O SER
HUMANO E A QUESTÃO DO AMOR, A RELAÇÃO HOMEM/NATUREZA,
A
TÉCNICA, A CONSCIÊNCIA DA FINITUDE E A QUESTÃO DA MORTE, O
TEMPO E A RELIGIOSIDADE
Como Pommer (2012)
chama a atenção, o amor, embora possa expressar se fisicamente, não existe como
um ser absoluto, sendo antes relativo às pessoas.
Considerado assim, o
amor é dado pela nossa condição de humanidade.
Desta forma, tanto
nossa capacidade, ou não, de amar, quanto o tipo e a expressão do amor que
apresentamos, estão relacionados com a sociedade, cultura a que pertencemos e
às condições biopsíquicas que possuímos.
Assim, a capacidade
de amar é imanente à própria condição humana, mas encontra estas diferentes
elaborações e concepções, bem como expressões, variáveis historicamente e
dependentes dos meios socioculturais onde se manifestam.
Embora tenhamos a
tendência a querermos nos distinguir dos animais, a realidade é que nós, seres
humanos, somos parte da natureza. Só podemos nos pensar enquanto integrantes
desta, pois quando falamos de “natureza”, estamos na verdade nos referindo a
uma paisagem que já sofreu a influência humana, que foi modificada por nossa
ação na mesma (POMMER, 2012).
Quando definimos
natureza, já estamos nos colocando nesta, a natureza é sempre pensada em
relação a nós. Modificamos o meio natural por nossa ação e, assim, também mudamos
nossa relação com essa.
Ao longo da história,
nossa relação com a natureza foi sempre mediada pelo aparato técnico que
possuímos. Nossa relação com a técnica e a tecnologia nos constitui, embora
esta possa também levar-nos a nos negar. Isso porque, através das invenções técnicas,
nós produzimos as condições materiais de nossa existência, entretanto, essas podem
servir à nossa alienação e controle social (POMMER, 2012).
Não existe sociedade
humana que não apresente tecnologia, esta deve ser pensada como tudo o que o
engenho humano produz tendo em vista a transformação da natureza para a
produção dos bens que necessitamos. Nossa relação com a técnica e a tecnologia é
fundamental para nos constituirmos enquanto humanos, sendo a mesma distintiva de
nossa espécie, ainda que possa apresentar uma enorme variabilidade, conforme o tempo
histórico e as condições socioculturais onde estão presentes.
Outro traço que desde
a Antiguidade Clássica vem sendo pensado como tipicamente humano é nossa
consciência de finitude. Sabermos que nossa existência individual terá um fim é
um dado estrutural da vida humana, que, como tal, precede nossa experiência
enquanto pessoa no mundo. Desta maneira, a morte é aquela realidade inescapável
que a todos atinge e diante da qual todos refletimos. Talvez seja esta a origem
de nossas especulações filosóficas e religiosas: diante da morte nos indagamos acerca
do que está além, a mesma é o primeiro mistério com o qual nos defrontamos e também
muito do que nos move na busca do conhecimento (POMMER, 2012).
Uma das questões que
a morte nos coloca é aquela referente ao tempo. Podemos ter consciência de que,
para além de nossa existência individual, o mundo tem uma existência temporal.
De fato, são as mudanças que observamos no real que nos levaram a conceber a
ideia de tempo, enquanto seres humanos nós só existimos historicamente, nada do
que é humano se dá fora do tempo (POMMER, 2012).
Assim, o tempo marca
a humanidade, mas este é meramente convencional, sua construção é cultural,
dependente, portanto, da maneira pela qual agimos no real, daquilo, dos
fenômenos e fatos observáveis, que selecionamos para marcar a temporalidade e
nossa trajetória no mundo.
Outro problema
colocado pela morte está nas diferentes manifestações de religiosidade que
nossa espécie vem apresentando ao longo de sua história.
De fato, não
conhecemos sociedade humana que não apresenta uma ou mais religiões. Parece que
a religiosidade é uma expressão humana universal, sendo que muitos associam seu
início às especulações de nosso pensamento a partir da consciência de nossa
finitude e da realidade inexorável da morte. Se muitas vezes a religião serviu para
aplacar nossa angústia diante da morte, em casos ainda mais numerosos esteve esta
a serviço da manutenção da ordem social e do status quo vigentes.
Novamente, a
universalidade de um traço cultural não deve nos cegar para o fato das
religiões apresentarem uma imensa variedade de formas, expressões e conteúdos,
que são relativos às culturas onde estão manifestados. Ainda que seja assim, os
antropólogos identificam uma constante em todas as religiões: a divisão
dicotômica entre sagrado e profano.
Chauí (2009, apud
POMMER, 2012, p. 235) destaca que: “O sagrado é a experiência simbólica da
diferença entre os seres, da superioridade de alguns sobre os outros – superioridade
e poder sentidos como espantosos, misteriosos, desejados e temidos”.
O sagrado, desta
forma, pensado como o extraordinário e habitado por seres poderosos, opõe-se ao
profano, o espaço das atividades ordinárias e cotidianas dos seres humanos. A
religião, assim (POMMER, 2013), apresenta-se como consequência da ideia de
sagrado, estabelecendo a ligação deste com o profano, com a esfera humana, seja
para favorecer-nos, seja para eximir-nos de nossas culpas.
REFERÊNCIAS
ERIKSEN, Thomas Hylland; NIELSEN, Finn Sivert. História da
Antropologia.
Petrópolis: Vozes,
2012.
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Angel-B. Manual de Antropologia Cultural. Recife: Editora
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GOMES, Mércio
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HOEBEL, E. Adamson;
FROST, Everest L. Antropologia Cultural e Social. São Paulo: Cultrix,
2006.
LUZ, Pedro Fernandes
Leite da; BOHMANN, Junqueira Katja. Sociologia crítica.
Indaial: Uniasselvi,
2013.
LARAIA, R. B. Cultura,
um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
MARCONI, Marina de
Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São
Paulo: Atlas, 2001.
POMMER,
Arildo. Antropologia filosófica e sociológica. Indaial: Uniasselvi,
2012.
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