4 de mai. de 2020

ANTROPOLOGIA GERAL E O MULTICULTURALISMO - Parte 4


O SER HUMANO E A QUESTÃO DO AMOR, A RELAÇÃO HOMEM/NATUREZA,
A TÉCNICA, A CONSCIÊNCIA DA FINITUDE E A QUESTÃO DA MORTE, O
TEMPO E A RELIGIOSIDADE

Como Pommer (2012) chama a atenção, o amor, embora possa expressar se fisicamente, não existe como um ser absoluto, sendo antes relativo às pessoas.
Considerado assim, o amor é dado pela nossa condição de humanidade.
Desta forma, tanto nossa capacidade, ou não, de amar, quanto o tipo e a expressão do amor que apresentamos, estão relacionados com a sociedade, cultura a que pertencemos e às condições biopsíquicas que possuímos.
Assim, a capacidade de amar é imanente à própria condição humana, mas encontra estas diferentes elaborações e concepções, bem como expressões, variáveis historicamente e dependentes dos meios socioculturais onde se manifestam.
Embora tenhamos a tendência a querermos nos distinguir dos animais, a realidade é que nós, seres humanos, somos parte da natureza. Só podemos nos pensar enquanto integrantes desta, pois quando falamos de “natureza”, estamos na verdade nos referindo a uma paisagem que já sofreu a influência humana, que foi modificada por nossa ação na mesma (POMMER, 2012).
Quando definimos natureza, já estamos nos colocando nesta, a natureza é sempre pensada em relação a nós. Modificamos o meio natural por nossa ação e, assim, também mudamos nossa relação com essa.
Ao longo da história, nossa relação com a natureza foi sempre mediada pelo aparato técnico que possuímos. Nossa relação com a técnica e a tecnologia nos constitui, embora esta possa também levar-nos a nos negar. Isso porque, através das invenções técnicas, nós produzimos as condições materiais de nossa existência, entretanto, essas podem servir à nossa alienação e controle social (POMMER, 2012).
Não existe sociedade humana que não apresente tecnologia, esta deve ser pensada como tudo o que o engenho humano produz tendo em vista a transformação da natureza para a produção dos bens que necessitamos. Nossa relação com a técnica e a tecnologia é fundamental para nos constituirmos enquanto humanos, sendo a mesma distintiva de nossa espécie, ainda que possa apresentar uma enorme variabilidade, conforme o tempo histórico e as condições socioculturais onde estão presentes.
Outro traço que desde a Antiguidade Clássica vem sendo pensado como tipicamente humano é nossa consciência de finitude. Sabermos que nossa existência individual terá um fim é um dado estrutural da vida humana, que, como tal, precede nossa experiência enquanto pessoa no mundo. Desta maneira, a morte é aquela realidade inescapável que a todos atinge e diante da qual todos refletimos. Talvez seja esta a origem de nossas especulações filosóficas e religiosas: diante da morte nos indagamos acerca do que está além, a mesma é o primeiro mistério com o qual nos defrontamos e também muito do que nos move na busca do conhecimento (POMMER, 2012).
Uma das questões que a morte nos coloca é aquela referente ao tempo. Podemos ter consciência de que, para além de nossa existência individual, o mundo tem uma existência temporal. De fato, são as mudanças que observamos no real que nos levaram a conceber a ideia de tempo, enquanto seres humanos nós só existimos historicamente, nada do que é humano se dá fora do tempo (POMMER, 2012).
Assim, o tempo marca a humanidade, mas este é meramente convencional, sua construção é cultural, dependente, portanto, da maneira pela qual agimos no real, daquilo, dos fenômenos e fatos observáveis, que selecionamos para marcar a temporalidade e nossa trajetória no mundo.
Outro problema colocado pela morte está nas diferentes manifestações de religiosidade que nossa espécie vem apresentando ao longo de sua história.
De fato, não conhecemos sociedade humana que não apresenta uma ou mais religiões. Parece que a religiosidade é uma expressão humana universal, sendo que muitos associam seu início às especulações de nosso pensamento a partir da consciência de nossa finitude e da realidade inexorável da morte. Se muitas vezes a religião serviu para aplacar nossa angústia diante da morte, em casos ainda mais numerosos esteve esta a serviço da manutenção da ordem social e do status quo vigentes.
Novamente, a universalidade de um traço cultural não deve nos cegar para o fato das religiões apresentarem uma imensa variedade de formas, expressões e conteúdos, que são relativos às culturas onde estão manifestados. Ainda que seja assim, os antropólogos identificam uma constante em todas as religiões: a divisão dicotômica entre sagrado e profano.
Chauí (2009, apud POMMER, 2012, p. 235) destaca que: “O sagrado é a experiência simbólica da diferença entre os seres, da superioridade de alguns sobre os outros – superioridade e poder sentidos como espantosos, misteriosos, desejados e temidos”.
O sagrado, desta forma, pensado como o extraordinário e habitado por seres poderosos, opõe-se ao profano, o espaço das atividades ordinárias e cotidianas dos seres humanos. A religião, assim (POMMER, 2013), apresenta-se como consequência da ideia de sagrado, estabelecendo a ligação deste com o profano, com a esfera humana, seja para favorecer-nos, seja para eximir-nos de nossas culpas.


REFERÊNCIAS

ERIKSEN, Thomas Hylland; NIELSEN, Finn Sivert. História da Antropologia.
Petrópolis: Vozes, 2012.
ESPINA BARRIO, Angel-B. Manual de Antropologia Cultural. Recife: Editora
Massangana, 2005.
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do Homem.,filosofia da cultura. São Paulo: Contexto, 2013.
HOEBEL, E. Adamson; FROST, Everest L. Antropologia Cultural e Social. São Paulo: Cultrix, 2006.
LUZ, Pedro Fernandes Leite da; BOHMANN, Junqueira Katja. Sociologia crítica.
Indaial: Uniasselvi, 2013.
LARAIA, R. B. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001.
POMMER, Arildo. Antropologia filosófica e sociológica. Indaial: Uniasselvi, 2012.


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