PERSEVERANÇA: Forma Arcaica de Relevância na reconstrução do Homem
Joenildo Fonseca Leite
“Ser donos da verdade sobre a pessoa e
da própria pessoa é impossível enquanto a humanidade não for dona da verdade
sobre a sociedade e da própria sociedade. O ‘salto do reino da necessidade ao
reino da liberdade’ colocará inevitavelmente a questão do domínio de nosso
próprio ser, de subordiná-lo a nós mesmos” (Vigotski, 1927/1999, p. 417).
Pessoas
como você e eu acabam perigosamente pendurando pesos grandes de ansiedade em tiras muito finas de paciência. Essas tiras com freqüência se rompem e
precisam ser consertadas. No grande número de indivíduos assim
dependurados, o estresse alcança a sua maior intensidade em poucos dias.
A
competição requer um desempenho de alto nível. As "exigências das pessoas" aumentam a pressão.
Gênios explodem. Estômagos reviram. Úlceras
sangram. Corações se partem. Nervos
entram em colapso. Mentes arrebentam.
Alguns desistem. A maioria segura firme e tenta ir em frente.
Ao refletir na escrita
do apóstolo Paulo, em sua carta aos coríntios, observei a seguinte expressão: “Em
tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém nao destruídos. ..” (2 CORÍNTIOS 4:8, 9).
A proposição
apresentada por Paulo, abrange o que aqui desejamos expor, ou seja, a
perseverança como forma arcaica de relevância na reconstrução do homem.
Por crermos na
evolução do gênero humano, dia após dia, na sua mera existência sobre a face da
terra, somos despertados a refletirmos
sobre a temática ora apresentada.
Paulo, como sábio
mestre, aponta um viés a ser trilhado por todoso os que almejam a busca pelo
aperfeiçoamento na maestria, a ponto de afirmar pois, com efeito, quando
devíeis ser mestres, atendendo ao tempo
decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de
novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite, e
não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é
inexperiente na palavra da justiça, porque
é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que,
pela prática, têm as suas faculdades
exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal. (Hebreus
5:12-14).
O Mestre Jesus,
declarou em uma das suas mensagens que aquele que perseverasse até o fim seria
salvo, esta passagem me fez lembrar de outra também apresentada pelo Mestre, a
mensagem do semeador.
O ato de semear,
necessita antes de tudo de se transformar em sentimento. O sentimento produz os
atos, ou séries de atos, em que se manifestam e se afirmam as personalidades
novas.
Quando a ideia se
transforma em sentimento, estabelece-se no que foi inicialmente seu “objeto” e
depois se fez “sujeito” operante, a linha nítida da conduta. A manutenção dessa
linha depende, entretanto, da própria força do sentimento, na sucessividade das
emoções, cujo ritmo se exprime naquele constante fervor da paixão criadora.
A progressão crescente
parte do termo “ideia” ascende ao termo “sentimento”, atinge o termo “paixão”.
A semente chega, então, ao ponto de desenvolvimento sem o qual não germina.
E não germina porque
só a paixão da ideia, isto é, a continuidade das emoções sentimentais, traz
consigo a energia seminal fecundadora. O semeador crer no que faz, a sua ação
transmite o germem, a centelha vital.
Quando o semeador
tornou-se autêntico, operou em si mesmo a superação de todas as forças
negativas e esterilizadoras. Conhece-se quando tal acontece, não já pelas
palavras que o semeador profere, mas pelos atos que pratica.
Os atos ientificadores
da autenticidade do semeador revelam, um por um, a persistência. Mas justamente
porque o processo da transformação da ideia em sentimento e do sentimento em
paixão em semear, se opera, de pessoa a pessoa, em ritmos variáveis, aquele que
se fez propagador, difundidor de ideias novas sofre a grande amargura cotidiana
das decepções sem número.
São momentos perigosos
na vida do semeador. É o choque entre todas as forças do “velho” contra a
audácia do “novo”. O pioneiro do futuro amarga a imensa dor de verificar que,
entre aqueles que se dizem vanguardeiros na maravilhosa aventura, manifestam
toda a espécie de fraquezas, de incapacidade para enfrentar os momentos
difíceis, de impotência no sentido de viver o sonho magnifico posto na linha do
horizonte desejado.
A semeadura, pouco a
pouco, no transcurso dos acontecimentos, tornou-se marcha. As mãos atiram a
semente à terra; as pernas prosseguem, para diante, sempre para adiante.
Mas há os que se
cansam. Há os que param no meio do campo, a contemplar o terreno percorrido e,
além deste, para trás, muito para trás, o terreno percorrido por outros, por
outras gerações, segundo outro sentido de vida e de realidades.
Nesse horizonte
pretérito, erguem-se os vultos dos que apontam para a frente e parecem dizer
aos caminhantes que não olhem para eles, pois cada geração tem o seu destino
próprio; mas há também os vultos dos que viveram segundo o Presente que lhes
pertenceu e não segundo o Porvir, que nos pertence, e estes, em vez de nos
mandar marchar para frente, convidam-nos a regressar ou a extasiar-nos na
contemplação estática do que eles foram, do que eles fizeram.
No meio de todas as
confusões, de todos os fracos e desorientados, sofrendo a injustiça dos
adversários e a injustiça dos seus próprios colaboradores, o semeador terá de
continuar, impassivelmente, serenamente, irredutivelmente, a isto chamo de
perseverança.
Contextualizando o
tópico apresentado por esse erudito, notamos o quanto a humanidade necessita se
reencontrar, reconstruir, pois, a sociedade está enferma, desorganiza-se e
agoniza, porque homens, que são os seus elementos constitutivos básicos,
desaparecem da superfície da terra... no lugar de homens aparecem os
profissionais. E o profissional desconhece tudo o que diz respeito ao Homem.
Nada sabe do Homem, da sua origem, da sua natureza, do seu destino, das suas
justas aspirações materiais, intelectuais e morais, dos seus deveres e dos seus
direitos.
Sendo uma civilização
individualista, prepara o mundo para o coletivismo, isto é, para a anulação
total da personalidade humana. O coletivismo só é possível quando tem, para
utilizar, a sua matéria prima. E a matéria prima do coletivismo é a massa, e
não o povo. Pois a massa é um conjunto informe de indivíduos, enquanto o povo é
um conjunto de pessoas, independentes e harmoniosamente dispostas, executando
suas atividades próprias, toda tendentes àquele objetivo do Bem Comum que a
cada componente da associação humana particularmente favorece, no sentido de
alcançar o seu próprio objetivo.
O homem se sente
pessoa, escreve Gonella, quando, transcendendo o eu empírito, isto é, a
individualidade, tem consciência do seu ser substancial e semte em si o outro.
A vida dos outros é vida sua, porque é vida do Homem. As coisas, ao contrário,
tem uma vida petrificada, ou seja, vivem na solitude.
O utilitarismo do
século XIX, que ainda continua a inspirar o mundo em nosso século, degenerou em
egoismo feroz de caráter anti-social, que destroi todas as resistências de uma
civilização edificada sobre a areia.
Assistimos ao
espetáculo doloroso de uma multidão de personagens delirantes: advogados
trapaceiros, médicos infanticidas, químicos falsificadores, funcionários
desonestos, políticos sem escrupulos, toda a casta de profissionais visando
lucros imediatos, e todos alheios aos supremos interesses do Bem Comum, da
Pátria e da Humanidade.
A preocupação pelo
dinheiro que deve ser ganho o mais depressa possível, a ansia pelas posições
financeiras ou governamentais, o êxito rápido na carreira abraçada, correndo
paralelamente à sofreguidão pelos prazeres, pelos confortos, pelo luxo
ostentoso, pela sensualidade carnal, pelas sensações do jogo, e tudo com o mais
desdenhoso desprezo às normas éticas ou aos mínimos escrupulos de consciência,
esse é o panorama da vida moderna.
O Homem desapareceu.
As multidões que vemos são os indivíduos, ou apenas partes do Homem, sombras,
espectros do Homem. Acima desses fantasmas delirantes, domina a economia sem
finalidade ética, a ciência sem alma, a arte sem beleza, a política sem
deveres, a liberdade sem limites, o prazer sem freios, o dinheiro sem
contraste, a sociedade sem ordem.
E a solução única para
o problema humano, que se apresenta hoje, com uma gravidade sem precendentes na
História, cifra-se nesta operação da qual depende a sorte das Nações,
reconstruir o Homem.
Será inútil todo o
esforço humano, se não formos ao amago da questão, dando um sentido espiritual,
uma direção para Deus, a todo o trabalho dos cientistas, dos tecnicos, dos
artistas, dos estadistas, nas suas atividades criadoras.
Reconstruir o Homem é
levar o próprio Homem a reconquistar-se. É instruí-lo afim de que se restaure,
se refaça, e venha a ocupar o seu trono perdido. Essa é a grande Cruzada dos
tempos modernos.
Lançar no mundo o
Homem Novo dos Tempos Novos. Retornar ao equilíbrio, depois da fantasia
delirante do Super-Homem niestzcheano e das visões degradantes dos Sub-Homens
marxistas; depois do ser amorfo, de alma congelada, do agnosticismo liberal, e
do monstruoso Frankstein centaurizado à justaposição das máquinas a que adere
como peça adequada ao ritmo das propulsões elétricas ou mecânicas.
Reconduzir o Homem
àquele esplender das Harmonias Divinas, em que ele exerce a sua integral
soberania, impondo a força dos valores morais onde pretendam imperar as forças
bárbaras e desconexas dos valores materiais em conflituosa desordem.
Ou fazemos isso, ou o
mundo não terá salvação. Porque isso fazer é traduzir em normas sociais,
nacionais, familiares e pessoais, tudo quanto nos ensinou SADU, por cuja Graça
logramos alcançar os verdadeiros padrões de vida digna, de paz fecunda entre os
povos, de verdade, de justiça e de beleza.
A perseverança em
alcançar este equilíbrio do ser Humano, pode ser comparada às lâmpadas dos
Tabernáculos, cuja claridade é branda e suave, que se sustentam mansamente do
azeite da árvore predestinada cujos ramos simbolizam a Paz.
O óleo da sabedoria,
existe no fundo de todas as lâmpadas humanas, o que nos cumpre é imergir nele o
pavio do nosso coração, isto é, do nosso sentimento de bondade, mantendo acesa
a chama da compreensão.
Quem assim procedeu
adquiriu a mais feliz das possibilidades humanas: a possibilidade da
convivência com os seus semelhantes. E nisso está o segredo da Paz interior, da
reconstrução do Homem, que nos eleva acima das vulgaridades e nos conduz às
grandes construções.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Ferreira.
Biblia Sagrada. Edições Genebra.
Como alcançar o equilíbrio. http://blogdoyoga.wordpress.com/2010/11/17/meditacao-como-alcancar-o-equilibrio
GONELLA, Guido. Bases
de uma ordem social. Petrópoles: Vozes,
1947.
DURANT, Will – Os grandes
filósofos – A Filosofia de Nietzsche – Editora Ediouro
VYGOTSKI,
L.S. (1934) Obras Escogidas. Madrid: Visor, 1995. (III)
MARX,
K (1845). Teses sobre Feuerbach.
Disponível em: .
Acesso em: 14 ago. 2012.
MARX, K.; ENGELS, F. (1847) A ideologia alemã. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
VIGOTSKI,
L. S. (1927) O significado histórico da crise em Psicologia. In: ______. Teoria e método em psicologia. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
VIGOTSKI,
L. S. (1930) A transformação socialista
do homem (ATSH). Disponível em: . Acesso em: 14
ago 2012.
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