O SER HUMANO: SUAS MANIFESTAÇÕES MAIS
SIGNIFICATIVAS
Apesar de termos
visto que o ser humano se define e se constitui enquanto tal de acordo com a
época histórica e a cultura da qual faz parte, determinadas características vêm
sendo consideradas como mais significativas e mais importantes em marcar a especificidade
do humano face aos outros animais.
Ainda que possa
variar nosso entendimento acerca destes de acordo com a época histórica e a
cultura estudada, certos atributos humanos perpassam nossa história como sendo
importantes para nós, para nos diferenciarmos dos outros seres, de acordo com nossa
visão de nós mesmos.
Assim, escolhemos nos
contrastar com os outros seres da natureza a partir de certas características
que nos são gratas e nos parecem exclusivas.
Dentre estas,
destacaremos aqui a corporalidade, a racionalidade, a volição, a aspiração à
liberdade, o amor, nossas relações com a natureza, nossa capacidade técnica, a consciência
de nossa finitude, nossa religiosidade e nossas concepções espaço temporais.
O SER
HUMANO EM SUA DIMENSÃO CORPORAL E RACIONAL, SUA
VOLIÇÃO E ASPIRAÇÃO À LIBERDADE
Um dos aspectos de
nossa experiência, a corporalidade é aquele que nos traz, mais do que todos os
outros, a noção de individualidade, de estar separado dos demais e de ser
único. Se a pressão evolutiva liberou as nossas mãos para o trabalho, esse
acabou por produzir nosso próprio corpo (POMMER, 2012).
Uma das maneiras de
compreender a dimensão corpórea do ser humano é vê-la como fazendo parte da
expressão do ser, do existir. Assim, o corpo comporta tanto seu aspecto de
substância material, ou seja, sua totalidade física, quanto de organismo, isto
é, totalidade biológica. Mas (e isso é o que nos interessa aqui) este
compreende também a noção de corpo enquanto individualidade, sendo este uma
totalidade intencional. Desta forma, enquanto totalidade intencional, o corpo
pode ser pensado como Eu corporal (LIMA VAZ, 2011, apud POMMER, 2012).
Podemos notar, como
Pommer (2012) chama a atenção, que o corpo próprio de cada indivíduo, aquele
que “é enquanto sou”, é um dado da experiência que nos informa que, enquanto
penso, falo, desejo, durmo, como, trabalho ou executo qualquer outra atividade,
é o corpo quem o faz. O corpo, em sua unidade, que possui as faculdades, capacidades
e competências que apresentamos, inclusive as emoções, a razão e as sensações,
tudo isso sendo ordenado pela mente, que nada mais é que uma estrutura especializada
deste mesmo corpo.
Ora, isso nos remete
à razão, esta capacidade, expressa no real através de nosso corpo, de escolher,
decidir, classificar e separar, emitir juízos e opiniões e também acolhê los.
É pela razão que nós
apresentamos a capacidade, mediada pelo nosso aparelho sensório, de proteger
nossa integridade física, fazer as escolhas que nos são favoráveis, prever os
acontecimentos que podem nos afetar e criar tudo aquilo de que necessitamos para
viver e para tentar explicar a nossa existência para nós mesmos (POMMER, 2012).
Como nos informa
Bornheim (1996, apud POMMER, 2012, p. 210): “a razão servia, assim, para o
homem prover-se, defender-se e, em última instância, para inventar a sua própria
criatividade”.
Nota-se, desta forma,
que entre nós a evolução biológica acaba por forjar um corpo ereto que tem as
mãos liberadas para o trabalho e que, com a capacidade de manipular o mundo e
transformá-lo com nossa atividade produtiva, desenvolvemos igualmente a
possibilidade de refletir sobre este e sobre nosso papel no mesmo. Assim, foi
pela atividade que nos veio a faculdade racional e sua vocação primeira está em
possibilitar ao ser humano se ocupar de sua existência cotidiana (BORNHEIM,
1996, apud POMMER, 2012).
Falávamos
anteriormente, entretanto, de corpo enquanto totalidade intencional, ora, esta
nada mais é do que o corpo enquanto totalidade volitiva. Nós, seres humanos,
agimos a partir de nossa intenção, e essa não é devedora somente da razão, mas
igualmente dos nossos desejos, embora não coincidam com estes totalmente. Desta
maneira, podemos ver que nossa volição, nossa vontade, nada mais é do que
expressão do movimento do corpo na direção de um objetivo, indo este ao
encontro de um desejo (POMMER, 2012).
Sabemos que o desejo
de liberdade costuma ser elencado como uma das características humanas,
todavia, o conceito de liberdade, a concepção do que é ser livre, varia de
acordo com a época histórica e sociedade onde foi formulado. Na antiguidade clássica,
com a crença na força do destino, a liberdade individual era pensada como submetida
aos desígnios divinos. Com o cristianismo, a ideia de destino é mediada pela de
livre-arbítrio, que colocaria em nossas mãos a escolha entre o bem e o mal. Com
a modernidade, fortalece-se a ideia de liberdade individual, com a concepção,
tanto das garantias dos direitos, quanto a de livre iniciativa econômica e, por
fim, o conceito de liberdade como ligado ao término das desigualdades sociais
(POMMER, 2012).
Assim, a liberdade,
embora se apresente como uma aspiração humana universal, tem, na verdade,
características que são relativas às sociedades que as produziram, apresentando
uma história própria no Ocidente.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Atlas, 2001.
POMMER,
Arildo. Antropologia filosófica e sociológica. Indaial: Uniasselvi,
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