rebelião” (VASCONCELLOS; SILVA, 2003, p. 233).
Herodes reinou com
muita violência contra o povo de Israel, no período de 37 a .C a 04 a .C. Com sua morte, o poder
foi dividido entre seus filhos: a Galiléia ficou sob o poder de Herodes Antipas
e a Judéia e Samaria com Arquelau (Mt 2, 22).
Roma precisou
implantar a presença de procuradores, dentre eles Pôncio Pilatos, em Samaria,
Judéia e posteriormente Galiléia, em função da resistência do povo contra
Arquelau, a partir de 6 d.C. Herodes Antipas morreu em 39 d.C. e todo o
Israel foi governado por Herodes Agripa, até
44 d.C. Com a morte de Herodes Agripa, foi implantada novamente, em Israel, a
presença de procuradores, até que surgiu a guerra em 66 (VASCONCELLOS; SILVA,
2003, p. 224).
O governo romano
afligia muito o povo de Israel, não só com a presença do exército, mas com a
cobrança de impostos, agravando a situação das famílias, principalmente as
camponesas. A concentração de terra aumentou. As terras melhores pertenciam a
estrangeiros principalmente romanos e as produções eram mais destinadas à
exportação. Isso trouxe perda, miséria e pobreza. A esse domínio sobre o povo
de Israel, foi dado pelos romanos o nome de Pax romana; que consistia
mais em guerras, massacres e escravidão. Sob o domínio romano o povo de Israel
estava sendo humilhado, explorado, empobrecido. Eram tratados com violência,
seus valores e tradições eram desrespeitados e destruídos (VASCONCELLOS; SILVA
2003, p.227).
Era muito modesta a
situação econômica dos judeus. Os ricos eram apenas um pequeno grupo de
Jerusalém e os latifundiários da Galiléia. Certos latifundiários não eram
judeus; moravam fora, e deixavam administradores na terra. A população judaica em
geral tirava seu sustento das plantações, artesanatos e pequenos comércios. A agricultura
existia nas terras férteis do norte e em menor escala, próximo a Jerusalém.
Os jornaleiros deviam
contentar-se com baixos salários (cf Mt 2, 1-16), pois era o que lhes restava
por não possuírem terra própria. A terra da Judéia servia para pecuária, e o lago
de Genezaré para pescaria. No vale do Jordão eram produzidos vinho e figo. A população
rural vivia de forma modesta devido à baixa renda. As outras profissões como
tecelão, pisoeiro, alfaiate, ferreiro, escrivão, oleiro e outros, também não
eram bem contempladas em seus salários. Havia desemprego, pobreza e
mendicância, em grande escala (LOHSE, 2000, p. 136-37).
No início do primeiro
século da era cristã, os judeus apesar de estarem sob o domínio romano,
mantinham sua fé em um único Deus, que era o poderoso Senhor do universo e que
também era o rei dos judeus, ao qual eles deviam obedecer observando a sua
vontade. Por isso, a prática cotidiana da Tora era doutrina fundamental do judaísmo.
Apesar de não possuírem um sistema teológico-especulativo, aplicavam a Lei nas
questões cotidianas da vida, inclusive no julgamento em relação às doenças.
Na sua maioria, os
judeus viviam modestamente, em casas pequenas de um quarto. Passavam essa
observação da Tora aos filhos, os quais deviam também honrar o pai e a mãe. O
casamento era abençoado por Deus. A mulher era submissa e subordinada ao marido
e não podia atuar na vida pública. No templo, devia limitar-se à área reservada
que era o pátio das mulheres. Não podia ter parte ativa no culto (LOHSE, 2000,
p. 135-38).
O império romano, por
quem os judeus eram dominados nos dias de Jesus não se preocupava com a saúde
do povo. Os doentes ficavam em seus leitos em lugares públicos. Dentre as
principais doenças da época estavam: a cegueira; a lepra e toda doença de pele
que era tratada como tal; a paralisia; os quebrados, torcidos e encurvados;
enfermidades mentais; a surdez; a gaguice; a afonia; a hemorragia e a hidropisia
(SCHIAVO; SILVA, 2000, p. 40)
A medicina, a magia e
a religião estavam de tal maneira tão envolvidas que às vezes se confundiam. A
influência religiosa era grande, e a medicina exercida por sacerdotes. As
doenças psicológicas e mentais eram atribuídas ao demônio.
O motivo que levava
os judeus a atribuírem as doenças mentais e psicológicas aos demônios vinha das
tradições antigas com raízes na Babilônia e no Egito. Na Mesopotâmia, as
doenças eram produtos de demônios, monstros e seres maus. Os judeus absorveram
esta forma de crer “atribuindo a doença ao demônio e a cura a Deus”
(SCHIAVO;SILVA, 2000, p. 42). Devido ao desconhecimento da época, as doenças
psssicossomáticas não podiam ser entendidas a não ser como possessão de demônios
ou resultado do pecado; o que acontece na história da mulher encurvada de Lc
13, 10-17. A
impureza no seu sentido geral levava à exclusão e com certeza contribuía para
complicar mais o quadro, não só do doente como dos seus familiares. A associação
da doença com o pecado levava a pessoa a ser julgada pelos demais; concluía-se,
que estava pagando por algum mal. Para o judaísmo oficial, “pobreza; doença;
deficiência física e mental eram consideradas conseqüências do pecado, portanto
castigo de Deus” (SCHIAVO; SILVA, 2000. p. 46), e podiam significar possessão
de maus espíritos.
Surgiu na Galiléia, e
posteriormente na Judéia, por volta do ano 30 d.C., um movimento religioso
liderado por Jesus de Nazaré, que pregava um novo caminho que levava a Deus,
trazendo salvação aos judeus e gentios. Seus ensinos eram antagônicos aos dos
fariseus. Seu tema principal era o “reino de Deus”. Questionava mais o mundo
religioso judeu do que os romanos (PIXLEY, 2002, p. 128). O movimento de Jesus
deslegitimava o domínio religioso que estava acima da lei de Deus, vendo o templo
como instrumento de opressão para o povo. O movimento exigia dos seus seguidores
uma verdadeira ruptura com os valores dos laços familiares, tradições religiosas
e sociais. Em contrapartida, os seguidores eram esclarecidos, valorizados e tinham
certeza de vida eterna; também eram curados das suas enfermidades (PIXLEY, 2002,
p. 128-29).
CAPÍTULO
III
MODALIDADES
PRINCIPAIS DE MANIFESTAÇÃO DAS DOENÇAS
A discussão levantada
neste capítulo está voltada para as diferentes formas modalidades de
manifestação das doenças no ser humano. Serão abordados a seguir, de forma
sucinta, essas modalidades reunidas em apenas três grupos.
3.1 Doenças
Orgânicas
Muitas pessoas e
cristãos da atualidade, fiéis aos escritos de Gênesis, continuam crendo
piamente que a criação de Deus era boa na origem e que o homem no início, na
condição paradisíaca, desconhecia “toda enfermidade, toda dor, toda corrupção,
e que, conseqüentemente, a própria morte lhe era estranha” (LARCHET, 1998, p.
62).
Na disposição
ambiciosa de tornar-se como Deus (Gn 3,5), o ser humano perdeu a condição de
imunidade às doenças, abrindo precedente a elas e a toda sorte de males e
corrupções. Os males que afetam os seres humanos hoje, inerentes da sua natureza,
herdados do primeiro homem, teriam passado “de geração a geração, essencialmente
por via biológica” (LARCHET, 1998, p. 63).
Observa-se então ser
este um possível mito[11], o
fato de a doença ser considera como castigo pelo pecado; principalmente pelos
judeus no Antigo e Novo Testamento, e também por muitos cristãos até os dias de
hoje.
A doença está sempre
presente na vida do seu humano e continuam surgindo novas doenças. A busca pela
saúde, hoje, é quase uma obsessão. Essa busca incessante ocorre em todas as
sociedades e culturas.
A
doença é uma ameaça direta e concreta à vida, o primeiro passo rumo a possibilidade
da morte, a presença da morte no seio da vida. Movimenta o imaginário,
direciona energias e recursos, gera mecanismos de controle, exclusão,
marginalização, descaso ou até demonização (LAGO, 2003, p. 989).
São muitos os fatores
que poderiam dar origem às doenças no corpo “a presença de um vírus, de uma
infecção, funcionamento anormal de um órgão; o trauma psicológico; a crise
moral ou espiritual” (CATALAN, 1999, p. 141). Poderia acrescentar-se ainda as
questões socioeconômicas. A Pessoa não se preocupa só com o sintoma orgânico,
mas “com a família, o trabalho, a continuidade numa comunidade de relações e a
angústia quanto à capacidade de permanecer em suas ocupações pessoais e criativas
ou retornar a elas” (PHILIBERT, 1998, p. 9-11).
Em função dos
sintomas, a doença no corpo é a mais perceptível e muito desagradável. As
doenças de origem emocional e social, nem sempre são tão percebidas. O leigo só
consegue tomar consciência que está doente quando os sintomas aparecem na sede
do seu ser, o corpo.
Por
isso, podemos dizer que o nosso corpo é um órgão político-social: Nele se espelha
nossa realidade. Com ele experimentamos o mundo. Ele é o lugar onde ficam
registradas as marcas de tudo que acontece, as marcas de nossa história. Todas
as expressões de opressão, bem como todas as lutas e conquistas de libertação
estão registradas em nossos corpos. Poderíamos dizer, nesse sentido, que nosso
corpo é nossa memória. Assim nossos corpos – doentes e sadios – são ao mesmo
tempo instrumentos de denúncia e anúncio. Denunciamos o mal que experimentamos,
que nos sufoca, que nos tira o fôlego de vida e nos prende (RICHTER REIMER,
2002, p. 1237).
O homem doente não é
ele só, um indivíduo isolado, ele é membro de uma família que conseqüentemente
também está doente, “Ele é como o sinal vivo do mal que atinge esta família, da
qual faz parte integrante, enquanto se identifica com ela e enquanto se
reconhece nela” (ROSNY, 1998, p. 22). Essa família faz parte de um grupo social,
uma sociedade que também está doente.
Ainda hoje, no campo
da religião, um percentual relevante no Brasil e na América Latina,
principalmente os pentecostais e neopentecostais, relacionam a doença com o pecado
ou opressão do demônio. Possivelmente estão percebendo só a manifestação orgânica
como os judeus, fazendo vista grossa ou mesmo ignorando que a doença é o resultado
da estrutura política, econômica, social e psicológica que se processa no biológico.
As doenças de origem
emocional e de cunho social que possivelmente causam maiores danos no ser
humano, nem sempre são tão perceptíveis e diagnosticadas as suas origens, mas,
acabam também chegando à sede do ser, o corpo, que é o receptor final.
Muitas doenças não
podem ser dissociadas da família e do meio. É importante lembrar que o ser
humano é um ser social. Ele está inserido na família, que é o seu primeiro
grupo social, e esta, em grupo social maior, a sociedade. Se ele está doente, também
sua família está doente. Se a família está doente é fruto de uma sociedade que de
alguma forma também está doente (ROSNY, 1998, p. 20). È possível reafirmar essa
linha de pensamento com o que se segue: “A doença integra a ordem biológica com
a ordem sociocultural ao produzir alterações tanto no corpo do sujeito como nas
suas funções sociais” (QUINTANA, 1999, p.26, apud LEMOS 2000, p. 485).
A doença, além de
toda a sintomatologia aparente, “pode prejudicar a estabilidade física da vida,
deteriorando assim sua qualidade e diminuindo a integridade da saúde”
(PHILIBERT, 1998, p. 9). Com a diminuição da saúde, o ser humano é afetado como
um todo.
A doença é, portanto,
o resultado da estrutura política, econômica, social e psicológica que se
processa no biológico. Ela abrange enorme contexto que precisa também ser
curado.
3.2
Doenças Espirituais
Possivelmente na
Bíblia, na cultura hebraica, no Antigo Testamento, não havia concepção de
espírito mau ou demônio. Não há relato sobre isso nos primeiros capítulos de
Gênesis, quando é descrita a criação do universo. O homem e a mulher foram
criados sem relato de que havia um ser oposto a Deus (SCHIAVO; SILVA 2000, p.
53).
Sobre a questão de
Satanás como representante ou responsável pelo mundo do mal, seguem-se alguns
esclarecimentos que ajudam a clarear melhor a situação: o monoteísmo judaico
era radical em relação a outras divindades e não havia no Antigo Testamento uma
palavra que pudesse entender-se por Satanás.
A idéia de demônio como
responsável pela origem do mal, desenvolveu-se progressivamente e com o passar
do tempo, tornou-se cada vez mais significativa. Satanás a princípio era visto como
parte de Deus, do seu reinado. Depois foi visto como espírito bom (anjo) e
espírito mau (demônio), até que passou a ser considerado o símbolo do mal, contraditório
a Deus.
A imagem de Satanás é
o resultado de mistura natural, onde está incluído: magia, religiosidade
popular com ritos mágicos, simbolismos e psicologia. O termo “Satanás” procede
da raiz stn que significa literalmente “alguém que tira alguma coisa no
caminho de alguém”.
Em resumo esse termo
recebeu novos sentidos, os quais, ele não possuía na sua origem. Quando ele
surgiu não era mau e muito menos oposto a Deus. (SCHIAVO; SILVA, 2000. p. 53).
Demônios não eram
figuras tão conhecidas. No período helênico eles eram considerados mediadores
do bem e do mal.
Os
demônios (dáimon ou daimónion) eram seres cuja esfera de ação se situava
entre os deuses e os homens, com o poder de serem mediadores do bem (gênio) e
do mal (doenças). Para Israel dada a sua fé no Deus único, os demônios
não tinham nada de divino e sua ação só podia causar o mal (VENDRAME, 2001, p.
114).
A palavra: “demônio”,
não fazia parte da antiga cultura judaica e só “a partir do exílio babilônico
no contato com as religiões orientais e com a invasora cultura helênica, que o
termo passou a ser utilizado com freqüência na religião popular de Israel” (VENDRAME,
2001, p. 114).
No Novo Testamento,
já aparece de uma forma bem explícita, esse conflito entre Satanás e Deus como
representantes respectivamente do mal e do bem. O representante do mal se torna
conhecido com nomes como: Demônio, Diabo, Belzebu e Espírito Imundo. Os
espíritos malignos ou impuros eram os responsáveis por toda sorte de males,
doenças e indução ao pecado (SCHIAVO; SILVA, 2000, p.69).
Na comunidade
judaica, doença e ação do demônio são inseparáveis. Faz parte da cultura no
tempo de Jesus, a crença em demônios e possessões diabólicas.
Dentre as crenças
assimiladas das civilizações vizinhas por Israel estão a angeologia e a demonologia.
Para o judaísmo que é uma religião monoteísta, essas forças tanto benéficas
quanto inimigas são inferiores a Deus (BAUTISTA, 1996, p. 126).
Investigando o relato
sobre a mulher encurvada (Lc 13, 10-17), pode-se levantar alguns
questionamentos como: sua doença era apenas física, de ordem espiritual, ou física-espiritual?
Pode-se entender que era uma doença física que para a cultura da época era
taxada como espírito de enfermidade, demônio.
Não há relato de que
ela fosse uma pessoa demente, durante estes dezoito anos. Pelo contrário, ela
estava na sinagoga para ouvir a leitura das Escrituras. Isto sinaliza que suas
faculdades mentais gozavam de plena lucidez, caso contrário, ela não iria ou
não seria levada à sinagoga.
O fato de estar
presente na sinagoga, já era um indicio de que não estava sentindo dor.
O que resta é
averiguar até que ponto ela teria apenas uma doença física crônica, e até que
ponto também esse quadro não poderia ser psicossomático, em função principalmente
da postura física e dos traumas e marcas emocionais como resultado de uma
cultura opressora.
As doenças desde o
Antigo e Novo Testamento, não eram bem vistas e em muitos casos, as pessoas
eram discriminadas e até marginalizadas. Richter Reimer (2003 p. 1243)
confirma: “Entender doenças como sendo uma possessão de demônios era comum na
época [...]. Na cultura popular ou religiosa, demônios e espíritos imundos ou
malignos eram causadores de doenças mentais e espirituais”.
Tanto no Antigo como
no Novo Testamento aparecem inúmeras doenças físicas, sendo que muitas podem
ser de origem psicossomática, como também distúrbios comportamentais dos mais
simples até os suspeitos de transtornos mentais.
3.3
Doenças Psicossociais na Atualidade
As doenças, na
realidade, são conseqüências de todo um processo social e podem ser
psicológicas propriamente ditas e psicossomáticas; estas de origem emocional ou
agravadas pelo estado emocional da pessoa.
As psicossomáticas
são manifestadas em uma parte específica do corpo. São resultados de momentos psicológicos
vividos pela pessoa no passado, possivelmente negativos e que deixam marcas
emocionais, comprometendo assim a saúde dessas partes do corpo e que são refletidas
através da psicossomatização[12]
(LELOUP, p. 18-26).
A infra-estrutura
social quase nunca corresponde às necessidades de construção básica da
sociedade e do ser humano. A partir desses fatores, entende-se que as dificuldades
e impossibilidades sociais geram toda sorte de comportamentos sociais, os quais
por si geram traumas e conflitos profundos de ordem psicológica e, como conseqüência,
uma série de doenças orgânicas e psicossomáticas, que interferem no cotidiano
da pessoa (ROSNY, 1998, p.9). O corpo como instância final do processo é que
recebe toda a carga da sociedade doente.
Alguns levantamentos
desde o povo de Israel, no passado nos trazem informações sobre a saúde
emocional, como era vista e encarada, tanto em situações de completo equilíbrio
onde a pessoa se manifestou saudável emocionalmente como em questões
patológicas como Petrelli (2003 p.115) explica: “A psique adoece, tanto na região
da lógica e da razão, quanto afetiva espiritual, quando se dissocia dos paradigmas
da mente e do modus como estes foram apresentados à nosografia[13] psiquiátrica
e psicopatológica[14]”.
A psicologia herdou
parte do modelo psicanalítico de Freud, no sentido de ver e avaliar as reações,
sentimentos, comportamentos e patologias de ordem emocional e psicossomática,
sem admitir em tudo isso influência das crenças religiosas e as contribuições
positivas ou negativas que elas pudessem trazer para a cultura.
O funcionamento de
uma sociedade contém ações e reações do ser humano, na sua individualidade,
onde estão presentes as convicções religiosas.
Com a visão
psicocientífica de Carl Gustav Jung[15], a
religião começou a ser vista e considerada, até certo ponto, de outra forma no
meio psicológico. Para Jung ela faz parte da cultura, do social.
Conseqüentemente leva as pessoas a emitirem comportamentos que a psicologia não
pode negar.
Esperava-se que o
comportamento religioso aos poucos fosse se extinguindo. Isso, porém, não
aconteceu. Pelo contrário, aumentou com o sincretismo religioso. Diante da sua
necessidade biopsicossocial, a pessoa busca alternativas naturais, humanas, nas
ciências que nem sempre podem oferecer resposta, outros não possuem condições
financeiras para isto. Podendo ou não, o sagrado é a alternativa acessível a todos.
Na atualidade, apesar
das vacinas e inúmeros outros meios de prevenção, o ser humano encontra-se
diante de enfermidades que poderiam ser chamadas pestes do século XXI.
Elas não são transmissíveis organicamente, porém têm suas múltiplas origens, a
partir da cultura capitalista, da não valorização do sistema ecológico, do ser humano,
e todo o seu contexto psicossocial.
A pessoa não é
tratada de forma igualitária, é discriminada principalmente por causa da classe
social, raça ou gênero a que pertence.
O peso cultural e
social, compromissos financeiros com impostos, que hoje no Brasil consomem mais
de um terço do que se ganha; problemas familiares: conjugais, relacionamentos,
falta da consciência dos papéis no lar, violência familiar,
desemprego, falta de escolaridade,
alimentação e higiene inadequada e outros, são fatores que contribuem e
extrapolam para que a problemática aumente e com ela uma gama de comportamentos
desajustados, que por sua vez geram maiores danos, chegando a tão conhecida
violência urbana. São estes e outros problemas que geram as doenças
psicossomáticas, redundando em sintomas dos mais variados no organismo e na
vida, quando não levam a pessoa à violência e ao suicídio.
Dentro da cultura
capitalista, principalmente nos países pobres, geralmente a pessoa não tem
consciência dos seus verdadeiros direitos e por isso mantém um comportamento de
conformismo, de submissão, devido à falta de informação. O meio social
contribui para deixá-la assim, alienada e às vezes, aumentando sua ignorância.
A pessoa doente é o
produto da desinformação. Muitas crianças morreram e morrem pelo fato de seus
pais não terem consciência da importância da vacina ou por não saberem alimentá-las
ou pelo desconhecimento da importância dos princípios básicos de higiene e
outros.
A partir desses
fatores, pressupõe-se que o sistema psicológico, as doenças psicológicas e
somáticas advindas da má estruturação social sejam pouco conhecidas.
As dificuldades e
impossibilidades sociais geram toda sorte de comportamentos sociais doentios e
indesejáveis, os quais por si geram traumas e conflitos profundos de ordem psicológica
e como conseqüência uma série de doenças psicossomáticas e orgânicas que
interferem no cotidiano da pessoa (ROSNY, 1998, p.9).
Por isso torna-se
bastante necessário investigar as curas, mudanças e transformações que abrangem
todo o contexto de vida da pessoa religiosa.
Percebe-se que os
evangélicos, principalmente os pentecostais, na sua maioria tendem a denominar
os quadros pssicossomáticos e os transtornos comportamentais de muitas formas
como: prisão espiritual, pecado, maldição, incredulidade, influência de demônio
ou possessão demoníaca e outros. Por outro lado, as ciências psicológicas, até
certo ponto, mantiveram-se afastadas das questões religiosas a começar de
Freud, que teve formação judaica, porém, tinha dificuldade em admitir questões
religiosas como verdadeiras. “Para Freud, portanto a crença religiosa permite
que os crentes gerenciem seu desalento negando suas necessidades insatisfeitas
e elevando a representação interna do pai ao posto de Deus”. (RIZZUTO, 2001, p.
161).
Ele foi o espelho
para muitos psicólogos que fizeram questão de considerarem-se ateus ou radicais
em relação à religião. Com o decorrer do tempo, tem surgido psicólogos judeus e
principalmente cristãos, que ampliaram sua visão e estão tentando promover “O encontro
entre a fé e a psicologia” (SUDBRACK, 2001, p. 9).
Surge então a
necessidade de os fenômenos religiosos serem pesquisados psicologicamente. Para
Sudbrack (2001, p. 58) “A psicologia como ciência trabalha com a técnica, mas
nem tudo que excede ou precede a técnica é fantasia”. E afirma ainda: “A igreja
e a teologia serão enriquecidas, em sua apresentação da fé, pela sociologia e
pela a psicologia”.
Os cristãos
carismáticos católicos ou evangélicos pentecostais, procuram dentro da
espiritualidade fazer com que todos os fatos em relação às doenças psíquicas e somáticas
sejam espiritualizados.
O que é
espiritualidade? Vejamos uma resposta: “Espiritualidade é aquilo que produz no
ser humano uma mudança interior, [...] se não produzir em você uma
transformação não é espiritualidade” (DALAI-LAMA apud BOFF (2001, p.16).
Apesar de muitos
autores terem apostado na secularização da religião isso não aconteceu. “A profecia
da morte da religião falhou e, duas décadas depois, o problema é exatamente o
contrário, acontece justamente uma explosão de religiosidades novas por toda
parte” (CAMPOS, 1997, p.32).
Os evangélicos,
principalmente os pentecostais e neopentecostais, no Brasil e América Latina
têm crescido de forma impressionante, com várias ramificações. O sincretismo[16]
neopentecostal[17] é
comentado.
O
crescimento, tanto em número de fiéis quanto de templos; a montagem de um
potente aparato de empresas de serviços religiosos, com televisão, rádio e imprensa,
produção fonográfica; a constituição de uma bancada de parlamentares com força
política nas Câmaras de Deputados do país e outros acontecimentos têm impactado
não só as religiões institucionalizadas, mas também grandes conglomerados
empresariais e os poderes públicos (BONFATTI, 2000, p. 9).
A religiosidade de um
modo geral sempre fez parte da vida do ser humano, porém nas últimas décadas
ela tem sido praticada de forma mais acentuada. Com isso a fé tem estado mais em ação. Muitos fatos,
porém, são dignos de investigação científica.
Até que ponto os
acontecimentos no meio religioso, são apenas religiosos e espirituais? Até que
ponto o amparo amoroso da religião aos fiéis e as promessas de mudanças
socioeconômicas, não estariam contribuindo para a cura dos quadros psicossomáticos?
Segundo Catalan (1999, p.42) não seria “a volta do religioso? ...Que tipo de
religioso?, pois convém dar ao assunto os matizes que ele requer”.
Olhando através do
prisma social, notamos que saúde é ausência de doença e que saúde abrange um
contexto maior, vai além do corpo.
O corpo que é a sede
de todo o ser da pessoa acaba sendo vitimado ou sendo o receptor final de toda
ausência de saúde, ou seja, das doenças: de ordem social, política, cultural,
psicológica e orgânica com toda a sua sintomatologia[18].
Nos países
subdesenvolvidos onde há maior percentual de doenças, elas ocorrem em função da
política social desagregadora. A sociedade não é vista como um todo
igualitário.
A pessoa é socioeconomicamente
valorizada pelo que possui. Não é vista em todo o seu contexto, como um ser
biopsicossocial. A opressão política financeira incide mais sobre os pobres que
são a maioria. Eles respondem pelo caminhar da nação, com sua força de
trabalho; e não são assistidos nas suas necessidades básicas (informação,
educação, alimentação e trabalho); fato que os leva a contrair toda sorte de
doenças sociais (comportamentos), físicas e psicológicas.
Como o corpo é quem
apresenta de forma mais visível e concreta, as síndromes finais das doenças,
ele se torna o alvo de maior atenção para que seja restabelecido e volte a
apresentar saúde.
Nos centros mais
desenvolvidos, os trabalhos de prevenção à saúde do corpo estão bem adiantados.
No entanto, como afirma Richter Reimer (2002,p.1234), “Refletir sobre saúde e
cura convida a uma reflexão mais ampla sobre as nossas condições sociais,
especialmente as condições sociais das pessoas doentes”.
A pessoa é um ser
social e como tal precisa e deve ser vista e reconhecida em todo o seu
contexto. Isso porque, grande parte das doenças tem sua origem em função do mal
ou não funcionamento da estrutura social, onde o ser humano não é valorizado.
Saúde
e doença manifestam-se em nosso corpo. Este corpo tem suas características
próprias, tem sua individualidade, mas seu objetivo e sua realização não
consistem em ser individualizado e isolado. Cada corpo se plenifica na relação
com os outros corpos (RICHTER REIMER, 2002, p. 1237).
As doenças na sua
maioria são conseqüências da estrutura social vigente em cada comunidade, povo
ou nação. A doença é o reflexo do sistema político e social de cada povo; da
forma que esta sociedade é encarada pelos seus governantes; e da prioridade que
é dada ou não ao ser humano participante desta sociedade.
Um percentual alto de
doenças tem sua origem no social. É bom enfatizar que uma doença não é só
orgânica. Uma sociedade doente gera não só doenças orgânicas, mas sociais e
psicológicas, principalmente quando deixa as pessoas à margem do sistema
econômico-político.
Uma sociedade doente
é produtora de pessoas doentes e mantém o poder econômico na mão de poucos.
Nela há injustiças salariais, que levam à discriminação social, à diminuição do
poder aquisitivo e automaticamente da qualidade de vida das famílias.
A sociedade doente
gera uma série de problemas sociais como: difícil acesso à saúde pública ou
falta quase total desta; miséria econômica e social, onde reina a falta de
moradia, de alimento, higiene e também nudez, impossibilitando, assim, à
população de crescer; educação medíocre que não condiz com a realidade,
contribuindo para que o indivíduo fique à margem; falta de um planejamento
social que venha atender melhor as diversas camadas sociais da atualidade e
vindoura, que tenha como objetivo final, a igualitariedade; doenças psicológicas,
com comportamentos variados de rebelião, violência e ainda as que redundam na
conversão para sintomas orgânicos, as psicossomáticas.
Isto se torna um círculo
vicioso, porque tende a deixar o individuo em estado orgânico, social e psicológico,
pior ainda. “A doença integra a ordem biológica com a ordem sociocultural ao
produzir alterações tanto no corpo do sujeito, como nas funções sociais”
(LEMOS, 2002, p. 485).
Nos países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento, onde o sistema capitalista domina, o
índice de doença é maior. A estrutura social não valoriza o indivíduo como pessoa
participante de uma sociedade. Conseqüentemente, o índice de cura é menor.
Investir na cura das
doenças do corpo é necessário, mas é um trabalho paliativo. O investimento em
hospitais, presídios e programas assistenciais é necessário, porém, resolve
apenas parcialmente. É uma forma alienante de conduzir a coisa, sem resolvê-la.
No entanto é o que mais se faz e se vê,
enquanto o ser humano continua sendo explorado e doente.
A cura só acontecerá
quando os governantes investirem na cura social de forma abrangente. Apesar de
difícil, é a melhor alternativa. A cura social, política e econômica, com
certeza refletirá na psicológica e no corpo, trazendo dignidade e vida saudável
a pessoa
[...]
é com isso que anunciamos a necessidade de mudança. É preciso transformar a
saúde privada em saúde pública. é necessário anunciar tempos de solidariedade
local e global. (...) querer saúde é uma afirmação básica para pessoas de todos
os tempos e lugares (RICHTER REIMER, 2002, p. 1237).
CAPÍTULOS
IV
ELEMENTOS
PSICOLÓGICOS QUE CONTRIBUEM PARA O SURGIMENTO DE DOENÇAS
Neste capítulo
procura observar a apresentação dos principais elementos psicológicos que contribuem
para o surgimento de doenças.
Como já vimos, são
inúmeros os fatores que contribuem para o surgimento de
doenças orgânicas, dentre eles estão os
psicológicos, sendo um dos seus resultados, as doenças denominadas
psicossomática.
A psicossomática estuda
as doenças orgânicas consideradas de origem emocional, como também aquelas que
são agravadas em função do estado emocional da pessoa. “A psicossomática pode
ser considerada a ciência que se propõe estudar e ajudar o ser humano tanto em
seus aspectos psicológicos quanto nos corpóreos“ (BALDONI; TROMBINI, 2004,
p.14).
As doenças orgânicas,
em percentual bastante elevado podem ser de origem psicossomáticas. Entendendo
os processos psicológicos: como, quando e porque a doença se manifesta,
praticamente, facilitará o entendimento do processo psicossomático instalado, e
será mais eficaz a busca da cura.
Dentre os elementos psicológicos
que contribuem para a mobilização de doenças destacaremos alguns, que estão
presentes no dia a dia do ser humano: sentimento de culpa; estresse[19] e sintoma
de conversão[20].
4.1 Sentimento de Culpa
A culpa é o resultado
da violação dos valores que foram introjetados, através de regras, normas e
padrões de comportamentos instituídos, que levam o indivíduo a avaliar o nível
de suas responsabilidades. São emoções que direta ou indiretamente expõem a
pessoa à opinião dos outros (BRASIO; VITALI, 2003, p. 21-22).
Há duas tipologias
principais da culpa. Primeiro, a predisposicional
que consiste em situações específicas e bem localizadas. Ela é
adaptativa, ou seja, o indivíduo tem condição de elaborá-la, sem que fiquem
marcas emocionais.
Segundo, a culpa crônica que pode ter
raízes mais remotas ou apresentar-se em situações neutras. Processos complexos
e relacionados entre si explicam a culpa crônica.
A
culpa crônica em alguns aspectos é semelhante à experiência da vergonha, não
promove atitudes positivas para com os outros, e é potencialmente desagregadora,
pois fere a imagem de si mesmo, implica uma perda de autoestima e expõe o
indivíduo ao risco de perturbações psicopatológicas (BLASIO; VITALI, 2003,
p.101).
A tendência à
percepção do lado negativo dos fatos induz à mensagens prejudiciais, conduzindo
ao excesso de determinada emoção, provocando distorção na leitura dos dados da
realidade. Desta forma, a pessoa pode assumir conotações positivas ou não, que
podem variar de acordo com o contexto.
Há pessoas que embora
sensíveis à culpa podem ter uma vida bem adaptada. O que determina a patologia
da culpa crônica não é o estilo emocional predominante e peculiar, mas a
associação que é atribuída ao estilo, o nível de intensidade e cronicidade da
emoção e o consenso sociocultural da maneira de ver e sentir as coisas (BASIO;
VITALI, 2003. p. 102-03).
Diante da impotência
de poder conviver com a culpa, gradualmente a pessoa mobiliza mecanismos
emocionais internos, que a defendem do sofrimento emocional, deixando-a mais
insensível consigo mesma e com os outros (BLASIO; VITTALI, 2003, p. 106).
O sentimento de culpa
e autopunição contribui para que, de forma inconsciente, a pessoa venha a
“aceitar” o seu sofrimento, para até certo ponto aliviar-se da culpa.
4.2 Estresse
O estresse com seus
vários motivos aparentes de origem, apresenta-se como: dificuldade de adaptação
com o meio; de adaptação a pós-acidentes naturais; viver sob pressão e muitas
outras dificuldades. Pode ser o motivo da origem de várias doenças psicossomáticas
leves ou que causam seqüelas para sempre se não forem diagnosticadas e
tratadas.
Ao defrontar com uma
exigência do ambiente ou uma novidade, o sistema nervoso orienta-se em alertar
os sentidos. Com esse fator, na tentativa de registrar ocorrências externas, o
organismo silencia e fica mais lento.
Esse reflexo de orientação leva o cérebro,
a “desentender-se” para processar os estímulos exteriores, a princípio desprovidos
de emoção. O processo que dá significado aos estímulos externos chamamos de cognição.
Ela é uma apreciação
inconsciente efetuada pelo cérebro, onde é avaliado o estímulo ameaçador ou
não, chegando a uma conclusão automática e inconsciente. Portanto ela não é
processo racional.
É inconsciente,
sustentada pelo sistema Límbico[21] (VALDÉS,
2002, p.8-9). Desta forma “quando o organismo atende as exigências do meio,
mantém-se um estado de ativação contínua que acaba desestabilizando o
equilíbrio interno” (VALDÉS, 2002, p. 63).
O indivíduo adapta-se
ao meio através das cognições. Para se entender a psicologia do estresse é
preciso entender também as variáveis psicológicas, biológicas e do ambiente, o
que determinará se o indivíduo interage ou não com o ambiente.
Se essa interação é
positiva, entra em ação o sistema simpático-adrenal que energiza o organismo
para a ação, sem alterá-lo emocionalmente. Se a interação é negativa, se instala
a cognição de dúvida, de desproteção ou ameaça; que comunica o sistema simpático-adrenal
e o sistema neuroendócrino[22] é
ativado por corticosteróides[23] e o
organismo se coloca em defesa, ocorrendo o estresse (VALDÉS, 2002, p. 21). “Em termos
biológicos, o estresse é um estado de ativação simpático-adrenal e neuroendócrino,
acompanhado de inibição imunológica e de conduta, e de estados emocionais
negativos (medo, desproteção, ansiedade, depressão)” (VALDÉS 2002, p.21).
O Estresse na vida
prática ocorre quase sempre, quando o indivíduo vive em estado de pressão
emocional. O esforço que faz para adaptar-se o leva ao estresse.
Possivelmente
as pessoas que vivem sob pressão, no seu eterno esforço para corresponder às
exigências psicossociais; certamente estarão mais ansiosas e tensas e conseqüentemente
mais próximas de um quadro de estresse.
4.3 Sintoma de Conversão
Outro fator
psicológico que é o veículo do surgimento das doenças psicossomáticas é o
sintoma de conversão.
Denomina-se
sintoma de conversão toda disfunção sensorial ou motora que aparece como
resultado do fracasso de adaptação e que está vinculada à situação estressante
de maneira simbólica e instrumental (VALDÉS, (2002, p.71).
O sintoma surge
trazendo consigo significados, “traduzindo” ou convertendo para o corpo a
natureza do conflito que o gera.
Ele é parte do
esforço que o organismo faz para defender-se da ameaça emocional. Portanto, os
sintomas de conversão fazem parte do contexto dos mecanismos psicológicos de
defesa; pelos seus significados e pela sua natureza instrumental e pelo fato de
tentarem modificar a interação do indivíduo com o meio.
Instrumental é toda conduta que opera como agente de
mudança no contexto. Deve se considerar “O que obriga o indivíduo a fazer, o
que o impede de fazer, o que obriga os demais a fazer e o que impede que os
demais façam” (VALDÉS, 2002, p. 71).
O sintoma de
conversão pode ser identificado no seu marco de origem, que revela seu
significado e avalia até que ponto altera as relações interpessoais do indivíduo
ou as condições do seu meio (VALDÉS, 2002, p. 71).
É bom ressaltar que
os sintomas de conversão são de natureza inconsciente, embora possam parecer
simulações e apareçam com maior freqüência, nas personalidades histriônicas[24] e
em pessoas com fraqueza emocional intensa.
Os
sintomas de conversão e os dissociativos (nos quais o indivíduo se “desliga” da
situação e põe em movimento condutas automáticas) são um verdadeiro mistério do
ponto de vista psicológico e é necessário supô-los aparentados com mecanismos
de defesa evolutivamente antigos, já que aparecem em grupos humanos de cultura
primitiva. As respostas de imobilidade cataléptica[25] frente ao perigo e as condutas
miméticas[26] com o agressor seriam exemplos
característicos dessa classe particular de fenômenos (VALDÉS, 2002, p. 72).
Com este capítulo
pode se obter uma idéia resumida dos principais elementos psicológicos que
contribuem para o surgimento da doença. Também ficou bem claro que o fator
psicossocial na atualidade, é o mais agravante contribuinte para o surgimento
de doenças. Surge então a necessidade da busca de alternativas para curas. Como
é impossível buscar várias alternativas, o próximo capítulo tentará elucidar
alguns pontos sobre religião e psicologia e sua eficácia na cura.
CAPÍTULO
V
RELIGIÃO E PSICOLOGIA COM
SEUS POTENCIAIS DE CURA
5.1 Religião
Em 1958 H. Clark
reuniu cerca de 48 definições de religião. Percebeu-se então a dificuldade de
se concordar para chegar a um conceito. Este fato levou muitos autores a
descrever o que entendiam por religião. Seguem-se algumas dessas definições.
Willian James
apresenta a religião de forma sentimentalista definindo-a a partir dos
sentimentos que alimentam a relação do ser humano com o sagrado. “São os sentimentos,
atos e experiências do indivíduo humano, em sua solidão, enquanto se situa em
uma relação com seja o que for por ele considerado divino” (JAMES apud VALLE,
1998, p. 258).
Durkheim fala da
religião a partir de um prisma sociológico, onde ela é abordada como crença
coletiva, que une as pessoas em uma comunidade moral, já apresentando a
religião de forma organizacional como igreja. “Uma religião é um sistema
unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, quer dizer, coisas
apartadas e proibidas – crenças e práticas que unem a todos os seus adeptos a
uma só comunidade moral, chamada igreja” (DURKHEIM apud VALLE, 1998, p.
259).
Geertz define a
religião a partir dos símbolos, onde os significados religiosos são armazenados
através dos símbolos, dramatizados em rituais e relatados em mitos. Para ele fazem
parte dos símbolos religiosos os valores positivos, os valores do mal e o conflito
entre eles.
É um
sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras
disposições e motivações nos homens, enquanto comunidades organizadas por meio
da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e revestindo essas
concepções com tal aura de fatualidade que as disposições parecem singularmente
realistas (GERTZ apud VALLE, 1998, p.259).
G. Galloway aborda a
religião de forma globalizante acrescentando o conceito e a prática da fé como
instrumento essencial para a prática da adoração.
A
fé humana tem um poder que está mais para lá do próprio ser humano; fé por meio
da qual ele busca satisfazer suas necessidades emocionais e alcançar a
estabilidade de vida; expressa-se em atos de adoração e serviço. O aspecto
cognitivo da consciência religiosa está representado pela fé, e essa é
estimulada pela emoção e propõe o objetivo que satisfará as necessidades da
vida interior. [...] O aspecto prático se mostra nos atos de adoração que
pertencem à natureza religiosa (GALLOWAY apud VALLE, 1998, p. 257).
Tomaz de Aquino
define religião como o meio do ser humano cultuar a Deus. “A religião é a
virtude pela qual os homens rendem a Deus o devido culto e reverência” (AQUINO apud
VALLE, 1998, p. 259).
A religião em todos
os tempos tem exercido papel de suma importância. Ela sempre acolheu os fiéis
nas suas necessidades, tanto espirituais como físicas oferecendo-lhes
oportunidade de livramento, de salvação. Sabe-se, porém, que pelo fato do ser
humano ser condicionado a precisar de “salvação” ele é motivado a buscá-la nas
religiões, caso contrário elas perderiam seu valor.
No mundo antigo as
religiões levavam as pessoas a crerem que a doença era confundida com os
monstros originários, os espíritos maus, a possessão demoníaca e com o pecado,
os quais poderiam levar a pessoa ao sofrimento como também à morte.
Dessa situação surgiu
a necessidade de procurar os deuses para a cura das doenças e afugentar os espíritos
maus, para que o bem estar fosse retornado. Nessa época era quase impossível
separar as ciências médicas do conhecimento sobrenatural e oculto.
Contudo, só o deus
bom poderia sobrepujar o demônio maligno através de oração e textos de
encantamento (TERRIN, 1998, p. 156-58).
Muitos estudiosos,
inclusive psicólogos, embasaram em Rudolf Otto , suas definições de religião, onde: O
termo “sagrado” é a
interpretação e a avaliação da experiência religiosa, que não pode ser
submetido à racionalização, ser conceituado, e não pode ser exprimido em palavras. Este
elemento está presente em todas as religiões, como a parte fundamental e sem
ele, a religião perderia o seu valor. O termo “numinoso[27]” é
o resultado da necessidade de se encontrar um nome para esse elemento,
conquistando de forma isolada, para fixar o seu caráter, permitindo suas fases:
inferiores ou de desenvolvimento, tendo em vista que ele é uma categoria especial
quando avaliado e interpretado, e manifesta-se de acordo com a situação interior
da pessoa, momento que é concebido como numinoso.
É pela experiência
com o numinoso, que pode surgir
o sentimento de criatura. Este fato leva à análise psicológica da experiência
religiosa (OTTO, 1985, p. 11-15). Os estudos de Otto são muito importantes como
fato inicial, onde enfoca o elemento irracional.
Mircea Eliade (1992)
em “O sagrado e o profano”
afirma que o sagrado se manifesta através de uma hierofania35 e
por esta razão o homem toma conhecimento, devido à diferença entre o sagrado e
o profano. O sagrado manifesta-se de formas diferenciadas: como árvores, pedras
e outros. Ele tem significado que vai além da pedra e da árvore.
Quando o sagrado se
manifesta, um objeto qualquer se transforma em outra coisa, apesar de continuar
sendo ele mesmo. O sagrado se manifesta em uma pedra e esta se revela sagrada,
transmite algo sobrenatural para a pessoa que está vivendo a hierofania.
Os modos de ser do
sagrado e profano dependem das diferentes posições que o homem conquistou no
cosmos; e por conseqüência, interessam não só aos filósofos, mas também a todo
investigador desejoso de conhecer as dimensões possíveis da existência humana.
Eliade vê o sagrado
não só como relação entre os elementos não-racional e racional, mas em toda a
sua totalidade, afirmando que o sagrado se opõe ao profano (ELIADE, 1992, p.
23-32).
Jung define religião
a partir do vocabulário latino religere :
uma
acurada e conscienciosa observação daquilo que Rudolf Otto, acertadamente
chamou de “numinoso”, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não causados
por um só ato arbitrário. [...] O numinoso pode ser a propriedade de um objeto
visível, ou o influxo de uma presença invisível, que produzem uma modificação
especial na consciência. Tal é, pelo menos, a regra universal (JUNG, 1987, p.
9).
A religião para Jung,
não é apenas uma confissão de fé, e afirma: “toda confissão religiosa, por um
lado, se funda originalmente na experiência do numinoso, e, por outro, na pistis, na fidelidade, na fé e
na confiança em relação a uma determinada experiência de caráter numinoso e na
mudança de consciência que daí resulta” (JUNG,1999, p. 10).
Relata que ao deparar
com um fenômeno religioso que apresenta relação importante com o psicológico,
ele o trata dentro de uma perspectiva empírica limitando-se a observar os
fenômenos, não utilizando abordagem metafísica ou filosófica (JUNG,1999, p. 7).
Para ele, a religião
de alguma forma existiu desde os tempos antigos como uma necessidade do ser
humano de expressar na prática, aquilo que possivelmente sua mente busca: o
transcendente, o sagrado.
A
religião constitui, sem dúvida alguma, uma das expressões mais antigas e universais
da alma humana, subtende-se que todo o tipo de psicologia que se ocupa da
estrutura psicológica da personalidade humana, deve pelo menos constatar que a
religião além de ser um fenômeno sociológico ou histórico, é também um assunto
importante para grande número de indivíduos (JUNG,1999, p. 7).
O ser humano por
natureza inconformado, busca de muitas formas satisfazer suas necessidades
interiores e exteriores, ou seja, necessidades socioeconômicas, orgânicas,
psicológicas e espirituais, e ao perceber que elas não se completam por meios
naturais de busca, apela para a religião, sendo que percentual relevante não possui
alternativa a não ser a religiosa.
A pessoa busca
através da religião a paz, estabilidade econômica, felicidade, saúde emocional,
física, espiritual e outros, bem como, a certeza da salvação; isto porque ela
precisa de algo mais que a preencha e a complete, dando-lhe segurança e satisfação
nas suas necessidades e anseios interiores e espirituais.
No primeiro momento, salvação diz respeito a
livramento de ordem espiritual; é desta forma que esse termo é conhecido, no
senso comum cristão.
Quando, porém, Cristo
curava, operava no ser humano uma cura completa, libertadora, não só do corpo, mas
psicológica, social, política e espiritual. Libertação também das tradições
religiosas, às vezes desumanas que prendiam a pessoa, deixando-a sem
alternativa.
Afirma Richter Reimer
(2002, p.1234): “A cura é uma experiência libertadora, ela é vital e ardentemente
desejada”. Cura é libertação, e libertação também é considerada como salvação.
O termo salus, na língua latina possui
significado simbólico e funde-se mesmo recente, com o significado de saúde como
também com o de salvação. O mesmo ocorre também em outras línguas.
Conclui-se possivelmente que a origem e a missão das religiões em relação ao
ser humano seria salvá-lo em sua totalidade: física, psicológica e espiritual.
A salvação não deve
ser dissociada da saúde e separada dos contextos reais da vida. Ela não deve
ficar isolada, pois, faz parte do presente e é responsável pelo “estar bem” do
ser humano. Portanto saúde não é simplesmente o fato de não ser portador de
doenças, assim como o termo salvação não pode ser reduzido a um céu distante,
sem nenhuma correlação com a vida presente (TERRIN,1998, p.154-56).
Para
essa visão contribui também, na história da religiões, o termo terapia,
que de maneira alguma é termo médico, mas antes de tudo “religioso”. Na concepção
clássica dos antigos, o conceito therapeía, indica antes de tudo “uma
assistência”, um “estar próximo”, um “cuidar de” e trata-se de um termo muito
próximo ao conceito religioso e cristão de diakonia (TERRIN, 1998,
p.156).
Os batistas
brasileiros afirmam: “Salvação nas escrituras se relaciona à cura, libertação,
perdão, reconciliação, adoção. conversão, justificação, santificação e glorificação”
(SILVA, 2003, p. 107). A própria palavra salvação, em muitas línguas, inclui a
saúde do corpo. Os termos saúde e salvação, hoje distintos em
português, eram originalmente, uma só palavra em latim, salus” (SCHIAVO
E SILVA, 2000, p.13).
Terrin (1998, p. 152)
afirma que “as religiões do passado, e de modo particular também a tradição
cristã, jamais dissociaram a própria missão de “salvação” da sua tarefa
terapêutica”
As religiões não
pregavam apenas a salvação, mas imputavam a si a função terapêutica e curadora.
Isso leva a entender que havia uma crença onde a fé e a saúde interagiam
melhor.
No Novo Testamento,
Jesus deu poder e autoridade aos doze discípulos sobre os demônios e para curar
doenças.
Na filologia[28] das
religiões antigas como também a cristã, os termos saúde e salvação nasceram
de um mesmo conceito e não eram dissociados da “salvação”, o seu objetivo era
também terapêutico, o que se pode observar na história comparada das religiões.
Conclui-se que não se
pode separar a saúde física da espiritual e compete à religião cristã, diante
da doença, a missão de buscar essa realidade (TERRIN, 1998, p. 150-154).
Essa salvação que tão
intensamente é buscada possui muitas interpretações ou significados. Para uns
ela pode significar segurança espiritual; para outros apenas confiança, paz;
para outros um sentido direcionado de vida; para outros a resolução de problemas
sociais e econômicos; e para outros a cura emocional ou orgânica.
Este é
um aspecto que suscita um interesse particular entre os psicólogos. Carl Gustav
Jung falava de cura psicológica,
V. Frankl de cura d’alma e busca de
sentido, e Roberto Anagioli de desenvolvimento
transpessoal. Independentemente das divergências de interpretação, todos
esses autores
mencionam
a dimensão religiosa como parte integrante do tratamento psicológico (CATALAN,
1999, 133).
A busca de sentido a
que se refere V. Frankl, na citação acima pode também ser interpretada a partir
do sentido social e das necessidades interiores do ser humano.
Quando a pessoa é
atingida por dificuldades socioeconômicas já ocorre o início de parte do
desequilíbrio emocional e estas dificuldades ao juntarem-se às de ordem emocional
que cada pessoa traz consigo, deixa-na sem referencial. Surge daí então a busca
de sentido para a vida através do sagrado.
Para Jung a religião
faz parte da cultura, do social, conseqüentemente leva as pessoas a emitirem
comportamentos que a psicologia não pode negar. Diante da sua necessidade
biopsicossocial, a pessoa busca alternativa natural, e recorre também ao sagrado.
A psicanálise
anti-religiosa, no entanto, confronta a religião interpretando-a de
forma apenas científica: “Para Freud,
portanto a crença religiosa permite que os crentes gerenciem seu desalento
negando suas necessidades insatisfeitas e elevando a representação interna do
pai ao posto de Deus.” (RIZZUTO, 2001, p. 161).
5.1.1
Elementos contidos na religião que contribuem para a cura
Muitos elementos presentes na religião podem
contribuir e quase sempre estão presentes no ato da cura. Dentre eles
destacam-se:
5.1.1.1
O sagrado
A análise filológica
dos termos: sagrado e salvífico, de C. Colpe, apresenta duas áreas
semânticas: onde o termo sagrado está ligado ao culto, o que é consagrado, ou
seja, o que é colocado à parte ou separado, destinado à divindade; num segundo momento
tendo passado por várias línguas e interpretações o termo sagrado adquiriu várias
conotações, desde o seu significado inicial “concessão de presente” expandindo-se
para “dotado de poderes”, “particularmente útil”, “aquilo que produz bem
estar”, “inteiro”, “sólido”, “intacto”, “forte”, “com saúde”, “de bom agouro” e
“são”.
Em sua missão
integrada à religião que naturalmente está fundamentada na figura do sagrado tem
como objetivo salvar o ser humano em todo o seu contexto: físico, psicológico e
espiritual (TERRIN, 1998, p. 153-55).
No mundo cristão é
sagrado tudo que pertence a Deus. A santidade é comunicada através de
irradiação, daí o seu poder de curar. “Jesus, a comunidade e o indivíduo
cristão são compreendidos como “templo”, ou seja “santuário”, “lugar sagrado” de
Deus no mundo” (BERGER, 2004, p. 157).
Isso deixa claro que
há determinados lugares e pessoas, através dos quais Deus se faz presente no
mundo; onde também a eficácia da irradiação santa está presente e contribui
para beneficiar o cristão. A presença do sagrado torna-se bênção que pode
apoderar-se do ser humano, animais ou coisas.
Os ritos em geral,
dentre eles os hinos, o canto, a oração e a adoração, são instrumentos que
intervêm como construções de linguagem, reforçando a crença no sagrado. Os
milagres acontecem em função da presença do sagrado, que pode ser considerado
um elemento impessoal ou como um elemento santo (BERGER, 2004,158-159).
O sagrado é a
atribuição de um valor especial pelo indivíduo a um objeto, pessoa ou outras
coisas. É sagrado para ele e não para os outros. Visto que a pessoa pode também
atribuir funções terapêuticas ao sagrado.
5.1.1.2
Mitos, símbolos e ritos
O mito pode ser
entendido ou definido da seguinte forma: “o mito conta uma história sagrada;
relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do
“princípio”. Ele relata as graças dos Entes Sobrenaturais, como vieram a existir
como realidade total, cosmos ou fragmento.
O mito é sempre a
narrativa de uma “criação”, onde relata a forma como algo foi criado e começou
sua existência; narra somente o que ocorreu no ato da manifestação plena.
Seus personagens são
os Entes Sobrenaturais e são famosos pelos seus atos nos tempos primórdios,
eles relatam suas atividades criadoras e revelam a sacralidade ou
sobrenaturalide de suas obras. Os mitos descrevem os diversos surgimentos do
sagrado no mundo; é esse aparecimento repentino do sagrado que fundamenta e
converte o mundo no que é hoje.
São as irrupções dos
Entes Sobrenaturais que determinaram o homem ser o que é hoje: um ser cultural,
sexuado e mortal (ELIADE, 2002, p. 11).
Ao se tentar entender
o que é mítico, depara-se com opiniões as mais diversas.
A teologia
protestante moderna, com representantes evangélicos ou fundamentalistas, considera
o termo mítico uma caracterização de “algo irreal, lendário, fantástico, idealizado,
carente de seriedade e, já por falta de sobriedade, inventado” (BERGER,2004, p.
83). Neste caso o que é mítico seria fantasia, ilusão e correções não verdadeiras
da realidade.
A utilização do termo
mítico pelos nazistas tornou comum a ligação entre o componente mítico e o
fascismo. Também é muito divulgada a idéia de que o componente mítico significa
apenas irracionalidade e de certa forma sem controle.
Além disso, também é
divulgado que o componente mítico contrasta-se com a revelação da palavra de
Deus, o que leva a uma vinculação crítica do mito e crítica da cultura. Na realidade
o componente mítico não é fascista, nem irracional, não tem a ver com a justiça
pelas obras e nem é triunfalista (BERGER, 2000, 83-89).
Para Berger, a
experiência mítica na atualidade é algo incontestável. As pessoas que recebiam
milagres no Novo Testamento os recebiam em termos míticos, sendo para eles algo
natural. O que se questiona na atualidade é como proceder diante desses
testemunhos. Para Berger quando se descobre na atualidade uma porta, uma experiência
e um caminho mítico, isso possibilita uma aproximação, conseguindo-se uma
ligação com os relatos do Novo Testamento.
Ele denomina de
“espécies de experiência na atualidade”, as experiências: no tempo; na fala
mítica; na mítica do lugar; na mítica da ordem; enfatiza também a personalidade
mítica, o silêncio mítico e aspectos entre as diversas experiências míticas,
para chegar às conseqüências para os milagres, que seriam a ponte para o Novo
Testamento e para os milagres de Jesus, e o surgimento das suas obras através
do Espírito Santo, conduzindo para ressurreição e para a cura aos portadores de
doenças (BERGER, 2000, p. 89-98).
Berger enfatiza as palavras
de poder, que são relativas ao poder criador de Deus, utilizadas por Jesus,
como mediador da criação, sendo o ponto de contato, dos atos perfomativos da
palavra, utilizados até os dias atuais.
A força do canto, como força da utilização
litúrgica, leva à experiência da compreensão da posição milagrosa entre o ser humano
e Deus, relatada no Novo Testamento.
Observa-se uma
significação simbólica milagrosa ligada ao: canto, significação esta que possui um sentido dinâmico para a comunidade
que dele participa; o tempo da festa,
a experiência da rememorização é acessível a qualquer pessoa, o que
ajuda na compreensão das revelações apocalípticas de Jesus sobre o futuro, é
semelhante aos fatos que ocorrem nos milagres, pois declarações futuras sempre estão
relacionadas a algo que está no presente; o tempo do princípio e do fim: os milagres estão presentes no
princípio e até o fim da vida de Jesus.
A relação mítica
existente entre princípio e fim revela uma ponte onde a realidade e o poder no
acontecimento mítico é de forma semelhante ao encontrado na realidade de Deus que
se estende até Jesus, deixando claro a percepção mítica (BERGER, 2000, p.
98-101).
Para se entender
melhor a questão das doenças e curas no mundo religioso é importante entender o
papel dos mitos e dos símbolos os quais fazem parte desta construção.
Muitas foram as
explicações e sentidos que se deu ao termo “mito”, “a linguagem do século XIX
definia como aquilo que não se deixa integrar a realidade” (ELIADE apud CROATTO,
2001, p. 182). Surge daí a oposição entre mito e realidade. O mito seria um estado
em que a linguagem não pode explicar por ser um produto da imaginação e se contrapõe
à linguagem científica.
No entanto, os mitos
de origem, concordam com os mitos cosmogônicos[29] e
com isso pressupõe e estende a cosmogonia, sendo que esta torna-se modelo para
toda sorte de criação. Diante disso, o aparecimento novo necessita da
existência de um mundo.
Desta forma o mito de
origem relata e justifica uma situação nova estendendo e confirmando o mito
cosmogônico, explicando como foi criado o mundo, e como este foi enriquecido ou
empobrecido (ELIADE, 2002, p.25-26).
O
mito na sua praticidade em geral, é explicado de forma clara e simples:
Mito é
a narração livre referente a um fenômeno natural, um comportamento humano ou um
fato histórico em que o compromisso com a realidade é subjetivo. [...]
“qualquer tentativa de enquadrar o mito a uma visão racional nega a
possibilidade de compreendê-lo em sua sublime dimensão original (CROATTO, 2001,
p. 7).
Desde as sociedades
primitivas, até o presente momento, os mitos e símbolos fazem parte da vida do
ser humano, como também são elementos que fundamentam e preservam a fé
religiosa.
Os
mitos e símbolos, as figuras mitológicas de povos e culturas independentes entre
si, devem ser explicados em um “inconsciente coletivo”. O “inconsciente coletivo”
junguiano representa uma camada muito profunda da alma, inata, que é necessário
diferenciar do inconsciente pessoal, nascido da experiência e da contribuição
individual (JUNG apud CROATTO, 2001, p. 195).
Na experiência
religiosa, o mito surge a partir de uma hierofania, quando o sagrado, o
transcendente manifesta-se na relação com o homem: quando as necessidades
humanas físicas, psíquicas e socioculturais, são cumpridas (CROATTO,2001, p.
44.45).
O mito é um relato,
um acontecimento real, onde os deuses manifestam-se com a finalidade de dar
significado à determinada realidade, através de uma cadeia de acontecimentos.
Ele é um imaginário,
uma construção do homem religioso. “[...] expressa a experiência religiosa do
imaginário, como manifesta a sacralidade hierofanizada naquilo que concerne
profundamente em sua realidade” (CROATTO, 2001, p. 219). Pode situar-se em um
espaço e um tempo, vindo a culminar em uma história.
Socialmente, o mito
tem como função manter a identidade de um grupo, uma sociedade ou um grupo
religioso; onde ele institui modelos de comportamento, sendo assim forte
contribuinte da cultura.
Uma das suas
características presentes em todos os tempos é a repetição que auxilia o homem
secular e religioso a situar-se no cosmos reconstruindo sua realidade (CROATTO,
2001, p. 307-309).
O símbolo faz parte
do viver cotidiano do ser humano, que é por natureza simbólico. Ele faz parte
da comunicação social. O ser humano constrói símbolos. O seu dia a dia é uma
fonte produtora de símbolos.
Eles estão presentes
na linguagem, no amor, na transfiguração do real, na arte, como também no
sistema religioso. O símbolo pode variar de pessoa para pessoa e de cultura
para cultura, em relação ao seu significado, ou seja, o mesmo objeto ou fato
pode ter mais de um sentido.
Tudo pode tornar-se
simbólico a partir de cada experiência humana. Coisa, pessoa ou acontecimento.
Antes tinha o seu significado próprio e a partir da transignificação passa a
ter outro significado.
No fenômeno
religioso, o transcendente por sua própria essência de não ser concreto,
utiliza um objeto, um lugar, um fato e outros, como mediador na relação com o
ser humano, ou seja, o símbolo.
Desta forma o mundo
religioso é permeado de mitos e símbolos, os quais, podem também estar ligados
à doença, como também à cura.
O símbolo visto do
prisma religioso, pode ser considerado uma linguagem da
experiência religiosa. “O símbolo religioso
está localizado, em primeiro lugar, ‘’entre” o totalmente Outro e o sujeito
humano que o experimenta” (CROATTO, 2001, p. 83). O objeto simbólico contribui
para a percepção do sagrado como cada pessoa o experimenta.
Vislumbrando de um
modo geral a prática religiosa percebe-se que o rito é a expressão que mais
está em evidência. Ele
seria a extensão do gesto simbólico, é a forma prática do símbolo.
Na experiência
religiosa, ele é considerado como linguagem primária. Como o símbolo, o rito é
determinado e especificado em sua significação pelo mito. Vendo de um outro
prisma o rito em sua dinâmica faz parte da narrativa do mito.
Ele pode ser um
texto, uma linguagem, mas, no entanto, sua linguagem gestual não tem a mesma
capacidade de comunicação da palavra. O rito depende da palavra do mito.
O rito é
co-participante tanto do mito como do símbolo. Ele é símbolo, porém participa
do mito como um aglutinado de símbolos com o fim de transmitir determinada mensagem.
[...] o rito aparece como uma norma que guia o desenvolvimento de
uma ação sacra. O rito é uma prática periódica, de caráter social, submetida a
regras precisas. Em sua exterioridade, porém, a norma é uma ”rubrica” e não
define realmente o que é o mito. [...] A Palavra latina ritus é próxima
da palavra sânscrito-védica. rta (rita), a força da ordem cósmica sobre a qual velam divindades
como Varuna. É a estrutura normal das coisas, do que acontece no cosmo e na
vida humana (com um matiz mais moral, rita foi substituída depois por darma).
(CROATTO, 2001 p. 330).
Como se percebe, o
rito não é uma prática simplesmente humana, é uma ação sacra, uma imitação do
que fizeram os deuses. Por esta razão, ele é repetido em cada rememorização dos
mitos como uma ação divina, propiciando a participação e a comunhão do fiel com
o sagrado, o transcendente.
Nessa participação
com o sagrado, na imitação simbólica de gestos primordiais, o mito presente é
que lhe dá sentido (CROATTO, 2001, p.330-31).
O rito é a ação do
fiel tendo em vista que na concepção religiosa o rito contribui para a
transformação da realidade. Ele é realização de uma nova realidade, ou seja, a ligação
do real terrestre com o que é sobrenatural.
A
eficácia é intrínseca do rito, ou seja, o rito é dado como podendo produzir por
si mesmo um efeito. Para o atuante do rito, a realidade não é mais a mesma após
o rito. [...] A característica fundamental do rito religioso é a de religar a
existência e o mundo ao sobrenatural, fazendo da matéria do mundo e do gesto
humano o símbolo do agir divino. (CATALAN, 1999, p.126-7).
No Cristianismo,
desde os tempos primórdios, o rito sempre teve o seu lugar nas celebrações,
desde as mais simples as mais significativas. No Cristianismo atual, apesar do
rito ter perdido parte do seu enfoque, principalmente entre os evangélicos, no que
se refere ao pentecostalismo, que é a base deste estudo, o rito é bastante enfocado,
não só nas liturgias, mas em vários outros aspectos. No neopentecolismo ele é
mais enfocado ainda.
5.1.2 Principais elementos sacros
a) O líder religioso
O líder
religioso em todos os tempos foi visto com uma certa sacralidade espiritual e
como pessoa que exercia poder de cura. No Egito antigo, havia curandeiros[30] que nem sempre exerciam a medicina, mas lidavam com as mágicas e orações.
Havia
pessoas que podiam ser comparadas com os modernos pranoterapeutas, os quais eram curandeiros poderosos. Utilizavam
terapia ”empírica” com base em orações e encantamentos.
Havia os sau,
que utilizavam meios espirituais, valiam-se também de drogas e praticavam
exorcismo e magia. Havia os chamados wabw, sacerdotes da deusa Sakhmet,
deusa das doenças e da cura; os quais eram mediadores entre a deusa e as
pessoas que buscavam a cura (TERRIN, 1998, p. 161).
Sabe-se que desde a
idade antiga, os deuses que se ocupavam das doenças e suas curas
conseqüentemente, lideravam uma parte do mundo, dos céus e dos astros.
Conclui-se então que
se estas divindades eram sacralizadas pelos fiéis, seus
sacerdotes também ocupavam um lugar
sacralizado (TERRIN, 1998, p. 161).
Entre o povo de
Israel, sabe-se que a tribo de Levi ocupava-se exclusivamente do trabalho no
tabernáculo e posteriormente no templo, intermediando a divindade. Nos primórdios
do cristianismo, foi outorgado poder aos apóstolos
Estes
são os sinais que acompanharão os que tiverem crido: em meu nome expulsarão
demônios, falarão em novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem algum
veneno mortífero, nada sofrerão; imporão as mãos sobre os enfermos, e estes
ficarão curados (Mc 16, 17-18).
Percebe-se que estes
sinais visíveis, muito contribuíram para o fortalecimento da fé dos adeptos do
cristianismo primitivo, que de forma explosiva multiplicaram-se, conforme o
relato de Atos dos Apóstolos. Com o passar do tempo, essa liderança espiritual
foi estendendo-se pelo mundo e sabe-se que a ministração de curas, sinais e maravilhas,
independe de que a pessoa seja um líder, sacerdote ou pastor reconhecido.
Nesse mundo
espiritual cristão, é reconhecida pelos adeptos a eficácia do poder de cura
através destas pessoas que as intermediam e que acabam tornando-se sacralizadas,
pois o milagre e a cura sempre têm algo a ver com o mensageiro e sua mensagem
(BERGER, 2004, p. 45-46).
Os
profetas de Deus único e abstrato não são pensadores eruditos; são pessoas
possuídas, guiadas e conduzidas por um poder superior. O poder irracional sobre
o qual falam é o mesmo poder irracional que os inspira a falar. O que vemos aí
não é ciência nem filosofia, e sim o que é corretamente chamado de “revelação”
(FIERZ, 1987, p. 302).
Evidentemente, essa
sacralização do líder, sacerdote ou pastor, sempre ocorre após a rememorização
das curas de Jesus e dos apóstolos. Este fato tem o poder de mobilizar o
surgimento da fé. Essa fé nada mais é do que a associação dos fatos rememorizados,
somados ao desejo de cura da pessoa, efetivando-se a cura, através de uma
trajetória simbólica.
A pessoa do sacerdote
ou pastor, ou mesmo líderes leigos, passa a ser admirada, respeitada e
sacralizada, pelo papel de que está imbuída, passando também a representar um
símbolo religioso de cura.
A partir de então,
suas palavras, conselhos, orientações e mesmo exercício da taumaturgia[31],
tem psicologicamente para o fiel um peso maior, ou seja, eleva a credibilidade
no líder religioso, como também a fé em Deus que age através dele, podendo
redundar em cura.
b) A fala
A fala, através da
qual uma ação é realizada, contém mais do que aparentemente possa parecer. Não
se restringe a uma fala meramente racionalista.
Sua simbologia é
eficaz sendo recebida pelo cristão como a presença do Deus misterioso que se
dirige aos seres humanos (BERGER, 2004, p. 93)
A sacralidade da fala
no Antigo Testamento iniciou na ação criadora de Deus:
“Haja luz” (Gn, 1,3), seguida por outras
falas, percorrendo todo o Antigo Testamento e chegando ao Novo Testamento. O
poder da fala a sacralizou.
No meio religioso
antigo e no cristianismo, é notável a importância da fala e as conseqüências
que a acompanham, quer positiva, quer negativa. A fala de Jesus foi
sacralizada, pois atingia o ser humano em toda a sua plenitude. Quase sempre
era acompanhada de uma ação como: milagres; curas no corpo; libertações
espirituais, emocionais, sociais, morais; revelação; apoio; consolo; esperança,
promessas; perdão; emoção; ordem; crítica; denominações negativas;
multiplicação de pães e peixes e promessa de vida eterna (Evangelhos).
Falas como: Cura da
mulher com hemorragia: “Minha filha, a
tua fé te salvou, vai em paz fique curada deste teu mal” ( Mc 5,34);
quando curou um endemoninhado em Cafarnaum: “Cala-te e sai dele!” (Lc 4,35); A pesca maravilhosa: ”Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a
pesca” [...] “Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas
porque mandas, lançarei as redes” (Lc 5, 4-5); a cura de um leproso: “Senhor,
se queres, tens poder para purificar-me” “Eu quero, sê purificado“ (Mt 8,2-3); a cura do servo do
centurião: “ Eu irei curá-lo.”
“Senhor, não sou digno de receber-te sob o meu teto; basta que digas uma
palavra e o meu criado ficará são” (Mt 8, 7-8).
À luz da redação dos
escritos neotestamentários, Jesus de Nazaré, descrito como terapeuta e
exorcista, anunciava o Reino de Deus e, efetivava seu movimento, através das
curas, expulsão de demônios e ressuscitações de mortos.
Sua vida e sua fala
era uma motivação e um convite a todos que o ouviam a libertarem a si mesmos e
aos outros, a curarem-se dos efeitos da violência colonial. A cura é a base do
Reino de Deus pregado por ele.
A partir dos
evangelhos e dos feitos de Cristo a homilia cristã passou a ter grande crédito
no decorrer do cristianismo, até os dias de hoje, ou seja, ela continua
sacralizada no meio religioso cristão.
c)
Os gestos
À medida que o cristão se aproxima do sagrado
está suscetível a novas ações e mudanças, isso ocorre baseado na fé, que é uma
experiência que contribui para desencadear uma busca, que se expressa através
de gestos, palavras e atitudes.
Quem crê se volta
para aquele em quem deposita sua fé. Começam então as atitudes e comportamentos
como expressão do desejo ou necessidade: oração, súplica, onde envolve a
posição do corpo, a fala, o emocional e outras disposições comportamentais como
a participação em reuniões religiosas, freqüência ao lugar sagrado,
participação em liturgias, ritos cânticos e adoração (CATALAN, 1999, p.120).
Os gestos míticos,
associados aos comportamentos, são a expressão de toda a dinâmica do corpo, no
ato de exercitar a consciência, a meditação, a contemplação e a oração
verbalizada ou mental. Fazem parte também desses exercícios outras práticas,
como o canto e outros ritos tradicionais que compõem as inúmeras liturgias que
hoje podem ser vistas no cristianismo.
Com
efeito, do mesmo modo que passear, andar e correr são exercícios corporais,
assim também chama-se de exercícios espirituais toda maneira de preparar e de
dispor a alma para afastar de si todas as afeições desordenadas, e, uma vez
afastadas, para buscar e achar a vontade divina na disposição de sua vida em
vista da salvação de sua alma (LOYOLA, 1985, apud CATALAN,1999, p.120).
Em função dos gestos
míticos fazerem parte dos momentos considerados sagrados, passaram a ter uma
conotação espiritual, sendo portanto, sacralizados.
Alguns gestos
práticos são comuns no cristianismo como ajoelhar-se, fazer o sinal da cruz ou
o nome do pai (no meio católico), bater palmas, levantar as mãos em sinal de adoração
(no meio evangélico) e outros.
Psicologicamente
estes gestos induzem o cristão a preparação, a mobilização de estados de ânimo
interior. Esses elementos psicológicos certamente contribuirão para reforçar a
pessoa no sentido da aquisição da bênção desejada.
Os Gestos sacerdotais
utilizados pelos líderes religiosos como: a bênção sacerdotal, a aproximação, a
oração, o toque, a unção, e outros são considerados sagrados e reforçadores da
fé.
Assim como a própria
pessoa do sacerdote ou líder espiritual também se torna sacralizada.
d) A
memória – literatura
A literatura
religiosa, enfocando principalmente a cristã, sempre foi um instrumento
utilizado pelos fiéis, no sentido de informação, conhecimento e direcionamento
das práticas religiosas. Ela é a memória sacralizada do cristianismo.
A rememorização dos
fatos religiosos como: mitos, símbolos, ritos, salvação, milagres, curas e
dogmas e normas religiosas e mesmo, os exemplos de fé dos antigos cristãos, não
só ocorre na prática religiosa, como também no ato da leitura religiosa, que
muito contribui para o surgimento da fé.
As escrituras
sagradas, principalmente a Bíblia, depois de sua e canonização, tornou-se
instrumento fundamental para os cristãos, como regra de fé e conduta.
Jesus Cristo também
sacraliza as escrituras quando afirma: “Vós perscrutais as Escrituras porque
julgais ter nelas a vida eterna; ora, são elas que dão testemunho de mim” (Jo 5,39).
Desta forma, a Bíblia
tornou-se para o cristão, elemento propiciador das informações cristãs e das
suas bases no primeiro momento; posteriormente regra e instrumento de fé, pois
consideram-na a palavra de Deus, o recado de Deus aos seres humanos. Ela é a
memória sagrada dos cristãos.
e) O
lugar
A experiência mítica
e simbólica do lugar é de especial importância para o cristão. Ele acredita que
Deus pode estar presente em lugares ou tempos específicos.
Tentando compreender
acerca de Jesus, no âmbito das tradições judaicas, seria possível considerar
Jesus, como o lugar da presença de Deus, simbolizando a presença de Deus na
pessoa; de forma parecida ao que ocorre no templo, sendo ele
uma só pessoa, superando o abismo entre o
doador e o dom (TERRIN, 1998, p. 94).
O templo cristão, por
sua vez faz parte da experiência mítica do lugar. Nele estão presentes os
símbolos e acontecem as práticas dos ritos sagrados. Daí o motivo dos fiéis se
reunirem unidos numa só fé que a mítica do lugar simboliza.
Também faz parte da
mítica do lugar o significado simbólico que o lugar possa trazer variando de
pessoa para pessoa como: o lugar que ela foi batizada, onde casou, onde seus
filhos foram batizados, onde se converteu ao cristianismo, onde presenciou
curas, passando este lugar a ser considerado sagrado por ela.
O cristão normalmente
sacraliza determinados lugares, como já vimos e principalmente onde houve uma
teofania[32]. A
manifestação do sagrado torna mais forte toda uma simbologia e ritos e isso
contribui de forma simbólica para o fortalecimento e efetivação da fé.
5.1.3 Experiência religiosa
O termo “experiência”
possui vários significados originários mais da vivência diária, que da
especulação. Esse termo tem sua origem no grego “empeiria”, dele originando
“empírico” e “empirismo”, no latim “experientia”, surgindo em português
o termo “experiência” (VALLE, 1998, p. 21).
No senso comum, este
termo tem como significado principal, o aprendizado direto empírico, pela
pessoa. È uma forma de saber imediata que ocorre antes mesmo de ter noção
reflexiva do objeto aprendido; seriam modos básicos de sentir, conhecer e fazer.
A experiência é
responsável em construir a condição para o conhecimento e ação. Em função da
sua situação de repetição e da possibilidade de ser comparada com a experiência
de outros, pode ser fundamento confiável e importante para orientação, na
relação com o mundo. Num segundo sentido, a experiência está relacionada à
prática em atividades definidas. Num terceiro sentido, seria a experimentação e
a verificação, sendo esse o seu principal significado em linguagem científica e
técnica. Um quarto sentido seria a capacidade de suportar ou de sofrer em uma
situação.
Em outros sentidos
pode significar “a percepção subjetiva e imediata das coisas, das pessoas e do
mundo. Também de si próprio ou do sagrado” (VALLE, 1998,p. 21-22).
O termo “experiência”
foi constituindo-se na vida diária de vários sentidos qualitativos, sendo que,
muitos deles são de grande importância para se entender a noção de experiência
religiosa, como: o lado intuitivo das coisas; a dimensão da intencionalidade,
maneira de ver, sentir e reagir de cada pessoa.
O especialista em religiões
populares, O. Maduro, associa o conhecimento a experiência, afirmando que o
conhecimento religioso verdadeiro presume a presença de experiência qualitativa
que antecede a ele próprio (MADURO apud VALLE, 1998, p. 23).
A experiência
religiosa, a princípio parece caracterizada por excessiva poliformia.
No entanto, ela é
real em si, não sendo apenas uma noção, mesmo apresentando-se às vezes de forma
múltipla, cheia de incoerência e polarizações.
Olhando por esse prisma,
as experiências religiosas apresentam tensivas características que se seguem: “são
(podem ser) estáticas ou dinâmicas, passivas ou ativas, cerradas ou abertas, intrínsecas
ou extrínsecas, libertárias ou repressivas, emocionais ou racionais, sectárias ou
universais, conscientes ou inconscientes, neuróticas ou sãs.” (VALLE, 1998,
p.17-18).
Em Oxford,
Inglaterra, o Centro de Alister Hardy, pesquisou relatos individuais de 3000
pessoas que descreveram suas próprias experiências religiosas as quais foram assim
classificadas:
1)
experiências sensoriais ou quase sensoriais visuais;
2)
auditivas;
3)
táteis;
4)
odoríferas;
5)
extra-sensoriais [...];
6)
mudanças comportamentais com aparecimento de condutas [...];
7)
elementos cognitivos e afetivos [...];
8)
evolução da experiência enquanto tal: (a) intrapessoal [...], (b) interpessoal
[...];
9)
padrões dinâmicos presentes na experiência: (a) construtivos ou positivos
[...],
(b) destrutivos ou negativos[...];
10)
experiência em sonhos;
11)
eventos deslanchadores da experiência [...]:
12) conseqüências da experiência
[...] (VALLE, 1998, p. 275-276).
Acerca da experiência
do sagrado na psicologia, é bom que se compreenda melhor o que esta ciência
entende por religião. A definição clássica de William James pioneiro
psicofenomenológico da “experiência religiosa”, afirma que religião são
“sentimentos, atos e experiências do indivíduo humano, em sua solidão, enquanto
se situa em uma relação com seja o que for por ele considerado divino”.
Percebe-se que ele
enfoca dois momentos: um é a relação com o sagrado e o outro, o que ocorre na solidão
do indivíduo. M. F. Verbit, como também muitos admiradores de James, discordam
desse segundo momento acerca da solidão individual.
Para ele, o histórico
e o social devem ser considerados, devendo ser vinculados; definindo, portanto,
a religião como: “a relação do ser humano com qualquer coisa que ele conceba
como sendo a realidade última dotada de significado”.
A. Vergote, aceita
parcialmente a definição de James e adota a de R. H. Thouless por apresentar
uma visão mais abrangente do fenômeno religioso: “a religião é uma relação vivida
praticada entre o ser humano e o ser ou os seres supra-humanos nos quais ele
crê”.
Conclui afirmando “a
religião, em conseqüência, é um comportamento e um sistema de crenças e de
sentimentos” (VALLE, 1998, p. 42-43). A experiência religiosa seria, portanto
em sua prática, o ato da experiência do indivíduo com o sagrado e suas
conseqüências.
5.1.4 Simbologia na cura religiosa
O mundo religioso
cristão atual, desde os tradicionais até os neopentecostais,
levados por um sincretismo ascendente, traz
aos seus adeptos relevantes promessas de mudança na vida. “Vemos o poder
transformador na cura e todos os níveis possíveis: corpo, emoções, memória,
relacionamentos e propósitos” (WUELLNER,1997, p.9).
A cura sempre foi
almejada e buscada pelo ser humano em função do estado desarmônico que a doença
provoca no corpo, nas emoções e no espírito. Ela é fruto do desejo, da fé e da
busca, variando de cultura para cultura, que é o determinante de todo o
processo.
Para que uma pessoa
seja curada é necessário que ela deseje ardentemente viver. Surge então a busca
a partir do desejo, através dos meios comuns especializados e a partir da fé
que estando presente, chega-se até a busca da cura religiosa se for o caso.
Em muitas culturas
antigas, o sacerdote, o mago, ou o taumaturgo eram pessoas que portavam
conhecimentos de medicina associados à fé religiosa, por sua vez fundamentados
em mitos, símbolos e ritos.
Como se sabe as
doenças variam em função da cultura predominante, pois têm a ver com a
estrutura social, política, econômica, psicológica e geográfica de cada povo,
tendo como fator relevante as crenças e religiões; onde os mitos e símbolos são
responsáveis pelo fortalecimento da fé que, por conseguinte, é decisiva para a obtenção
da cura.
A cura sempre foi
simbolizada ou precisou de um ato simbólico, um símbolo que intermediasse a
situação entre o fiel e o sagrado. Começando no mundo helênico, havia muitas
mediações simbólicas, a começar do templo, do santuário, da incubação[33] e
dos sonhos e outros.
A cultura hebraica não
aceitava a procura por médicos e quem o fizesse cometia um ato de desobediência
e impiedade demonstrando falta de fé em Deus, e merecia castigo, pois
acreditava que somente Deus podia curar. Também acreditava que a cura e doença
respectivamente, eram favor e punição de Deus. Contudo, os instrumentos simbólicos
eram utilizados, a partir da oração, súplicas intercessão sacerdotal e sacrifícios
de animais, para o perdão de pecados e purificação.
A observância dos mandamentos:
doutrinas, dogmas, costumes, incluindo a não contaminação com o pecado,
garantiam uma vida saudável; como também os sacrifícios que eram oferecidos no
templo; os ritos, e as purificações (SCHIAVO; SILVA, 2000, p. 73).
No Novo Testamento,
Jesus Cristo foi o maior profeta, taumaturgo e exorcista
(Mt 11,4-6). Na sua época, os judeus que
aderiram aos seus ensinamentos, viveram uma fase de transição a qual vinha de
encontro aos costumes hebraicos, alterando seus valores tradicionais.
Em parte, as crenças
e os ensinamentos de Jesus trouxeram para os seus seguidores, uma espécie de
reforma em relação à cultura hebraica, que já mantinha muitos valores herdados
das culturas anteriores que os dominaram, dentre elas a helênica, como também
das culturas vizinhas. No que se refere ao cristianismo, percebe-se que a
simbologia amplificou ou quem sabe foi utilizada com menos censura.
A simbologia da cura
tornou-se visível, clara, patente, fazendo parte do cotidiano religioso: a voz;
o poder da palavra; a oração, o olhar; o toque; a imposição de mãos; o ambiente
sagrado, a meditação, a unção com óleo, a taumaturgia e outros.
O principal dos
taumaturgos neotestamentário foi Jesus, e posteriormente seus doze apóstolos e
discípulos. Um dos pontos que difere o Novo Testamento da cultura hebraica e
outras é o fato que qualquer fiel, independente da função religiosa de que era
imbuído ou mesmo sendo um leigo, podia tornar-se instrumento dessa simbologia no
ato da cura.
Seguem-se alguns
exemplos, dentre outros, de símbolos usados na cura religiosa cristã: unção
com óleo: (apesar de na antiguidade ser uma medicação universal, muito
utilizada como ablução[34],
também como alimento; era considerada a origem de luz e afugentava o mal) no
Novo Testamento, tem ligação com as curas operadas por Jesus e posteriormente
por seus apóstolos e discípulos, “a partir daí entendendo a unção com óleo e a
oração em nome de Jesus de Tg 5, como um sinal eficaz da força da cura de Deus
[...] As orações aí empregadas exprimem a crença de que pela consagração o óleo
adquire a capacidade de trazer saúde” (GRESHAKE,1998, p. 98).
A imposição de mãos: na
cura da mulher encurvada (Lc 13,12). Jesus lhe impôs as mãos e ela ficou livre
da sua encurvatura. O ato de impor-lhe as mãos, apesar de ser um gesto
simbólico contribuiu para externar “o exercício da virtude taumatúrgica de
Jesus sobre a enferma” (Lc 4,40), (LANCELLOTTI, 1979, p.141).
5.2
PSICOLOGIA
A psicologia
científica tem se destacado como uma das inúmeras conquistas do século XX. Sua
influência tem sido relevante nos campos da educação, das relações humanas em
geral, no comércio e na indústria, no conhecimento da personalidade, no estudo
da motivação, na compreensão dos comportamentos, no trânsito, no esporte e no
lazer, nas doenças psicossomáticas e também na religião.
5.2.1
Psicologia da Religião - Informações Teórico-Históricas
A religião, em todos
os tempos, tem contribuído de forma relevante para comportamentos decisivos na
vida de milhões de pessoas. A psicologia religiosa científica surgiu por volta
do início de Século XX, quando também a investigação sistemática se iniciava,
assumindo um papel preponderante e contribuindo para ofortalecimento das
ciências da religião, sendo que o relacionamento entre essas ciências definiu
as características principais da psicologia religiosa (BENKÖ, 1981, p.9).
Neste período,
começaram a desabrochar as ciências da religião (histórias das religiões,
ciências da religião e filosofia da religião) e como conseqüência as ciências
do espírito Geistes wissen chaften,
em função da sistematização, dos conhecimentos adquiridos até então, acerca dos
povos primitivos e culturas tradicionais da Ásia e das Américas (BENKÖ, 1981,
p. 9-10).
Nomes significativos,
desde o princípio dos estudos psicológicos, em parte não admitiam a religião
como objeto de estudo científico, enquanto que outros fizeram com êxito estudos
que permanecem até hoje. Dentre as duas correntes, citaremos alguns dos
principais.
Para Wundt a origem
da religião está relacionada ao mundo dos mitos, sendo produto da comunidade,
não refletindo a vida psicológica; e ao ser interiorizada se expressa através
de símbolos abstratos, se retrai, podendo manter-se sem o culto externo (BENKÖ,
1981, p. 10).
Seu objetivo é
explicar a origem psicológica da linguagem dos costumes e da religião. Com
respeito ao mito psicológico em geral, e ao método divulgado sobre os fenômenos
psíquicos superiores, ele trouxe grande contribuição para a psicologia religiosa.
Freud utilizou os estudos de Wundt para iniciar o estudo psicológico dos fenômenos
religiosos (BENKÖ, 1981, p. 10). Desta forma, mesmo indiretamente, Wundt contribuiu
para o início do estudo da psicologia religiosa.
William James,
considerado fundador da psicologia religiosa norte-americana, defende as
manifestações religiosas nas pessoas religiosas, como os fundadores e místicos
religiosos. Na sua análise, apresenta o surgimento da consciência religiosa, a conversão,
antecedida por dois momentos: a pessoa se conscientiza dos seus erros; posteriormente
identifica-se com sua parte superior germinal, a salvação. James já enfocava o
inconsciente para compreensão da religiosidade.
William James
combateu veementemente o materialismo médico e o cientificismo psicológico.
Criticou o associacionismo psicológico afirmando que o imaginário e as
convicções religiosas fugiam às vezes à explicação científica. James estendeu o
campo da observação racional, aprimorando seus métodos de investigação científica.
Essa nova visão
elevou a religião para uma consciência excelsa. Ele a define como “a reação
total de um homem diante da vida” e ”a crença numa ordem invisível, na
persuasão de que o nosso bem supremo está na harmoniosa adaptação de nossa vida
a essa ordem” (JAMES apud FILORAMO;
PRANDI, 1999, p. 168).
Acreditava que a
experiência religiosa surgia no sentimento, era individual e ia além dos
limites da consciência racional. Com essa forma de ver a religião, a metodologia científica tradicional não podia
ser deixada, pois a religião é uma realidade psíquica, a qual deveria ser
pesquisada empiricamente, através de um método seqüencial. Dedicou-se a
investigar a diversidade das espécies religiosas, quando se primou em
descrever, classificar e explicar os motivos da sua persistência.
Se a religião era
individual possivelmente ela tenha surgido do intercâmbio entre indivíduo e comunidade.
James acreditava que a religião “deve necessariamente ter uma função eterna na
história humana”; “deve exercer uma função permanente, tenha ela ou não um
conteúdo intelectual, e se tiver, seja este verdadeiro ou falso” (JAMES apud FILORAMO; PRANDI, 1999, p. 169).
Sigmund Freud retomou
temas iluministas da religião em suas críticas à religião.
O interesse de Freud
pela religião foi contínuo e sistemático. Contribuiu com três importantes
obras, nas quais investigava a relação entre psicologia e religião. A primeira
obra “Totem e tabu” (1912-13).
Freud segue com “O futuro de uma
ilusão” (1927); a última, “Moisés
e o monoteísmo” (1934-38), onde faz crítica ao judaismo e sua identidade.
Freud tinha como
objetivo alcançar o homem de classe média com suas tradições e instituições
religiosas, as quais eram utilizadas como preservação frente às intimidações do
mundo.
Sob forma de neurose
coletiva da humanidade, essas intimidações exerciam a repressão aos instintos
sexuais, os quais eram sublimados, através de crenças mitológicas e rituais,
favorecendo desta forma as repressões sociais.
Freud acreditava que
na idade experiente do homem, a ciência iniciaria o período de revelação da
constituição ilusória da religião. O caráter dessa revelação pessoal de Freud
contribuiu para os impasses entre psicanálise e religião. (FILORAMO;PRANDI,
1999, p. 175).
Para Freud, a
psicanálise deveria contribuir para a explicação da religião, esclarecendo sua
índole efêmera, explicando sua forte condição de subsistência.
A religião seria a
realização e continuidade das aspirações dos antepassados, o que denota sua
capacidade de subsistência e em função disso ela podia desvencilhar-se facilmente
dos ataques dos métodos racionalistas, que tanto tentavam desvendar sua índole
ilusória.
O desvendamento desse
procedimento ardiloso por parte da religião, que está entre crença e desejo,
astuciosamente oculto nas práticas religiosas, era o principal objetivo da
crítica psicanalítica (FILORAMO; PRANDI, p.175. 1999).
A psicanálise
religiosa procurava encontrar analogias entre: procedimento ritual e comportamento
obsessivo; crenças míticas religiosas e o universo dos sonhos.
Em “Ações obsessivas e práticas religiosas”
(1907), Freud encontra três pontos semelhantes entre a neurose obsessiva e a
vivência religiosa: a coerção e a desistência a certos impulsos; o semelhante
resultado do processo de coerção e sublimação, que nos dois casos, causam
mecanismos de transferência[35].
Baseado
nessas coincidências e analogias, poderíamos ousar considerar a neurose
obsessiva como um equivalente patológico de formação religiosa e descrever a
neurose como uma religiosidade individual, e a religião como uma neurose
obsessiva universal. A semelhança essencial residiria na fundamental renúncia à
atividade das pulsões dadas constitucionalmente. E a diferença principal, na
natureza dessas pulsões, que na neurose são de origem exclusivamente sexual e,
na religião, de origem egoísta (FREUD apud FILORAMO; PRANDI, 1999, p.
176,).
A religião era
comparada ao complexo edipiano, onde o filho permanecia dependente do pai e do
seu poder. A religião seria a dependência, a necessidade da presença do
primeiro pai, que foi transformado em representação simbólica nas várias crenças
históricas. Ela varia visivelmente de acordo com os valores históricos
culturais, sempre procurando meios para solucionar a situação, aliando o
sentimento de culpa pelo primeiro crime, com a desafiante figura do pai.
Para Freud, o
cristianismo explica bem isso. Cristo salva a humanidade contra o pecado
cometido contra o pai (o pecado original), que seria o primeiro crime. Sendo
morto, ele reafirma a morte do pai “o próprio ato pelo qual o filho oferecia a
maior expiação possível ao pai conduzia-o, ao mesmo tempo, a realização de seus
desejos contra o pai. Uma religião filial deslocava a religião paterna” (FREUD,
1999, p. 157).
Somente Freud veio
colocar como ponto central das suas pesquisas o inconsciente, seguindo em muito
a linha de Wundt, explicando o comportamento religioso como também a origem da religião.
Para ele, a religião era uma ilusão e competia à psicanálise, portanto
posicionar-se como crítica da religião.
Carl Gustav Jung
considera a vida consciente do ser humano, transitória e limitada e dá ao
inconsciente maior importância, quando interpreta suas origens e valores
bastante diferentes de Freud. Não dá primazia ao instinto sexual, como Freud.
Ele chama de libido
ou energia psíquica, uma fonte de energia que satisfaz as várias necessidades
do ser humano. Além de relacionar-se com sua fonte, ela conduz para um fim,
podendo passar por modificações qualitativas. A falta de descarga adequada da energia
acumulada pode levá-la a refluir em nível mais baixo na busca de saída, podendo
utilizar determinadas imagens enquanto podem representar outras; caracterizando,
portanto o símbolo.
Em
nossa natureza psíquica, só uma pequena parte da energia total pode ser desviada
de seu curso natural. Uma parte incomparavelmente maior não pode ser utilizada
por nós, mas sustenta o curso regular da vida. Por isso é que a libido se acha
distribuída, naturalmente, entre os diversos sistemas funcionais aos quais não
se pode subtrair inteiramente. A libido está investida nestas funções como uma
força específica que não pode ser transformada. Só onde o símbolo oferece uma
diferença de potencial maior do que a natureza é possível canalizar a libido
para outras formas (Jung, 2002, p. 55,).
Jung acredita que o
inconsciente do ser humano é uma camada bem superficial, e que o inconsciente
principal seria o inconsciente coletivo[36].
O
inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um inconsciente
pessoal pelo fato de que não deve sua experiência a experiência pessoal. [...]
os conteúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência, e
portanto, não são adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à
hereditariedade. [...] o conteúdo do inconsciente coletivo é constituído
essencialmente de arquétipos (JUNG, 2000, p. 53).
O inconsciente
coletivo manifesta-se através dos mitos, os quais são rememorizações, onde são
narrados as origens, relacionamentos com o mundo, valores e reafirmados os
poderes das forças sobrenaturais. Os mitos estão carregados de símbolos e de
informações alegóricas. Entre povos diferentes encontram-se mitos semelhantes
por derivarem do inconsciente coletivo.
Os arquétipos[37] são
meios que facilitam as elaborações mentais, através dos quais a energia
psíquica é revelada; juntam-se a eles as experiências individuais e as coletivas.
”O conceito de arquétipo, que constitui um correlato indispensável da idéia de inconsciente
coletivo, indica a existência de determinadas formas na psique, que estão presentes
em todo tempo e em todo lugar” (JUNG, 2000, p. 53).
A expressão dos arquétipos
pode ser encontrada no mito e nos contos de fada. Neste caso são veículos que
transmitem os fatos através de longos tempos. Os arquétipos representam um conteúdo
inconsciente e modificam-se através da sua conscientização e percepção, assumindo
então a função que pode variar de acordo com a consciência do indivíduo em que
é manifesta.
Os arquétipos formam
a organização psíquica e também as categorias do pensamento simbólico. A partir
daí é que surge a interpretação junguiana da religião.
Carl Gustav Jung
obteve em seus estudos resultados que enfatizam a experiência religiosa como
fator principal para a integração psicológica (BENKÖ, 1981,p. 12-13).
A
religião, a fé, liga o homem ao sobrenatural, o conduz ao mundo da realidade invisível.
Ao nascer, porém, no homem, ela estabelece nele uma relação real à maneira das
outras relações deste mundo e se projeta no seu comportamento. A tarefa da
psicologia religiosa é a investigação deste “lado humano”. Em outras palavras:
a psicologia religiosa é aquele ramo da psicologia que investiga as
experiências, comportamentos e expressões religiosas sob ângulo psicológico
(BENKÖ, 1981, p.15,).
5.2.1.1
Elementos psicológicos que contribuem para a cura
Para se entender
melhor a questão psicológica das doenças e curas no mundo religioso é
importante entender o papel dos mitos e dos símbolos os quais fazem parte desta
construção.
Os
mitos e símbolos, as figuras mitológicas de povos e culturas independentes entre
si devem ser explicados em um “inconsciente coletivo” [...]. O “inconsciente
coletivo” junguiano representa uma camada muito profunda da alma, inata, que é
necessário diferenciar do inconsciente pessoal, nascido da experiência e da
contribuição individual (CROATTO, 2001,p. 195).
5.2.1.1.1
O símbolo
O ser
humano ”deleita-se com a matéria e nela imerge. Mas se afirma no espírito.” É
como se uma parte de si mesmo escapasse do seu convívio frágil, da incerteza do
tempo e espaço, para posteriormente ressurgir em outro mundo, sendo corpo e
espírito. Seu corpo subjugado à beleza, ao peso e a debilidade do mundo e o espírito
por sua vez, superando o transitório e com isso tentando tomar parte na imortalidade.
Os vários
sistemas filosóficos possuem sua própria maneira de lembrar essa situação
difícil e frágil do ser humano. Uns apresentam a forma dualista que se contrapõem
como absolutas: corpo e espírito, de forma dissociada, e se opõem. Os gregos
consideram o corpo uma prisão e para Platão é a imagem do conhecimento primoroso
onde os espíritos aproximam-se das idéias, mesmo sendo mortais as pessoas devem
contentar com a sombra que se projeta sobre a caverna. Lamartine ecoou esse
dualismo: ”O homem é um deus decaído que se lembra do céu”. O ser humano
estaria à espera da sua redenção e enquanto isso, vivendo na vulgaridade do corpo
e do sexo.
Sábios
chineses dividiram o mundo em duas partes antagônicas: Yim e o Yang, que apesar de aparentemente se contraporem, elas
se correspondem, se completam, às vezes de forma bastante complexa[38]. Essas associações e oposições misturam-se em um jogo difícil de
referências simbólicas. De forma simultânea, o ser humano é e não
é, contudo, por um lado ele existe de verdade, pelo fato de ter um nome, uma fisionomia
própria e uma história. Sua existência é inegável. Por outro lado, ela é instável,
duvidosa e incontentável. Ele é carnal e divino. Ele é espírito e corpo, porém ligado
ao tempo e sonhando com a eternidade (Beauchamp, 1999, p 41-42).
A
aventura humana é um enigma, jamais totalmente compreendido, jamais totalmente
decifrado. Cada um esclarece uma palavra, uma frase, lança um pouco de luz
sobre uma passagem obscura. Mas o livro como um todo permanece misterioso, e
ninguém conhece a palavra final do enredo (BEAUCHAMP, 1999, p.43).
Psicologicamente,
para esta construção psicorreligiosa, o ser humano necessita de algo que
intermedie o psíquico e o espiritual, tornando de certa forma mais real sua crença
religiosa e essa intermediação é efetivada pelos mitos, símbolos e ritos.
Finalmente,
não é o espiritual que aparece primeiro. Mas o psíquico, e depois o espiritual.
É a partir do olhar do imo espiritual interior que a alma toma seu sentido, o
que significa que a psicologia pode de novo estender a mão para a teologia”
(DOURLEY, 1999, p. 05)
O mito e símbolo
caminham juntos. O símbolo sempre mobiliza na pessoa uma certa carga energética
e desta forma ele pode ser considerado o mediador, o transportador de energia
dos arquétipos para a consciência. Ele é um elo entre o inconsciente e o
consciente, podendo assim ser traduzido em linguagem segundo a experiência de
cada pessoa.
A
recuperação da linguagem simbólica é, neste sentido, essencial para Jung, porque
permite um contato direto e não ameaçador com o inconsciente, onde as forças
vitais da realidade última se manifestam (GIROLA, apud DOURLEY,1999, p.
9).
É através da
linguagem que as pessoas tentam denominar as coisas e fatos com o objetivo de
expressar o que elas desejam comunicar. Em muitas situações, empregam conceitos
ou signos[39] que
não podem ser descritos e só são entendidos através de suposições. Neste caso
determinadas denominações são signos e não símbolos.
Chamamos
de símbolo um conceito, uma figura ou um nome que nos podem ser conhecidos em
si, mas cujo conteúdo, emprego ou serventia são específicos ou estranhos,
indicando um sentido oculto, obscuro e desconhecido [...] Um conceito ou uma
figura são simbólicos quando significam mais do que indicam ou expressam. Eles
têm um aspecto abrangente inconsciente que nunca se deixam exaurir ou definir
com exatidão A causa dessa peculiaridade deve ser buscada no fato de no estudo
do símbolo o espírito ser levado, em última análise, a representações de
natureza transcendental e diante das quais deve capitular nossa compreensão
(JUNG,1997, p. 189-90).
Diante de fatos e
coisas que estão além da compreensão humana, freqüentemente de forma consciente
ou inconsciente são usados conceitos e figuras simbólicas ao referir-se a elas;
além de se utilizar os símbolos eles também são produzidos nos sonhos. O
simbolismo por possuir elementos psicológicos deve ser motivo de maior
aprofundamento (JUNG, 1998, p. 190).
A psicologia
junguiana tem se difundido e alcançado simpatia e aceitação no mundo cristão
principalmente para os que estão interessados na restauração da espiritualidade,
e de uma teologia cristã com nova vitalidade; estes encontram no pensamento de
Jung um novo caminho, que descreve a humanidade a partir de um sentido de
realidade divina como também, demoníaca.
Na
realidade, a psicologia de Jung repousa, em última análise, sobre a crença que
realmente existem energias arquetípicas que transcendem o ego e que, quando
dele se apoderam, o convencem da verdade e do poder da divindade e do demônio,
ao mesmo tempo (DOURLEY, 1987, p. 12).
CONCLUSÃO
Ao fim dessa
caminhada, não temos a pretensão de concluir essa investigação.
Quando se entra no
campo simbólico religioso, e se trabalha em nível das representações, elas
lançam-nos para além da objetividade instrumental e nos inserem num terreno de
múltiplos e complexos significados. E ainda, por perceber que a questão dos
elementos psicológicos contidos na cura religiosa pentecostal é um tema que
merece ser mais investigado e aprofundado, pois só assim, novos caminhos poderão
ser vislumbrados no mundo da pesquisa trazendo retorno aos pesquisadores e também
à população como um todo.
Compreendemos que
nossa amostragem de estudos de casos de cura religiosa pentecostal utilizada
nesta pesquisa, representa uma estatística significativa, e acreditamos que ela
oferece alguns indicativos que num futuro bem próximo poderão vir a ser
considerados para futuras pesquisas.
O desenvolvimento
desta dissertação, com o tema aspectos psicológicos
na cura religiosa pentecostal, levou-nos a compreender que um dos
grandes desafios tanto religioso como psicológico é admitir que elementos
psicológicos estão presentes na cura religiosa, pois os religiosos vêem apenas
a cura como milagre alcançado pela fé e a manifestação do poder de Deus, e no
mundo psicológico além do pouco interesse existente pelo assunto, número
relevante dos estudiosos de psicologia da religião vêem apenas comportamentos
psicológicos presentes na conduta religiosa e não atentam que estes elementos
psicológicos, além de estarem presentes, eles participam do ato de crer, da fé
e da cura religiosa.
È bom ressaltar como
já vimos, que a pessoa quando chega a procurar a cura religiosa para o seu
organismo conseqüentemente ela já está também doente emocionalmente, bastante
fragilizada, portando vários sintomas de caráter emocional, sendo religiosa ou
não. Muitas são portadoras de quadros psicossomáticos ou em menor percentual a
doença física agrava seu estado emocional.
Como vimos nos
estudos de casos, em todos está presente o “poder simbólico da Palavra”. Isto
de forma geral ocorre com a rememorização dos vários mitos, fator que contribui
para o surgimento da crença e da fé, com o ouvir, ou ler ou mesmo através de
informações ou testemunhos, e com o celebrar através de símbolos e ritos.
A pessoa começa a
crer e adquirir fé através da assimilação desses conteúdos que são também
psicológicos, os quais são elaborados e canalizados em seu psiquismo.
Diante dessa
premissa, ao analisarmos os dados de nossa pesquisa de campo, constatamos que a
cura religiosa pentecostal não é apenas uma cura religiosa, um milagre
religioso, ela está permeada de elementos psicológicos os quais, na sua eficácia
mobilizam ou reforçam, como também canalizam a libido para que esta se transforme
em energia psíquica capaz de efetivar várias atividades psíquicas, dentre elas
a cura física ou emocional. Desta forma, as doenças são curadas, principalmente
os quadros psicossomáticos, sendo restabelecida a saúde da pessoa.
A cura, o ato da
cura, como se processam esses milagres, e a presença de elementos psicológicos
no processo de cura, é o ponto central da nossa pesquisa.
Portanto, torna-se
necessário aglutinar esses fatos para termos uma idéia final dos resultados
alcançados na nossa pesquisa.
A cura religiosa
pentecostal é um fato real que acontece entre os pentecostais, através dos
mitos, símbolos e ritos; a simbologia religiosa em geral onde dentre elas estão:
o discurso da Palavra; a memória; a ceia do Senhor; a oração; a imposição de mãos;
a unção com óleo; a manifestação do Espírito Santo; os gestos; o lugar sacro; a
figura do pastor; o louvor sacro com toda a sua instrumentação, gestos e
euforia; a afinidade na convivência com os demais fiéis no grupo geral e nos
subgrupos e demais simbologias e liturgias. Todos esses elementos aparentemente
apenas religiosos, estão permeados de elementos psicológicos que contribuem
desde a crença e a fé, que seriam a introjeção da figura de Deus no psiquismo,
a indução através de todos os elementos religiosos citados, a aceitação e a
disponibilidade para a cura, a introjeção de todo elemento religioso no
psiquismo, a assimilação destes elementos, a elaboração e transformação em
libido, que por sua vez é canalizada em forma de energia para o fim proposto,
no caso a cura.
Finalizando, podemos
afirmar que os resultados encontrados em nossa pesquisa, corresponderam a nossa
tese, pois a cura religiosa pentecostal, segundo os resultados obtidos nesta
pesquisa, está permeada de elementos psicológicos e podem sim, serem curas
psicossomáticas, tendo em vista a situação emocional em que se encontravam a
maioria dos sujeitos antes da cura, levando em conta que após ou durante a cura
os primeiros sinais ou resultados surgidos foram de ordem emocional.
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[1] Cf. HINNELLS. 1984, p.204.
Pentecostalismo. “Aludindo a descida do Espírito Santo (Trindade) sobre
os Apóstolos em pentecostes, aplica-se o termo em um movimento iniciado
em Los angeles, no Estados Unidos (1906 EC), que se espalhou pela África,
Europa e América Latina. Tem sido caracterizado pela cura espiritual e pelo e
discurso estático em “línguas” (glossolalia) ininteligíveis ou soando como
línguas existentes, porém não conscientemente conhecidas pelo discursante. Suas
igrejas incluem o Evangelho Four Square de Elim, a Assembléia de Deus, e muitas
outras, algumas das quais são igrejas negras”.
[2] Cf. At 1,8 Descida do Espírito Santo
sobre o fiel, com o objetivo de enchê-lo de Poder para testemunhar, para
anunciar o Evangelho de salvação. Expressão comumente utilizada pelos
pentecostais para denominar a manifestação do Espírito Santo, com o falar em
línguas estranhas.
[3] Cf. At 2,1-14. Sinal que segue a
descida do Espírito Santo, quando o fiel fala em línguas totalmente
estranhas e ininteligíveis ou em línguas inteligíveis.
[4] Tratamento de rotina utilizada entre
o pentecostal para comunicar-se com qualquer outro fiel.
[5] Mensagem pentecostal, acerca do
Batismo com o Espírito Santo e dom espirituais, com objetivo de ser ploclamada
ao mundo.
[6] Cf. FOUILLOUX, 1998, p. 213. Profeta.
(Gr. Prophetas, de pro, “antes” ou “ em nome de”, e phemi,
“eu falo”.). Aquele que fala em nome de Deus.
[7] Cf. CABRAL, 1971, p. 280. “Condição
do organismo em que uma célula ou órgão é impedido de desenvolver sua função
usual; doença, perturbação ou disfunção que provoca o funcionamento anormal do
organismo”.
[8] FERREIRA, 1996, 1690. [do hebraico
tóráh]. Lei mosaica; o Pentateuco; os primeiros cinco livros do
Antigo Testamento.
[9] Jeová; Deus.
[10] Cf. BALDONI; TROMBINI, 2004, p. 14.
“A psicossomática pode ser considerada a ciência que se propõe estudar e ajudar
o ser humano tanto em seus aspectos psicológicos quanto nos corpóreos”.
Cf.
CABRAL,1971, p. 320. “Relação mútua entre os fenômenos psíquicos (normais,
anormais ou patológicos) e os estados corporais (somáticos)”. Perturbações ou
lesões orgânicas, produzidas por influência psíquica ou doenças orgânicas
agravadas por fatores emocionais.
[11] Cf. ELIADE, 2002, p. 11. “O mito
conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo
primordial. O tempo fabuloso do “princípio”.
[12] CABRAL, 1971, p. 360. “Conversão de
experiências mentais em sintomas físicos”.
[13] Cf. DORN; PAROT, 2000, p. 543.
“Distribuição metódica em que são agrupas as doenças por classes, ordem,
gêneros e espécies Descrição metódica da doença”.
[14] Cf. REY, 1999, p. 640.
Psicopatologia: “Estudo das causas e natureza dos distúrbios mentais. Ramo da
psiquiatria que estuda as funções psíquicas anormais, definindo as
peculuiaridades de cada um dos transtornos mentais”.
[15] Criador e fundador da abordagem
psicológica junguiana. Foi discípulo de Freud e conviveu com psicanálise
durante alguns anos, e posteriormente rompeu com Freud criando suas próprias
teorias e
abordagens, e possivelmente pela visão religiosa que ia
de encontro com as teorias freudianas.
[16] Cf. SILVA, 1986, p 1117. “Mistura de
elemento, doutrinas ou concepções heterogêneas”.
[18] Estudo dos sintomas das doenças
orgânicas ou psicológicas.
[19] Cf. TROMBINI; BALDONI, 2004, p. 88.
Atualmente o Estresse é considerado como: “[...] estado de mal estar no
organismo, no qual entram em ação as defesas para fazer frente a uma situação
de ameaça”. Cf. VALDÉS. 2002, p. 65 “O indivíduo em estado de estresse sofre um
desequilíbrio interno que se expressa por meio de alterações nervoso-centrais
que afetam tanto a vida psíquica (estado de
apreensão, dificuldade de concentração, sensações de estranheza etc)
quanto o funcionamento fisiológico (insônia, transtornos sensoriais, cansaço
etc.)”
[21] Cf. DICIONÁRIO MÉDICO BLAKISTON,
1979. “(córtex límbica, lobo límbico). Um anel de córtex cerebral, composto de
arquipálio e de paleopálio, que abrange o giro paraterminal e a área
paraolfatória do cíngulo, o giro para-hipocampal e o úncus. È a parte mais
antiga do córtex que tem seu rudimento evolutivo nos répteis, anfíbios e
peixes. Atualmente, considera-se desempenho importante no papel do controle e
integração das emoções”.
[22] Cf. FERREIRA, 1996, p. 1190; 649,
852. “Neuro: nervo, fibra. [...] Endócrino: separa, segrega. [...] A
glândulas
endócrinas segregam ao conjunto de células que secretam ou excretam substancia,
que não se relacionam com as suas necessidades habituais”.
[23] Cf. REY, 1999, p. 186.
Corticosteróide = Corticóide: “Hormônios secretados pelo cortex da suprarenal,
assim como substâncias derivadas e seus substitutos sintéticos”.
[24] DORON, 2000, p. 395. “Tendo sua
origem do latim histrio que significa “ator”, este termo e seu
substantivo (histrionismo) há muito tem servido para definir um dos traços
marcantes da personalidade dos histéricos: a propensão para a dramatização das
situações, para a ênfase dos entimentos e para fato de que a produçãp dos
sintomas necessita da presença de um terceiro expectador e é acompanhada de uma
relativa indiferença em relação a ele”.
[25] Cf. CABRAL, 1971, p. 66. “Condição
nervosa, típica da histeria e da esqquisofrenia, em que todo o movimento
voluntário é suspenso e a sensibilidade se aumenta. Esta condição é acompanhada
de rigidez muscular, palidez, fragilidade no corpo e diminuição do rítimo
cardíaco e respiratório”.
[26] Cf. REY, 1999, p. 511. De mimético,
mimia: “Elementos de composição significando “que imita” (do grego, mimétikós
= imitativo, minesis = imitação)”.
[27] Cf. OTTO, 1985, P. 11-15. “O elemento
do qual falamos e que tentaremos dar algum conhecimento, aparece como o
elemento vivo em todas as religiões. Ele constitui a parte mais íntima e, sem
ele, a religião perderia as suas características. A sua vitalidade manifesta-se
sempre com vigor nas religiões semíticas e dentre elas, num grau superior, nas
religiões bíblicas. Lá ele possui o nome que lhe é próprio: Oudoch, Hagios,
Sanctus ou Sacer. Seguramente, nessas três línguas, essas palavras
indicam a idéia de bem, bem absoluto, considerados no mais alto grau de
desenvolvimento em sua maturidade. Nós traduziríamos, então, por “sagrado” ou
“santo”. [...] eu uso a palavra numinoso”.
[28] Estudo da civilização de um povo, num
dado momento de sua história, através de documentos de sua historia, através de
documentos literários escritos, por ele deixado.
[29] Cf. ELIADE, 2002, p.25. Mitos
hipotéticos da formação do universo.
[30] Cf. SCHLSINGER; PORTO. “Aquele que
pratica curas geralmente por meio de preces, ritos e feitiços, desprovidos de
maior conhecimento especializado, não possui título nem habilitação para ao
ofício”.
[32] Revelação ou aparição da divindade.
Manifestação de Deus.
[33] Cf. KÖNIG, 1998, p. 282. “Termo que
designa a prática de uma pessoa dormir num lugar sagrado, na maioria das vezes
num templo, com o fim de obter um sonho enviado por seres divinos.
Fundamentação dessa prática religiosa é a convicção de que ao sonho compete uma
realidade que aponta o futuro, porque é concedido por meio de uma ligação com
uma divindade. Após determinados preparos a pessoa, que busca conselho ou cura
se deita para dormir. O sonho ou o oráculo onírico necessita com freqüência de
interpretação por sacerdotes, para esclarecer o sentido da mensagem. A prática
de se deitar ao chão surge originalmente à influência de divindades ctônicas, e
também Asclépio se havia desenvolvido de um demônio ectônico a um Deus
salvículo. A prática de domir no templo fazia parte também dos cultos das
divindades silvícolas Ísis e Serapir”.
[34] Cf. MCKENSIE, 1983, p. 5. “No antigo
testamento, a ablução é mencionada geralmente nas leis cerimoniais como meio de
purificação ritual, sendo prescrita para os sacerdotes e para quem quer que
tenha contraído uma impureza”.
[35] Cf. PIÉR0N, 1972. p. 432. “Mecanismos
psíquicos que ocorrem durante o tratamento psicológico, desenvolvimento de uma
atitude complexa por parte do indivíduo, em relação ao psicoterapeuta,
sobretudo sob a forma de reações afetuosas, hostis ou, mais geralmente
ambivalentes (positivas ou negativas). Tais atitudes em vez de constituírem
respostas ajustadas à situação real e presente, assimilam essa situação e
conflitos residuais com as pessoas do círculo social e familiar”.
[36] Cf. PIÉRON, 1972, 227 “No sentido
junguiano é aquilo que no inconsciente individual provenha de
origem ancestral”.
[37] Cf. PIÉRON, 1972, P. 36. “Na
terminologia de Jung, são conteúdos do inconsciente coletivo, como
modelos endógenos de conduta e produções imaginativas”.
[38] Cf. BEAUCHANP, 1999, P. 42. “[...[ a
vida e a morte, a esquerda e a direita, o alto e o baixo, o homem e a mulher, a
noite e o dia, o Sol e Lua, o duro e o mole. Associação e oposição se
entrelaçam em um jogo complexo de referências simbólicas. A tensão das
dualidades que fazem com que o ser humano jamais se decida. Precário, o
equilíbrio pode sempre se desfazer”
[39] Cf. CROATTO, 2001, P. 97. Sinal.
Parecido com o símbolo, porém não é símbolo em função do seu significado ser
limitado. Ex: cruz = cristianismo.
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