31 de jan. de 2013

PERSEVERANÇA


PERSEVERANÇA: Forma Arcaica de Relevância na reconstrução do Homem

Joenildo Fonseca Leite 



“Ser donos da verdade sobre a pessoa e da própria pessoa é impossível enquanto a humanidade não for dona da verdade sobre a sociedade e da própria sociedade. O ‘salto do reino da necessidade ao reino da liberdade’ colocará inevitavelmente a questão do domínio de nosso próprio ser, de subordiná-lo a nós mesmos” (Vigotski, 1927/1999, p. 417).


Pessoas como você e eu acabam perigosamente pendu­rando pesos grandes de ansiedade em tiras muito finas de paciência. Essas tiras com freqüência se rompem e preci­sam ser consertadas. No grande número de indivíduos as­sim dependurados, o estresse alcança a sua maior intensi­dade em poucos dias.
A competição requer um desempenho de alto nível. As "exigências das pessoas" aumentam a pressão. Gênios ex­plodem. Estômagos reviram. Úlceras sangram. Corações se partem. Nervos entram em colapso. Mentes arreben­tam. Alguns desistem. A maioria segura firme e tenta ir em frente.
Ao refletir na escrita do apóstolo Paulo, em sua carta aos coríntios, observei a seguinte expressão: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém nao des­truídos. ..” (2 CORÍNTIOS 4:8, 9).
A proposição apresentada por Paulo, abrange o que aqui desejamos expor, ou seja, a perseverança como forma arcaica de relevância na reconstrução do homem.
Por crermos na evolução do gênero humano, dia após dia, na sua mera existência sobre a face da terra, somos despertados a refletirmos  sobre a temática ora apresentada.
Paulo, como sábio mestre, aponta um viés a ser trilhado por todoso os que almejam a busca pelo aperfeiçoamento na maestria, a ponto de afirmar pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, aten­dendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, ne­cessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite, e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimen­ta de leite é inexperiente na palavra da justiça, por­que é criança. Mas o alimento sólido é para os adul­tos, para aqueles que, pela prática, têm as suas fa­culdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal. (Hebreus 5:12-14).
O Mestre Jesus, declarou em uma das suas mensagens que aquele que perseverasse até o fim seria salvo, esta passagem me fez lembrar de outra também apresentada pelo Mestre, a mensagem do semeador.
O ato de semear, necessita antes de tudo de se transformar em sentimento. O sentimento produz os atos, ou séries de atos, em que se manifestam e se afirmam as personalidades novas.
Quando a ideia se transforma em sentimento, estabelece-se no que foi inicialmente seu “objeto” e depois se fez “sujeito” operante, a linha nítida da conduta. A manutenção dessa linha depende, entretanto, da própria força do sentimento, na sucessividade das emoções, cujo ritmo se exprime naquele constante fervor da paixão criadora.
A progressão crescente parte do termo “ideia” ascende ao termo “sentimento”, atinge o termo “paixão”. A semente chega, então, ao ponto de desenvolvimento sem o qual não germina.
E não germina porque só a paixão da ideia, isto é, a continuidade das emoções sentimentais, traz consigo a energia seminal fecundadora. O semeador crer no que faz, a sua ação transmite o germem, a centelha vital.
Quando o semeador tornou-se autêntico, operou em si mesmo a superação de todas as forças negativas e esterilizadoras. Conhece-se quando tal acontece, não já pelas palavras que o semeador profere, mas pelos atos que pratica.
Os atos ientificadores da autenticidade do semeador revelam, um por um, a persistência. Mas justamente porque o processo da transformação da ideia em sentimento e do sentimento em paixão em semear, se opera, de pessoa a pessoa, em ritmos variáveis, aquele que se fez propagador, difundidor de ideias novas sofre a grande amargura cotidiana das decepções sem  número.
São momentos perigosos na vida do semeador. É o choque entre todas as forças do “velho” contra a audácia do “novo”. O pioneiro do futuro amarga a imensa dor de verificar que, entre aqueles que se dizem vanguardeiros na maravilhosa aventura, manifestam toda a espécie de fraquezas, de incapacidade para enfrentar os momentos difíceis, de impotência no sentido de viver o sonho magnifico posto na linha do horizonte desejado.
A semeadura, pouco a pouco, no transcurso dos acontecimentos, tornou-se marcha. As mãos atiram a semente à terra; as pernas prosseguem, para diante, sempre para adiante.
Mas há os que se cansam. Há os que param no meio do campo, a contemplar o terreno percorrido e, além deste, para trás, muito para trás, o terreno percorrido por outros, por outras gerações, segundo outro sentido de vida e de realidades.
Nesse horizonte pretérito, erguem-se os vultos dos que apontam para a frente e parecem dizer aos caminhantes que não olhem para eles, pois cada geração tem o seu destino próprio; mas há também os vultos dos que viveram segundo o Presente que lhes pertenceu e não segundo o Porvir, que nos pertence, e estes, em vez de nos mandar marchar para frente, convidam-nos a regressar ou a extasiar-nos na contemplação estática do que eles foram, do que eles fizeram.
No meio de todas as confusões, de todos os fracos e desorientados, sofrendo a injustiça dos adversários e a injustiça dos seus próprios colaboradores, o semeador terá de continuar, impassivelmente, serenamente, irredutivelmente, a isto chamo de perseverança.
Contextualizando o tópico apresentado por esse erudito, notamos o quanto a humanidade necessita se reencontrar, reconstruir, pois, a sociedade está enferma, desorganiza-se e agoniza, porque homens, que são os seus elementos constitutivos básicos, desaparecem da superfície da terra... no lugar de homens aparecem os profissionais. E o profissional desconhece tudo o que diz respeito ao Homem. Nada sabe do Homem, da sua origem, da sua natureza, do seu destino, das suas justas aspirações materiais, intelectuais e morais, dos seus deveres e dos seus direitos.
Sendo uma civilização individualista, prepara o mundo para o coletivismo, isto é, para a anulação total da personalidade humana. O coletivismo só é possível quando tem, para utilizar, a sua matéria prima. E a matéria prima do coletivismo é a massa, e não o povo. Pois a massa é um conjunto informe de indivíduos, enquanto o povo é um conjunto de pessoas, independentes e harmoniosamente dispostas, executando suas atividades próprias, toda tendentes àquele objetivo do Bem Comum que a cada componente da associação humana particularmente favorece, no sentido de alcançar o seu próprio objetivo.
O homem se sente pessoa, escreve Gonella, quando, transcendendo o eu empírito, isto é, a individualidade, tem consciência do seu ser substancial e semte em si o outro. A vida dos outros é vida sua, porque é vida do Homem. As coisas, ao contrário, tem uma vida petrificada, ou seja, vivem na solitude.
O utilitarismo do século XIX, que ainda continua a inspirar o mundo em nosso século, degenerou em egoismo feroz de caráter anti-social, que destroi todas as resistências de uma civilização edificada sobre a areia.
Assistimos ao espetáculo doloroso de uma multidão de personagens delirantes: advogados trapaceiros, médicos infanticidas, químicos falsificadores, funcionários desonestos, políticos sem escrupulos, toda a casta de profissionais visando lucros imediatos, e todos alheios aos supremos interesses do Bem Comum, da Pátria e da Humanidade.
A preocupação pelo dinheiro que deve ser ganho o mais depressa possível, a ansia pelas posições financeiras ou governamentais, o êxito rápido na carreira abraçada, correndo paralelamente à sofreguidão pelos prazeres, pelos confortos, pelo luxo ostentoso, pela sensualidade carnal, pelas sensações do jogo, e tudo com o mais desdenhoso desprezo às normas éticas ou aos mínimos escrupulos de consciência, esse é o panorama da vida moderna.
O Homem desapareceu. As multidões que vemos são os indivíduos, ou apenas partes do Homem, sombras, espectros do Homem. Acima desses fantasmas delirantes, domina a economia sem finalidade ética, a ciência sem alma, a arte sem beleza, a política sem deveres, a liberdade sem limites, o prazer sem freios, o dinheiro sem contraste, a sociedade sem ordem.
E a solução única para o problema humano, que se apresenta hoje, com uma gravidade sem precendentes na História, cifra-se nesta operação da qual depende a sorte das Nações, reconstruir o Homem.
Será inútil todo o esforço humano, se não formos ao amago da questão, dando um sentido espiritual, uma direção para Deus, a todo o trabalho dos cientistas, dos tecnicos, dos artistas, dos estadistas, nas suas atividades criadoras.
Reconstruir o Homem é levar o próprio Homem a reconquistar-se. É instruí-lo afim de que se restaure, se refaça, e venha a ocupar o seu trono perdido. Essa é a grande Cruzada dos tempos modernos.
Lançar no mundo o Homem Novo dos Tempos Novos. Retornar ao equilíbrio, depois da fantasia delirante do Super-Homem niestzcheano e das visões degradantes dos Sub-Homens marxistas; depois do ser amorfo, de alma congelada, do agnosticismo liberal, e do monstruoso Frankstein centaurizado à justaposição das máquinas a que adere como peça adequada ao ritmo das propulsões elétricas ou mecânicas.
Reconduzir o Homem àquele esplender das Harmonias Divinas, em que ele exerce a sua integral soberania, impondo a força dos valores morais onde pretendam imperar as forças bárbaras e desconexas dos valores materiais em conflituosa desordem.
Ou fazemos isso, ou o mundo não terá salvação. Porque isso fazer é traduzir em normas sociais, nacionais, familiares e pessoais, tudo quanto nos ensinou SADU, por cuja Graça logramos alcançar os verdadeiros padrões de vida digna, de paz fecunda entre os povos, de verdade, de justiça e de beleza.
A perseverança em alcançar este equilíbrio do ser Humano, pode ser comparada às lâmpadas dos Tabernáculos, cuja claridade é branda e suave, que se sustentam mansamente do azeite da árvore predestinada cujos ramos simbolizam a Paz.
O óleo da sabedoria, existe no fundo de todas as lâmpadas humanas, o que nos cumpre é imergir nele o pavio do nosso coração, isto é, do nosso sentimento de bondade, mantendo acesa a chama da compreensão.
Quem assim procedeu adquiriu a mais feliz das possibilidades humanas: a possibilidade da convivência com os seus semelhantes. E nisso está o segredo da Paz interior, da reconstrução do Homem, que nos eleva acima das vulgaridades e nos conduz às grandes construções.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, João Ferreira. Biblia Sagrada. Edições Genebra.
GONELLA, Guido.  Bases de uma ordem social.  Petrópoles: Vozes, 1947.
DURANT, Will – Os grandes filósofos – A Filosofia de Nietzsche – Editora Ediouro
VYGOTSKI, L.S. (1934) Obras Escogidas. Madrid: Visor, 1995. (III)

MARX, K (1845). Teses sobre Feuerbach. Disponível em: . Acesso em: 14 ago. 2012.

MARX, K.; ENGELS, F. (1847) A ideologia alemã. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.

VIGOTSKI, L. S. (1927) O significado histórico da crise em Psicologia. In: ______. Teoria e método em psicologia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

VIGOTSKI, L. S. (1930) A transformação socialista do homem (ATSH). Disponível em: . Acesso em: 14 ago 2012.


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