A GESTÃO PÚBLICA AMBIENTAL E A
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS
Joenildo
Fonseca Leite [1]
Apresentação
A avaliação dos clientes é um
indicador utilizado pelas organizações preocupadas com a qualidade dos
serviços.
A partir de uma pesquisa de avaliação
da qualidade dos serviços de uma empresa de limpeza pública, realizada junto
aos munícipes, decidiu-se elaborar este estudo para apresentar os resultados
encontrados e uma análise crítica da metodologia empregada pela empresa.
Os resultados indicam uma avaliação
positiva dos serviços. No entanto, sugere-se mudanças nos procedimentos
adotados. procedimentos adotados.
As organizações que
operam em setores que impactam o ambiente estão sendo pressionadas por
diferentes atores sociais a desenvolverem programas de qualidade e
procedimentos de certificação.
A International
Organization for Standardization (ISO) é uma organização não-governamental que
elabora normas de aplicação internacional, no sentido de estabelecer critérios
e padrões relativos à implantação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA)
(HODJA, 1998).
Como uma das
exigências do programa ISO 14001, está a avaliação periódica junto aos clientes
da organização.
Essa avaliação é
auditada interna e externamente. Os autores do presente trabalho foram
convidados a realizar a coleta e a análise dos dados da avaliação da qualidade
dos serviços de varrição e coleta domiciliar de uma das unidades de uma
organização que opera em várias cidades brasileiras no setor de limpeza
pública.
A organização,
anualmente, com base em um procedimento técnico-operacional padrão,
realiza uma pesquisa junto aos munícipes residentes nas cidades onde mantém
unidades.
O presente trabalho
tem por objetivo apresentar os resultados encontrados e, ao mesmo tempo, uma
análise crítica da metodologia empregada.
Por se tratar de um
trabalho em parceria com a consultoria dos munícipes, decidiu-se preservar o
nome e a cidade da empresa analisada e adotar, neste texto, o nome fictício de
“Qualy Ambiental” para denominar a empresa.
O artigo está
estruturado da seguinte maneira, inicialmente, apresenta-se uma breve revisão
teórica sobre a auditoria de avaliação da satisfação dos clientes no contexto
da certificação ISO 14001 e sobre a avaliação dos clientes da qualidade de
serviços.
Posteriormente,
descreve-se os procedimentos metodológicos adotados para a realização do
estudo. Logo após, apresenta-se os resultados quantitativos e qualitativos
referentes à avaliação dos serviços.
Finalmente, faz-se,
com base na experiência de realização do trabalho e no estado da arte sobre o
tema, uma análise crítica dos procedimentos adotados pela empresa e
apresenta-se sugestões metodológicas com relação ao estudo, no sentido de
melhorar o processo de avaliação da qualidade.
Hodja (1998) registra
que após a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) a organização é submetida a uma
auditoria que avalia a adoção desse sistema, de acordo com os requisitos
expressos na norma ISO 14001.
O objetivo de uma
auditoria é estabelecer de uma maneira planejada, coordenada e agendada a
verificação da implantação e/ou da manutenção dos objetivos propostos pela
organização.
Segundo Cajazeira
(1997), as auditorias podem ser classificadas como de primeira parte, quando
são realizadas pela própria organização; de segunda parte, quando são
realizadas por fornecedores; de terceira parte, quando são realizadas por uma
organização independente e, geralmente, são auditorias de certificação.
Quanto ao seu tipo,
as auditorias podem ser: de adequação, que determinam a extensão da adequação
de um sistema documentado, representado por um manual e procedimentos, contra
os requisitos de uma norma apropriada; de conformidade que determinam a
extensão pela qual um sistema documentado é entendido, implantado e observado
por uma organização; e de produto, projeto e processo, que observam o sistema
produtivo de um produto específico.
A ISO 14001
determina, dentre vários outros aspectos, que a empresa certificada realize
estudos de satisfação dos clientes em relação à qualidade dos serviços
prestados, mas não exige a adoção de um método específico de avaliação.
A auditoria de
avaliação da percepção dos clientes pode ser de primeira parte e de terceira
parte e pode, também, ser de adequação, de conformidade ou de processo.
A avaliação da
qualidade é realizada, quantitativamente, por meio de índices que medem os
resultados da organização.
Segundo Rossi e
Slongo (1997), o reconhecimento de patamares diferenciados alcançados pelas
empresas em qualidade passa, seguramente, pelo atingimento de níveis igualmente
superiores nas relações com os clientes.
Para Lovelock e
Wright (2001) as pesquisas para determinar o que os clientes desejam devem
avaliar cada dimensão do serviço.
Hesket, Sasser e Hart
(1994) entendem que a obtenção de uma medida fiel da qualidade do serviço é um
desafio, em função da dificuldade de supervisionar e controlar diretamente a
transação de serviço, uma vez que o produto do serviço é normalmente
intangível, a percepção de sua qualidade é necessariamente um julgamento
subjetivo, e como a percepção é individual, frequentemente, essa não pode ser
relacionada com aquilo que de fato foi oferecido.
Em suma, a qualidade
do serviço não pode ser determinada objetivamente da mesma forma que um produto
manufaturado pode ser inspecionado para garantir sua conformidade com os
padrões previamente estabelecidos.
Dois modelos teóricos
dominam os estudos sobre a qualidade percebida dos serviços: paradigma da
desconfirmação e teoria da performance.
O paradigma da
desconfirmação entende que a qualidade percebida é resultante da comparação do
serviço percebido com o serviço desejado, sendo que a desconfirmação positiva
gera a satisfação e a desconfirmação negativa gera a insatisfação (OLIVER,
1980).
Já a teoria da
performance defende que a satisfação do cliente está fortemente associada com a
performance percebida do serviço adquirido (CARMAN, 1990).
Baseados na teoria da
desconfirmação, Spreng, MacKenzie e Olshavsky (1996) propuseram um terceiro
modelo de formação da satisfação, incluindo nesse processo os desejos do
consumidor e o impacto da comunicação de marketing por ser um elemento crítico
para a criação da satisfação.
A partir das teorias
da performance e da desconfirmação, autores desenvolveram métodos de avaliação
para a análise da qualidade percebida e para a medição de satisfação de
clientes.
Ambas as correntes
defendem que a qualidade percebida corresponde a uma avaliação global de longo
prazo (similar a uma atitude) e, além disso, que a qualidade percebida pode ser
construída sem a ocorrência da experiência de uso de um serviço (JOHNSTON,
1995).
A “pesquisa de
satisfação de clientes é um sistema de administração de informações que
continuamente capta a voz do cliente através da avaliação da performance da
empresa a partir do ponto de vista do cliente. Essa pesquisa, assim, mede a
qualidade externa ou performance da empresa em seus negócios, indicando
caminhos para as decisões futuras de comercialização e marketing” (ROSSI;
SLONGO, 1997, p. 1).
Mais do que isso, a
satisfação do consumidor refere-se ao julgamento temporário de uma transação
específica derivado da surpresa inerente de uma aquisição e/ou da experiência
de consumo.
É determinada apenas
através da experiência de uso de um serviço. Johnston (1995) indica que na
literatura há uma divergência se o incremento da qualidade de serviços resulta
em maior satisfação do consumidor, ou se o acúmulo de transações específicas
conduz à formação de uma atitude global, sugerindo que a direção de causalidade
seja da satisfação do consumidor para a qualidade de serviço.
Na disputa pela
defesa dos modelos, foram desenvolvidas escalas para a medição da avaliação da
qualidade percebida.
A escala Servqual
(PARASURAMAN; BERRY; ZEITHAML, 1991) avalia a qualidade percebida pela
comparação do serviço percebido com a expectativa do serviço desejado e a
Servperf (CRONIN; TAYLOR, 1992) baseia-se na tese de que não é necessário
incluir as expectativas dos clientes para realizar a avaliação da qualidade dos serviços, sendo avaliada apenas a
percepção.
As duas escalas
possuem uma bateria de 22 indicadores e estão baseadas em cinco principais
dimensões usadas pelos clientes para julgarem a qualidade dos serviços e
identificadas pelas pesquisas empíricas e qualitativas que os pesquisadores
Parasuraman, Berry e Zeithaml (1992) realizaram em setores que vão dos serviços
“puros” a serviços associados com produtos tangíveis: a confiabilidade (a
habilidade de executar o serviço desejado de forma confiável, precisa e
consistente), a rapidez no atendimento (a presteza em prover o serviço de
imediato e ajudar os clientes), a segurança (o conhecimento, cortesia e
habilidade dos empregados em transmitir credibilidade e confiança), a empatia
(a provisão de atenção individualizada aos clientes) e os aspectos tangíveis
(as instalações físicas, equipamentos e aparência do pessoal).
Já Bolfing e Woodruff
(1988), entendem que os determinantes da satisfação podem depender da situação
ou seriço investigado.
No Brasil, dois
modelos de avaliação da satisfação do cliente estão baseados na teoria da
performance, o modelo brasileiro de satisfação (ROSSI; SLONGO, 1997) e o método
CBF (CUNHA; BORGES; FACHEL, 1998).
Em linhas gerais,
ambos os métodos apresentam duas etapas distintas: a primeira, de caráter
qualitativo-exploratório, realizada com a finalidade de gerar os indicadores de
satisfação que fornecerão a base para a elaboração do instrumento de coleta de
dados.
Esse instrumento
servirá para a segunda etapa da pesquisa, etapa essa, de caráter
quantitativo-descritivo, que medirá o grau de satisfação dos clientes.
Como Rossi e Slongo
(1997) argumentam as avaliações sobre os níveis de satisfação dos clientes
constituem-se em um desses indicadores e, por isso, representam uma das
prioridades de gestão das organizações preocupadas com a qualidade de seus
serviços.
Estruturou-se o
método da pesquisa com base no procedimento técnico-operacional padrão
adotado pela Qualy Ambiental.
O procedimento determina que anualmente
as unidades da organização devem avaliar, através de pesquisa de levantamento,
a qualidade dos serviços de varrição e de coleta domiciliar junto aos munícipes
das cidades em que operam.
As unidades têm os
serviços de varrição e de coleta domiciliar divididos por setores e têm de
selecionar e entrevistar 10 munícipes em cada setor. Na unidade analisada,
existiam 45 setores de varrição e 10 setores de coleta domiciliar.
O instrumento de
coleta de dados é um formulário padrão que serve para a avaliação de ambos os
serviços e está estruturado da seguinte forma: no cabeçalho do instrumento são
identificados o nome da unidade analisada; o tipo de serviço; o número do
setor; o nome, endereço e telefone do entrevistado; a data e o horário da
entrevista; e o nome do entrevistador.
A avaliação
propriamente dita da qualidade dos serviços é medida por uma única pergunta
direta e tendo como opção de resposta uma escala de valor de 5 pontos.
A escala é
balanceada, possuindo um ponto de quebra (caracterizado pelo adjetivo
‘regular’), tendo à esquerda desse ponto dois pontos positivos (caracterizados
pelos adjetivos ‘ótimo’ e ‘bom’), e à direita dois pontos negativos
(caracterizados pelos adjetivos ‘ruim’ e ‘péssimo’).
Ao final do
formulário, há um espaço para que os entrevistados forneçam considerações e/ou
sugestões sobre os serviços prestados. O procedimento
técnico-operacional apenas sugere que as unidades façam perguntas
complementares, no entanto não há espaço no formulário padrão, que é de uso
obrigatório, para a inclusão de outras questões.
Como forma de
complementar as instruções contidas no procedimento
técnico-operacional tomou-se as seguintes decisões para a seleção
dos entrevistados e a realização das entrevistas: (a) através da técnica de
amostragem não-probabilística por conveniência, foram selecionadas: 10 pessoas
em cada um dos 45 setores de varrição, totalizando 450 entrevistas; e 10
pessoas em cada um dos 10 setores de coleta domiciliar, totalizando 100
entrevistas; (b) as avaliações desses dois tipos de serviços foram realizadas
mediante entrevista pessoal com os munícipes que residiam ou trabalhavam nos
locais analisados.
As entrevistas foram
efetuadas por seis entrevistadores, no mês de outubro de 2012, nos períodos da
manhã e da tarde.
O procedimento técnico-operacional especifica
que o tratamento dos dados deve ser feito através de tabulação simples e
manual, mediante a realização de cálculos de frequência e médias por setor e
gerais de cada serviço.
Quanto à análise das
considerações e/ou sugestões dos entrevistados, o procedimento determina
o registro dos argumentos evidenciados nas repostas. Embora o procedimento não exigisse,
decidiu-se por realizar a tabulação eletrônica e o cruzamento de variáveis,
como forma de incrementar a análise dos dados.
Do total de 450
pessoas que avaliaram o serviço de varrição 31,5% consideraram como ‘ótima’ e
51,3% como ‘boa’ a qualidade dos serviços prestados.
O valor médio geral,
obtido mediante a transformação dos pontos da escala em valores de 1 (ponto
negativo extremo, ‘péssima’) até 5 (ponto positivo extremo, ‘ótima’) da escala,
alcançou 4,1 pontos.
No que diz respeito às
considerações e/ou sugestões dos munícipes, quanto a qualidade do serviço de
varrição, constatou-se as seguintes opiniões.
Alguns munícipes
reclamaram da pouca frequência em que o serviço de varrição é realizado.
Percebeu-se que esse tipo de reclamação foi feita tanto por entrevistados que
haviam avaliado a qualidade do serviço como sendo ‘ótima’, como por aqueles que
a consideraram ‘péssima’.
Um entrevistado do
setor ‘37’, que considerou a qualidade do serviço ‘ótima’, disse: “Eles
[varredores] não passam regularmente, mas quando vêm fazem o serviço
corretamente”.
Um outro entrevistado
do setor ‘39’ avaliou a qualidade do serviço como sendo ‘ruim’, e relatou: “Eu
acho que passa [serviço de varrição] só uma vez por mês”.
Ainda sobre a frequência
do serviço foram obtidas informações bastante contraditórias de pessoas que
residiam em um mesmo setor de varrição. Dois entrevistados que consideraram a
qualidade do serviço ‘boa’ explicaram o porquê dizendo: “Os varredores estão
sempre passando aqui”; já outro entrevistado considerou a qualidade ‘regular’,
e reclamou: “não vejo os varredores na minha rua”.
Outros entrevistados
reclamaram que realizam o serviço por conta própria e ainda sugeriram os dias
que o serviço deveria ser realizado.
Os seguintes relatos,
feitos por moradores que consideraram a qualidade do serviço ‘péssima’, dão uma
ideia desse tipo de opinião: “só varrem sábado, tenho que limpar por conta
própria”; “[...] não há limpeza aos domingos depois da feira”.
Um segundo tipo de
reclamação constatada em relação à qualidade do serviço de varrição diz
respeito a forma como o serviço é realizado.
As reclamações nesse
sentido referem-se ao trabalho dos varredores. Identificou-se manifestações
como: “[O varredor] varre por cima. Fica parado nas esquinas”; e outro
entrevistado disse: “Tem muito lixo espalhado na rua.” (entrevistados do setor
‘3’).
Nesse mesmo sentido,
um entrevistado do setor ‘26’ avaliou a qualidade como ‘ruim’, e considerou que
“[...] é preciso caprichar mais na limpeza”. Um entrevistado do setor ‘14’,
apesar de considerar a qualidade ‘boa’, disse: “[Os varredores] não varrem as
calçadas, só varrem o meio-fio e as ruas. Varro as calçadas por conta própria”.
Um outro entrevistado
do setor ‘29’ referiu: “[...] o serviço decaiu muito”.
Finalmente, houve a
sugestão de um entrevistado do setor ‘11’ que solicitou a colocação de lixeiras
nas ruas.
Do total de 100
pessoas entrevistadas, 20,0% consideraram como ‘ótima’ e 68,0% consideraram
‘boa’ a qualidade do serviço de coleta domiciliar.
O valor médio geral
da avaliação do serviço de coleta domiciliar alcançou 4,0 pontos. Os valores
médios das avaliações da qualidade dos serviços em cada um dos 10 setores de
coleta domiciliar oscilaram entre 3,6 e 4,5.
Quanto às
considerações e/ou sugestões dos munícipes, em relação à qualidade do serviço
de coleta domiciliar, constatou-se as seguintes opiniões.
Alguns entrevistados
fizeram observações sobre as caixas coletoras, que são utilizadas para fazer o
armazenamento temporário do lixo. Um entrevistado do setor ‘04’ pediu para
“[...] deixar os coletores de lixo fechados, para não sujar a calçada quando
eles [os coletores] viram”. Já dois entrevistados dos setores ‘02’ e ‘03’,
reclamaram da falta das caixas coletoras.
Outra reclamação foi a
respeito dos amontoados de lixos que são feitos pelos garis: “Eles [garis]
deixam montes de lixos no meio da rua e os cachorros rasgam os sacos”
(Entrevistado do setor ‘04’). Um outro entrevistado reclamou do lixo que fica
espalhado: “O que está espalhado eles [os garis] não juntam” (Entrevistado do
Setor ‘10’).
Finalmente, um
entrevistado do Setor ‘10’ reclamou quanto ao fato de que “[...][os garis] não
passam em dias de chuva”.
Com base nos
resultados encontrados, percebe-se que é positiva a avaliação dos munícipes em
relação à qualidade dos serviços de varrição e coleta domiciliar prestados pela
Qualy Ambiental.
No entanto,
entende-se que algumas mudanças metodológicas no procedimento técnico-operacional poderiam melhorar a
avaliação da qualidade percebida e contribuir para a gestão da qualidade dos
serviços prestados pela empresa.
O primeiro aspecto a
ser considerado é quanto à forma que a avaliação é realizada.
Atualmente, a empresa
baseia-se no paradigma da performance para avaliar a qualidade de seus serviços
e utiliza apenas uma pergunta específica e direta, composta por uma escala de
valor de 5 pontos.
No entanto, a
qualidade não é uma variável diretamente observável que com apenas um indicador
(variável) possa ser medida (observável). Ao invés disso, a qualidade é uma
variável não-observável (latente) que para ser medida e identificada
(observável) necessita de uma série de indicadores (IACOBUCCI, 1994; DILLON, et
al. 1997; CUNHA; BORGES; FACHEL, 1998).
Com isso, a empresa
fere esse importante princípio teórico, prejudicando a validade e a
confiabilidade do estudo.
A análise das
considerações de alguns entrevistados, quando da realização da questão aberta,
e a experiência resultante do trabalho de campo contribuem para reforçar a
visão de que a qualidade deva ser avaliada com base em mais de um indicador.
Outros indicadores de
qualidade, como a frequência de realização do serviço, o turno em que o serviço
é realizado, a forma como os varredores (ou os garis) executam o serviço,
poderiam fazer parte do instrumento de avaliação.
Dessa forma, todos os
entrevistados seriam estimulados a emitir a sua percepção sobre tais critérios.
Com a atual avaliação, a empresa não pode identificar o nível de satisfação dos
munícipes em relação a cada um desses indicadores e, em consequência, tem
dificuldades para tomar decisões de melhoria baseadas na percepção dos
munícipes.
Além disso, a
empresa, não possuindo informações sobre a satisfação dos munícipes residentes
nos setores em que o serviço é realizado com menor frequência, limita seus
argumentos de negociação no sentido de ampliar seu contrato de prestação de
serviços firmado junto a prefeitura municipal.
Entende-se, que como
a escala SERVPERF não possui indicadores relacionados com os serviços
realizados pela Qualy Ambiental, entende-se que é indicada a realização de uma
pesquisa de satisfação.
Para tanto, a empresa
deveria realizar entrevistas em profundidade junto aos munícipes para
identificar, além daqueles já mencionados pelos entrevistados quando resposta
da pergunta aberta, outros possíveis indicadores de satisfação.
Considerações Finais
Considera-se que as
características sócio-econômico-demográficas dos respondentes, bem como a
identificação do período do dia no qual o entrevistado permanece no local
avaliado, deveriam ser incorporadas na avaliação, para que a amostra fosse
composta por pessoas com diferentes hábitos de vida.
Com isso, seria
possível identificar, mediante cruzamentos de variáveis, a percepção que os
diferentes perfis de munícipes têm sobre a qualidade dos serviços prestados.
Quanto ao tamanho da
amostra, questiona-se o atual procedimento adotado. Entende-se que a realização
de dez entrevistas para cada setor de coleta domiciliar pode não representar o
universo analisado, pois cada um desses setores possui área geográfica bastante
extensa.
Para que a empresa
tenha condições de avaliar tais setores individualmente, entende-se que devam
ser realizadas acima de 30 entrevistas, como forma de aumentar a
representatividade da amostra e oferecer estabilidade numérica aos testes
estatísticos (STEVENSON, 1981).
Já em relação aos 45
setores que compõem o serviço de varrição, dois critérios deveriam ser
adotados.
Primeiro, a análise
do serviço de varrição, em bairros onde a limpeza é feita em apenas algumas
ruas, poderia seguir o raciocínio sugerido para os serviços de coleta
domiciliar.
Segundo, em relação
àqueles bairros em que o serviço de varrição é realizado em todas as ruas,
entende-se que o número de entrevistas poderia ser definido com base no tamanho
da área geográfica atendida, como forma de não realizar um número excessivo de
entrevistas na região.
Entende-se que para
todos os casos, acima citados, deva ser adotada a amostragem probabilística por
conglomerado.
Considera-se que a
avaliação dos serviços prestados a partir da opinião dos clientes deva ser um
instrumento efetivo e importante para que as organizações tomem decisões que
melhorem a qualidade de seus serviços, segundo a perspectiva desses clientes.
Sendo assim, as auditorias da norma ISO 14001 relativas às avaliações dos
níveis de satisfação dos clientes, mais do que controlar a execução das
análises, deveriam identificar os critérios metodológicos adotados.
Finalmente, mesmo
sabendo das limitações e restrições existentes nos modelos teóricos e métodos
de pesquisas sobre a medição da qualidade de serviço (GILMORE; CARSON, 1992),
entende-se, assim como Carson e Gilmore (2001), que há um gap entre as
pesquisas acadêmicas e as pesquisas práticas e que, por isso, as discussões em
fóruns acadêmicos e empresariais são importantes para que, gradativamente, os
problemas e incoerências existentes sejam reduzidos e, possivelmente, sanados.
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[1] Professor Orientador da Faculdade de Tecnologia Equipe
Darwin/Brasília-DF. Especialista de Educação. Psicólogo Clínico. Doutor em
Teologia. Diretor da Consultoria SELF.
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