4 de mai. de 2020

ANTROPOLOGIA GERAL E O MULTICULTURALISMO - Parte 3


O SER HUMANO: SUAS MANIFESTAÇÕES MAIS SIGNIFICATIVAS

Apesar de termos visto que o ser humano se define e se constitui enquanto tal de acordo com a época histórica e a cultura da qual faz parte, determinadas características vêm sendo consideradas como mais significativas e mais importantes em marcar a especificidade do humano face aos outros animais.
Ainda que possa variar nosso entendimento acerca destes de acordo com a época histórica e a cultura estudada, certos atributos humanos perpassam nossa história como sendo importantes para nós, para nos diferenciarmos dos outros seres, de acordo com nossa visão de nós mesmos.
Assim, escolhemos nos contrastar com os outros seres da natureza a partir de certas características que nos são gratas e nos parecem exclusivas.
Dentre estas, destacaremos aqui a corporalidade, a racionalidade, a volição, a aspiração à liberdade, o amor, nossas relações com a natureza, nossa capacidade técnica, a consciência de nossa finitude, nossa religiosidade e nossas concepções espaço temporais.

O SER HUMANO EM SUA DIMENSÃO CORPORAL E RACIONAL, SUA
VOLIÇÃO E ASPIRAÇÃO À LIBERDADE

Um dos aspectos de nossa experiência, a corporalidade é aquele que nos traz, mais do que todos os outros, a noção de individualidade, de estar separado dos demais e de ser único. Se a pressão evolutiva liberou as nossas mãos para o trabalho, esse acabou por produzir nosso próprio corpo (POMMER, 2012).
Uma das maneiras de compreender a dimensão corpórea do ser humano é vê-la como fazendo parte da expressão do ser, do existir. Assim, o corpo comporta tanto seu aspecto de substância material, ou seja, sua totalidade física, quanto de organismo, isto é, totalidade biológica. Mas (e isso é o que nos interessa aqui) este compreende também a noção de corpo enquanto individualidade, sendo este uma totalidade intencional. Desta forma, enquanto totalidade intencional, o corpo pode ser pensado como Eu corporal (LIMA VAZ, 2011, apud POMMER, 2012).
Podemos notar, como Pommer (2012) chama a atenção, que o corpo próprio de cada indivíduo, aquele que “é enquanto sou”, é um dado da experiência que nos informa que, enquanto penso, falo, desejo, durmo, como, trabalho ou executo qualquer outra atividade, é o corpo quem o faz. O corpo, em sua unidade, que possui as faculdades, capacidades e competências que apresentamos, inclusive as emoções, a razão e as sensações, tudo isso sendo ordenado pela mente, que nada mais é que uma estrutura especializada deste mesmo corpo.
Ora, isso nos remete à razão, esta capacidade, expressa no real através de nosso corpo, de escolher, decidir, classificar e separar, emitir juízos e opiniões e também acolhê los.
É pela razão que nós apresentamos a capacidade, mediada pelo nosso aparelho sensório, de proteger nossa integridade física, fazer as escolhas que nos são favoráveis, prever os acontecimentos que podem nos afetar e criar tudo aquilo de que necessitamos para viver e para tentar explicar a nossa existência para nós mesmos (POMMER, 2012).
Como nos informa Bornheim (1996, apud POMMER, 2012, p. 210): “a razão servia, assim, para o homem prover-se, defender-se e, em última instância, para inventar a sua própria criatividade”.
Nota-se, desta forma, que entre nós a evolução biológica acaba por forjar um corpo ereto que tem as mãos liberadas para o trabalho e que, com a capacidade de manipular o mundo e transformá-lo com nossa atividade produtiva, desenvolvemos igualmente a possibilidade de refletir sobre este e sobre nosso papel no mesmo. Assim, foi pela atividade que nos veio a faculdade racional e sua vocação primeira está em possibilitar ao ser humano se ocupar de sua existência cotidiana (BORNHEIM, 1996, apud POMMER, 2012).
Falávamos anteriormente, entretanto, de corpo enquanto totalidade intencional, ora, esta nada mais é do que o corpo enquanto totalidade volitiva. Nós, seres humanos, agimos a partir de nossa intenção, e essa não é devedora somente da razão, mas igualmente dos nossos desejos, embora não coincidam com estes totalmente. Desta maneira, podemos ver que nossa volição, nossa vontade, nada mais é do que expressão do movimento do corpo na direção de um objetivo, indo este ao encontro de um desejo (POMMER, 2012).
Sabemos que o desejo de liberdade costuma ser elencado como uma das características humanas, todavia, o conceito de liberdade, a concepção do que é ser livre, varia de acordo com a época histórica e sociedade onde foi formulado. Na antiguidade clássica, com a crença na força do destino, a liberdade individual era pensada como submetida aos desígnios divinos. Com o cristianismo, a ideia de destino é mediada pela de livre-arbítrio, que colocaria em nossas mãos a escolha entre o bem e o mal. Com a modernidade, fortalece-se a ideia de liberdade individual, com a concepção, tanto das garantias dos direitos, quanto a de livre iniciativa econômica e, por fim, o conceito de liberdade como ligado ao término das desigualdades sociais (POMMER, 2012).
Assim, a liberdade, embora se apresente como uma aspiração humana universal, tem, na verdade, características que são relativas às sociedades que as produziram, apresentando uma história própria no Ocidente.

REFERÊNCIAS

ERIKSEN, Thomas Hylland; NIELSEN, Finn Sivert. História da Antropologia.
Petrópolis: Vozes, 2012.
ESPINA BARRIO, Angel-B. Manual de Antropologia Cultural. Recife: Editora
Massangana, 2005.
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do Homem.,filosofia da cultura. São Paulo: Contexto, 2013.
HOEBEL, E. Adamson; FROST, Everest L. Antropologia Cultural e Social. São Paulo: Cultrix, 2006.
LUZ, Pedro Fernandes Leite da; BOHMANN, Junqueira Katja. Sociologia crítica.
Indaial: Uniasselvi, 2013.
LARAIA, R. B. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001.
POMMER, Arildo. Antropologia filosófica e sociológica. Indaial: Uniasselvi, 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário