Tendo já analisado diversos estudos de casos, como terapeuta e ardente defensor da possibilidade de transformação da vida humana sobre a face da terra, me vi compelido a traçar algumas linhas sobre um assunto que ainda choca a sociedade e em especial a família e familiares daqueles que se veem por pouco ou longo período de tempo, privado da liberdade.
Pois bem, escrever sobre caridade, esperança, bondade e outras virtudes presentes não apenas nos discursos filosóficos e teológicos de certa forma se torna algo bem fácil, quando, deparamos com uma matéria um tanto quanto instigadora. Instigadora por conter diversos pontos de investigação, mas quero aqui, propor aqueles que temos acompanhado de perto nestes últimos anos de trabalho.
Recentemente, estive lendo uma matéria cujo objetivo estatístico é informar aos cidadãos sobre o índice de violência presente na sociedade brasileira, violência esta em que segundo os índices vem atingindo em grande massa uma parcela das matizes formadoras desta nação, os afrodescendentes.
No entanto, ao depararmos diante do convívio do sistema prisional, verifcaremos que para estar atras das grades independe da etnia, da cultura, da raça, da condição sócio cultural, econômica, partidária ou até mesmo religiosa.
Milhares de pessoas encontram-se atualmente acauteladas, aprisionadas, trancafiadas, enfim, presas, cumprindo uma determinação judicial, uma sentença, ou até mesmo aguardando um veridicto que possa determinar parte de sua vida futura.
Quantas vezes ouvimos vozes por detras das grades, vozes lamuriosas, condenatórias, repulsivas, arrependidas, vozes que clamam por socorro, por vida, por vingança, por morte, por misericórdia.
São gemidos muitos deles acompanhados pela indignação, pela revolta com diversos estados de afirmações, alguns totalmente sem nenhum ancoradouro, outros, sólidos como rocha, vitimizados pelo sistema avaliativo de execução, enfim, continuam sendo vozes.
Sons que não revelam muitas vezes uma identidade, solta no anonimato, mas que deseja que outros a possam ouví-la. São verdadeiras histórias e estórias que o mundo deveria conhecer, antes mesmo de atrever-se a prejulgar um veredicto.
Alguns desses sons que às vezes são quase que imperceptíveis, revelam que atrás da história sempre há de ter outra ou outras histórias.
Encontramos seres que aos poucos vão perdendo seu estado humanizador, caminhando para uma linha divisora da racionalidade, da sanidade, para com o irracional e do insano.
Vidas enclausuradas por tras das grades, e que antes mesmo das grades estão enclausuradas em seus desvaneios, suas crises, seus conflitos, suas histerias, esquizofrenias, "patias". Que os conduzem a uma realidade não real, uma pseudo realidade, uma fantasia, um mundo de OZ, uma terra do nunca, um alto da compadecida.
Mas, por detras de tantas grades, pode-se perceber seres que lutando contra tudo o que lhes foram dito, contra os estigmas, os paradigmas sociais, são capazes de enxergar um mundo capaz de ser melhor e querem não apenas fazer parte desse mundo, como poder dar suas contribuições para que isto aconteça.
Vemos seres animalescos caminhando para uma evolução social, com desejo de interação, de maturação, de adquirir conhecimento, de antes de ter, ser de fato humano.
Pessoas que mesmo ciente do que fizeram, de toda uma historicidade maculada, sentem e querem ver mudança, querem crescer. Lutam com ânimo, com determinação, pois, creem, acreditam e perseveram para que isto aconteça com eles e com seus familiares, que os acompanham.
Essas pessoas registram em suas histórias que mesmo estando por detras das grades, são livres, livres como humanos, como seres, que alcançaram uma graça divina.
Se espelham em mitos, em personagens históricos, e bíblicos. Acreditam que suas vidas foram transformadas por uma intervenção externa que se internalizou-se em suas mentes, promovendo uma verdadeira metanoia.
E essas pessoas, nos levam a refletir até onde a mente humana é capaz de ir, de pensar e a que ponto ela é capaz de promover mudanças num todo.
Vejo assim, seres humanos presos, porém com suas almas livres e capazes de promover vida até mesmo atrás das grades.
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