PRINCÍPIOS ÉTICOS NAS
RELIGIÕES - Um tema para o Ensino Religioso.
As tradições religiosas são um pertencimento humano. Ou seja, elas fazem
parte do contexto social e cultural de um povo. Uma das razões pelas quais
vários indivíduos buscam algum tipo de religião é para "colocar ordem na
vida". Por causa das intempéries do cotidiano, às pessoas buscam na
fé religiosa, sentido para vida, espiritualidade, esperança para viver e também
orientações para uma conduta correta.
A ética é um ramo da filosofia, e as religiões possuem em seu
repertório doutrinário princípios éticos. Com isso podemos concluir que: religião
e filosofia andam juntas. Geralmente quando uma pessoa procura uma
religião, e adere a ela, consequentemente aceitará os princípios éticos e
morais dessa religião.
O objetivo deste texto é ser mais uma fonte de apoio para auxiliar o
trabalho dos professores do Ensino Religioso. O ethos é
um dos eixos temáticos dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Religioso (PCNER).
"É a forma interior da moral humana em que se
realiza o próprio sentido do ser. É formado na percepção interior dos valores,
de que nasce o dever como expressão da consciência e como resposta do próprio
"eu" pessoal. O valor moral tem ligação com um processo dinâmico da
intimidade do ser humano e, para atingi-lo, não basta deter-se à superfície das
ações humanas" (PCNER, 2009, p. 55-56).
São analisados, de forma resumida, os princípios éticos do hinduísmo,
budismo, judaísmo, islã e cristianismo.
1. Hinduísmo.
"A ética do hinduísmo funda-se no carma, a lei
moral de causa e efeito, e no darma, o conceito do caminho moral correto que
cada pessoa deve seguir. Como o caráter e as circunstancias de uma pessoa
variam, a fé lhe oferece maneiras de viver bem e seguir seu darma"
(WILKINSON, 2011, p. 172).
"Aquilo que faço aqui e agora, terá consequências na próxima
reencarnação". A ética hindu está completamente ligada a lei da "causa e
efeito". O fiel hindu procura a partir do seus méritos e esforço próprio
ter uma conduta moral que lhe garanta viver melhor em outra vida.
Mas qual a diferença entre carma e darma? O termo carma vem do sânscrito que significa "ação", "ato","trabalho", está ligado as consequências das ações feitas pelo homem, e que determinarão o que acontecerá com ele futuramente. O carma é um código de ética coletivo, ninguém foge dele.
Já o darma é mais individual e está ligado
a casta que a pessoa faz parte. Existe um darma para cada tipo de pessoa, e
cabe a cada um viver conforme o seu darma.
"A sociedade hindu é dividida numa série de
classes sociais, chamadas varnas ou castas. A vida e as ações de todos dependem
da classe em que nasceram. Por tradição, o darma de uma pessoa tem relação
direta com a varna em que nasceu. [...] A casta que um hindu nasce afeta sua
escolha de trabalho, de cônjuge, e das pessoas com as quais pode comer ou de
quem pode aceitar comida. A ética hindu se ajusta a esse sistema de classe, e a
pessoa deve obedecer às regras de casta para permanecer ritualmente pura" (WILKINSON, 2011, p. 173).
Não podemos esquecer que dentro desse sistema de castas, existem castas
superiores e inferiores. E é um sistema que não permite mudanças, ou seja, quem
é de uma casta inferior não pode mudar para outra superior. Em suma, o indivíduo
cresce e morre na casta que nasceu.
Mas apesar disso, independente da casta, os hindus acreditam que a vida
é sagrada. A violência deve ser evitada. E é condenável matar animais para
alimentação. Essa é a causa da vaca ser um animal sagrado para os hindus. Os
hindus não comem carne de vaca, eles são essencialmente vegetarianos.
2. Budismo.
O Budismo é uma divisão do hinduísmo, mas tomou emprestado alguns princípios éticos da antiga religião.
"Tal como outras religiões da Índia, como o
hinduísmo e o jainismo, o budismo adere à lei da causalidade moral, ou
carma, segundo a qual os seres humanos acumulam mérito ou demérito (carma bom
ou mau) como resultado de seu comportamento.[...] Nesse ínterim, esperam
acumular mérito seguindo os preceitos éticos estabelecidos quando o budismo
surgiu" (WILKINSON, 2011, p. 194).
A ética budista está fundamentada no "caminho das oito
vias", é através deste caminho em que o fiel budista se esforça
para se livrar do sofrimento e do desejo. Semelhante ao hinduísmo, a ética
budista é essencialmente meritória, ou seja, é pelos seu méritos que o budista
alcança à libertação dos desejos e do ciclo de reencarnações.
"Com base em sua própria experiência, Buda
acreditava que o homem deve evitar os extremos da vida. Não se deve viver nem
no prazer extravagante, nem na autonegação exagerada. Ambos os extremos
acorrentam o homem ao mundo e, assim, à "roda da vida". O caminho
para dar fim ao sofrimento é o "caminho do meio", e Buda o descreveu
em oito partes:
(1) perfeita compreensão;
(2) perfeita aspiração;
(3) perfeita fala;
(4) perfeita conduta;
(5) perfeito meio de subsistência;
(6) perfeito esforço;
(7) perfeita atenção, e
(8) perfeita contemplação" (HELLERN; NOTAKER;
GAARDER, 2000, p. 57).
Os pontos 3, 4 e 5, estabelecem código moral no budismo. A perfeita
fala significa que homem deve se abster de falar mentiras, calúnias e
fofocas. O budista deve falar de forma verdadeira e amigável com o seu
semelhante. A perfeita conduta está relacionada a não matar, não
roubar, não ter uma vida promiscua, etc. A perfeita subsistência está
relacionado à escolha de uma profissão. O budista não teve escolher um trabalho
que entre em confronto com os ensinamentos budistas. Por exemplo, é
incompatível um budista ser açougueiro, pois esse trabalho entra em
desacordo com o princípio budista de não matar.
3. Judaísmo.
"O judaísmo tem centenas de mandamentos, mas
os judeus não veem sua fé como legalista. Como os ensinamentos da Torá e do
Talmude são muito práticos e cobrem todos os aspectos da vida, os judeus estão
conscientes de sua religião e de sua ligação com Deus em tudo o que fazem"
(WILKINSON, 2011, p. 72).
A ética judaica não é dualista, ou seja, os judeus não fazem distinção
entre ética e vida religiosa. Na Torá judaica existem ao todo 613 mandamentos,
que regem vários aspectos da vida dos judeus.
"O judaísmo dá destaque a uma série de
qualidades eticamente boas: generosidade, hospitalidade, boa vontade para
ajudar, honestidade e respeito pelos pais. Um princípio fundamental é não
fazer mal aos outros, ou, de maneira afirmativa: "Amará o teu próximo como
a tio mesmo" (Levítico 19.18). [...] A Bíblia exige que sejam dados de
presente aos pobres os frutos da terra. Desde os tempos antigos era hábito não
colher o que desse nos cantos dos campos, para que os pobres pudessem ali
entrar e colher para si. Do mesmo modo, parte das azeitonas e das uvas era
deixada nas árvores e nos vinhedos para ser apanhada pelos pobres"
(HELLERN; NOTAKER; GAARDER, 2000, p. 112).
Colocar esses preceitos em prática é uma forma do fiel judeu se
aproximar do Eterno. À medida que os mandamentos da Torá são observados e
praticados; a vida social e comunitária dentro do judaísmo se torna justa, no
sentido de que os menos favorecidos sejam amparados e os mais abastados sejam
solidários.
4. Islã.
"O Islã é uma religião prática. Oferece a seus
seguidores um corpo de instruções sobre como viver suas vidas, e estabeleceu um
sistema, chamado xariá, para orientar a tomada de decisões morais e legais.
Enraizadas no Corão, essas instruções morais também acolhem a opinião de
líderes religiosos" (WILKINSON, 2011, p. 134).
Todos princípio éticos islâmicos estão contidos na Xariá. É através
dela que à vida do fiel muçulmano, como da sociedade são regidos. O Corão é o
principal fundamento da Xariá e da ética muçulmana. No entanto, também existe a
Suna que são os relatos da vida do Profeta Maomé. Quando uma passagem do
Corão não é bem compreendida, a Suna (Hadith) do Profeta serve como auxilio
interpretativo. Quanto mais o crente muçulmano conhece o Corão, mais aprenderá
os princípios éticos do Islã.
5. Cristianismo.
O principal fundamento da ética cristã é a vida e os ensinos de Jesus Cristo. O fiel cristão procurará conduzir a sua vida através do que Cristo ensinou. O sermão da montanha, registrado no Evangelho de São Mateus, é uma das bases para fundamentação da ética cristã.
"O chamado Sermão da Montanha (Mateus 5-7) é
fundamental para as bases éticas do cristianismo. Jesus começa dizendo à
multidão que não veio para revogar a lei judaica de Moisés, mas sim para
cumpri-la. Ele prossegue estabelecendo um novo sistema ético que estende a lei
mosaica de um modo que se tornou fundamental para a formulação de uma
moralidade cristã distinta. Amplia o mandamento "Não matarás",
fazendo-o incluir até o fato de alimentar raiva contra o outro; expande o
mandamento contra o adultério para que abranja desejos lúbricos; e reforça a
injunção contra a invocação em vão do nome do Senhor, nela inserido praguejar
falando em céu, terra ou em si próprio" (GOOGAN, 2007, p. 75).
Por ser a religião com o maior número de adeptos; é comum que os
princípios éticos do cristianismo acabem se espalhando para outras partes do
planeta. Várias nações e países foram, durante sua história, moldados em
princípios éticos cristãos. Trabalhos beneficentes, decisões jurídicas e a
constituição de alguns países, foram direta ou indiretamente fundamentados
em algum princípio ético cristão.
6. Considerações finais.
Ao analisar resumidamente os princípios éticos dessas cinco religiões podemos concluir que:
1. Cada religião tem uma forma diferente de entender o que é ética;
2. Por terem surgido em contextos sociais e culturais distintos, as
religiões podem ter princípios de conduta que entrem em conflito com os de
outra religião. Por exemplo, o Corão permite que o homem, se tiver condições
econômicas, tenha até quatro mulheres (Alcorão 4.3) . É o que chama-se de
poligamia. Na ética cristã à poligamia não é permitida;
3. Os princípios éticos não são eternos, eles podem sofrer algum
tipo de mudança com o passar do tempo;
4. As religiões procuram, cada uma ao seu modo, serem um canal de
mediação entre o homem e o transcendente.
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